ÍNDICE

17 de mar. de 2023

Reivindicação em Nova York : fim do bloqueio e normalização das relações EUA-Cuba

                        

 Deisy Francis Mexidor* 

    Os povos de Cuba e dos Estados Unidos querem viver em paz, têm muito a contribuir um com o outro, não há motivo para hostilidade, é o sentimento geral que surgiu na 3ª Conferência Internacional para a Normalização das relações entre os dois países, realizada na cidade de Nova Iorque.

     Em 11 e 12 de março, ativistas de solidariedade, intelectuais, artistas e personalidades de diferentes campos dos países anfitriões, Porto Rico e Canadá, se reuniram na Universidade de Fordham em Nova York para exigir o fim de todas as sanções econômicas e de viagem, ou seja, o bloqueio, contra a nação antilhana.

    "Por mais de 60 anos, o governo dos Estados Unidos impôs um bloqueio econômico total e brutal a Cuba", advertiu anteriormente o ativista Ike Nahem, que disse que, sem se importar com a  pandemia de Covid-19, a administração de Donald Trump (2017-2021) acrescentou 243 medidas adicionais para endurecer esse cerco unilateral.

   "Apesar das promessas, a administração de Joe Biden não aliviou o bloqueio nem levantou nenhuma medida", enfatizou Nahem, membro da US-Cuba International Standards Conference Coalition.

    Já na reunião, o acadêmico William LeoGrande foi enfático ao afirmar que a posição do Presidente Joe Biden é contraditória, porque por um lado ele afirma apoiar o povo cubano e ao mesmo tempo aplica uma política de estrangulamento à economia da ilha.

    O ex-reitor da Escola de Assuntos Públicos da Universidade Americana reiterou em sua intervenção virtual na reunião que a normalização dos laços é o que ambos os povos querem, "não deixe Biden esquecê-lo".

   LeoGrande, co-autor, juntamente com Peter Kornbluh, do livro "Back Channels to Cuba: The Hidden History of Negotiations between Washington and Havana",("Canais alternativos para Cuba: a história oculta das negociações entre Washington e Havana" - em tradução livre) considerou que o próximo passo para a Casa Branca deveria ser retirar a nação da ilha da lista de Estados patrocinadores do terrorismo elaborada por Washington.

    Neste sentido, exortou a administração Biden "a realizar um exame honesto" para reverter esta situação.

    LeoGrande lembrou que o Secretário de Estado Antony Blinken prometeu, durante uma visita a Bogotá e a pedido do Presidente colombiano Gustavo Petro, rever a designação de Cuba.

    Insistindo que estas políticas dos EUA contra Cuba são "retrógradas e muito velhas", o especialista da América Latina disse que a inclusão na lista era uma medida adotada "para satisfazer um pequeno grupo no sul da Flórida e alguns políticos, e o melhor é que nenhum deles votará em Biden".

"A adição cruel e hipócrita de Cuba a esta lista aprofundou o impacto do bloqueio americano", disse a canadense Alison Bodine, uma das coordenadoras da reunião.

     Por sua vez, o congressista estadunidense James McGovern de Massachusetts denunciou o bloqueio como a causa de todas as dificuldades sofridas pelo povo das Antilhas.   

Plenario III Conferencia Internacional por Normalización de Relaciones Estados Unidos-Cuba

     O membro da Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA é um dos mais ativos na luta pela normalização das relações entre os dois lados, portanto, na Conferência ele exortou seus ouvintes a pressionar a administração Biden a mudar sua política em relação a Cuba, e evocou como exemplo positivo a reintrodução de um projeto de lei bipartidário contra o bloqueio patrocinado por cinco senadores.

    "Esta conferência é importante. As ações que tomamos podem fazer a diferença e inspirar mais pessoas a trabalhar para isso", enfatizou, mencionando as restrições financeiras projetadas contra Cuba.

       Para McGovern, o endurecimento do bloqueio, bem como a inclusão injusta do país na unilateral lista, são medidas que, em sua opinião, têm a capacidade de colocar qualquer economia de joelhos.

    Medea Benjamin, co-fundadora da organização Codepink, disse que longe de ser um país agressor, o maior das Antilhas é aquela que tem sido vítima do terrorismo organizado pelos Estados Unidos durante décadas.

   Tamara Hansen canadense, a médica afro-americana Rosemarie Mealy e o professor August Nimtz, e Carlos Lazo, coordenador da iniciativa Pontes de Amor, pediram a eliminação de todas as políticas restritivas que afetam a ilha.                    

Tamara Hansen, membro do movimento de solidariedade com Cuba no Canadá

A MENSAGEM DE CUBA

     Noemi Rabaza, primeira vice-presidente do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP) lembrou no evento os laços históricos que ligam Nova York a Cuba e sua luta revolucionária.

   "Justamente neste ano do 170º aniversário do nascimento de José Martí, é digno de nota que foi precisamente de Nova Iorque que seus Versos Sencillos, La Edad de Oro e o jornal Patria foram publicados. O Partido Revolucionário Cubano também foi fundado aqui com o objetivo de organizar a independência de Cuba e apoiar a de Porto Rico", lembrou ela.

Noemi Rabaza, primeira vice- presidenta do Icap. Foto do Icap

    Diante da campanha neocolonial que se tenta impor aos nossos povos para fazê-los esquecer sua história, este espaço de diálogo é uma digna homenagem à contribuição indispensável de José Martí para a independência e a soberania de Cuba, destacou.

    "Hoje, como ontem, os grupos solidários nos Estados Unidos e a emigração patriótica estão unidos no apelo ao fim das campanhas difamatórias e das agressões contra nosso país", disse ela.

    Assinalou que se passam mais de 60 anos de um cruel e impiedoso bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba, e se referiu à complexa situação vivida por seu povo, causada por esta política genocida imposta pelo governo norte-americano, que foi "intensificada ao extremo".

   Explicou que esta tentativa de asfixia "sujeitou a economia cubana a tensões extraordinárias que tiveram um impacto na deterioração do padrão de vida das famílias, na inflação, nos preços, nos salários, na disponibilidade de alimentos e medicamentos, assim como no serviço de eletricidade".

     Também atinge a renda do país, ressaltou, as transações financeiras, indústria, construção, serviços, comércio, investimento, saúde e educação.

   "É uma política que causa privação em toda a nossa sociedade e é mais hostil aos mais vulneráveis, tais como crianças, mulheres grávidas, idosos e deficientes. Ela também incentiva deliberadamente a emigração, especialmente de pessoas qualificadas em idade de trabalhar", disse Rabaza.

     A conferência contou com oficinas ao vivo e painéis de discussão, uma exposição de arte cubana e um festival de curtas-metragens.

    Os organizadores solidários de Cuba em Miami, Boston, Los Angeles, Minneapolis-St Paul, Portland e Vancouver, Canadá, também exibiram o que estava acontecendo em eventos em suas cidades.


VENENO DOS ODIADORES


   Pouco depois de concluir seu discurso na reunião, Lazo denunciou que foi verbalmente atacado por um pequeno grupo de pessoas que estavam posicionadas perto do local onde se celebra a conferência.

   Imagens de um vídeo postado em redes sociais pelo professor cubano-americano, que vive em Seattle, mostraram como os indivíduos gritavam impropérios e linguagem grosseira.

   "Esses são os odiadores", se ouviu dizer a Lazo, que em resposta começou a cantar as notas do Hino Nacional de seu país de origem e depois exclamou: Viva a família cubana!

   Em diferentes declarações à agência de notícias Prensa Latina, ele alertou sobre as ameaças e tentativas de sabotar Pontes de Amor durante as caravanas que acontecem todos os fins de mês em Miami e outras cidades dos Estados Unidos e do mundo em favor da eliminação do bloqueio, o cerco mais longo da história contra qualquer nação.

    Os participantes da conferência reafirmaram a exigência de que o Presidente Biden cumpra suas promessas de campanha porque, como a vice-presidente do ICAP assinalou, há medidas que permanecem intactas.

"O Título III da Lei Helms Burton, a lista de entidades restritas, a perseguição de nossa cooperação médica e a infame e infundada inclusão de Cuba na lista arbitrária de países que supostamente patrocinam o terrorismo permanecem ativos", disse Rabaza.

     Tudo isso impede o acesso a financiamentos, créditos e novos investimentos na ilha, enquanto os próprios Estados Unidos continuam a financiar operações de desestabilização e campanhas de descrédito contra Cuba.


*Jornalista cubana

https://cubaenresumen.org/2023/03/14/reclamo-en-nueva-york-fin-al-bloqueo-y-normalizar-relaciones-estados-unidos-cuba/

Tradução/Edição: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba





Nenhum comentário:

Postar um comentário