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21 de dez. de 2019

Na Bolívia, perseguição aos principais ministros de Evo






 Juan Ramón Quintana na mira dos golpistas

20 de dezembro de 2019

Por Graciela Ramírez /Resumen Latinoamericano

Na manhã de sexta-feira 20 de dezembro, meios de imprensa da Bolívia destacaram em letras garrafais a invasão à casa de Juan Ramón Quintana, ministro da Presidência de Evo Morales até o golpe de Estado.
O que se busca é poder localizar para proceder a sequestrar qualquer elemento que tenha relação com ele ou os fatos que se estão pesquisando”, declarou o coronel Iván Vermelhas, diretor nacional da Força Especial de Luta Contra o Crime e um dos participantes do golpe de Estado que interrompeu a institucionalidade na Bolívia.
Não é a primeira vez que se violenta o domicílio particular de Quintana. Telesur denunciou o assalto a sua moradia por grupos de choque a cujo comando estavam os mal chamados dirigentes cívicos” que de civismo não têm nada e sim muito de métodos fascistas. Os latino-americanos vimos pela TV o destroço que provocaram em sua moradia, pondo em risco a vida tanto de Quintana como de sua família. Só tinham passado algumas horas do golpe de Estado de 10 de novembro que obrigou à renúncia do presidente Morales e em seguida começou a perseguição contra os membros do governo do Movimento Ao Socialismo, que tinha dirigido os destinos do país desde o ano 2006.
Em 13 de novembro, a autoproclamada presidenta Jeanine Áñez, designou como ministro de Governo (Interior) a quem fosse membro de seu partido Unidade Democrata, Arturo Murillo. O também ex-senador da direita boliviana, não perdeu tempo em proferir ameaças ante os meios de imprensa afirmando que: “todos aqueles que estão em sedição irão ao cárcere”.  Por “sedição” referia-se ao povo que com heroísmo saiu  às ruas a  resistir ao golpe.

De imediato apontou  Quintana como responsável pela rejeição popular aos golpistas. “Vamos ir à caçada de Juan Ramón Quintana, por que é uma caçada? Esse é um animal que está matando gente em nosso país e não o vamos permitir”, assegurou brutalmente.

Dias depois, em 22 de novembro, Murillo apresentou ante o Ministério Público uma denúncia penal contra o presidente constitucional Evo Morales e o ministro Quintana imputados por suposta sedição e terrorismo. Quais eram as provas para acusações de semelhante gravidade? Um suposto telefonema de Evo instando ao bloqueio da cidade e expressado por Quintana em uma entrevista a Sputnik.
Utilizaram um vídeo que mostrava  uma pessoa recebendo um suposto telefonema no qual Evo dava instruções, uodo foi uma montagem grosseira. Especialistas em comunicação assim o denunciaram nas redes sociais. Não era a voz de Evo, era uma simulação para montar a acusação.
Desde o triunfo de Evo em 20 de outubro começaram as ações desestabilizadoras dos “cívicos”. Para desconhecer os resultados que deram a maioria ao MAS, instalaram a narrativa da fraude e começaram a agitar o golpe.

Em 30 de outubro Sputnik (*) publica uma entrevista em que Quintana denuncia: “O que estamos vendo é a rota do golpe que se está desencadeando de maneira intensa e a diferentes velocidades em todo o território nacional».
Quintana, respondia desde a Casa Grande do Povo, a sede do Governo, que era também a Casa dos movimentos camponeses, a dos mineiros, os povos originários e o MAS. Hoje está povoada de militares, agentes, politiqueiros e golpistas. 
N a conversa sobre os desafios que enfrentavam ante a iminência do golpe, Quintana alertou que estavam ante um palco de guerra de alta intensidade para o médio prazo”. Em relação às forças  do processo de mudança instaurado por Evo, e a confrontação com  a direita golpista, expressou “Aqui há um agregado político dos movimentos sociais que estão dispostos a brigar«… “Bolívia se vai converter em um grande campo de batalha, um Vietnã moderno porque aqui as organizações sociais têm encontrado um horizonte para reafirmar sua autonomia, soberania, identidade”.
Murillo baseou sua acusação sacando de contexto as palavras do ministro Quintana, e com a montagem das supostas ordens dadas por Evo.  “As provas são claras, mostramos  Juan Ramón Quintana que disse que ia converter a Bolívia em um Vietnã, e está tratando de fazer isso (…), a prova do senhor Evo Morales é que o vídeo e a gravação que se apresentou é muito clara diz que matem aos bolivianos, fazendo um cerco à cidade” (***), disse Murillo ante as portas da Promotoria em La Paz.
E lançou-se uma verdadeira caçada para Quintana.  Dias depois desse dia a imprensa boliviana fala da busca de Quintana como se se tratasse de um perigoso criminoso. A campanha mediática, política e judicial agrega cada jornada uma nova mentira, uma nova acusação às já existentes que incluem a alusão a supostos vínculos com o narcotráfico. Em letras de imprensa exibe-se sua foto com o “busca-se” como se se tratasse de um delinquente.
Ante semelhante perseguição Juan Ramón Quintana viu-se obrigado, bem como outros ministros e o intelectual Hugo Moldiz, ministro até o ano 2015 e membro da Secretaria da Rede em Defesa da Humanidade, a solicitar asilo à embaixada do México em La Paz para salvaguardar suas vidas e integridade física.
Em 13 de novembro o governo de Andrés Manuel López Obrador  concedeu asilo a Quintana em La Paz.  Em 15 de novembro o Governo mexicano solicitou às autoridades atuantes de Bolívia os salvo-condutos correspondentes para que Quintana, Moldiz, vários ministros e um governador possam abandonar a sede da embaixada e se transladar aos países que já se ofereceram a lhes outorgar asilo ou refúgio político.       
O pedido de apreensão carece de fundamento, foi emitido por um governo golpista e usurpador acusado penalmente de genocídio e delitos de lesa humanidade pelos massacres perpetrados, detenções ilegais, desaparecimentos, torturas e perseguição a indígenas e camponeses, dirigentes do governo e do MAS. Foi arraigada nos tribunais de Argentina com base no princípio de Jurisdição Universal que estabelece que quando os crimes de lesa humanidade não são investigados no país onde ocorrem, outro pode  julgar.  A querela foi assinada pela Assembleia Permanente pelos Direitos Humanos –APDH- (***).
A ordem de captura e detenção é inaplicável já que foi emitida depois  do Governo de México  conceder o asilo a Quintana, mas fazendo alarde de suas ameaças Murillo expressou:   “No caso de Juan Ramón Quintana, claramente o que deveria fazer a embaixada mexicana é deixá-lo na porta para que nós  entremos com  nosso carro e o levemos ao julgamento que lhe corresponde por sedição e terrorismo”. (****)
Em visita recente a Washington Murillo declarou que “já saiu a ordem para Juan Ramón Quintana de urgência (captura), é por isso que não se vai a dar a ele  salvo-conduto para que saia da embaixada de México, onde se encontra refugiado. Não o vamos deixar sair de Bolívia».
Há que se recordar a Murillo que negar a entrega de salvo-conduto a Quintana e aos ministros asilados é uma grave violação à Convenção de Genebra e ao direito internacional público.

E recordar-lhe também que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos –CIDH-, a União Européia, numerosos organismos de direitos humanos da região, associações de advogados e magistrados expressaram que Bolívia deve entregar salvo-conduc-to ao ministro Juan Ramón Quintana, ao intelectual Hugo Moldiz, à ministra de Culturas Wilma Alanoca, ao governador de Oruro Víctor Hugo Vázquez, ao diretor de governo eletrônico Nicolás Laguna. Estes três últimos também com falsos processos judiciais iniciados pelo governo de fato depois da concessão de asilo.
Os organismos internacionais pedem que lhe seja também outorgado o salvo-conduto ao ministro de Defesa Javier Zavaleta, ao ministro de Justiça Héctor Arce, ao ministro de Mineração Félix César Navarro, e ao vice-ministro de Desenvolvimento rural e agropecuário Pedro Damián Dourado.
Não o fazendo converte  estes ministros de reconhecido prestígio nacional e internacional, em reféns políticos do regime ditatorial que impera na  Bolívia.


Notas:
(*) Bolivia se prepara para convertirse en un «campo de batalla, un Vietnam”
Entrevista para Sputnik de Marco Teruggi a Juan Ramón Quintana  30/10/2019
(**) Ministro de Gobierno presenta querella penal contra Evo Morales y Juan Ramón Quintana. Agencia Boliviana de Información ABI, 22 noviembre de 2019 https://eju.tv/2019/11/gobierno-presenta-querella-penal-contra-evo-morales-y-exministro-quintana-por-los-delitos-de-sedicion-y-terrorismo/
(***) Denuncian a Jeanine Áñez por crímenes de lesa humanidad y genocidio.
Diario Perfil, Argentina, 17 de diciembre de 2019
(****)El nuevo Gobierno boliviano exigió a México que retire el asilo a un exministro de Evo Morales. Declaraciones recogidas por la Agencia de Noticias ABI. Infobae 30/11/2019 https://www.infobae.com/america/america-latina/2019/11/30/el-nuevo-gobierno-boliviano-exigio-a-mexico-que-retire-el-asilo-a-un-ex-ministro-de-evo-morales/



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