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17 de set. de 2020

No Brasil também #TemosMemoria. Há 49 anos. Lamarca e Zequinha PRESENTE !!!



    Há 49 anos, em 17 de setembro de 1971


CARLOS LAMARCA ERA ASSASSINADO NO SERTÃO BAIANO

Carioca do Morro de São Carlos, no Estácio, filho de sapateiro, capitão do Exército, que se uniu à esquerda contra a ditadura militar, revolucionário, patriota que entregou a vida por um Brasil independente, lutador pela democracia e o socialismo.
Capitão do povo, Lamarca, para sempre presente!
Abaixo, carta dele aos filhos. Lamarca, obrigado à clandestinidade no Brasil; e os filhos, para estarem livres das atrocidades da ditadura militar, se encontravam em Cuba.
Sim, a ditadura militar torturava filhos de militantes políticos e buscava assim chantagear os pais.
Lamarca (1937-1971) tinha 33 anos ao ser assassinado.

CARTA DE LAMARCA AOS FILHOS
"Aos Meus Filhos
Vivo falando de vocês com meus companheiros, eles estão longe dos filhos também e falam nos filhos deles. Um só é o desejo de todos nós, é que nossos filhos sejam revolucionários. O que é um revolucionário? É toda a pessoa que ama todos os povos, ama a Humanidade, tem uma imensa capacidade de amar, ama a justiça, a Igualdade. Mas ele tem de odiar também, odiar os que impedem que o revolucionário ame, porque é uma necessidade amar. Odiar aos que odeiam o povo, a Humanidade, a Justiça social. Odiar aos que dominam e exploram o povo, odiar aos que corrompem, ameaçam e alienam as mentes, aos que degradam a Humanidade, aos injustos, falsos, demagogos, covardes.
O revolucionário ama a Paz, faz a guerra como instrumento para ter a Paz, a Paz justa, sem exploração do homem pelo homem. O revolucionário tem que ser capaz de todos os sacrifícios pela causa, de até se separar dos seus filhos para libertar todos os filhos, de se separar dos pais porque outros pais precisam dele. Quando vocês sentirem saudades de mim, lembrem-se que aqui no Brasil existem muitas crianças que passam fome, que andam descalças, sem escolas, que sofrem e veem seus pais sofrerem. Lembram-se quando conversei com vocês no quarto e pedi a vocês que deixassem eu lutar para acabar com isso. Eu lembro bem que a Claudinha bateu palmas e o Cesar disse: 'Muito bem, papai'. Combinamos que tínhamos de ficar longe um do outro, e que guardaríamos no coração a esperança de nos encontrarmos novamente.
Vocês são felizes porque a mãe e o pai são revolucionários e vocês têm de ser também. Amem muito a mamãe, eu não posso beijá-la, todos os dias beijem duas vezes a ela, uma vez por mim. Tenho tantas saudades de vocês, mas não choro, não beijo fotografias, encho o peito de ar e pego firme no meu trabalho. Penso em vocês e em todas as crianças, então ganho forças para lutar. Quando sentirem saudades, então estudem mais, perguntem tudo que não entenderem, perguntem sempre o porquê das coisas - perguntar e pensar - ver se é certo, se não for, falem, discutam - ver se é justo, se não for, lutem para mudar. Sejam disciplinados, façam somente o que for certo, justo. Ser disciplinado não é ser obediente, quem obedece tudo sem pensar não presta.
Como vai o treinamento de tiro? Não se esqueçam de colocar algodão no ouvido, e também de olhar sempre pra mira e puxar o gatilho bem devagar. Já mandaram consertar a pistola de ar comprimido? Espero que pratiquem corrida, natação e todos os jogos. Alimentem-se bem, vocês que tanto gostam de frutas devem estar satisfeitos, aí ninguém passa fome, não tem mendigos, aqui... Aí comem abacate na salada, com sal e azeite; gostaram?
Como vai o jogo de botão? Você, Cesar, tem ensinado aos meninos? Seguem junto 29 bolinhas de cortiça, que fiz treinando a paciência, que eu tinha pouco, é preciso ser paciente, sem ser passivo, claro.
E você Claudinha, continua fazendo discursos? Como eu gostava, você vai ser uma grande agitadora.
Cuidem bem dos dentes para que possam mastigar bem. Não se esqueçam de cantar e dançar. O Cesar gosta muito de desenhar e a Claudia de pintar, procurem praticar bastante, procurem criar, não imitem ninguém.
Não chamem ninguém de senhor porque ninguém é senhor de ninguém. Mas ouçam os mais velhos e procurem fazer coisas melhor que eles, porque tudo que é novo é superior ao velho. Respeitem os mais velhos mas exijam que respeitem vocês - exijam mesmo.
Contei para os companheiros que o Cesinha usava nome de guerra e eles acharam engraçado. Já usei o nome Cesar mas tive de mudar.
Não sei como acabar essa carta porque é como se estivesse conversando com vocês. Espero receber uma carta de vocês, se não for possível, continuarei pensando muito em vocês.
A maior alegria que vocês podem me dar é aproveitar muito o estudo, preparando-se para fazer a Revolução em qualquer país. Muitos beijos para a minha esposa querida e meus filhos, com todo amor, cheio de saudades".
Do Facebook de Antonio Augusto





Em 17 de setembro de 1971, há 49 anos
JOSÉ CAMPOS BARRETO ERA ASSASSINADO
JUNTO COM LAMARCA NO SERTÃO BAIANO
Suas última palavras: "Abaixo a ditadura!". Um dos melhores filhos do povo brasileiro, Zequinha nasceu numa família sertaneja, foi líder secundarista em Osasco, operário metalúrgico nesta cidade paulista, um dos principais dirigentes da Greve de Osasco (em 1968).
Presente, Zequinha Barreto!
Abaixo, trechos do texto da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos sobre este valoroso lutador popular:
"José Campos Barreto era o mais velho dos sete filhos de José e Adelaide, a quem todos conheciam por Dona Nair. O pai, já mencionado como vítima de violentas torturas 20 dias antes, era conhecido e respeitado no município de Brotas de Macaúbas. Em Buriti Cristalino, era proprietário de roças e lavrador. Durante anos, fora proprietário de uma loja de tecidos. Educava os filhos com rigor, trazia e hospedava em sua casa uma professora para as crianças do vilarejo e mandara construir a igreja do lugar.
Zequinha foi enviado a um seminário, em Garanhuns (PE), onde ficou por quatro anos. Aos 13 anos, já discutia política. Em 1963, decidiu que não queria ser padre e não voltou ao seminário. Lá estudou francês e inglês, além de conhecer o latim. Em 1964, mudou-se para São Paulo e serviu o Exército no ano seguinte, exatamente no quartel de Quitaúna. Estudou em Osasco, no Colégio Estadual e Escola Normal Antonio Raposo Tavares, tornando-se presidente do Círculo Estudantil Osasquense. Trabalhou como operário e destacou-se como importante liderança no Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco em 1968.
Em 1966, trabalhou na Lonaflex. Mas foi na Cobrasma, fabricante de vagões, que protagonizou um de seus mais conhecidos feitos, quando a fábrica foi cercada, durante a greve de 1968. Barreto, de cima de um vagão, discursou aos soldados, explicando as razões do movimento: chegou a paralisar a tropa por um momento. Barreto, de posse de uma tocha acesa, ameaçou explodir o tanque de combustível da fábrica. A tropa hesitou e muitos operários conseguiram escapar da polícia. Cerca de 400 foram detidos. Barreto sofreu espancamentos já no ato da prisão. Permaneceu 98 dias entre os cárceres do DEIC e do DOPS, até ser libertado por força de um habeas-corpus.
Numa viagem a Buriti, Zequinha levou para São Paulo o irmão Olderico. Em 1969, estava de volta ao sertão baiano, ao lado da mãe em seu leito de morte. Nessa época, militava na VPR. Depois deslocou-se para o Rio de Janeiro e voltou à Bahia, onde passou a militar no MR-8, junto com o irmão Olderico. Com a chegada de Lamarca ao estado, foi designado para acompanhá-lo e com ele ficou até a morte".


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