ÍNDICE

27 de jun. de 2022

JULGAMENTOS EM CUBA NA MÍDIA OU… ENFIM, A HIPOCRISIA

Contrarrevolucionários  pedindo invasão estadunidense a Cuba.

                                      
Marcia Choueri*

          Entre os dias 30 e 31 de maio deste ano, foram julgados pelo Tribunal Municipal Popular de Centro Habana, em Cuba, os acusados Luis Manuel Otero Alcántara, Maikel Castillo Pérez, Félix Roque Delgado e as acusadas Juslid Justiz Lazo e Reina Sierra Duvergel.

        O primeiro e o terceiro foram condenados a cinco anos de privação de liberdade; o segundo, a nove anos; as duas últimas, a 3 anos, mas vão cumpri-los em liberdade.

        As acusações são de atentado, desacato, resistência ante a autoridade, desordem pública, difamação das instituições e organizações dos heróis e mártires, e ultraje aos símbolos da pátria.

        Para quem não se lembra – e é fácil ter esquecido, por sua absoluta falta de importância – eles são membros do chamado Movimento San Isidro, nome que adotaram porque residem nas cercanias dessa rua de Centro Havana. Mas eles não foram julgados pela má qualidade artística de suas obras e músicas, já que isso é questão de gosto pessoal, e muito menos pelo que pensam ou expressam politicamente. Não são presos de consciência, nem presos políticos, como a grande mídia internacional, inclusive a brasileira, quer nos convencer.

        Um dos atos de que eles foram acusados – quando praticaram atentado, desacato, resistência e desordem –, falando em bom brasileiro, foi o seguinte: eles armaram pro policial. Fizeram uma cena em Centro Habana, provocando a polícia, para poder fazer vídeos e divulgá-los pelas redes sociais.

        Isso aconteceu em 4 de abril de 2021. Naquele momento, aqui em Cuba era obrigatório o uso de máscaras em locais públicos. Juslid passou com o rosto desprotegido bem do ladinho de uma viatura. Quando o policial, sem nem descer do carro, alertou-a para que pusesse a máscara, o Maikel Castillo foi em direção a ele e começou a gritar, para formar confusão. Até tentou entrar na viatura, mas não conseguiu.

        O policial saiu do carro e lhe pediu os documentos, que ele se recusou a entregar, dizendo que não tinha, e gritando mais ainda, para aumentar o show. O policial tentou contê-lo e levá-lo para viatura, e foi quando os outros entraram em cena. Rasgaram a farda dos dois policiais – porque aí também já estava o parceiro, afinal eles andam em duplas é para isso mesmo -, bateram nos agentes, tentaram roubar a arma, enfim, um espetáculo para as mídias. Tudo isso está registrado nos próprios vídeos que eles gravaram, ninguém inventou nada.

        Os crimes de difamação das instituições e organizações, e dos heróis e mártires de Cuba, eles praticaram de forma reiterada, por suas redes sociais.

        E, no caso do Otero Alcántara, ele praticou o crime de ultraje aos símbolos pátrios várias vezes. Ele diz que é arte, mas o que fez foi divulgar fotos usando a bandeira cubana como toalha, inclusive sentado no vaso sanitário. Fez isso entre 15 de agosto e 5 de setembro de 2019. (fotos)



        


            O que eu descrevi são fatos comprovados com imagens publicadas pelos próprios acusados, então, ninguém pode dizer que estou falseando. Eles foram julgados por um tribunal legítimo, sem pressa – veja as datas dos fatos – e receberam as penas previstas no Código Penal em vigor. Como é óbvio, eles estavam conscientes do peso de seus atos e das consequências, porque a lei é pública.

        Vamos então a uma interpretação de tudo isso. Alguém poderia dizer (como de fato estão dizendo) que é uma pena pesada, desproporcional às ações praticadas. Tá, posso aceitar, desde que seja um cubano a dizer isso. Sabe por quê? Porque um brasileiro não é capaz de entender a importância dos símbolos pátrios em Cuba. É uma questão de cultura, nós, brasileiros, simplesmente não damos essa importância. A maioria nem sabe o que é um símbolo pátrio. E foi por isso mesmo que ele se enrolou na bandeira, percebe? Ele sabia que ofenderia o sentimento de patriotismo do seu próprio povo, era esse o objetivo.

        Vale o mesmo raciocínio para os heróis e mártires. Que brasileiro ficaria minimamente preocupado, se alguém xingasse, sei lá, o Tiradentes? Nenhum. Mas todos os cubanos respeitam e até veneram Martí ou o Che, só pra mencionar dois exemplos. Então, só temos de aceitar que para os cubanos é, sim, importante. E respeitar isso.

        E agora vamos à hipocrisia. De novo, em bom brasileiro: os caras primeiro provocaram os policiais, depois resistiram à ordem de entrar na viatura, bateram nos agentes, rasgaram a farda, tentaram roubar uma arma… sabe quando um jovem negro brasileiro sairia vivo dessa experiência? Ou colombiano, ou chileno, ou… É nunca! O policial nem tirou o cassetete do cinto, não fez nenhum gesto violento. E a imprensa brasileira quer fazer tititi? Fazer esse assunto render? A mesma imprensa que se calou e enriqueceu durante a ditadura, quando os jovens que lutavam pelos direitos do povo brasileiro eram sequestrados pelas forças de segurança na calada da noite, assassinados ou “desaparecidos”? A mesma imprensa que se cala ante os homicídios diários praticados pelas PMs do Brasil?

        Desde quando é importante, para a mídia internacional, um julgamento por delitos comuns em um tribunal municipal em Havana? Julgamento, aliás, que ainda está sujeito a recursos.

        Dá até raiva, de tão evidente a intenção! Trata-se de mais um lance no tabuleiro da guerra não convencional contra Cuba. Serve para justificar as ações contra a Ilha em organismos internacionais, com o pretexto de que aqui não se respeitam os direitos humanos. Serve, em última análise, para justificar o bloqueio, esse crime que já dura mais de 60 anos e impõe a escassez e as inúmeras dificuldades cotidianas a quem vive na Ilha.

        Não se deixe enganar, a grande mídia simplesmente está, como sempre, servindo aos interesses do imperialismo.

                                




*Marcia é integrante do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba residente em Havana

       

Nenhum comentário:

Postar um comentário