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8 de out. de 2020

AOS 53 ANOS DO ASSASSINATO DO CHE GUEVARA por Tirso Sáenz - ex-vice-ministro de Che no Ministério das Indústrias de Cuba. (+vídeos em homenagem)


    AOS 53 ANOS DO ASSASSINATO DO CHE GUEVARA

              Tirso W. Sáenz

                                                                                                                                                 ..não há nada que eduque mais um homem  que viver dentro de uma  revolução

                                                                                                                                    Ernesto Che Guevara

                                                                                                                                                                                                                                                    

                                                                                                                                                                                                Este ano, em 8 de outubro  se completarão 53 anos da assassinato de uma das figuras mais relevantes da história da América Latina e do Terceiro Mundo: Ernesto “Che” Guevara. Che morreu na Bolívia, lutando numa guerrilha em prol dos seus ideais mais puros - conseguir libertar os povos latino-americanos das ferozes ditaduras, amparadas e apoiadas amplamente pelo governo norte-americano, que os oprimiam e abrir para eles novos caminhos de justiça social e prosperidade.

Guevara já tinha lutado junto a Fidel Castro em Cuba para derrubar a tirania de Batista, instaurar um regime de liberdade e iniciar a construção do Socialismo nesse país. A figura do Che é uma das mais lembradas, queridas e respeitadas pelo povo cubano, que o conheceu de perto e viu suas extraordinárias condições de revolucionário integral, de liderança, e seus incansáveis esforços por impulsionar o desenvolvimento econômico e social do país. Ele teve uma participação destacada na construção da base técnica e material do socialismo em Cuba. Nesse sentido foi importantíssima sua gestão como Ministro de Indústrias. Nessa posição ele desempenhou um importante papel no processo de industrialização cubano, ao qual se associou, de forma importante, a promoção e organização do progresso científico e tecnológico. É necessário ressaltar que esse modo de atuar se sustentava num profundo desenvolvimento da consciência do homem e de seu papel como ator central e objetivo na construção da nova sociedade socialista.

Precisamente, nessa última faceta de Ministro é que eu conheci o Che e pensei que seria útil apresentá-la na forma de um livro[1], por ser menos conhecida ao leitor brasileiro. Na vida e obra do Che há aspectos que não são tão divulgados quanto seu papel como guerrilheiro e que podem contribuir para uma melhor compreensão da sua multifacetada pessoalidade. Para esse livro, foi uma grande honra contar com um belo prefácio escrito por Frei Betto.

No livro, abordo a etapa da vida do Che como ministro, com a minha visão e percepção, forjadas em minha experiência pessoal, no trabalho cotidiano com o Che enquanto Ministro de Indústrias. Tratei de ressaltar os ingentes esforços que ele realizou com vistas ao desenvolvimento industrial cubano; a luta diária para resolver os problemas da produção num país bloqueado e agredido conjugada com sua visão estratégica, integradora e de organização; as concepções claras e a ação consequente no que se refere à importância do desenvolvimento da ciência e a tecnologia; a ênfase na capacitação e no desenvolvimento e tratamento adequado dos quadros dirigentes, seus métodos e estilos de direção. Busquei apresentar o Che em diferentes facetas da sua pessoalidade: o Che cotidiano, o ministro, o chefe, o amigo, o companheiro. Um Che vivo, construtor de sonhos e de realidades.

Para se ter uma compreensão maior do seu trabalho, apresentei também o entorno, o contexto cubano e internacional no qual o Che desenvolvia suas atividades naquele período.

Considero que, nessa dimensão, aparece um Che mais próximo ao leitor. Se a luta guerrilheira merece e merecerá sempre nosso respeito e admiração, não é menos importante mostrar como as idéias que sustentavam sua luta se refletiam e moldavam a ação concreta. A vida dentro de um ministério, de suas empresas, suas fábricas; seus problemas, as discussões com os trabalhadores, o trabalho voluntário, as agressões imperialistas, e todas aquelas ações desenvolvidas pelo Che, em que o povo foi um ator direto, são fatos nos quais muitos leitores encontrarão paralelos e até coincidências com suas próprias experiências. Nesse sentido, considerei que minhas impressões pessoais sobre o Che poderiam ser não só um material histórico – que certamente o são -, mas também uma leitura de referência para os que se preocupam com os problemas atuais e futuros de um mundo cada vez mais, infelizmente, unipolar e cheio de injustiças sociais.

Não pretendi apresentar uma biografia do Comandante Ernesto Che Guevara. Muitas biografias foram escritas. Em várias, há uma posição de confronto aberto ou velado à Revolução Cubana, predominando a falta de objetividade e o sensacionalismo. Em outras, ainda que sua pessoa seja tratada com o maior respeito e objetividade, não se aborda de forma extensiva e integral seu trabalho como construtor de uma nova sociedade, particularmente seu papel à frente da indústria cubana.

Sempre considerei muito importante destacar a relevância do impulso dado por Che ao desenvolvimento científico-tecnológico. Porém, sabia que esse aspecto era apenas uma parte de todas as suas atividades criadoras e frutíferas no próprio Ministério, as quais eu tive o privilégio de viver de perto. Assim, pensei que era necessário escrever sobre o Che multifacetado e, ao mesmo tempo, integral que eu conheci como ministro.

Ao meditar sobre aquela etapa e recordar muitos fatos e casos, pensei também na utilidade de divulgá-los, dada a vigência e atualidade do pensamento e ação do Che como Ministro, como construtor de uma nova sociedade em condições altamente complexas e difíceis.

Além disso, considerei que era útil resgatar parte da memória histórica do período, particularmente aqueles aspectos mais internos do Ministério.

Vários amigos insistiram na utilidade de apresentar uma imagem do Che através da visão e percepção de um jovem, que, sem ter sido revolucionário, entrou no processo revolucionário para trabalhar com o Comandante Guevara, com toda a carga de um processo de formação social, cultural e político influenciado por diferentes vetores contraditórios. Em suma, sob uma ótica pessoal, explicar esse complexo processo revolucionário ocorrido em Cuba, de mudanças amplas, profundas e radicais, bem como os conflitos e transformações em que estavam envolvidas pessoas como o autor que trabalhavam junto a figuras de tão relevante dimensão revolucionária.

Foi complicado estruturar esse livro. O pensamento e a ação do Che são tão integrais, que muitos aspectos se superpõem. Os primeiros passos do Ministério foram influenciados por seu pensamento estratégico, assim como a capacitação dos seus dirigentes; seus métodos e estilo de trabalho matizam todos os capítulos; o desenvolvimento científico e tecnológico não está separado das suas concepções sobre a economia, sobre o desenvolvimento dos recursos humanos e, muito em especial, sobre a formação da consciência socialista; Tentei apresentar essa integralidade de pensamento do Che.

Em determinados momentos ao longo do livro senti-me incômodo pela presença de muitas referências pessoais, mas, nesse tipo de abordagem, isso se torna inevitável. Assim, devo insistir que não é a história do autor que se pretende contar. Ela não teria maior importância..

Segundo Armando Hart, Che

"Foi uma síntese de homem de ação e pensamento que transcendia na história latino-americana e lhe infundia, por sua vez, novos alentos e riquezas ao socialismo. O guerrilheiro, ou dirigente da indústria e da economia, o homem de Estado e da política era um infatigável pesquisador, um promotor de novos pensamentos, um homem de profunda vocação intelectual"[2].

A humanidade progressista e, em particular, as novas gerações, veem na figura do Che a encarnação de altíssimos valores éticos e morais de solidariedade, generosidade, austeridade, exemplo pessoal, sensibilidade humana, decisão e disposição de oferecer até a própria vida pela liberação dos povos.

Existe uma corrente que trata de apresentá-lo como um mito, como um sonhador, quase como um santo, algo inalcançável e que não se repetirá, alguém que deu sua vida por um ideal nobre, mas que já não tem presente nem futuro. Só como uma figura do passado. Ao mesmo tempo, ignora-se o trabalho criativo do Che como construtor de uma nova sociedade, e tende-se a negar, ou a ocultar, a vigência do seu pensamento e ação nos momentos atuais.

Neste livro pretendemos mostrar que o Che não é só uma extraordinária figura histórica. Os exemplos de sua vida como ministro, sua austeridade, sua visão estratégica, sua capacidade de dirigente, sua elevada exigência, sua intransigência ante as irresponsabilidades, sua sensibilidade humana mostram que o Che é uma figura de presente e de futuro

Nesse sentido Fidel expressou que:

"Se queremos expressar como aspiramos que sejam nossos combatentes revolucionários, nossos militantes, nossos homens, devemos dizer, sem vacilação de nenhuma índole: que sejam como o Che! Se quisermos dizer como queremos que se eduquem nossas crianças, devemos dizer sem vacilação: queremos que se eduquem no espírito do Che. Se quisermos um modelo de homem, um modelo de homem que não pertence a nosso tempo, um modelo de homem que pertence ao futuro, de coração digo que esse modelo sem uma mancha na sua atitude, sem uma mancha só na sua atuação, esse modelo é o Che! Se quisermos expressar como desejamos que sejam nossos filhos, devemos dizer com todo o coração de veementes revolucionários: queremos que sejam como o Che!"[3]   


[1] Sáenz, T. W. (2005: O Ministro Che Guevara. Testemunha de um colaborador. Garamond, Rio de Janeiro.

[2] Hart, Armando (1989): Prefacio. Em Pensar al Che. Centro de estúdios de América. Ed. José Martí, Havana.

[3] Castro F. Discurso na velada solene em memória do Comandante Ernesto Che Guevara na Praça da Revolução. Havana, 18 de outubro de 1967.


Aqui dois vídeos em homenagem ao Che:

Homenagem da juventude internacionalista ao legado de Che, neste 8 de outubro. Celebrar seu legado é praticar a solidariedade em todas as partes do mundo. português/espanhol


https://www.youtube.com/watch?v=BwcV-MIir70&feature=emb_logo&ab_channel=LevantePopulardaJuventude



Aleida Guevara , filha do Che, a 53 anos de seu desaparecimento físico. Homenagem com lindas imagens dele :


https://www.youtube.com/watch?v=RIsF389lDUw&feature=youtu.be&ab_channel=coordinadorasolidaridad



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