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19 de jun. de 2021

OS DIREITOS HUMANOS E A GUERRA DE NARRATIVAS #EliminaElBloqueo

 

    Por Marcia Choueri*

    Poucos dias antes de ser votado na ONU o projeto de Resolução contra o bloqueio estadunidense a Cuba, podemos agradecer aos Estados Unidos e à extrema direita europeia uma verdadeira aula de métodos da guerra não convencional, aquela que não faz barulho, que passa imperceptível. Veja, que didático!

     A tática dessa guerra é convencer você de que a realidade perceptível não existe, de que o que você vê, toca, sabe não é o que parece. Ou que existe uma outra realidade, mais “real”, em total contradição com o que você sabe por experiência ou observação. É assim que conseguem convencer de que as escolas brasileiras distribuíam kits gays, ou que os governos de outros países são ditaduras, ou que Cuba viola os direitos humanos.

     Olha o script. Meses atrás, surgiu o autodenominado “Movimento San Isidro”. Não reúne gente suficiente nem tem propostas próprias, para ser chamado de movimento, mas não importa. A mídia “independente” de Miami, acompanhada pelos grandes meios internacionais, bate o bumbo, e logo todos ouvem falar deles. Montam factoides (um político do Rio nos ensinou: factoide é fato inventado, informação falsa, mentira mesmo), criam situações artificiais, para filmar com um celular e postar nas redes.

     O tempo passa. Quando faltam poucos dias para a votação na ONU da resolução contra o bloqueio, começam as ações orquestradas contra a Ilha:

1. O governo Biden coloca Cuba na lista de países que não combatem o terrorismo. A lista é deles, eles põem quem eles querem, não precisam apresentar provas ou argumentos. E a grande imprensa repercute, não para mostrar a arbitrariedade de quem faz a lista, mas como uma “verdade”. Que Cuba nunca tenha financiado um ato terrorista é irrelevante. E que tenha sofrido numerosas ações desse tipo, financiadas justamente por quem faz a lista, também não interessa. O que eles não nos contam: estar na lista impede que o país possa realizar determinadas operações financeiras, a lista é uma arma econômica.

2. Organizações acadêmicas e eurodeputados acusam Cuba de violar os direitos humanos de “artistas e jornalistas”, aqueles de San Isidro, alguns dos quais, aliás, depois do show inicial, já declararam publicamente que o tal movimento – como acontece também com vários meios “independentes” – é financiado por organizações vinculadas ao Departamento de Estado norte-americano. Mas as denúncias contra Cuba não levam em conta esses “detalhes”.

     O que não está expresso, o que eles querem que passe sem que o leitor/cidadão reflita, que seja como uma inferência, é que o bloqueio seria uma sanção a essa “má conduta” do governo cubano, de desrespeito aos direitos humanos.

     A única maneira que conhecemos para combater esses métodos é divulgando a realidade dos fatos e pedindo às pessoas que pensem.

     O primeiro e inquestionável direito humano é o direito a uma vida digna. É fácil compreender que nele se incluem a alimentação, a moradia, a educação, a saúde, o trabalho, a proteção aos vulneráveis. Qualquer sociedade humana que se preze deve ter como objetivo assegurar esse direito a todos os seus membros. Vejamos, então, algumas informações de como estão esses direitos em Cuba.

 


Bloqueio: por não poder comprar no mercado estadunidense, que é o mais próximo, Cuba paga de 350 a 600 dólares a mais a tonelada de frango. Ou seja, é menos frango que chega à mesa do cidadão cubano. Por falta de combustível (bloqueado em alto-mar) para entregar seus produtos, uma empresa cubana de alimentos teve de parar a produção durante 77 dias. Também devido à falta de combustível, entre os meses de novembro e dezembro de 2019, deixou-se de semear 12.399 hectares de arroz, e assim não se produziram 30.130 toneladas de arroz de consumo. Pela mesma razão, deixou-se de produzir mais de 195 mil toneladas de legumes e não se extraíram mais de 2 milhões de litros de leite e 481 toneladas de carne. Estes dados são do Informe de Cuba sobre os prejuízos provocados pelo bloqueio entre abril/2019 e março/2020.

- Direito à alimentação: como é público, os cidadãos cubanos têm de fazer demoradas filas para comprar alimentos. E enfrentam também a falta de vários produtos.

 

Bloqueio: 5 minutos de bloqueio equivalem a todo o material necessário para construir uma casa de dois quartos.

- Direito à moradia: há muitos anos, a construção de moradias em Cuba não consegue acompanhar o crescimento – embora pequeno – da população. Não há pessoas vivendo na rua, como na maioria dos países (inclusive do chamado primeiro mundo), mas há residências com várias gerações coabitando, e até casais que se separam e têm de continuar vivendo na mesma casa.

 

Bloqueio: 3 dias de bloqueio equivalem a todo o material escolar necessário ao país.

- Direito à educação: todas as crianças cubanas têm garantida sua vaga numa escola de período integral. E todas as escolas – não importa se num bairro residencial de Havana, ou numa zona rural – têm professores formados nas mesmas faculdades, recebendo salário igual e que utilizam o mesmo material didático. O objetivo é assegurar que todos os estudantes recebam educação de igual (e boa) qualidade. Mas é verdade que há escolas com salas fechadas porque necessitam reparos. E que podem faltar alguns livros (que então serão utilizados de forma compartilhada), os cadernos talvez demorem um pouco, e a merenda já não é tão substanciosa quanto em outros tempos.

 

Bloqueio: 5 horas de bloqueio equivalem a todas as máquinas de diálise necessárias em Cuba. 6 horas de bloqueio equivalem a toda a insulina necessária anualmente para os 32 mil pacientes do país.

- Direito à saúde: Cuba tem um sistema de saúde pública universal e acessível, que cobre desde a atenção primária, oferecida pelos consultórios de saúde da família, passando pelos policlínicos com consultas de especialistas e chegando até os hospitais gerais e os institutos especializados. Graças a esse sistema, Cuba tem os melhores índices da região, de recuperação frente à covid. Mas é verdade que algumas instalações necessitam reparos, e que há falta de medicamentos importantes nas farmácias.

 

Bloqueio: 2 horas de bloqueio equivalem a todas as máquinas de Braile que os cegos de Cuba necessitam.

- Direito à proteção: em Cuba, todas as pessoas que sofrem algum tipo de deficiência recebem atendimento especializado e produtos para sua atenção, como alimentos especiais, medicamentos, sapatos ortopédicos, fraldas etc. Mas também é verdade que às vezes os produtos escasseiam, é preciso esperar que cheguem, e até lá ir resolvendo como se pode.

 

     O objetivo aqui não é – nem poderia ser – esgotar o assunto. Apenas oferecer alguns dados objetivos, divulgar informação fidedigna e ajudar a pensar.

     A disputa de narrativas está presente o tempo todo. “Artistas” e “jornalistas”, como os de San Isidro, Bruguera, Yoani, Cubanet,  Cibercuba etc. são mercenários a soldo de um país estrangeiro e que, ainda por cima, está em guerra com Cuba. Insistem em vender-nos gato por lebre. Como bem dizia a canção, é preciso estar atento e forte.

 

#CubaSalva

#BloqueioMata

 

Panfleto do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba 

 

 

 

    *Integrante do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba  em Havana.

    

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