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21 de dez. de 2022

Por que o neofascismo está avançando?

                   
Carlos Figueroa Ibarra 

   Escrevo estas linhas quando a notícia ainda incompleta informa que o Partido Republicano nos Estados Unidos recuperou o controle da Câmara dos Deputados, tem um laço virtual com o Partido Democrata no Senado e ganhou a maioria dos cargos de governador em disputa. Este triunfo qualifica Donald J. Trump para ser novamente o candidato presidencial em 2024? Ele tem 71% das preferências republicanas, mas a maré republicana não foi esmagadora. Apenas alguns dos candidatos de extrema-direita apoiados por Trump triunfaram. A questão para os próximos meses é se teremos novamente um neo-fascista sentado na Sala Oval da Casa Branca.

   Na Polônia, o partido PIS (Lei e Justiça) governa em coalizão com o PIS neofascista, que é acompanhado por um movimento de extrema-direita mais abertamente fascista, como o Acampamento Nacional Radical e a Juventude Pan-Polonesa. Na Hungria, o partido Fidesz (União Cívica Húngara) com Viktor Orban à frente, tem sido hegemônico no país desde 2010. Na Alemanha, o partido neo-fascista AfD (Alternativa para a Alemanha) é acompanhado por seu grupo de choque Pegida e por um pequeno partido francamente neonazista, o Partido Nacional Democrático. A AfD tem 10% dos votos nas eleições nacionais, mas em regiões como Brandenburg, Saxônia, Saxônia-Anhalt e Turíngia ela tem entre 21 e 28% dos votos. 

     Na Itália, a Fratelli d'Italia (Irmãos da Itália) liderando uma coalizão de direita com a neofascista Giorgia Meloni ganhou a Presidência do Conselho de Ministros. Com sua coalizão (Liga do Norte e Forza Italia), a Fratelli d'Italia (que ganhou 26% dos votos) terá uma maioria esmagadora nas câmaras. Na Espanha, Vox, uma lasca neofascista do Partido Popular, teve um crescimento notável desde 2013 quando foi fundado, tendo obtido 0,23% dos votos em 2015, em 2019 alcançou 15%.

                                     

      Na América Latina, o neofascista Jair Bolsonaro com sua coalizão Pelo Bem do Brasil obteve 43% dos votos no primeiro turno e 49% no segundo, um resultado espetacular considerando o governo desastroso que ele liderou. Na Bolívia, Luis Fernando Camacho, dirigente do Comitê Cívico de Santa Cruz, fez do departamento de Santa Cruz de la Sierra (do qual ele é governador) um reduto neofascista e foi um dos principais protagonistas do golpe que derrubou Evo Morales em 2019. No Chile, um neofascista da linhagem Pinochet, José Antonio Kast, ganhou 44% dos votos no segundo turno com sua coalizão Frente Social Cristiano. Na Colômbia, também na segunda rodada, o neofascista Rodolfo Hernández, apoiado por Uribe, obteve 47,3%.

     Em outros países da América Latina, o neofascismo ainda não alcançou resultados notáveis.  Mas no México, além da Frente Anti-AMLO (FRENA), começa a haver manifestações preocupantes: o concerto neonazista de música punk e hard-core realizado em 29 de outubro e o encontro internacional da Conferência Política da Ação Conservadora que reuniu as ultra-direitas de vários países da América e da Europa nos dias 18 e 19 de novembro.

    O neofascismo tem diferenças óbvias com o fascismo clássico do período entre as guerras na Europa. Mas compartilha com ele uma vocação autoritária,  o anticomunismo (acentuado na América Latina pelo avanço do progressivismo),o racismo (acentuado na Europa e nos Estados Unidos pelas ondas da imigração), o chauvinismo (matizado na América Latina por sua subordinação ao império americano), a xenofobia,a  demofobia, a aporofobia, a homofobia e a misoginia.                    


     Por que o neofascismo está em ascensão? A resposta é complexa e talvez digna de outro artigo. Cada país tem razões diferentes decorrentes de sua história. Uma causa geral pode ser o autoritarismo violador dos direitos humanos e ambientais que necessita de um aprofundamento neoliberal. Além disso, a ideologia do sucesso individual que o neoliberalismo fomentou; o crescente racismo que está provocando a migração do sul global; o anticomunismo que gera o avanço da esquerda, particularmente evidente na América Latina; a crise neoliberal com seu rastro de desmantelamento de estabelecimentos industriais e comerciais e o desemprego nos países centrais; os efeitos negativos que a União Europeia tem tido; o fundamentalismo religioso do catolicismo ultra-conservador e do neopentecostalismo; a credibilidade do absurdo baseado na ignorância. 

     Não é coincidência que tanto na Europa quanto no Brasil o slogan "Deus, Pátria, Família" tenha sido o lema do neofascismo. Ela resume as características atuais do neofascismo: fanatismo religioso, nacionalismo reacionário, racismo, aversão à crescente multiplicidade de identidades sexuais, defesa conservadora das instituições existentes.  Estamos vivendo uma crise de civilização, e o avanço do neofascismo é um de seus sintomas.

 

Carlos Figueroa Ibarra


https://connuestraamerica.blogspot.com/2022/11/por-que-esta-avanzando-el-neofascismo.html

Tradução: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba 



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