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15 de jun. de 2021

CUBA NÃO PODE USAR DÓLARES NORTE-AMERICANOS #EliminaElBloqueo


 

Marcia Choueri*  (Informações extraídas de: www.cubaenresumen.org)


Cuba acaba de tomar uma decisão que pode dar margem a muita especulação mal-intencionada.

            A Ministra Presidenta do Banco Central de Cuba, Marta Sabina Wilson González, anunciou numa entrevista coletiva que estão temporariamente suspensos os depósitos em efetivo de dólares estadunidenses. A medida entrará em vigor no dia 21 de junho. Até lá, quem tiver dólares em espécie poderá depositá-los em uma conta em MLC – moeda livremente convertível.

            Atenção: não está proibido ter dólares! Se a pessoa quiser guardá-los, pode. Se preferir colocá-los na conta, para poder fazer compras, pode também, mas só até o dia 20.

            Para compreender a necessidade dessa medida, é preciso ter conhecimento de alguns fatos.

            O primeiro é que o governo norte-americano, durante a gestão Trump, acirrou o bloqueio contra Cuba com mais de 240 medidas, muitas delas dirigidas a asfixiar financeiramente a economia da Ilha. Várias têm como objetivo impedir as empresas cubanas – tanto estatais como privadas – de fazer compras no exterior.

            Essas medidas foram incrementadas durante a pandemia, e o novo governo, que assumiu em janeiro, não suspendeu nenhuma delas.

            O outro fato é que, tratando de saltar os obstáculos, o governo cubano tomou duas medidas, meses atrás. Dedicar parte de sua rede comercial interna a transações exclusivamente em moedas estrangeiras (“tiendas em MLC”) e permitir a abertura de contas bancárias em moedas estrangeiras.

            As duas medidas, combinadas, visam recolher divisa em efetivo, para fazer frente a compras no exterior. Funciona assim: as compras nos mercados em MLC só podem ser feitas com cartão. Pode ser cartão de uma dessas contas em MLC, ou cartões de crédito internacionais – sempre que o banco que o emite não seja norte-americano. Com isso, o Banco Central cubano pode dispor de dinheiro para depositar em bancos internacionais. Esses depósitos dão lastro às transações financeiras para adquirir, por exemplo, leite em pó, insumos da indústria farmacêutica, peças e equipamentos hospitalares e, o mais importante, combustível para mover a economia. Essas duas medidas deram um respiro.

            Os ianques então pressionaram ainda mais. Aí é que entra aquela estranha inclusão de Cuba na lista de países que não combatem o terrorismo. Os países incluídos na tal lista são proibidos de utilizar dólares estadunidenses. E, para piorar, impuseram multas pesadas a bancos que se atreveram a aceitar depósitos cubanos em dólares estadunidenses. De 2005, até hoje, 35 bancos suspenderam as operações com Cuba, 12 deles multados; 24 dos 35, suspenderam durante a administração Trump. É fácil imaginar o alcance dessas maldades, quando nos lembramos que a imensa maioria das transações internacionais são feitas na moeda deles.

            Essa minha explicação foi para ajudar a entender a frase da ministra: “o banco [Central de Cuba] tem dólares que não pode depositar no exterior. Esse dinheiro só adquire valor de uso, quando está depositado em contas no estrangeiro”. Ou seja, esses dólares, em mãos de Cuba, são só papel verde. A Ilha precisa de depósitos em outras moedas de circulação internacional, como euros e libras esterlinas.

            A proibição – temporária – de depositar dólares nas contas em MLC visa estimular o depósito em outras moedas. Por quê? O governo Trump impôs tantas restrições, que a Western Union (que aliás é britânica, mas dá no mesmo), por exemplo, que fazia as operações de remessa de dinheiro entre Cuba e outros países, fechou suas agências aqui. Transferências por bancos de outros países são raras e caras. Os produtos cubanos – como o rum e os charutos - não podem ser comercializados nos Estados Unidos, que são o maior mercado e estão pertinho. (Para quem pensou que aquela decisão do nosso (argh!) presidente, de proibir charutos cubanos no Brasil, era uma bobagem inócua – não é! É mais uma restrição econômica à Ilha.)

            Então, a principal maneira de Cuba adquirir moedas estrangeiras é pelo que chega em mãos de quem vem pra cá. E a maioria – principalmente agora que o turismo está quase em zero –, vem dos Estados Unidos. O que a medida está dizendo é: seja bem-vindo, mas traga outras moedas. O dólar estadunidense não será aceito, temporariamente.

            Para terminar: há quem diga que o bloqueio atinge somente o governo, e não o povo cubano. Balela! Mentira deslavada! Os residentes em Cuba sentimos o bloqueio todos os dias, em todas as nossas atividades cotidianas. O objetivo sempre foi tornar a vida tão difícil, a ponto de provocar uma revolta social. O resto é conversa mole. A medida tomada pelo Banco Central de Cuba é legítima, de um país soberano, e necessária, para proteger a economia do país – que é a economia e bem-estar do povo.

*Marcia Choueri é integrante do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba - residente  em Havana.

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