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31 de jul. de 2021

Presidente AMLO propõe a criação de nova OEA e mais : tremendo discurso anti-imperialista do presidente do México, na reunião de ministros de relações exteriores da CELAC (CONSELHO DE ESTADOS LATINOAMERICANOS E CARIBENHOS)

  

Presidente do México propõe a criação de um organismo para substituir OEA na região

Andrés Manuel López Obrador defendeu a criação de uma nova aliança regional "que não seja lacaio de ninguém"

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), propôs a criação de um novo organismo que unifique os países da região e substitua a Organização dos Estados Americanos (OEA). "Não devemos descartar a substituição da OEA por um organismo verdadeiramente autônomo, que não seja lacaio de ninguém, mas um mediador de conflitos em matéria de direitos humanos e democracia", afirmou durante a 21ª reunião de Ministros de Relações Exteriores da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), realizada na Cidade do México, no último sábado (24). A proposta foi apoiada pelo presidente boliviano, Luis Arce.

Além de debater novos tratados comerciais e mecanismos de integração regional, o evento também buscava celebrar os 238 anos do Libertador Simón Bolívar. Ao todo 31 países participaram da reunião, enviando chanceleres, vice-ministros ou representantes especiais.

"Precisamos de uma resposta muito mais unificada da nossa região em um momento difícil como o que estamos enfrentando", defendeu a secretária executiva da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), Alícia Bárcena. Uma das decisões do encontro é aumentar o intercâmbio entre as nações para que sejam produzidas vacinas e medicamentos de maneira coordenada, com uma distribuição equitativa.  

Recentemente, o secretário geral da OEA, Luis Almagro, foi apontado como um dos apoiadores no golpe de Estado na Bolívia, em novembro de 2019, assim como promoveu sanções econômicas contra os venezuelanos. 

Na última reunião da Celac, AMLO defendeu resgatar o bolivarianismo no continente americano e criar novas alianças. 

"Já é momento de uma nova convivência entre todos os países da América, porque o modelo imposto há mais de dois séculos está esgotado, não tem futuro, nem saída e já não beneficia ninguém", defendeu López Obrador.

O presidente mexicano ainda afirmou que atualmente estão dadas as condições para que o propósito de respeito mútuo e unidade seja alcançado. 

Edição: Rebeca Cavalcante


A 21ª reunião da Celac reuniu representantes de 31 países na Cidade do México nos dias 24 e 25 de julho / Celac

"Queremos construir uma estratégia para sermos autossuficientes em situações críticas, como a pandemia, criar um fundo para atender desastres naturais. O que podemos ver nessa reunião é o desejo dos nossos países de buscar caminhos de união", declarou o chanceler boliviano Rogélio Mayta. 

Cuba e Venezuela são os dois países do continente que deixaram de participar da OEA pela posição hostil do organismo em relação ao sistema socialista cubano e à revolução bolivariana. 



https://www.brasildefato.com.br/2021/07/27/presidente-do-mexico-propoe-a-criacao-de-um-organismo-para-substituir-oea-na-regiao


DISCURSO DO PRESIDENTE DO MÉXICO, ANDRÉS MANUEL LÓPEZ OBRADOR NO  238 ANIVERSÁRIO DO NASCIMENTO DE SIMÓN BOLÍVAR, O LIBERTADOR


Respeitáveis ​​chanceleres e representantes de países irmãos de nossa América

Agradeço a presença de Isabel Allende, grande escritora chilena que nos acompanha neste evento para homenagear o Libertador Simón Bolívar, recriar seu projeto de unidade entre os povos da América Latina e do Caribe e nos apoiar na história para um melhor enfrentamento o presente e o futuro. futuro.

Amigos e amigas,

Nascido em 1783, exatos 30 anos depois de Miguel Hidalgo, Simón Bolívar decidiu desde muito jovem lutar por grandes, nobres e justas causas. Como o próprio Hidalgo e como José María Morelos y Pavón, os pais de nosso país, o libertador Bolívar teve virtudes excepcionais.

Bolívar é um exemplo vivo de como uma boa formação humanista pode superar a indiferença ou o conforto de quem vem de bom nascimento. Bolívar pertencia a uma rica família de latifundiários, mas desde criança foi educado por Simón Rodríguez, pedagogo e reformador social que o acompanhou em sua formação até atingir um alto grau de maturidade intelectual e consciência.

Em 1805, com apenas 22 anos, no Monte Sacro de Roma "jurou na presença do seu mestre e homônimo não dar descanso ao seu braço nem repouso à sua alma até ter conseguido libertar o mundo hispano-americano da tutela espanhola. "

Como o pai, tinha vocação militar, mas ao mesmo tempo era um homem esclarecido e, como se dizia, do mundo, pois viajava muito pela Europa; viveu e/ou visitou a Espanha, França, Itália, Inglaterra; Falava francês, sabia matemática, história e literatura, mas não era apenas um homem de pensamento, mas também de ação. 

Conhecia a arte da guerra e era ao mesmo tempo um político com vocação e vontade transformadora: conhecia a importância do discurso; o poder das ideias, a eficácia das proclamações, e tinha consciência da grande utilidade do jornalismo e da imprensa como instrumento de luta. Conhecia o efeito da promulgação de leis em benefício do povo e, acima de tudo, valorizava a importância de não desistir, de perseverar e de nunca perder a fé no triunfo da causa pela qual se luta pelo bom do povo. o resto.

Em 1811, Bolívar ingressou no exército anticolonial, sob as ordens de Francisco de Miranda, o precursor do Movimento da Independência. Pouco depois, ante as vacilações deste militar, Bolívar assumiu o comando das tropas e em 1813 iniciou a libertação da Venezuela; pouco antes, como escreve Manuel Pérez Vila, um de seus biógrafos, os povos começaram a chamá-lo Libertador, "título que lhe conferem solenemente, em outubro de 1813, a municipalidade e o povo de Caracas, com o qual passaria à história".

Em sua luta incansável pelas estradas e mares da América, triunfos e derrotas se entrelaçam; sua campanha militar o leva a se refugiar na Jamaica e no Haiti; deste povo e de seu governo recebe apoio para suas campanhas em duas ocasiões, algo verdadeiramente excepcional e um exemplo de solidariedade e fraternidade latino-americana.

Em 1819 entrou triunfante em Bogotá e logo depois a Lei Fundamental da República da Colômbia foi promulgada. Este grande estado, a grande Colômbia, criação do libertador, incluía as atuais repúblicas da Venezuela, Colômbia, Equador e Panamá.

Nem tudo foi fácil em sua luta: ele perdeu batalhas, enfrentou traições e, como em todos os movimentos transformadores ou revolucionários, surgiram divisões internas que podem ser até mais danosas do que as lutas contra verdadeiros adversários.

Na luta pela libertação dos povos de nossa América, Bolívar teve o grande apoio do General Antonio José de Sucre e em 1822, se encontrou, em Guayaquil, Equador, com o General José de San Martín, outro ilustre titã da independência sul-americana.

Naquela época se constituía a "República Bolívar", hoje Bolívia, e consuma-se a independência do Peru. Aliás, no litoral deste país, no início de 1824, Bolívar adoeceu e apesar das más notícias, devido a traições e derrotas, conta-se que da poltrona onde estava sentado surgiu a famosa exclamação: “Triunfar ! " Esta história foi transformada em poesia pelo professor Carlos Pellicer, que o admirava com intensidade e devoção. O verso diz:

Sr. Joaquín Mosquera

de uma certa aldeia, ele veio.

Desceu da sua mula

e procurava o Libertador.

Na cadeira velha 

na parede reclinada

de uma casa miserável;

sobre seu corpo triste

de Bolívar descansava.

Dom Joaquín o abraçou

com palavras muito corteses.

O herói do Novo Mundo

apenas mal respondia.

Depois do Sr. Mosquera

as penalidades irão enumerar,

ele perguntou a Dom Simón:

"E agora, o que você vai fazer?"

"Triunfar!" O Libertador

respondeu com uma fé louca.

E foi um silêncio sólido

de admiração e espanto ...


Depois daquele momento infeliz, o Libertador viveu muitos outros de igual desdita; o último trecho de sua existência é marcado pelas constantes divisões nas fileiras liberais, o que levará inclusive ao fato de que, às vésperas de sua morte, a Venezuela se proclamou estado independente da Grande Colômbia. Em 17 de dezembro de 1830, o grande libertador Simón Bolívar fechou os olhos e não acordou mais.

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A luta pela integridade dos povos de nossa América continua sendo um belo ideal. Não foi fácil realizar esse belo propósito. Seus principais obstáculos têm sido o movimento conservador das nações da América, as rupturas nas fileiras do movimento liberal e o domínio dos Estados Unidos no continente. Não esqueçamos que quase ao mesmo tempo em que nossos países se tornaram independentes da Espanha e de outras nações europeias, estava surgindo neste continente a nova metrópole de dominação hegemônica.

Durante o período difícil das guerras pela independência, inauguradas por volta de 1810, os governantes americanos, com uma perspectiva inteiramente pragmática, acompanharam os acontecimentos com interesse secreto. Os Estados Unidos manobraram em momentos diferentes segundo um jogo unilateral: extrema cautela no início, para não irritar a Espanha, a Grã-Bretanha, a Santa Aliança, sem atrapalhar a descolonização, que às vezes parecia duvidosa. Porém, por volta de 1822, Washington deu início ao rápido reconhecimento da independência conquistada para fechar o caminho ao intervencionismo extracontinental e, em 1823, enfim, a uma política definida.

Em outubro, Jefferson, o progenitor da Declaração de Independência e então uma espécie de oráculo, respondeu por carta a uma pergunta do presidente James Monroe sobre o assunto. Em um parágrafo significativo, Jefferson diz: “Nossa primeira e fundamental máxima deve ser nunca se envolver nas confusões da Europa. O segundo, nunca permitir que a Europa interfira nos assuntos deste lado do Atlântico ”. Em dezembro, Monroe fez o famoso discurso delineando a doutrina que leva seu nome.

O slogan “América para os americanos” acabou desintegrando os povos de nosso continente e destruindo o que foi construído por Bolívar. Ao longo de quase todo o século XIX sofreu constantes ocupações, desembarques, anexações e custou-nos a perda de metade do nosso território, com o grande golpe de 1848.

Essa expansão territorial e guerreira dos Estados Unidos foi consagrada quando Cuba, último bastião da Espanha na América, caiu em 1898, com o suspeito naufrágio do encouraçado Maine em Havana, que deu origem à emenda Platt e à ocupação de Guantánamo. Em outras palavras, a essa altura os Estados Unidos haviam acabado de definir seu espaço físico-vital em toda a América.

Desde aquela época, Washington nunca parou de conduzir operações abertas ou encobertas contra países independentes ao sul do Rio Grande. A influência da política externa dos EUA é predominante na América. Há apenas um caso especial, o de Cuba, país que há mais de meio século afirma sua independência enfrentando politicamente os Estados Unidos. Podemos concordar ou não com a Revolução Cubana e seu governo, mas resistir 62 anos sem se submeter é uma façanha e tanto. Minhas palavras podem irritar alguns ou muitos, mas como diz a canção de René Pérez Joglar da Calle 13/Residente, “Eu sempre digo o que penso”.

Consequentemente, creio que, por sua luta em defesa da soberania de seu país, o povo cubano merece o prêmio de dignidade e essa ilha deve ser considerada a nova Numancia * por seu exemplo de resistência, e creio que por essa mesma razão deve ser declarada patrimônio mundial.

Mas também afirmo que é hora de uma nova convivência entre todos os países da América, porque o modelo imposto há mais de dois séculos se esgotou, não tem futuro nem saída, não beneficia mais ninguém. Devemos deixar de lado o dilema de integrar-nos aos Estados Unidos ou nos opor defensivamente.

É hora de explorar outra opção: dialogar com os governantes dos EUA e convencê-los e persuadi-los de que uma nova relação entre os países da América é possível.

Acredito que atualmente existam condições imbatíveis para atingir esse propósito de nos respeitarmos e caminharmos juntos sem que ninguém fique para trás.

Nesse sentido, nossa experiência de integração econômica com respeito à nossa soberania, que temos realizado na concepção e aplicação do Tratado Econômico e Comercial com os Estados Unidos e Canadá, pode ajudar.

Obviamente, não é pouca coisa ter uma nação como os Estados Unidos como vizinho. Nossa proximidade nos obriga a buscar acordos e seria um erro grave chutar Sansão, mas ao mesmo tempo temos motivos poderosos para afirmar nossa soberania e demonstrar com argumentos, sem bravatas, que não somos um protetorado, uma colônia ou seu quintal. Além disso, com o passar do tempo, aos poucos foi sendo aceita uma circunstância favorável para nosso país: o crescimento excessivo da China fortaleceu a opinião nos Estados Unidos de que devemos ser vistos como aliados e não como vizinhos distantes.

O processo de integração ocorre desde 1994, quando foi assinado o primeiro Tratado, ainda incompleto, pois não tratou da questão trabalhista, como o faz agora, permitindo a instalação de fábricas de autopeças no setor automotivo e outros ramos e cadeias produtivas foram criadas que nos tornam mutuamente indispensáveis. Pode-se dizer que até a indústria militar nos Estados Unidos depende de autopeças que são feitas no México. Não estou dizendo isso com orgulho, mas para sublinhar a interdependência existente. Mas por falar nisso, como mencionei ao presidente Joseph Biden, preferimos uma integração econômica com dimensão soberana com os Estados Unidos e Canadá, para recuperar o que foi perdido na produção e no comércio com a China, do que continuar a enfraquecer como região e ter no Pacífico um cenário atormentado por tensões bélicas. Em outras palavras, queremos que os Estados Unidos sejam fortes economicamente e não apenas militarmente. Alcançar esse equilíbrio e não a hegemonia de qualquer país é a coisa mais responsável e mais conveniente a fazer para manter a paz para o bem das gerações futuras e da humanidade.

Em primeiro lugar, devemos ser realistas e aceitar, como afirmei em meu discurso na Casa Branca em julho do ano passado, que enquanto a China domina 12,2% do mercado global de exportação e serviços, os Estados Unidos só o fazem em 9,5 por cento; e esse desnível vem de apenas 30 anos atrás, porque em 1990 a participação da China era de 1,3% e a dos Estados Unidos 12,4%. Imagine se essa tendência das últimas três décadas continuasse, e não houvesse nada que pudesse legal ou legitimamente impedi-la, em mais 30 anos, até 2051, a China teria o domínio de 64,8% do mercado mundial e os Estados Unidos entre 4 e 10 por cento; o que, insisto, além de uma desproporção inaceitável no campo econômico, manteria viva a tentação de apostar na solução dessa disparidade com o uso da força, o que nos colocaria todos em perigo.

Poder-se-ia supor de forma simplista que cabe a cada nação assumir a sua responsabilidade, mas, tratando-se de um assunto tão delicado no que diz respeito aos direitos dos outros e à independência de cada país, pensamos que o o melhor seria nos fortalecermos econômica e comercialmente na América do Norte e em todo o continente. Além disso, não vejo outra saída, não podemos fechar nossas economias ou apostar na aplicação de tarifas aos países exportadores do mundo, muito menos devemos declarar guerra comercial a alguém. Acho que o melhor é ser eficiente, criativo, fortalecer nosso mercado regional e competir com qualquer país ou região do mundo.

Claro, isso acontece planejando em conjunto o nosso desenvolvimento: nada de deixar fazer ou deixar passar. Objetivos muito precisos devem ser definidos em conjunto; por exemplo, parar de rejeitar os migrantes, a maioria deles jovens, quando para crescer você precisa de uma força de trabalho que, na realidade, não é suficiente nos Estados Unidos ou Canadá. Por que não estudar a demanda de mão de obra e abrir o fluxo migratório de forma ordenada? E dentro da estrutura deste novo plano de desenvolvimento conjunto, a política de investimento, trabalho, proteção ambiental e outras questões de interesse mútuo para nossas nações devem ser consideradas.

É óbvio que isso deve implicar cooperação para o desenvolvimento e o bem-estar de todos os povos da América Latina e do Caribe. A política dos últimos dois séculos, caracterizada por invasões para colocar ou remover governantes ao capricho da superpotência, já é inaceitável. Vamos dizer adeus às imposições, interferências, sanções, exclusões e bloqueios.

Em vez disso, apliquemos os princípios de não intervenção, autodeterminação dos povos e solução pacífica de controvérsias. Vamos iniciar um relacionamento em nosso continente sob a premissa de George Washington, segundo a qual, “as nações não devem se aproveitar do infortúnio de outros povos”.

Sei que é um assunto complexo que exige uma nova visão política e econômica: a proposta é, nem mais nem menos, do que construir algo semelhante à União Europeia, mas ligado à nossa história, à nossa realidade e às nossas identidades. Nesse espírito, não se deve excluir a substituição da OEA por um órgão verdadeiramente autônomo, não lacaio de ninguém, mas mediador a pedido e aceitação das partes em conflito, em matéria de direitos humanos e democracia. É uma grande tarefa para bons diplomatas e políticos como os que, felizmente, existem em todos os países do nosso continente.

O que é proposto aqui pode parecer uma utopia; no entanto, deve-se considerar que sem o horizonte de ideais não se pode chegar a lugar nenhum e que, portanto, vale a pena tentar. Vamos manter vivo o sonho de Bolívar.

Muito obrigado.



Castillo Chapultepec, Ciudad de México, 24 de julio de 2021.

Tradução : Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba

N.T.  : *"O Cerco de Numancia" fala de "a heroica luta contra a invasão, a humilhação e a injustiça de um povo que se sente enrolado pelo poder militar de Roma".  Durante os vinte anos que durou o assédio de Numancia, que "envergonhava profundamente" a todos os romanos, os celtíberos opuseram uma resistência que se tornou "num mito na história e que Cervantes refletiu como tal".

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