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2 de set. de 2024

SE A VERDADE OS MATA, DEIXEM QUE MORRAM.

"Um mundo melhor é possível".
 Ana Hurtado 

   Nós. Nós, os revolucionários, em Cuba e no mundo, se há uma coisa que devemos ter, é clareza. O inimigo muda, o contexto muda, mas por detrás dele está sempre o mesmo: derrubar a Revolução Cubana.

   Eles querem Cuba porque não a podem ter. Porque sabem que, por mais que tentem sujá-lo, o socialismo funciona. Funciona há 65 anos, apesar de um bloqueio que sufoca um povo, que desde o primeiro momento querem matar de fome.

   Assim já disse Lester Mallori: “o povo ama Castro” e assim continua sendo. Um amor e uma admiração mais fortes do que um séquito de espartanos.

   Não é novidade para ninguém que o império não quer que o povo saiba que existem alternativas. Em que o ser humano está no centro e importa mais do que o dinheiro e as posses. Alternativas tão perigosas para o imperialismo que tentam destruí-las e não conseguem porque uma coisa é certa: o povo tem a força em qualquer situação e de qualquer calibre.

    O subcomandante Marcos dizia que era subcomandante porque o povo era o comandante. Que o povo ordenasse e ali ele estaria, ao seu serviço. Numa manhã gloriosa de 1 de janeiro de 1994, o mundo acordou com a notícia da sublevação do Exército Zapatista de Libertação Nacional em Chiapas.

   Constituído maioritariamente por membros de povos originários, o EZLN não aceitou a nova entrada em vigor do Tratado de Comércio Livre da América do Norte.

   O que é que ia ser dos pobres da terra, aos camponeses e dos proletários?

   No dia 1 de janeiro, tomaram San Cristóbal de las Casas, entre outros locais, e declararam guerra ao Estado mexicano. Após doze dias de combate, começaram a falar com o governo através do diálogo e, mais tarde - o movimento zapatista no final do século XX -, acabaram por abandonar as armas. Para se empenharem pacificamente na transformação da realidade, promovendo mudanças e melhorias sociais.

    Muitos movimentos de esquerda em todo o mundo se entusiasmaram com esta revolução de doze dias. Tornou-se atrativa e até influenciou uma série de lutas posteriores. É, sem dúvida, um movimento a admirar, mas, na minha opinião, sem me aprofundar demasiado na natureza do EZLN, compará-lo-ia ao que considero ser uma verdadeira revolução.

    Para revolucionar ou transformar algo, é preciso ter prioridades e convicções claras. É preciso ter uma liderança forte e nunca perder o ânimo. Durante os meus anos de universidade, interessei-me muito por este fenômeno e por aquele 1 de janeiro de 1994.

   Mas cheguei a uma conclusão: eles queriam passar do particular para o geral. O objetivo último (e meritório) que tinham era a transformação revolucionária num México socialista.

    E o fato é que quando se vai mudar alguma coisa, tem de se aspirar desde o primeiro momento à maior mudança, deixando claro o manifesto de ideias. Temos que pedir tudo. Não se pode salvar um quilo de maçãs se uma estiver  apodrecendo e as partes más estiverem  sendo cortadas. É preciso arrancar a que está podre pela raiz, mesmo que a percamos, porque ela estragará lentamente as outras.

    As revoluções, quando se dá um passo firme, devem ser feitas aqui e agora.

                    

O capitalismo não funciona. A vida é outra coisa. 

    Foi uma pena que Marcos e o seu povo não tenham conseguido o que queriam, uma desilusão talvez para muitos. Mas se esquecem que Cuba ainda existe e é para lá que temos de olhar.

   O mundo  assiste ao aparecimento de esquerdas repugnantes. Projetos políticos que ficarão na latrina da história como traidores dos povos vítimas do capitalismo mais selvagem. Povos que mancham a memória daqueles que deram a vida antes deles.

   E o império sabe. Sabe que a única coisa que não pode controlar, supervisionar ou derrotar é o socialismo. Onde está o socialismo? Está em Cuba.

    Com coisas a aperfeiçoar, com erros a melhorar, mas está lá. Não se ajoelha perante nenhum desígnio imperial e avança, com uma corda ao pescoço, mas avança.

    E o socialismo não é uma ideia nacional, é uma ideia internacional. Por isso, é uma obrigação ética e moral apoiá-lo se nos sentirmos revolucionários, em qualquer geografia.  É uma obrigação assumir as consequências de se defender. É também uma obrigação não esquecer o inimigo. Um inimigo que vem sofrendo mutações, se transformando, se camuflando. Mas é tão constante quanto a força e a resistência deste povo.

    Porque a Revolução é o acesso social dos indivíduos. É a esperança de que vale a pena lutar por algo melhor. Se as pessoas sentem que já não têm acesso social, se desinteressam pela política e passam a consumir conteúdos banais nas suas vidas que o império coloca nas agendas dos povos de outros países. As suas aspirações mudam, os seus objetivos tornam-se medíocres. Deixam de pensar. E o pensamento é o que prejudica a hegemonia. Pensar é a guerra que precisa de ser travada.

     Quando as pessoas fazem parte de um sistema participativo, isso gera um nível de consciência nas pessoas que é a principal arma contra a derrota por agentes externos. Foi isso que a Revolução Cubana conseguiu nos seus primeiros anos.

   Reforçou a imaginação do povo, o seu espectro de aspirações e colocou a dignidade individual e geral como escudo.

    A dignidade não é quantificável, ou pelo menos é difícil de quantificar. Mas quando a temos, se nota de longe.

    Quando a temos e começamos a senti-la, começamos a pensar de forma diferente sobre nós próprios, sobre a sociedade e a valorizar as nossas capacidades como pessoa, como elemento de transformação.

    Temos de atingir um nível de consciência que nos permita compreender que a vida não é apenas a nossa ideologia ou a forma como pensamos. Mas sim a forma como colocamos em prática essa ideologia e como nos comportamos.

    Saber que ter um emprego não é apenas para comer e vestir, mas para poder participar na e com a sociedade. Sermos autônomos como homens e mulheres. E sermos livres para pensar.

    Saber também que a liberdade não é apenas ação, mas disciplina para  poder exercê-la  sem prejudicar o que nos rodeia.

    O socialismo sabe tudo isso, mesmo que ainda tenha um longo caminho a percorrer. Não é um caminho de anos, talvez de séculos. Basta querer estar dentro para podermos ser agentes de transformação do injusto, do hegemônico. Da mentira.

    Porque acima de tudo temos a verdade, uma interpretação humana da realidade que, embora possa não ser absoluta, é a verdade dos pobres e dos humildes.

   E como pensava o filósofo alemão Immanuel Kant, se a verdade os mata, vamos deixá-los morrer com ela e por causa dela.

 

http://www.cubadebate.cu/opinion/2024/09/02/si-la-verdad-los-mata-dejalos-que-mueran/ em ResumenLatinoamericano 

@comitecarioca21

                                          

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