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9 de set. de 2020

Lindo texto de Luis Niño ao amigo Galeano pelos seus 80 anos.

DE VEZ EM QUANDO, A VIDA.


Luis Fernando Niño

A frase é de Joan Manuel Serrat, mas a reproduzo aqui por dois motivos: a amizade íntima do trovador catalão com Eduardo Galeano, que fará oitenta anos na próxima quinta-feira, 3, e o fato de ter aproveitado uma daquelas oportunidades evasivas que presenteia a existência. Aconteceu há quase uma década, em 29 de outubro de 2009, quando, como professor da Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires, tive o prazer de escrever e ler a habitual laudatio, na cerimônia de entrega do título de professor honorário àquele enorme pensador e escritor, uruguaio e universal.
Na ocasião, o homenageado deu sua lição de mestre com o tom cativante com que todos o conhecemos; mas permito-me destacar uma frase, por meio da qual o autor de "Memória do Fogo" ligou a sua profusa obra à mais nobre missão de todos os que se podem empreender no meio acadêmico que aquele dia o acolhia: disse então que veio para nos contar "histórias nascidas da histórias que escrevi e publiquei, porque -em resumo- são o resultado de uma tentativa de unidade entre a vontade de justiça e a vontade de beleza ”. E a partir daí ele passou um longo tempo contando histórias comoventes, em uma jornada quase onírica, até que destruiu completamente a frase sartriana que descrevia seu próprio trabalho como uma paixão inútil.
Amalgamar justiça e beleza, com a franqueza de quem o experimenta por simples amor a cada ser humano, foi - e é - tarefa do nosso querido Eduardo. E ele sabia - e sabe - fazer isso com a arte, como se o grego Policleto, saltando vinte e cinco séculos, tivesse recitado seu famoso Cânon para ele. Talvez a melhor prova disso, evocada naquela noite memorável, venha do desconhecido participante a uma das suas reuniões, numa vila galega, quando desabafou, a meio caminho entre o deslumbramento e a irritação: “como deve ser difícil escrever tão fácil". Feliz aniversário Eduardo.

Tradução Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba/ Carmen Diniz






DE VEZ EN CUANDO, LA VIDA

El jueves hubiera cumplido 80 años Eduardo Galeano

POR LUIS FERNANDO NIÑO SEP 6, 2020 


La frase es de Joan Manuel Serrat, pero la reproduzco aquí por dos motivos: la íntima amistad del trovador catalán con Eduardo Galeano, quien habría cumplido sus primeros 80 años el próximo jueves 3, y el haber gozado yo de una de esas esquivas oportunidades que regala el existir. Sucedió casi una década atrás, el 29 de octubre de 2009, cuando, como docente de la Facultad de Derecho de la Universidad de Buenos Aires, tuve el placer de redactar y leer la consabida laudatio, en la ceremonia de otorgamiento del profesorado honorario a ese enorme pensador y literato, uruguayo y universal.

En aquella oportunidad, el homenajeado brindó su lección magistral con el tono entrañable y llano que todas y todos le conocemos; pero me permito destacar una oración, mediante la cual el autor de Memoria del fuego vinculó su profusa labor con la misión más noble de cuantas  puedan emprenderse en el ámbito académico que lo acogía: dijo entonces que venía a narrarnos “historias nacidas de las historias que escribí y que publiqué, porque —en definitiva— son el resultado de una tentativa de unidad entre la voluntad de justicia y la voluntad de belleza”. Y a partir de allí discurrió largamente, desgranando anécdotas conmovedoras, en un recorrido cuasi onírico, hasta desbaratar por completo la frase sartreana que describió su propio oficio como una pasión inútil.

Amalgamar justicia y belleza, con el candor de quien lo intenta por simple amor a todo ser humano, fue —y es— el cometido de nuestro querido Eduardo. Y supo –y sabe— hacerlo con arte, como si el griego Policleto, saltándose veinticinco siglos, le hubiera recitado su célebre Canon. Acaso la mejor prueba de ello, evocada durante aquella noche memorable, provino del ignoto asistente a una de sus tertulias, en un pueblo gallego, cuando le espetó, a mitad de camino entre el deslumbramiento y la irritación: “Qué difícil ha de ser escribir tan sencillo”. Feliz cumpleaños, Eduardo.


 N.T. : Luis Fernando Niño é um juiz argentino, professor de direito da Universidade de Buenos Aires e foi um grande amigo de Eduardo Galeano. Sempre se visitaram e se encontraram . Quando conheci Galeano aqui no Brasil e lhe disse que era amiga de Luis Niño, ele imediatamente disse: "Luis Niño? Ese es un ángel."Como sempre, acertou.


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