Os médicos são os heróis
Durante sua estadia na Venezuela como parte de uma
delegação de estudantes que assistem ao CLAE, o Herói da República Gerardo
Hernández Nordelo fala do futuro que vê nos jovens e do valor dos médicos e dá
pistas de outras proezas por Cuba
Gerardo Hernández Nordelo dialoga com
colaboradores cubanos na Venezuela. Foto: Enrique Milanés León
Como se fosse pouco o “arsenal” histórico que blinda os argumentos dos
122 delegados cubanos no 18o. Congresso Latino-americano e Caribenho de
Estudantes (CLAE), o grupo de jovens entusiastas da FEEM e da FEU viajou a
Caracas com um herói vivo, desses que – é verdade – não faltam em nossa Ilha,
mas que sempre, estejam onde estejam, nos levam a uma elevação do modo mais
natural.
Um a mais no grupo –porque assim costumam ser os verdadeiros titãs–, nestes dias Gerardo Hernández Nordelo
canta à Pátria, alça a bandeira e se soma à praça, canta, dá vivas! e abaixos !,
segundo o caso, ou anda mochila no ombro de um lugar a outro.
O pouco que lhe restava de um modesto anonimato explodiu em pedaços quando fechou, com acalorado
discurso, a primeira sessão teórica do encontro, dedicada nada menos que a
denunciar o rosto monroista (NT:doutrina monroe...) do assédio mediático que sofre a esquerda
mundial.
“Neste evento estão presentes –explica Gerardo– jovens da maioria de
países latino-americanos e do Caribe, com muitíssimos esforços; a maior parte
deles pagou suas próprias despesas. Quem vê o entusiasmo com que participam nas
atividades e lhes escuta seus critérios se dá conta de que o futuro está
garantido. Eles realçam muito o exemplo de Cuba como um dos poucos países da
região com muitos problemas da estudantada resolvidos, e eu lhes dizia que isso
não caiu do céu: teve momentos em nossa História em que nossos pais e avôs
decidiram que tinham que lutar por mudar a realidade”.
No teatro Teresa Carreño com suas
3 250 poltronas ocupadas, o herói comentou sua esperança de que em futuros
congressos da OCLAE os filhos e netos destes delegados latino-americanos e
caribenhos defendam outras conquistas, mas não tenham mais que lutar pelos mesmos
problemas de hoje:
“Terão avançado!”–, assegurou-lhes.
“Tenho trocado com muitos jovens de vários países e sinto-me muito
esperançoso. Sei o orgulho que têm por Cuba. Dizem-no abertamente, tanto a nós
como à Venezuela, que nos mantenhamos firmes e resistamos. São muitas as
pessoas que sonham com um mundo melhor, mas não ficam só em sonhar, senão que
lutam por isso”, acrescentou.
–Que sente ao estar em liberdade,
participar em um debate regional de jovens estudantes e contribuir, não só com
seu exemplo, senão com a exposição de suas ideias?
–Eu trabalho com jovens, e para mim foi uma honra muito grande que me
convidassem a integrar esta delegação, e em especial que me convidassem
precisamente os jovens. Tem sido uma experiência extraordinária. Sendo
estudante não tive a oportunidade de participar em um Congresso da OCLAE, e
aprecio ter tido essa oportunidade agora. Tenho regressado a esses anos de juventude, a
esse ambiente juvenil que deixei para trás na universidade, quando terminei meus
estudos para me dedicar a outras tarefas.
“Tenho revivido tudo aquilo e me sinto bem quando os rapazes me dizem
que estão contentes que eu esteja aqui, e quando sei que posso ajudar e
contribuir em algo. Que maior prazer que esse? Tenho tido a oportunidade de
agradecer a muitos jovens, porque muitos dos que estão vindo aqui são membros de organizações estudantis ou
inclusive de partidos que apoiaram a causa dos Cinco: do Brasil, do Chile, da
Argentina… Agradeci a todos em nome dos
cubanos e, em particular, de nós cinco”.
Patriota dos inquietos –perdoem-me a redundância–, Gerardo Hernández
Nordelo tem andado também em Caracas por caminhos paralelos ao OCLAE, de modo que esteve, por exemplo, com
colaboradores da saúde no Centro de Diagnóstico Integral Amelia Blanco, onde o
repórter teve que esperar que baixasse a maré de fotos que a seu lado pediam
nossos cooperantes para lhe perguntar coisas como esta:
–Você é um homem que sabe bem mais
que muitos homens sobre liberdade e prisão; agora que há esta campanha que diz
que os médicos cubanos são vítimas de trabalho escravo, cérebros lavados… que
sentimentos lhe inspiram estes de carne e osso que vê, saúda, abraça…?
–Desgraçadamente fala-se de que o socialismo lava o cérebro das pessoas;
é paradoxal: eu encontrava cada experiência na prisão! Não há nada que lave
mais o cérebro que o capitalismo e, produto dessa lavagem de cérebro, as pessoas
que viveram sempre sob um regime capitalista, neoliberal, não podem entender
que alguém, de coração, deixe qualquer
comodidade em seu lugar de origem e vá a um lugar remoto trabalhar e sacrificar sua própria vida pelo
único benefício de oferecer saúde, de ajudar ao próximo. Há pessoas que não
processam isso, pessoas para as quais o dinheiro é o mais importante na vida.
“Da mesma maneira em que, na prisão, a nós nos diziam que Cuba nos
pagava muito bem para fazer o que fazíamos e para resistir, e nós tínhamos que
esclarecer : “Compadre, se fizéssemos por dinheiro, Cuba não pode competir
monetariamente com ninguém, é impossível que o faça, tem que ter algo mais…!”,
mas esse algo mais é muito difícil explicar a pessoas criadas sob um regime que
lhes diz que o dinheiro é o mais importante na vida”.
–Simples e querido como é, você também
é um herói. Que lhe parece a ideia de que o herói da batalha nacional renda
homenagem a médicos com frequência modestos, jovens, de nomes mal
conhecidos?
–Sou honesto: não me sinto como herói; eu me sinto como cubano e me
ponho no lugar de muitos cubanos que
queriam estar hoje aqui, diante de
tantos médicos que se estão sacrificando na Venezuela pelo bem deste povo. Sinceramente me
pergunto o que a maioria dos cubanos gostaria
de dizer a estes compatriotas, e isso é
o que lhes digo, mas não me proponho a lhes dizer com
o herói; digo o que diria
qualquer um de nós. É o que penso, sem nenhuma demagogia: minhas palavras foram
como cubano, não como herói.
–Na contenda da Cuba de hoje, o que
são esses médicos para você?
–Antes de vir já sabíamos, mas nestes dias temos caminhado pelas ruas de
Caracas e, enquanto nota-se que não é o país que os grandes meios corporativos
querem fazer ver –porque há normalidade em suas cidades, é um país que vive,
que avança…– sim é um país assediado, agredido, bloqueado… e os efeitos se percebem, de modo que Venezuela está fazendo um sacrifício grande e nossos médicos
também, vivendo nestas condições, mas o fazem com o amor que extraem do carinho
à sua profissão, da grande vocação que têm e sobretudo do amor que sentem pela
Revolução Cubana e pela Revolução Bolivariana. Para mim, estes médicos são
heróis e heroínas.
EM CONTEXTO:
Os delegados do 18o. CLAE e o pessoal diplomático da Embaixada de
Nicarágua em Caracas, renderam homenagem ao General de homens e mulheres
livres, Augusto Nicolás Calderón Sandino. Como parte da jornada pelo
aniversário 124 do natalício do herói das Segovias, se depositou uma oferenda
floral em seu busto, localizado na Avenida Bolívar dessa capital. Os jovens latino-americanos ao grito
de Sandino vive, a luta segue! reafirmaram que seu gesto libertário pela defesa
da soberania e na contramão da intervenção norte-americana segue presente para
as novas gerações.
O encontro, que se desenvolve nos espaços do Complexo Cultural Teatro
Teresa Carreño, debate temas de interesse regional como a integração e
independência latino-americana ante a conjuntura e desafios que enfrenta o
movimento estudantil na atualidade e novas manifestações na América Latina como
a Guerra Híbrida, Guerra mediática e econômica, a Judicialização da política, Golpes brandos, Guerra cultural
e simbólica, entre outros.
Os delegados dialogam em várias mesas de trabalho; haverá também um foro
de solidariedade com os povos, e se celebrará uma noite cultural de América
Central e Caribe.