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22 de mar. de 2021

CUBA, REDES SOCIAIS E INTERNET

Por Márcia Choueri*                                                                                                               

        São muitos os mitos que circulam sobre Cuba, e às vezes é difícil desmontá-los. A questão da Internet, porém, é fácil de explicar e entender.

        O acesso à rede aqui é realmente menos desenvolvido e mais caro que na maioria dos países. E é verdade que, após o período especial, havia um certo temor do que uma invasão de informação e, principalmente, de desinformação, poderia provocar. Cuba começava a se abrir para o mundo pelo turismo, que trazia gente de todo lugar. Muitos tinham medo de como as novas gerações reagiriam a esse contato direto e intenso com o mundo capitalista.   Entretanto não era por isso que, até poucos anos atrás, aqui não havia internet para todos. A razão principal era bem objetiva.

        A telefonia e a Internet em Cuba são estatais, os grandes grupos transnacionais de telecomunicações não estão aqui. Devido ao bloqueio, o país só tinha acesso à Internet por satélite e bem cara. Até hoje, a Ilha é impedida de se conectar pelos cabos submarinos que passam aqui ao lado.

        Essa situação começou a mudar em 2007, quando foi assinado um acordo com a Venezuela, para utilização de um cabo submarino de fibra óptica. Mesmo assim, o tal cabo só chegou aqui em 2011, porque tiveram de prolongá-lo cerca de 100 km, para não entrar em áreas de controle dos Estados Unidos e ficar sujeito ao bloqueio.

        Hoje todo mundo aqui pode se conectar, comprando pacotes de dados ou cartões de acesso. E há o sistema Nauta Hogar, que é por wifi na residência. Não é barato, mas é possível, não há restrições.

        Infelizmente, um dos efeitos bem perceptíveis do acesso da população cubana à Internet é a multiplicação de sites e blogs contrarrevolucionários, financiados por organizações norte-americanas. Alguns desses sites são antigos, mas antes eram mais dirigidos a influenciar a opinião pública internacional. Eles alimentaram a propaganda contra Cuba no mundo todo. Agora, o alvo deles é a própria população cubana.

        São dezenas de meios, que se autodenominam independentes ou alternativos, quase todos sediados nos Estados Unidos ou em países europeus. São publicamente financiados por ONGs e outras organizações que recebem dinheiro do Departamento de Estado norte-americano, através de agências e fundações, como a USAID e a NED.

        A USAID é uma agência dos Estados Unidos fundada há quase 60 anos e que, teoricamente, trabalha para o desenvolvimento internacional. Por pura coincidência, ela foi fundada logo após a Revolução cubana. Na verdade, ela serve para dar uma aparência legal à ingerência norte-americana em outros países, como no caso dos famosos Acordos MEC-USAID, de reforma da educação brasileira.

        A NED é uma fundação bipartidária – de democratas e republicanos – fundada em 1983, que recebe fundos do governo estadunidense para financiar “o crescimento e o fortalecimento de instituições democráticas ao redor do mundo”. Segundo essa terminologia, “democráticos” são os governos submissos aos planos do imperialismo, os que se opõem são “ditadores”.

        Para se  ter uma ideia de como é importante para eles tratar de derrubar a Revolução Cubana, os Estados Unidos entregaram mais de 500 milhões de dólares, nos últimos 20 anos, ao financiamento da subversão contra o governo da Ilha. Dinheiro, aliás, arrecadado dos cidadãos daquele país.

        Claro que esse dinheiro não foi só para meios de imprensa, serviu também para financiar atos terroristas e “manifestações públicas” criadas por eles. Essas ações estão interligadas e se complementam. É o caso, por exemplo, do Movimento San Isidro e das manifestações em frente ao Ministério da Cultura, em novembro e fevereiro.

        A receita é sempre mais ou menos a mesma: eles inventam um factoide, criam um pequeno tumulto e imediatamente colocam online nas redes, através dos sites do exterior. Na verdade, não são manifestações públicas, são como performances montadas especialmente para sair na Internet. Esse tipo de ação é descrita e fomentada nos manuais dos Estados Unidos sobre como provocar golpes suaves e derrubar governos.

        Na semana passada, tentaram fazer uma dessas na Praça da Revolução, mas foram descobertos e frustrados. Nesta semana, fizeram de novo, desta vez, tentando envolver o Ministério de Relações Exteriores. Analisando os fatos, fica evidente que seguiram um roteiro.                                                 

 Na sexta-feira 18, 5 cidadãos cubanos estiveram no Ministério com o pretexto de informar-se sobre a situação de uma cidadã cubana que está no exterior e deseja vir ao país. Antes mesmo de receber qualquer resposta à sua indagação, ainda dentro da repartição pública, começaram a transmitir sua versão dos fatos através das redes sociais.

       O principal meio envolvido nessa ação chama-se ADN Cuba, um site que recebeu, apenas no último trimestre de 2020, 400 mil dólares do governo Trump, para realizar campanhas de propagandas e provocações contra Cuba. Da primeira transmissão, às 12h 10min, até as 15h 50min, esse site gerou 15 notas, com vídeos, animações e transmissões ao vivo, além de informações na web.

        Em poucos minutos, a Human Rights Watch começa a replicar as “informações” da ADN. Depois se somam vários personagens conhecidos do meio contrarrevolucionário, como Otaola, Eliécer Avila e Maikel Osorbo, que chegaram a pedir uma invasão contra Cuba. Em seguida, outro meio digital, Tremenda Nota, também entra na ciranda, e mais o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, com sede em Nova York.

        Tudo isso aconteceu antes mesmo que os funcionários do ministério respondessem à indagação que havia sido feita. O Ministério de Relações Exteriores de Cuba rapidamente divulgou uma declaração denunciando e esclarecendo o que ocorreu.

        Esses métodos da pós-verdade (eufemismo para a mentira) não são novos, mas adquirem dimensões muito maiores com o uso das redes sociais. São os mesmos que foram utilizados para derrubar vários governos, na América Latina e em outros continentes. Para enfrentá-los, até agora, o único remédio é divulgar por todos os meios nossa contra narrativa. Daí a importância de toda ação, por pequena que seja, para desmistificar as mentiras contra Cuba e os outros países que sofrem bloqueio e ataques do imperialismo.



*Marcia Choueri é integrante do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba e residente em Havana.

Veja mais: https://convencao2009.blogspot.com/2015/02/governo-dos-eua-confessa-que-dificulta.html

      


                                               Participe da Campanha: www.vacina-soberana.com 

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