28 de fev. de 2023

VEM PRA CUBA ! (Na melhor data: Primeiro de Maio)

                   


Aos que sempre nos perguntam sobre viagens a Cuba, aqui postamos duas opções: por pacote ou pela brigada de solidariedade . As duas são ótimas e a data a melhor de todas : a grande Festa do Trabalhador no Primeiro de Maio (linda e inesquecível!).


Aqui as duas opções com todas as informações necessárias. Dá tempo de planejar....        

 

 O PACOTE :


Pacote para  Cuba  -  participação no 1º de Maio 2023

Data: 28 de abril a 07 de maio

Elaboração: AMISTUR (Agência de Viagem de Cuba)

Programação

Dia 28/04 Sexta-feira – 1ºdia

Chegada no Aeroporto Internacional José Martí

Recepção pelo guia da AMISTUR – Traslado para o Hotel Saint John’s –

Dia 29/04 - Sábado - 2º dia

10:00: visita ao Centro Fidel Castro Ruz 13:00 almoço no restaurante Aljibe

14:30 City tour - Havana Moderna e Havana Velha

Tempo Livre – Jantar no Hotel

Dia 30/04 Domingo 3º dia

8:30 saída para a Comunidade Sustentável Las Terrazas

Almoço em um restaurante local    14:00 regresso a Havana

Dia 01/05 Segunda –feira 4º dia

4:00 saída para a Praça da Revolução –

 7:00 Participação da Marcha do dia do Trabalhador – Tempo livre

Jantar no Hotel

Dia 02/05 –Terça-feira -5º dia

8:00 Saída para o Palácio das Convenções- Encontro Internacional de Solidariedade com Cuba – Almoço no Palácio das Convenções.

Dia 03/05 –Quarta-feira -6º dia

8:30 Saída para Santa Clara –visita ao Mausoleu do Che, Trem Blindado

13:30 almoço no restaurante Rosália

Regresso a Havana –Jantar no Hotel - Noite livre

Dia 04/05 –Quinta-feira- 7º dia

9:30 visita ao Museu da Denúncia

10:30 –visita ao ICAP (Instituto Cubano de Amizade com os Povos) intercâmbio com a especialista do Brasil -Tânia Parra.

Dia 05/05 –Sexta-feira- 8º dia  - Dia  livre  - Jantar no Hotel

Dia 06/05 –sábado 9º dia

Saída para Varadero – 17:30 regresso ao Hotel –Jantar no Hotel

Dia 07/05 –Domingo -10º dia - Saída para o aeroporto

Custo em euros (para 15 pessoas)

Single-1169.00 euros          Em dupla – 1003.00 euros (para cada um)

Estimativa 24/02 : Euro 5.52 x 1003 = R$5540.00   5.52 x1169 =R$6453.00

Inclui no pacote

Transfer – Guia da AMISTUR- Alojamento e alimentação incluída no pacote.

Não  inclui : as passagens aéreas

Companhia aérea para Cuba:

 Copa Airlines: sai de BH, RJ, SP DF e RS via Panamá, mas há outras opções.

O preço depende do valor do dólar e da antecedência da compra.

Pode se comprar pelo site da Copa Airlines ou qualquer Agência de Viagem.

O valor divide de 6 vezes sem juros.


Em 27/02 a passagem pela Copa Airlines, saindo de BH, está em torno de   R$ 3565.00, (sem mala para despachar) 10kg bagagem de mão e uma mochila. Saindo do Rio: R$3565.00, SP: R$ 4166.00, Brasília: R$2942.00 RS: R$3842.00, depende do valor do dólar e da antecedência que compra.

Se quer realmente participar deste pacote, compre a passagem, darei os números dos voos. As melhores conexões o voo sai de madrugada. Deve ir no dia 27/04 para o aeroporto.

Se quer e pode ficar mais dias em Cuba, oriento ficar depois do pacote e não antes.

Este preço é sem mala despachada e menor tempo. Só para ter uma noção, ida e volta. Claro que o dólar flutua muito. Quem pretende ir, deve já providenciar a compra da passagem e fazer inscrição comigo.

O pagamento da parte de Cuba, não divide, será em euros.

È necessário passaporte com validade até novembro de 2023, carteira internacional de vacina de Febre Amarela e certificado da ANVISA que vacinou contra a Covid-19.

O visto para a entrada em Cuba, compra-se no aeroporto na hora do check-in, valor 20 dólares, paga-se com cartão de crédito. 

Eu Telma Araújo, não sou de nenhuma Agência de Turismo, sou do Movimento de Solidariedade a Cuba, faço este trabalho de dar as informações, recolher os dados necessários, colocar os dados em uma planilha, de forma voluntária e enviar para AMISTUR/ Cuba.

Qualquer dúvida, estou às ordens.

E-mail: telma.araujo25@gmail.com

WhatsApp :31 98829 9288

                                                                         Contribuição: Telma Araújo

 


 A VIAGEM PELA BRIGADA DE SOLIDARIEDADE:


                                          


                                          

                  https://www.tiktok.com/@linanoronha/video/7204907685500734725

             


22 de fev. de 2023

VENHA PARTICIPAR COM A GENTE: DIA INTERNACIONAL DE AÇÃO CONTRA BASES MILITARES ESTRANGEIRAS #DevuelvanGuantanamoYa (+vídeo)

Dia Internacional de ação contra Bases Militares Estrangeiras.

    Tuitaço para o "Dia de Ação contra as bases militares dos EUA e da OTAN" e pelos 120 anos da imposição da Base Naval dos EUA em Guantanamo #DevuelvanGuantanamoYa

       O Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP) convida todos os seus seguidores em redes sociais digitais e indivíduos e organizações interessados na defesa da paz e soberania dos povos, para o dia virtual de denúncia do "Dia de Ação contra as bases militares dos Estados Unidos e da OTAN" e pelos  120 anos da imposição da base naval norte-americana em Guantanamo, em 23 de fevereiro, a partir das 9h00, horário de Cuba. (11:00h em Brasília)

                                         

    Com esta iniciativa, nosso Instituto se une ao chamado do Conselho Mundial da Paz, que a cada ano promove diferentes ações no mundo inteiro para expressar a forte rejeição internacional às bases militares em solo estrangeiro.

    Os cubanos participaremos deste chamado com uma motivação especial, para exigir a devolução do território cubano ocupado ilegalmente pela base naval estadunidense em Guantánamo, que neste dia marca o 120º aniversário da assinatura do acordo que oficializou seu estabelecimento, tornando-se assim o primeiro que o império se estabeleceu fora de seu território nacional. Devolvam Guantánamo a Cuba!

   Convidamos você a juntar-se a esta chamada com os hashtags #DevuelvanGuantanamoYa .

 Mencione @Siempreconcuba para que recebamos notificações de suas publicações  e possamos compartilhá-las.

Nos vemos nas redes!

                      


DINÂMICA DA JORNADA :

- Quinta-feira, 23 de fevereiro, a partir do horário indicado em cada país, o maior número possível de publicações deve ser feito utilizando o  maior número possível de posts usando as hashtags #DevuelvanGuantanamoYa

- Além de fazer suas próprias publicações, compartilhe outras contas que estarão usando as hashtags #DevuelvanGuantanamoYa 

- No Twitter, use apenas os hashtags propostos, evitando que eles sejam penalizados pelo algoritmo da plataforma, pois são considerados spam.

- Em publicações, nomeie e marque outras contas de interesse,  especialmente líderes e organizações de paz, bem como organizações sociais, sindicais e de mulheres, ambientais e outros.

Linhas de mensagem:

- Exigimos a devolução do território ocupado ilegalmente pela Base Naval dos EUA na Baía de Guantánamo, assim como a eliminação da prisão existente.

- Guantánamo é a mais antiga base militar americana fora de seu território nacional e contra a vontade do governo cubano e do povo cubano.

- A Base Militar Americana em Guantánamo tem sido um foco permanente de ações que têm violado os direitos humanos e a soberania de Cuba.

- A existência da prisão dentro da Base Naval constitui uma violação do tratado original sobre as Estações de Carvão e Navais, assinado em 1903.

- A imposição da Base Naval dos EUA na Baía de Guantanamo viola os tratados internacionais sob os quais Cuba e os EUA são signatários.

- As bases militares afetam ecológica, econômica e psicologicamente os habitantes das áreas onde estão localizadas.

- Apoiamos os compromissos assumidos nos textos da Proclamação da América Latina como uma zona de paz.

- A existência de bases militares na região está em contradição com o texto da Proclamação da América Latina e do Caribe como uma Zona de Paz.

- Exigimos o fechamento das bases e instalações militares estrangeiras dos EUA e da OTAN  em todo o mundo.

- Cuba se opõe à ameaça e ao uso da força, à defesa da paz e e defende a  busca de soluções para os conflitos através do diálogo respeitoso e sem interferência externa.

- Em 23 de fevereiro de 1903, os presidentes dos Estados Unidos e de Cuba assinaram um acordo bilateral que permitiu ao governo dos EUA alugar o território ocupado pela Base Naval dos Estados Unidos em Guantánamo, mas reconhecendo que este pedaço de terra é território soberano cubano.

- Desde 1959, o governo e o povo de Cuba exigem do governo norte-americano a devolução do território de Guantánamo ilegalmente ocupado pela Base, fato que constitui uma imposição do império e uma violação do direito internacional.

- O governo dos EUA tem que fechar a prisão ilegal que persiste em manter dentro da base militar de Guantánamo  supostos terroristas que não tenham sido  devidamente julgados.

- Diante dos desafios apresentados pela atual situação internacional, apelamos para  ativistas e organizações de paz chamados a tomar medidas em todo o mundo para contribuir com o fortalecimento da paz, da justiça e da soberania das nações.

- Cuba não cessará em sua luta pela devolução do território ocupado pela Base Naval de Guantánamo, assim como não deixará de exigir o levantamento do criminoso embargo econômico, comercial e financeiro  imposto ao nosso país há mais de 60 anos, o que afeta o desenvolvimento econômico e social de nosso povo.

- A ocupação da Baía de Guantánamo proporciona aos EUA o domínio militar no Caribe e na América do Sul, e constitui uma ameaça à independência e à soberania dos povos  desta vasta região.

- Os maiores gastos do imperialismo são em apoio às guerras, invasões e bases militares espalhadas por todo o planeta.

- Não haverá paz no mundo enquanto houver armas apontadas para as pessoas.

- Não haverá paz no mundo enquanto houver interferência nos assuntos internos dos países.

- Não haverá paz no mundo enquanto houver guerras de saque.

- A paz está indissoluvelmente  ligada à soberania dos povos e ao respeito à autodeterminação.

- Apoio ao legítimo direito do povo cubano em sua luta contra o bloqueio, para recuperar sua soberania sobre o território da Base Naval que os EUA usurpou ilegalmente na Baía de Guantánamo, onde, para vergonha de toda a humanidade, foi criado um verdadeiro campo de concentração para servir ao terror e à tortura.

- A existência de bases militares estrangeiras e a defesa da paz são incompatíveis.

- Mais uma vez, o mundo está enfrentando uma séria ameaça à paz mundial, defendemos o diálogo como a única forma pacífica de conseguir a resolução de conflitos.

- É necessário pôr fim à ampliação da OTAN e visar a dissolução deste bloco político-militar agressivo, que é o principal responsável pela corrida armamentista e pela militarização que varre o mundo de hoje.

- Os países membros da OTAN apoiam os planos imperialistas e são os países com as bases mais militares do mundo.

- Denunciamos as guerras imperialistas, as ocupações ilegais e a injustiça social e seus mecanismos, particularmente contra a OTAN, a maior máquina de guerra do mundo.

- A OTAN e seus aliados sob o pretexto de proteger os direitos humanos ou combater o terrorismo, cometem crimes contra a humanidade.

- A OTAN tem sido usada pelos Estados Unidos para ameaçar e impedir a paz.

- Desde sua criação, a Organização do Atlântico Norte (OTAN) tem desempenhado seu papel como a ala armada dos Estados Unidos e tem promovido invasões para pressionar por mudanças através de ações desestabilizadoras.

- As bases militares ou enclaves - um termo que utilizam atualmente - são um dos mecanismos de dominação e intervenção direta e indireta nos assuntos internos dos países onde estão localizadas.

- As bases militares são utilizadas como centros para a guerra da mídia e a guerra cibernética, razão pela qual os EUA fortaleceram suas forças militares nas mais de 800 bases que possuem em todo o mundo, das quais cerca de 80 estão na região da América Latina e do Caribe.

- Vamos livrar o mundo das bases militares e transformar o planeta em uma verdadeira Zona de Paz!


ENLACES RECOMENDADOS:

 - RESUMEN TV presenta el documental_ Todo Guantánamo es nuestro Español: https://youtu.be/0cHaUu8223U, https://vimeo.com/617576013 Japonés: https://youtu.be/0mCRMHFy30c Italiano: https://youtu.be/J4bfP70ZV80 

- Base Naval de Guantánamo: cárcel y ocupación ilegal de EEUU en Cuba https://youtu.be/dI8oPWIksJk 

- ¿Cómo que Cuba aceptó ceder la Base de Guantánamo? Distorsión de Historia convertida en información. (+Italiano/English/Français/Português) https://youtu.be/tItQrhtP0fM

 -https://www.siempreconcuba.org/vii-seminario/ Materiales sobre la Base naval (Canal Youtube: TVSolvision) 

- Reclama pacifista alemana cierre de la Base Ilegal en Guantánamo. https://www.youtube.com/watch?v=PDyTy1GvvWE 

- Exigen devolución del territorio usurpado por Estados Unidos en Guantánamo. https://www.youtube.com/watch?v=dm20LDUZHnY 

- Se pronuncia Frei Betto a favor de la devolución de la ilegal Base Naval Norteamericana en Guantánamo. https://www.youtube.com/watch?v=ypotgtEGnmc

 - Seminario bases militares. https://www.youtube.com/watch?v=mpLSNnZ4AEs&t=13s - Sobran razones a Cuba para exigir la devolución del territorio usurpado por la base naval. https://www.youtube.com/watch?v=yyvbX0FcMUU&t=35s 

- Base militar vs voluntad del pueblo cubano. https://www.youtube.com/watch?v=xWMC2ck-9hw

 - Inició V Seminario por la Paz y la abolición de las bases militares extranjeras. https://www.youtube.com/watch?v=bwhw4Z3H5ko&t=18s 

- Seminario por la Paz, conferencias. https://www.youtube.com/watch?v=C-Dc2D6xvFA



file:///C:/Users/carme/Downloads/2023.02.23%20Manual%20de%20apoyo%20Tuitazo%20Bases%20Navales.pdf

https://www.siempreconcuba.org/tuitazo-por-el-dia-de-accion-contra-las-bases-militares-de-estados-unidos-y-la-otan-y-por-los-120-anos-de-la-imposicion-de-la-base-naval-de-estados-unidos-en-guantanamo-devuelvanguantanam/

Tradução/Edição: Carmen Diniz/Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba.

                         #Devolvam GuantánamoJá 

                       #DevuelvanGuantanamoYa 

15 de fev. de 2023

Continuidades e Rupturas na Política de Bloqueio de Biden (+vídeos) #NoMasBloqueo

                                                                                                                                                        

 Gabriel Vera Lopes

Um olhar sobre os principais marcos da política externa dos EUA em relação a Cuba, dois anos depois da administração Biden.

20 de janeiro marcou dois anos desde que a administração do democrata Joe Biden chegou à Casa Branca. Liderado por uma de suas alas mais conservadoras, o Partido Democrata voltou ao poder executivo com a promessa e a ilusão de reverter a corrosiva era Trump, que havia produzido - assim como expressado - uma série de rupturas e modificações substantivas nas estruturas políticas dos EUA. Transformações que tiveram seu corolário na invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 e a recusa do Trumpismo em aceitar sua derrota eleitoral - uma posição que mantém até hoje.

Durante a campanha presidencial, Biden criticou duramente as medidas que seu oponente republicano vinha implementando contra Cuba. Ele chegou ao ponto de prometer que, se ganhasse, iria reverter as "políticas fracassadas de Trump que prejudicaram os cubanos e suas famílias".

Embora a política em relação à ilha seja uma parte diária do debate da mídia nos Estados Unidos, o fato é que nestas eleições presidenciais a discussão assumiu particular relevância, devido às diferentes e ziguezagueantes mudanças que haviam ocorrido nesta área. Em apenas duas administrações - Obama e depois Trump - houve duas abordagens notoriamente diferentes.

Por mais de cinco décadas, os EUA mantiveram uma política inequívoca de hostilidade econômica, midiática, judicial e até militar contra Cuba. Esta política, concebida no âmbito da Guerra Fria, permaneceu essencialmente inalterada, apesar de certas modulações em sua agressividade.

Durante anos, a Casa Branca argumentava que o bloqueio era um problema de "segurança nacional". Argumentavam que a proximidade da pequena ilha, juntamente com sua aliança estratégica com a União Soviética, representava um grande perigo para os Estados Unidos - a maior potência militar do mundo. Entretanto, enquanto a existência do chamado "socialismo real" foi mantida na Europa Oriental, o bloqueio encontrou um relativo contrapeso que amorteceu seus efeitos isolacionistas mais prejudiciais (comerciais, diplomáticos e políticos).

Entretanto, uma vez que a cortina de ferro - e com ela a suposta ameaça à segurança dos EUA - foi desmantelada, o bloqueio não só continuou como se aprofundou. Foi com a dissolução da União Soviética que a política dos EUA conseguiu gerar danos e prejuízos significativos contra o Estado e o povo cubanos. A Revolução Cubana foi isolada do mundo que os ideólogos do imperialismo chamaram de "fim da história". O que ficou conhecido como o "período especial" estava começando.

A depressão econômica daqueles anos foi particularmente severa: o PIB contraiu 36% entre 1990-93, mas teve uma lenta recuperação a partir de 1995. Levou doze anos para que o PIB retornasse aos níveis pré-crise somente em 2007. A continuação do bloqueio - e mais ainda sua intensificação - sob estas condições foi uma confissão completa de que esta política nada tinha a ver com a segurança nacional, muito menos com a "defesa dos direitos humanos" por parte dos Estados Unidos. Pelo contrário, era uma política destinada a infligir o maior sofrimento possível à população, a fim de encorajar a agitação social que contribuiria para a tão apregoada "queda do regime".

Entretanto, naqueles anos, as realizações da revolução ainda estavam muito presentes entre a população cubana - tanto simbólica como materialmente -, o que permitiu uma importante capacidade de resiliência social. Isto proporcionou apoio material para a expectativa de que a crise seria apenas um momento, e que uma vez passada, haveria um retorno à situação anterior de prosperidade. Esta capacidade de resistência e adesão à ideologia revolucionária "de baixo" foi combinada com o enorme prestígio da liderança política do processo - liderada por Fidel Castro - que manteve uma decisão estratégica de ferro para não desmontar a revolução - "de cima". Esta situação possibilitou que o processo fosse sustentado, embora não sem sofrer profundos danos e reveses.

No início da primeira década do século XXI, com a chegada da chamada "onda de governos progressistas" no continente, ocorreu um período internacional sem precedentes que permitiu que Cuba saísse do profundo isolamento a que havia sido submetida. Neste contexto, o processo bolivariano na Venezuela desempenhou um papel fundamental, baseado em uma série de intercâmbios que visavam fortalecer ambas as experiências.

"Naqueles anos, as realizações da revolução ainda estavam muito presentes entre a população cubana - tanto simbólica quanto materialmente - o que tornou possível uma importante capacidade de resiliência social".

Este novo contexto de maior unidade e colaboração latino-americana, juntamente com as crescentes dificuldades dos EUA, devido ao seu envolvimento no Oriente Médio e na crise de 2008, gerou um questionamento crescente das políticas externas dos EUA em relação à região. As sanções contra Cuba, baseadas na coerção unilateral de Washington, não mais alcançaram o silêncio - e muito menos a cumplicidade - que havia conquistado nos anos 90 entre os governos latino-americanos.

Estas mudanças no equilíbrio de poder permitiram que as facções políticas dentro do Partido Democrata, que defendia a necessidade de re-calibrar a relação com Cuba, se tornassem mais relevantes. Estas posições não se referiam a uma mudança estratégica nos objetivos dos EUA - "a derrubada do regime" - mas sim a uma mudança tática nas formas em que este objetivo fosse implementado. Estes setores se harmonizaram com a articulação hegemônica neoliberal-progressista que sustentava o governo Obama, com seu tipo de face pluralista, inclusiva e tolerante ao direito internacional e aos direitos civis.

Durante o segundo mandato de Barack Obama, vários dos preceitos da política de Cuba foram revisados e modificados. Ele experimentou uma série de políticas que reduziram as hostilidades contra Cuba e tenderam a restabelecer o diálogo e as negociações entre Washington e Havana, embora sem desmantelar o bloqueio.

Ao explicar esta importante mudança tática, o próprio Obama disse:

"Vamos pôr fim a uma abordagem que, durante décadas, não nos permitiu avançar em nossos interesses e, portanto, vamos começar a normalizar as relações entre nossos dois países. Com estas mudanças, pretendemos criar mais oportunidades para o povo americano e cubano e iniciar um novo capítulo entre as nações das Américas [...] Podemos fazer mais para ajudar o povo de Cuba e promover nossos valores através do engajamento [...] Afinal, estes cinqüenta anos mostraram que o isolamento não funcionou. Chegou a hora de uma nova abordagem. (Obama, 2014)

Em 17 de dezembro de 2014, Barack Obama e Raúl Castro anunciaram que, após 18 meses de negociações secretas, haviam concordado em iniciar o que seria a abertura de um novo capítulo nas relações entre os dois países. Isto marcou o início de um período sem precedentes na história de ambas as nações. Presidentes e importantes líderes religiosos e sociais de todo o mundo saudaram com entusiasmo esta nova aproximação. Durante meses foi um dos temas dominantes na imprensa internacional, que se referiu a este período como o "degelo" (em uma clara referência soviética e mostrando sua falta de criatividade).

Entre as medidas mais importantes realizadas estavam: a retirada de Cuba da lista de "Patrocinadores do Terrorismo" - uma lista elaborada pelo Departamento de Estado norte-americano que incluía Cuba em 1982 - e o restabelecimento das embaixadas em ambos os países.

Apesar dos progressos significativos feitos durante este período, o "degelo" com a ilha caribenha não durou muito. Com a chegada da administração Trump, as tentativas de aproximação com Cuba foram quase imediatamente revertidas.

"Deve-se lembrar que quase simultaneamente ao processo de "degelo", a partir de 2015, uma série de ações econômicas, financeiras e diplomáticas contra a Venezuela se intensificou, buscando a remoção do Chavismo".

Em Miami, pouco depois de tomar posse, Trump organizou um evento no teatro Manuel Artime. A escolha do local não só não foi aleatória, mas também carregou consigo um forte simbolismo. O teatro foi nomeado em homenagem ao líder da emblemática Brigada 2506, que liderou a tentativa de invasão de Cuba em 1961, conhecida como a invasão da Baía dos Porcos. Nesse evento, Trump apresentou o "Memorando Presidencial de Segurança Nacional sobre o Fortalecimento da Política dos EUA em relação a Cuba", que marcaria o ritmo de sua política em relação à ilha.

Sua administração não só recompôs o conjunto de medidas que compõem o bloqueio, mas também aumentou significativamente as medidas coercitivas unilaterais em vigor. Ele aplicou 243 novas medidas, além do bloqueio já sufocante. Deixando para trás a estratégia de Obama de engajamento, para voltar mais uma vez a uma política de máxima pressão.

Esta situação assumiu um drama particular durante o contexto global da pandemia COVID-19 - o momento em que a maioria destas medidas foi aplicada. Em meio à luta contra o flagelo que atingiu o mundo, Cuba não apenas viu a entrada no país de materiais e ferramentas sanitárias para combater a pandemia ser bloqueada, mas também as sanções contra a ilha aumentaram dia após dia.

Este aumento da hostilidade contra a ilha foi impulsionado pela mesma lógica que marcou a escalada da beligerância durante o Período Especial. Em outras palavras, diante de uma situação de choque e dificuldade generalizada, a intensificação das sanções procurou tornar a situação de sofrimento social insuportável e assim provocar a eclosão do regime.

Foi neste contexto que as promessas da campanha de Biden haviam conseguido despertar, em amplos setores progressistas e democráticos, a esperança de que a política de "descongelamento" com Cuba seria retomada. Afinal de contas, o próprio Biden havia servido como vice-presidente de Obama.

Entretanto, após assumir a presidência, a equipe política de Biden atrasou a implementação de suas promessas de campanha, argumentando que as medidas a serem adotadas estavam em uma "fase de estudo".

Algumas das razões para este atraso podem ser rastreadas até as tensões na política interna dos EUA. Junto com a forte rejeição da oposição republicana a um restabelecimento do diálogo com Cuba, houve também uma divisão interna dentro das fileiras democráticas onde não foi estabelecido um consenso claro sobre o assunto.

Algumas semanas após a  posse de Biden em 4 de março de 2021, um grupo de 80 membros democratas da Câmara dos Deputados redigiu uma carta na qual pedia ao novo presidente que revogasse as sanções que o ex-presidente Donald Trump havia implementado contra Cuba, descrevendo-as como "cruéis". A resposta do executivo veio cinco dias depois. Em uma entrevista coletiva, quando questionada sobre a carta que o grupo de parlamentares democratas havia redigido, a porta-voz presidencial Jen Psaki disse que "uma mudança na política em relação a Cuba não está atualmente entre as principais prioridades do Presidente Biden".

Semanas depois, os EUA mantiveram sua tradicional rejeição ao que a comunidade internacional havia dito na Assembleia Geral da ONU em 23 de junho de 2021. Com 184 votos a favor, três abstenções e os dois votos tradicionais contra - dos Estados Unidos e de Israel - foi mais uma vez aprovada a resolução intitulada "Necessidade de acabar com o embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba".  Pela vigésima nona vez consecutiva, os Estados Unidos decidiram violar o direito internacional e ignorar a vontade da grande maioria dos países do mundo em nome da "democracia e dos direitos humanos".

Apenas algumas semanas depois, os conflitos internos em Cuba começaram a desempenhar um papel considerável na manutenção da política de "máxima pressão" por parte dos EUA. Os protestos de 11 de julho em Cuba foram usados como pretexto pelo governo dos EUA para continuar com suas políticas de bloqueio contra a ilha. Como resultado deste novo conflito, Cuba deixou de ser uma das prioridades do Presidente Biden para ser uma de suas preocupações mais importantes na retórica governamental de Washington.

               

O movimento "Pañuelos Rojos" criado pela juventude cubana

O surgimento da pandemia global deu origem a  um crescente conflito social em todo o mundo, dando origem a um ciclo de protestos globais - como vários estudos têm demonstrado - o que levou até mesmo a grandes episódios dentro dos próprios Estados Unidos.

Mais uma vez, a conjectura era que a combinação de protestos e a desestabilização e agitação causada pelo bloqueio poderia levar a uma "mudança de regime". A pregação dos direitos humanos foi mais uma vez instrumentalizada pelos EUA em favor de seus interesses imperialistas.

Entretanto, a propaganda governamental obteve pouco sucesso em sua justificativa. A organização social Black Lives Matter (BLM) publicou em 15 de julho uma declaração sobre suas redes sociais exigindo o fim do bloqueio de Cuba que, em suas palavras, "foi instituído com a intenção explícita de desestabilizar o país e minar o direito dos cubanos de escolher seu próprio governo". Em outubro, líderes do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) enviaram uma carta ao Presidente Biden instando-o a tomar uma "decisão ousada" para levantar o embargo financeiro e comercial a Cuba. E finalmente, em dezembro, uma centena de membros democratas do Congresso reapresentaram uma carta ao Presidente Biden pedindo: o restabelecimento do diálogo com Cuba, o atendimento das necessidades humanitárias e o progresso na normalização das relações com Havana. Biden terminou assim seu primeiro ano de mandato sem poder unificar uma posição comum sobre a política cubana.

Durante 2022, houve poucas mudanças significativas. Esta atitude conservadora teve várias explicações.

Em primeiro lugar, externamente, a eclosão da guerra na Ucrânia, fortemente impulsionada pelos EUA, manteve o aparato externo da administração Biden concentrado na construção do que seria o "conceito estratégico" atualizado da OTAN, que em sua cúpula em Madri colocou a China e a Rússia como seus principais inimigos.

Em segundo lugar, internamente, a crescente inflação interna, que atingiu a maior alta dos últimos 40 anos, juntamente com a queda dos índices de popularidade de Biden - o declínio mais rápido de uma imagem registrado desde a Segunda Guerra Mundial - levou o governo a adotar, em um ano eleitoral, uma política conservadora em relação a Cuba.

Entretanto, após 17 longos meses de uma "revisão de política", durante os quais as medidas introduzidas pelo ex-presidente Donald Trump contra Cuba permaneceram intactas, o Departamento de Estado anunciou em maio que relaxaria algumas medidas ligadas principalmente à migração. Por que este anúncio foi feito?

Por um lado, a ameaça de vários governos latino-americanos de boicotar a 9ª Cúpula das Américas se Cuba fosse excluída foi uma verdadeira vergonha para a política externa dos EUA, mostrando mais uma vez que não seria tão fácil desvincular-se da "questão Cuba". Por outro lado, o agravamento da crise migratória na ilha e na fronteira sul dos EUA forçou a Casa Branca a recalibrar sua política migratória.

Cuba está atualmente passando por uma grave crise migratória. A combinação da pandemia covid-19 e a crise econômica global, juntamente com o aperto sem precedentes do bloqueio, levou a uma grave recessão econômica na ilha. Durante quase dois anos, o país viu sua principal fonte econômica - o turismo - completamente paralisada enquanto fazia um enorme esforço fiscal para importar suprimentos para combater a pandemia.

Uma vez levantadas as restrições sanitárias, o país sofreu - como a maioria dos países do mundo - um processo inflacionário galopante que castigou ainda mais a população. Segundo dados oficiais, a inflação aumentou quase 40% em 2022. Esta dura crise econômica, freqüentemente combinada com agitação social e um sentimento de falta de expectativas, levou a uma nova onda de migração. No último ano, estima-se que 270.000 pessoas deixaram a ilha.

A recusa unilateral de Washington em respeitar os acordos migratórios assinados com Havana em 1994, em vez de desencorajar a migração, levou a um aumento da migração através de vias indocumentadas. O fechamento dos escritórios consulares e a eliminação dos vôos regulares levaram muitos cubanos a optar por essas rotas alternativas, que são extremamente perigosas e desumanas para os migrantes. Eles frequentemente acabam presos no meio de uma indústria mafiosa de pedágios, mulas e subornos construídos em torno da vulnerabilidade causada pela ilegalidade.

Há muitas razões pelas quais os cubanos optam por migrar para os EUA. A primeira é a proximidade do país caribenho com a costa dos EUA. A segunda é que o estado da Flórida já abriga uma enorme comunidade de mais de 1,2 milhões de cubanos ou cubano-americanos. Isto significa que muitas pessoas já têm um membro da família, amigo ou conhecido que facilita sua inserção. Por outro lado, nos EUA existe toda uma série de leis que dão aos cubanos uma série de vantagens sobre outros migrantes. Uma das mais importantes delas é a "Lei de Ajuste Cubano", que permite aos cubanos que entraram irregularmente no país tornarem-se residentes permanentes legais após um ano no país. Esta arquitetura legal, que a socióloga americana Susan Eckstein chama de "o privilégio cubano", é uma política que, paradoxalmente, visa encorajar a migração irregular cubana.

No entanto, o crescimento exponencial da migração irregular que os EUA receberam no último ano gerou dificuldades significativas no controle de sua fronteira. Isto obrigou o país a recalibrar sua política migratória, permitindo uma maior abertura à cooperação com Cuba.

Esta crise está centrada principalmente na fronteira com o México. Milhares de migrantes, sujeitos a todo tipo de perigos e violência, tentam atravessar todos os dias. Esta situação teve uma tradução política nas recentes eleições de meio-termo, sendo uma das áreas de debate mais conflituosas para o Partido Democrata. Ao ponto de, poucos dias após as eleições, o chefe da Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) dos EUA, Chris Magnus, ter sido forçado a renunciar.
                       

De acordo com relatórios do CBP, durante 2022, o CBP prendeu mais de 2,7 milhões de pessoas que tentavam atravessar a fronteira. Quase um milhão de pessoas a mais do que em 2021. Uma onda migratória que representa um crescimento exponencial em comparação com os anos anteriores à pandemia. Um fenômeno que tem características globais, como ficou claro durante a cúpula da OTAN em Madri em junho passado, onde a organização - cinicamente - reforçou seu aparato militar nas fronteiras da Europa com a África e o Oriente Médio.

Foi neste contexto que as conversações bilaterais de migração foram retomadas. Foi anunciada a retomada dos vôos das companhias aéreas americanas para a ilha. Foi retomado o diálogo entre a Guarda Costeira dos EUA e as Tropas da Guarda de Fronteiras Cubana. E a possibilidade de envio de remessas foi anunciada - embora ainda não tenha sido implementada. O Ministro das Relações Exteriores Bruno Rodríguez descreve a retomada da emissão de vistos de imigrantes na embaixada dos EUA como um "passo positivo".

Apesar destes passos positivos, no final do ano, em 2 de dezembro, o Departamento de Estado norte-americano apresentou sua lista anual de "países que violam a liberdade religiosa", na qual Cuba foi incorporada sob o título de "países de particular preocupação". Isto torna possível que o país caribenho esteja sujeito a possíveis novas sanções, além daquelas que já pesam na ilha. Uma política com continuidade clara com a de seu antecessor Trump.

Na metade de seu mandato, além de alguns passos positivos, Biden não reverteu as políticas implementadas por Trump contra Cuba. Entretanto, os próximos meses serão fundamentais se Washington finalmente decidir aliviar as sanções e cumprir a promessa da campanha de Biden. Como aponta o cientista político cubano William Leogrande, a nomeação do ex-senador Christopher Dodd como Conselheiro Presidencial Especial para as Américas após as eleições de meio-termo pode ser um passo nessa direção. Dodd tem sido um defensor de uma mudança de estratégia no relacionamento com Cuba. No entanto, a decisão política não dependerá apenas de um funcionário.

O dia 3 de fevereiro deste ano marcou 61 anos desde que os Estados Unidos iniciaram sua política de bloqueio contra a ilha com a Proclamação Presidencial 3447 do Presidente John F. Kennedy. O objetivo desta medida era punir o governo revolucionário de Fidel Castro por seu "alinhamento com as potências comunistas", a União Soviética e a República Popular da China, no marco da Guerra Fria.

O plano havia sido meticulosamente estudado pelo governo dos EUA. O então Secretário de Estado Adjunto para Assuntos Interamericanos, Lester D. Mallory, explicou ao seu superior, em um memorando datado de 6 de abril de 1960, a estratégia que seria implementada contra Cuba: "O único meio previsível de tirar (de Castro) o apoio interno é através do desencanto e da desilusão com base na insatisfação e nas limitações.  (...) devemos tomar todas as medidas para enfraquecer a vida econômica em Cuba (...) negar-lhe fundos e suprimentos para que diminuam os salários e as rendas e assim produzir fome, desespero e a derrubada do governo".

Desde essa época, os Estados Unidos empreenderam uma complexa colcha de retalhos de leis e regulamentos compostos de várias sanções econômicas, políticas, de comunicação, etc. Em 1996, o Congresso americano aprovou a Lei de Liberdade e Solidariedade Democrática de Cuba, que estabelece que o bloqueio deve ser mantido até que Cuba "se torne uma democracia multipartidária e de livre mercado e pague uma compensação pelas propriedades nacionalizadas pelo Governo Revolucionário". Desta forma, o bloqueio pode ser entendido como o equivalente moderno de um exército que sitia uma cidade na Idade Média para matar à fome sua população e assim pressionar seus líderes a se renderem.

A política de bloqueio é claramente uma violação do direito internacional. A própria declaração da ONU afirma que é "o direito soberano e inalienável de um Estado determinar livremente seus próprios sistemas políticos, econômicos, culturais e sociais". Ela declara que todos os Estados têm o dever de "abster-se de qualquer ação ou tentativa, sob qualquer forma ou sob qualquer pretexto, de desestabilizar ou minar a estabilidade de outro Estado". É por isso que por 30 votações consecutivas a Assembleia Geral da ONU votou a favor de uma resolução anual exigindo que os Estados Unidos ponham fim ao bloqueio. Esta resolução é sistematicamente desobedecida pelos Estados Unidos.

No relatório mais recente preparado pelo Ministério das Relações Exteriores cubano sobre os prejuízos econômicos causados pelo bloqueio, estimou-se que durante os primeiros 14 meses da administração Biden, os prejuízos causados a Cuba totalizaram 6.364 milhões de dólares. Ou seja, mais de 454 milhões de dólares por mês e 15 milhões de dólares por dia. Nos sessenta anos do bloqueio, os prejuízos econômicos ao país caribenho foram estimados em 154.217 milhões de dólares.


Mais : https://www.alai.info/continuidades-y-rupturas-en-la-politica-de-bloqueo-de-biden/

                                                

                  



Tradução/ Edição : Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba 

               



13 de fev. de 2023

Chomsky insiste para que Biden retire Cuba da lista de terrorismo #NoMasBloqueo

                    

     Noam Chomsky, linguista, filósofo e ativista político, e Vijay Prashad, diretor do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e principal correspondente da Globetrotter Media, publicaram um artigo no site no qual afirmam que o fato de os Estados Unidos manterem Cuba em sua lista de países que patrocinam o "terrorismo" não se justifica, uma vez que a ilha não realiza tal ação.

     Eles lembraram que Cuba, com 11 milhões de habitantes, sofre há mais de 60 anos um bloqueio econômico imposto por Washington, e apesar do qual a ilha tem sido capaz de "superar as indignidades da fome, da saúde precária e do analfabetismo, as três pragas sociais que continuam a afetar uma grande parte do mundo".

Noam Chomsky
                 

     Acrescentaram: "Graças a suas inovações na prestação de serviços  médicos, por exemplo, Cuba pôde enviar seus trabalhadores da saúde para outros países, mesmo durante a pandemia, para fornecer assistência vital. Cuba exporta trabalhadores da saúde, não 'terrorismo'".

     Nos últimos dias da administração do Presidente Donald Trump, Washington devolveu Cuba à sua lista de patrocinadores estatais do "terrorismo". "Este foi um ato de vingança. Trump disse que foi porque Cuba recebeu grupos guerrilheiros da Colômbia, que na verdade fazia parte do papel da ilha como anfitriã das conversações de paz naquele outro país latino-americano", observaram os autores.

    Durante os dois anos da administração do atual presidente, Joe Biden, eles acrescentaram: "A política vingativa de Trump foi mantida, punindo Cuba, mas não por 'terrorismo', como foi acusado, mas por promover a paz".

Vijay Prashad
  

"Biden pode, com o golpe de uma caneta, remover Cuba desta lista". É tão simples quanto isso. Quando ele concorreu à presidência, disse que iria reverter as sanções mais duras de Trump. Mas ele não o fez", concluíram.


https://www.jornada.com.mx/notas/2023/02/13/mundo/chomsky-insta-a-que-biden-saque-a-cuba-de-la-lista-del-terrorismo/

Tradução/Edição: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba

                                                     

11 de fev. de 2023

Rogelio Polanco: "As transformações têm que ser profundas". Entrevista com Katrien Demuynck

 

     Cuba está passando por um momento extremamente difícil no momento. Como esta ilha consegue se manter firme apesar de tudo? Quais são os desafios que enfrenta e como eles estão sendo enfrentados? Fizemos estas perguntas a Rogelio Polanco, Chefe do Departamento Ideológico do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba.


KD : Cuba está passando por um momento muito difícil, em uma época em que o socialismo está em uma posição completamente diferente das décadas anteriores. Cuba é um dos poucos países socialistas que ainda estão de pé. Quais são os principais problemas e desafios enfrentados pela sociedade cubana em nível ideológico?

RP : De fato, o mundo está passando por uma circunstância excepcional. Os riscos para a existência da humanidade ainda são muito altos. O imperialismo continua com suas ações contrárias ao bem-estar e à prosperidade das grandes massas humildes do planeta. Suas políticas exploradoras, distorcedoras, belicistas, xenófobas e de direita continuam a gerar grandes conflitos para a existência humana. Hoje somos todos testemunhas desta exacerbação de contradições que está causando sérios riscos para a humanidade. Vivemos em uma época em que as idéias fascistas, de direita e neoliberais estão ganhando cada vez mais força. As grandes multinacionais da informação têm sido responsáveis por exacerbar estas tendências e provocar maiores conflitos em nosso país. 

A economia mundial também está passando por circunstâncias muito adversas. A pandemia da covid- 19 teve sérios impactos sobre a convivência humana. A economia mundial foi desacelerada e, por sua vez, forçou uma parte considerável de nossas nações a fechar fronteiras e criou uma situação muito complexa do ponto de vista da saúde. Teve também um impacto psicológico em grande parte da humanidade. Somam-se a isso circunstâncias adversas relacionadas com o aumento da corrida armamentista e as provocações belicistas dos países imperialistas. A este respeito, o desenvolvimento mais relevante recente é um conflito armado na Europa. Tudo isso criou uma situação muito grave.

Naturalmente, no caso de Cuba, além desses impactos da situação internacional e da economia internacional, o grande obstáculo que a nação cubana enfrenta continua sendo o bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos há mais de 60 anos. Este bloqueio foi intensificado por mais de 240 medidas implementadas pelo grupo de governo em torno do Presidente Trump, que intensificou todos os tipos de ações para evitar a menor entrada de recursos financeiros em Cuba. O grupo que acompanhou a administração Trump na tomada de decisões políticas relacionadas a Cuba estava encarregado de identificar todas essas formas possíveis de trazer recursos financeiros para nosso país e tentar evitá-los com medidas verdadeiramente genocidas, de asfixiar uma nação inteira. Estas incluem medidas relacionadas com a perseguição do fornecimento de combustível ao nosso país, a tal ponto que em recentes declarações do então Secretário de Defesa dos EUA foi revelado que eles estavam considerando a possibilidade de impedir fisicamente a chegada de navios de combustível ao nosso país através de uma ação militar. É quase um ato de pirataria no século XXI.

Além disso, apenas alguns dias antes de deixar o cargo, eles puderam, numa demonstração de revanchismo, incluir Cuba novamente na lista de países que patrocinam o terrorismo, para que ela fosse deixada como uma espécie de legado para o novo governo, depois de mais de 30 anos de Cuba ter sido incluída nesta espúria lista, o que é totalmente injusto e cínico, pois se há um país que foi vítima do terrorismo, esse país foi Cuba. Cuba nunca atacou nenhuma nação, muito menos o povo dos Estados Unidos ou seu governo. Cuba havia sido retirada dessa lista durante o último mandato do Presidente Obama, como parte das ações tomadas pelo governo dos Estados Unidos e das negociações que foram realizadas naquela época. Reincorporar Cuba nessa lista é muito sério, tem um grande impacto sobre bancos, governos e empresas, pois limita suas transações com Cuba. Como todos sabemos, o sistema financeiro internacional é completamente controlado pelos Estados Unidos e pelos países ocidentais. E qualquer banco que pretenda realizar uma transação com Cuba, não apenas em dólares americanos (como sabemos, Cuba não pode realizá-la nessa moeda, que é a principal moeda internacional), mas em qualquer outra moeda, mas com Cuba como destino ou fonte ou apenas indicando Cuba nessa transação, qualquer banco a limita, a impede, a bloqueia e, portanto, Cuba não pode realizar transações através do sistema financeiro internacional, porque esses bancos estão tentando cumprir com as regulamentações do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Esta é uma demonstração da natureza extraterritorial do bloqueio.


KD: Você pode explicar por que o chama de extraterritorial?


RP : Quando dizemos extraterritorial, significa que um país, um governo, toma decisões que têm implicações para outro governo ou outras entidades fora de seu território. É totalmente ilegal e dado o que os bancos consideram "excesso de cumprimento", ou seja, estar em total conformidade com as regras de transações internacionais, eles são muito cuidadosos em fazer qualquer transação porque podem estar sujeitos a sanções. Durante vários anos, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs sanções extraordinárias aos bancos europeus pela realização de transações com Cuba, sanções que resultaram em perdas multimilionárias de dólares.

Por outro lado, a administração Trump fez todo o possível para buscar qualquer dinheiro que fluísse para Cuba e a administração Biden continuou com estas medidas coercitivas unilaterais contra Cuba por meio de uma campanha contra o turismo em Cuba ou uma campanha perversa contra médicos cubanos que prestam serviços em outros países, uma campanha na qual até foi sugerido que eles eram transformados em escravos e até mesmo forçou alguns países a tomar medidas para deixar de receber cooperação de Cuba, o que também impediu a entrada de renda em nosso país em termos de saúde.

Durante os cinco anos da administração Trump e até agora da administração Biden, o bloqueio de Cuba se intensificou atrozmente. 

Em meio à pandemia da covid 19, estas ações foram mais oportunistas do que nunca, pois impediram Cuba de ter acesso a medicamentos, ventiladores pulmonares e outros suprimentos básicos necessários para aliviar o efeito da pandemia, o que constitui uma ação extremamente cruel contra Cuba.


KD : Como  lidaram com a pandemia da covid 19 nessas circunstâncias?


RP : Tivemos que confiar em nossa imensa capacidade de resistência e na suprema vontade de nosso povo e nosso governo para encontrar uma maneira de lidar com o pico pandêmico, que só poderia ser combatido concentrando todos os esforços do país, da nação e de todo o povo. Nestas circunstâncias, e graças à idéia visionária de Fidel no momento de criar a capacidade de produzir medicamentos e biotecnologia, fomos capazes de criar nossas próprias vacinas. Somente desta forma foi possível controlar a pandemia, e isto é um extraordinário heroísmo de nosso povo. Esta é hoje uma quimera para muitas nações, um objetivo, porque mesmo durante o período pandêmico, as injustiças do sistema capitalista internacional foram exacerbadas. Havia países que acumulavam cada vez mais vacinas, às vezes até mesmo várias vezes mais vacinas do que o necessário, e por isso as vacinas se perderam quando expiraram. Estes países foram incapazes, numa ação egoísta, de compartilhá-los com outras nações. A distribuição de vacinas para lidar com uma epidemia, uma pandemia global da covid 19, é hoje desigual porque a ordem econômica internacional é injusta e desigual. Este é o cenário no qual Cuba continua hoje a resistir, a superar e a desenvolver a Revolução.

                                                

Cuba é um dos países de ponta em biotecnologia.

KD : Tudo isso deve ter criado ou exacerbado os problemas internos do país.


RP : Internamente, tem havido desafios importantes. Cuba está imersa em um processo de transferência gradual e ordenada das principais posições e responsabilidades de liderança política da Revolução da geração histórica para uma nova geração formada e forjada durante esses anos. Era o momento em que o imperialismo esperava há tanto tempo para atacar e tentar derrotar a Revolução. Lembremos que nos primeiros anos da revolução, o imperialismo estava determinado a matar fisicamente nossos principais líderes. Houve centenas de tentativas de assassinar o Comandante-Chefe Fidel Castro e outros líderes da Revolução, tentativas que muitas vezes falharam. Então eles apostaram no que cinicamente chamaram de "solução biológica", que nada mais era do que esperar pela morte de nossos líderes históricos, para que a revolução fosse derrotada, derrotada. Durante muito tempo acreditaram que a continuidade era impossível, mas hoje vivemos um momento em que as novas gerações de cubanos continuam a levar adiante o processo revolucionário, o que demonstra as convicções que foram estabelecidas no coração de nosso povo por tantas décadas e também mostra que nossa Revolução responde a uma necessidade histórica. É claro que o papel dos líderes tem sido essencial em seu aprofundamento e progresso, mas a Revolução é o produto da participação consciente e ativa de todo um povo. Caso contrário, o avanço da Revolução não teria sido possível.

Nestas circunstâncias, hoje estamos enfrentando uma situação econômica difícil que tem sido o resultado da situação econômica internacional, da situação do aperto do bloqueio e também das dificuldades que tivemos que enfrentar como parte do processo de transformação econômica de nossa sociedade. Hoje, Cuba tem recursos financeiros muito limitados para continuar o desenvolvimento do país. Não temos acesso a créditos de qualquer tipo, nem de organizações internacionais nem de créditos comerciais. Hoje é cada vez mais difícil obter recursos financeiros para garantir a continuidade de nossos planos de desenvolvimento, quando nenhum país no mundo pode se desenvolver e avançar se não tiver acesso a fontes financeiras. Por outro lado, o acesso ao comércio, aos investimentos estrangeiros e ao turismo internacional tem se tornado cada vez mais deficiente devido ao bloqueio.

Em meio a isso, o imperialismo realizou uma campanha de comunicação política em grande escala com recursos multimilionários para gerar situações de desestabilização dentro do país. Eles têm a seu favor o monopólio das multinacionais da informação, em particular as grandes plataformas algorítmicas no espaço público digital. Hoje eles controlam praticamente todo o fluxo de informações geradas no mundo e através de processos de intoxicação da mídia, através de operações comunicativas de alta tecnologia, eles estão tentando induzir uma desestabilização de grandes proporções que irá gerar problemas na situação nacional. Eles estão induzindo ações no espaço físico, na rua, para conseguir o que chamam de explosão social, que nada mais é do que gerar caos, violência, para tentar confrontar segmentos de nosso povo com as autoridades e agências de aplicação da lei para gerar campanhas sobre violações de direitos humanos, democracia e assim provocar situações de desestabilização dentro do país.

É como um manual. Diferentes teóricos consideram que faz parte da guerra híbrida, uma guerra de quarta geração que aproveita especialmente os diferentes elementos políticos, comunicativos, informativos e diplomáticos para alcançar objetivos de mudança de regime a um custo político mais baixo para aqueles que realizam essas ações desestabilizadoras. Através de ações supostamente não violentas ou civis, eles procuram gerar o caos e assim provocar a intervenção estrangeira e atingir seus objetivos desejados de derrubar governos que são desconfortáveis ou adversos para eles. Este é o desenho dos processos de subversão política contra Cuba e contra outras nações amigas que estão tentando desenvolver processos alternativos em seus próprios países, contrários ou contra-hegemônicos às ações do imperialismo.

 

KD : Em sua opinião, quais são os desafios mais importantes que Cuba enfrenta?


RP : No caso de nosso país, os principais desafios do ponto de vista ideológico têm a ver precisamente com a capacidade de nosso povo para enfrentar estas ações de subversão. O objetivo disto é fortalecer nossa preparação política em todos os níveis para que nosso povo compreenda e acompanhe cada vez mais a liderança da Revolução no processo de desenvolvimento de nossa nação, de construção socialista e de enfrentamento de ações subversivas. Todos os nossos esforços ideológicos visam reforçar nossos valores, nossa essência, nossa identidade nacional, nossa cultura, os fundamentos de nossa ideologia, baseados no pensamento de José Martí, de Fidel Castro e, naturalmente, no marxismo e no leninismo, e nos elementos essenciais que sustentam a nação cubana. 

Tudo isso em face de um processo de colonização cultural que está tentando se estabelecer a partir daqueles centros de poder imperial onde constantemente tentam exaltar, enaltecer e dar substância teórica a toda uma série de ações ideológicas para apresentar o sonho americano ou o capitalismo como o único caminho para o desenvolvimento de nossa nação. Qualquer coisa que seja prejudicial a nossos símbolos, nossos líderes, nossa história é uma parte essencial das ações subversivas. Tudo o que se destina a quebrar a vontade humana, a provocar desunião entre nosso povo, a gerar falsas notícias, a tentar manter que a nação cubana é inviável, que o socialismo é inviável, é parte das ações do imperialismo. Para isso, eles têm grupos de reflexão, universidades, importantes linhas de pensamento nas esferas cultural, filosófica e ideológica, que, por diferentes meios, tentam incidir, influenciar as mentes e os corações de nosso povo. E o principal alvo da ação subversiva é nossa juventude, as novas gerações desde as primeiras idades. Historicamente, este tem sido o caso. Historicamente, nossos inimigos têm argumentado que as novas gerações não seriam capazes de continuar seu processo revolucionário. Se os líderes históricos pudessem ser aniquilados, seja física ou moralmente, então não seria possível para as novas gerações, que não participaram do processo de criação revolucionário, de forjar os ideais fundadores da Revolução, dar-lhe continuidade. Estas novas gerações seriam suavizadas, corrompidas ou não teriam convicções suficientemente firmes para sustentar o processo revolucionário. Eles não seriam capazes de resistir à investida da escassez criada artificialmente, às limitações materiais e, enfraquecidos ideologicamente e diante da avalanche da subjetividade e dos símbolos da ideologia capitalista, eles sucumbiriam. Daí o interesse dos governos dos EUA e de suas agências e, em suma, de toda a estrutura cultural do imperialismo em influenciar a juventude.


KD : O que Cuba está fazendo para manter os jovens no caminho da Revolução?


RP : O objetivo da Revolução nesta fase histórica é fortalecer nossa base ideológica. Para fortalecer e transformar profundamente o que chamamos de trabalho político ideológico. As transformações têm de ser profundas. Tudo o que fizemos até agora não foi suficiente para atingir os objetivos históricos que permitirão que as novas gerações estejam ainda melhor preparadas para enfrentar estes grandes desafios. O Partido Comunista desempenha o papel principal. Realizamos nosso oitavo congresso no ano passado onde as missões fundamentais que foram fortalecidas foram a batalha econômica, a batalha ideológica e a luta pela paz. Portanto, nossa firmeza ideológica deve ser baseada em nossa capacidade de compreender esta realidade e de tornar nosso trabalho de conscientização das grandes massas de nosso povo cada vez mais eficaz. Há métodos, estilos de trabalho de nosso partido, de nossa juventude comunista, de nossas organizações de massa e sociais e de todo nosso sistema político que não têm sido suficientemente eficazes. Uma transformação é necessária de acordo com esta nova realidade onde o espaço público digital e a influência da mídia e, em geral, as questões relacionadas à informação se tornam elementos essenciais na formação de nossa juventude e de toda a população.

Neste sentido, o Partido adotou um programa para a transformação do trabalho político ideológico que inclui várias áreas-chave. Em primeiro lugar, a articulação das forças revolucionárias. Hoje precisamos de uma ação mais unida e mais coordenada de todas as forças políticas da sociedade. Só assim é possível enfrentar o enorme desafio que representa a ação desestabilizadora e subversiva do imperialismo, com todo o seu poder de minar nossa sociedade. Devemos, portanto, desenvolver uma capacidade de coordenação, de articulação de todas as nossas estruturas políticas e sociais a fim de agir de forma coerente, de maneira cada vez mais organizada e com métodos mais condizentes com nossa realidade.

Há uma área chave, relacionada a questões culturais e educacionais. Temos que fortalecer todo o nosso sistema educacional, nosso sistema de treinamento educacional, mas também os valores das novas gerações. Reforçar o papel do professor, o papel da escola como o centro cultural fundamental da comunidade. O papel da cultura em sua expressão mais ampla, além da cultura artística. Ou seja, cultura considerada como uma cultura geral integral, como nos ensinou Fidel. Temos que fortalecer nossas instituições para a geração do pensamento, nossas instituições para a geração da identidade nacional. Temos uma cultura que é o orgulho da nação. Temos também um desenvolvimento cultural em diferentes áreas que nos permite ter orgulho da identidade de Cuba, que sempre foi submetida às tentativas imperialistas de destruí-la como nação. Assim, tudo o que temos que fazer a esse respeito deve ser fortalecido.

Há também uma área chave que tem a ver com comunicação e tecnologia. Existe um novo paradigma de comunicação relacionado à Internet, às redes sociais e ao espaço público digital que está sendo utilizado, impulsionado pelo interesse, para alcançar não apenas as massas, mas para influenciar diretamente cada pessoa. A capacidade das plataformas algorítmicas globais através do uso do que agora é chamado de big data para influenciar os gostos, interesses e desejos de cada pessoa no planeta é impressionante.


KD : Cuba é capaz de neutralizar a guerra das mídias sociais contra a ilha?


RP : A capacidade que temos para combater isto, este enfraquecimento da vontade humana, tem que ser muito maior. Temos que fazer como os combatentes da independência cubana, os Mambises na Guerra da Independência, como os membros do Exército Rebelde na Sierra Maestra: tirar essas armas de nosso inimigo. Aprender a dominá-los e usá-los para nossos próprios fins. Temos que dominar o uso dessas ferramentas. Denunciar seu uso falsificado e manipulado contra os interesses de nossas nações. Devemos alcançar uma maior soberania tecnológica. Devemos alcançar a cooperação internacional. Entre todos aqueles que hoje enfrentam o impacto nocivo dessas tecnologias, temos que conseguir uma legislação internacional para limitar o uso de tecnologias para a guerra e para gerar confrontos entre grupos humanos e nações. Já existe um trabalho extraordinário de nosso povo para que esta tecnologia de informação e comunicação seja utilizada de uma forma edificante, de uma forma diferente da forma como foi projetada e utilizada pelo imperialismo.

Além disso, temos por outro lado a necessidade urgente, em meio ao bloqueio, de avançar na transformação de nossa economia, de criar as bases, de gerar a prosperidade de que nosso povo tanto precisa e que nós tanto merecemos. Somente gerando riqueza material produzida pelo engenho e capacidade de nosso povo em meio a essas circunstâncias adversas será possível ter melhores condições econômicas para enfrentar esse panorama internacional adverso. E para fazê-lo de uma forma inovadora e criativa. É muito difícil, mas temos que fazê-lo superando o bloqueio, transcendendo-o, vencendo-o e gerando nossas próprias capacidades produtivas.

Neste sentido, o país está colocando a ciência e a inovação, o talento desenvolvido ao longo de tantos anos por nossa Revolução, para aumentar estas capacidades econômicas. Refletimos, debatemos e aprovamos coletivamente uma atualização do modelo econômico e social de desenvolvimento socialista cubano. Aprovamos novas diretrizes econômicas e sociais do Partido da Revolução. Aprovamos o Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social até 2030, e realizamos importantes transformações em diferentes áreas de nossa economia que nos permitem desenvolver nosso empreendimento estatal socialista e outros novos atores econômicos que incluem formas de gestão não estatais, mas com uma identidade socialista, não para minar nosso projeto nacional, mas para aumentar as possibilidades de emprego e contribuição econômica de outras formas de gestão. Estamos fazendo tudo isso no meio de grandes dificuldades. Temos que aumentar a produção de alimentos e medicamentos. Temos que aumentar a inovação nas diferentes áreas de nossa economia e serviços.

 E, além disso, temos que continuar fortalecendo nossas conquistas sociais fundamentais: educação, saúde, seguridade social, cultura, esporte, que são conquistas básicas de nosso socialismo. E para fazer isso, além disso, com um alto nível de participação democrática e um alto grau de controle popular. Estamos administrando o governo com novas estruturas que a nova Constituição nos deu, uma Constituição que foi aprovada pela maioria dos votos de nosso povo após um amplo debate popular. Estamos desenvolvendo todas as leis e normas legais que permitirão que os direitos protegidos na Constituição sejam mais desenvolvidos na legislação. Cada vez mais estamos estimulando, gerando novos direitos e novas estruturas para que a participação dos cidadãos seja mais efetiva. Como Cuba se propõe a sair do cerco econômico e midiático e da asfixia a que o imperialismo está tentando nos conduzir? Exigindo mais democracia, mais participação, mais controle popular, mais socialismo. Somente assim será possível enfrentar os desafios que temos no futuro imediato e que são muito exigentes para as possibilidades de nosso povo seguir em frente. Somente com unidade nacional, somente com um alto nível de consciência, somente com um grande esforço por parte de todos os setores da nação será possível enfrentar estes grandes desafios. Estamos plenamente confiantes de que a atual liderança da Revolução manterá o apoio da imensa maioria do nosso povo.


KD : O desafio com os jovens é grande. Há um grupo de jovens que estão emigrando, isso significa que eles não vêem mais perspectivas em seu próprio país e pensam que estarão melhor em outro lugar?


RP : Os Estados Unidos têm usado historicamente a questão da migração de forma manipulada para provocar um ataque à essência de nosso sistema socialista. Lembremos que isto tem acontecido desde o início da Revolução. No início, os Estados Unidos receberam as principais figuras da tirania de Batista. Os protegeu e depois tentou gerar ações de desestabilização cujo elemento essencial era a migração. Recordemos aquela operação chamada "Peter Pan", que provocou a partida de 14.000 crianças de Cuba com a propaganda de que a Revolução iria retirar o pátrio poder dos pais, uma maquinação perversa. E então, em vários momentos, os Estados Unidos e o governo dos EUA utilizaram a questão da migração para gerar desestabilização dentro de Cuba e também para retratar a Revolução e o socialismo cubano como um fracasso, para apresentar cubanos fugindo de supostas perseguições políticas. Com base nestas bases manipuladas, eles estabeleceram normas legais nos Estados Unidos com instalações migratórias exclusivas para cubanos que não são concedidas a nenhuma outra nação da América Latina, como, por exemplo, a Lei de Ajuste Cubano de 1966 pela qual qualquer cubano, pelo simples fato de chegar ao território americano, sem sequer apresentar uma carteira de identidade, dizendo exclusivamente que é cubano, é admitido e dentro de um ano recebe facilidades para residir legalmente no país. Como sabemos, tudo isso gerou confrontos sobre a questão da migração em diferentes momentos. Cuba decidiu flexibilizar suas leis de migração e tornar mais fácil para qualquer cidadão cubano que deseje viajar para outro país, permanecer por um determinado período de tempo ou mesmo se estabelecer em outro país, fazê-lo. A própria condição de nosso socialismo só é possível com base na participação voluntária daqueles que desejam levar nossa sociedade adiante e também viver em Cuba ou, por sua vez, permanecer em outro país e manter vínculos com sua nação.

Hoje, milhares de cubanos vivem fora de Cuba, mantêm um vínculo normal com sua pátria e retornam sistematicamente. Muitos estão até ativamente envolvidos em ações de solidariedade com seu país de origem. Estamos caminhando para o que os analistas da ciência social e demografia chamam de uma migração de circularidade que tornará cada vez mais normal para os cidadãos cubanos e até mesmo cidadãos de outros países permanecer por períodos de tempo em outras nações e voltar ao seu país de origem, e poder ter um relacionamento cada vez mais normal. Isto está sendo impedido pelo governo dos EUA, que está usando a questão migratória e a existência de um setor que tem ampla influência nas alavancas do poder político nos Estados Unidos para manter uma política migratória que vai contra a migração legal, ordenada e segura, pois são justamente estas ações desestabilizadoras que provocam tudo o que impede a migração normal.

No último período, os Estados Unidos fecharam seu consulado em Havana e assim forçaram os cubanos a irem a um terceiro país para solicitar um visto para viajar para os Estados Unidos. Durante esses anos, o governo norte-americano limitou a concessão de vistos e criou maiores dificuldades para as relações normais entre os cubanos que vivem em Cuba e os que residem em território norte-americano. Isto é uma tremenda contradição, pois ao facilitar a entrada de qualquer cubano que chega ao território norte-americano sem a necessidade de procedimentos legais ou consulares normais, encoraja a saída por canais não legais, desordenados e inseguros. E então eles exacerbam qualquer incidente desta natureza na mídia; é realmente muito perverso. E isso só pode ser explicado pelo fato de estarem subordinados a um núcleo político que, particularmente na Flórida, tem uma influência muito negativa na tomada de decisões do governo devido a supostos interesses eleitorais ou políticos em relação a Cuba. Portanto, isto tem que ser denunciado porque eles estão punindo a família cubana. Eles estão punindo as relações entre os membros da família. Eles estão punindo uma nação inteira por interesses políticos mesquinhos. Os Estados Unidos sempre manipularam a questão migratória entre Cuba e os Estados Unidos durante o período revolucionário.

Isto agora atingiu um certo nível devido a estes elementos que mencionei anteriormente: o fechamento do consulado, as limitações na concessão de vistos e o fato de que durante vários anos as viagens normais e o número de vistos acertados nos acordos de migração entre os dois países têm sido limitados. No caso dos Estados Unidos era de pelo menos 20.000 por ano, mas nos últimos anos o número tem sido muito menor. E, por outro lado, lembremos que tivemos dois anos de pandemia nos quais, além disso, os vôos internacionais e a saída através das fronteiras de diferentes países foram limitados. Os Estados Unidos limitaram extraordinariamente o número de vôos a partir de seu território e estabeleceram restrições extraordinárias às companhias aéreas, às agências de viagens, com o objetivo de gerar irritação, de criar descontentamento dentro de Cuba. O que estamos vendo é a aplicação metódica do chamado Memorando Lester Mallory, que foi um Secretário de Estado norte-americano que em 1960 escreveu a seus superiores para descrever qual deveria ser a política do governo norte-americano em relação a Cuba a fim de atingir seus objetivos. De forma muito geral, o memorando afirmava que não há oposição política em Cuba. A maioria da população apóia o governo. Entretanto, tudo o que for possível deve ser feito para reduzir o acesso à renda. Reduzir o impacto que os salários podem ter a fim de gerar descontentamento, gerar fome e desespero entre o povo, para que o governo possa ser derrubado. Agora ela foi exacerbada a níveis extraordinários porque, além de todos os instrumentos de natureza econômica, tem o poder impressionante da mídia.

De fato, temos um potencial migratório e o principal objetivo dos Estados Unidos voltado para este potencial migratório, fundamentalmente relacionado à juventude, é também que esta força jovem, preparada graças à Revolução, com capacidade de desenvolvimento intelectual, não fique no país, mas emigre para fora dele. Por um lado, nossa nação está em processo de envelhecimento, que é o processo natural das sociedades desenvolvidas. No caso de Cuba, um país subdesenvolvido, isto é conseguido graças aos altos índices de saúde, cuidados médicos e assistência social. Por outro lado, a população está diminuindo e vamos ter uma porcentagem maior de idosos. Vamos ter que dedicar cada vez mais recursos financeiros para cuidar deles. Menos membros da população economicamente ativa terão que gerar uma porcentagem maior do Produto Interno Bruto para atender ao bem-estar daquela população que não participa diretamente da produção de bens e serviços. Portanto, se a isso acrescentarmos a idéia de estimular a migração, particularmente dos jovens e das pessoas mais instruídas, daqueles com estudos universitários, é claro que também é uma forma de ter um impacto negativo na economia do país.

Temos que assegurar que a realização pessoal e profissional de nossos jovens ocorra em Cuba e para isso temos que garantir cada vez mais condições de vida e políticas voltadas para os jovens que facilitem a realização mais eficaz deste projeto de vida pessoal em sua pátria. Sem negar, é claro, que qualquer pessoa que deseje emigrar pode fazê-lo porque é um direito deles. O objetivo deve ser assegurar que a grande maioria dos jovens contribua para a sociedade e que, desenvolvendo sua capacidade individual e desenvolvimento profissional, eles possam contribuir para o interesse coletivo. Nos últimos tempos, o governo revolucionário tem se dedicado particularmente a incentivar a elaboração de políticas públicas voltadas para a juventude. Foram criados grupos de trabalho governamentais que, com a participação de especialistas e com diferentes disciplinas e estruturas governamentais, podem, a curto prazo, apresentar algumas projeções dessas políticas no campo do emprego, auto-aperfeiçoamento, habitação e outras facilidades especialmente destinadas à juventude.

                                                     

Jovens da União da Juventude Comunista (UJC) 

          O  movimento juvenil tem uma tarefa essencial a cumprir para conseguir uma maior participação dos jovens na tomada de decisões, para garantir que eles estejam cada vez mais representados em todas as áreas da vida econômica e social do país. Que suas considerações, critérios e propostas sejam levados em consideração. Que os jovens sejam capazes de entrar cada vez mais facilmente nas organizações econômicas das empresas estatais socialistas para ocupar cargos de direção. Eles devem estar cada vez mais representados nos principais órgãos decisórios do país. Temos que acelerar estas ações destinadas aos jovens e em particular aos jovens estudantes universitários. E a partir da idade mais precoce possível, devemos, por exemplo, fazer um esforço para garantir que os alunos do ensino médio estejam melhor preparados, que sejam capazes de progredir nos diferentes níveis de estudos, não apenas pré-universitários, mas também técnicos e profissionais. Que eles encontrem emprego e também encontrem instalações de estudo para continuar sua preparação para o futuro.

Estes são os grandes desafios, também dirigidos às nossas gerações mais jovens. No entanto, há uma consciência da necessidade de trabalhar muito melhor. Trabalhar muito mais com os jovens, envolvê-los ativamente nos principais processos e transformar todo o ambiente relacionado à nossa juventude.

 

KD : Há um trabalho específico sendo feito nas mídias sociais para alcançar os jovens?

 

RP : Eu acho que ainda é muito incipiente. Ainda estamos todos no processo de aprender o que é o espaço público digital. Lembremos que Cuba chegou tarde a todo o desenvolvimento tecnológico devido ao bloqueio de informação e comunicação, que limitou nossa própria capacidade de gerar conteúdo, de compreender este ecossistema de comunicação.

O acesso à Internet em telefones celulares e celulares começou há menos de quatro anos. Hoje, mais de 7 milhões de cubanos têm acesso à Internet. A capacidade de acesso a cada nova tecnologia tem sido bastante acelerada do ponto de vista tecnológico. E, ao mesmo tempo, há uma crescente consciência, mesmo promovida pela liderança do Partido e das organizações da sociedade, de que não é possível manter uma dicotomia entre espaços físicos e digitais. Temos que fazer entender que ambos os espaços hoje têm uma relação dialética e que tudo o que é feito no espaço físico deve ter uma correlação no espaço público digital, pois de outra forma estaríamos nos excluindo de uma área essencial para o desenvolvimento, até mesmo para os seres humanos. Hoje, uma grande parte do desenvolvimento do conhecimento humano, do acesso à informação e de todos os processos tecnológicos ocorre na esfera digital. Este vai ser cada vez mais o caso. Na medida em que conseguirmos acelerar o processo de transformação digital da sociedade, teremos uma economia mais eficiente, processos tecnológicos mais eficientes e processos sociais mais eficientes.

A pandemia nos obrigou, em um curto período de tempo, a desenvolver métodos de ensino nos quais não tínhamos feito muito progresso. Entretanto, durante grande parte do desenvolvimento dos métodos de ensino e aprendizagem durante o período da pandemia, tivemos que passar para ambientes virtuais de ensino e aprendizagem criados para este fim, com a dificuldade de conectividade e acesso à tecnologia para uma grande parte de nossa população. Mesmo assim, cada vez mais progressos estão sendo feitos na transformação digital da sociedade. Ainda está a um ritmo que está longe do que precisamos. Precisamos transformar uma grande parte de nossos processos a fim de nos tornarmos mais eficientes na apropriação desta verdadeira transformação digital. Hoje poderíamos ter um desempenho muito melhor em várias áreas da economia e dos serviços se tivéssemos sido capazes de avançar mais rapidamente no desenvolvimento das transformações digitais no país. Vamos conseguir isso. Vamos ter cada vez mais treinamento e aperfeiçoamento. E vamos ter novas gerações que vêm, como dizemos coloquialmente, com o chip digital incorporado. Em outras palavras, eles vêm dos chamados nativos digitais, não daqueles de nós que nasceram na era analógica.

Acredito que o país, com a liderança da Revolução, que tem um grande desejo de avançar mais rapidamente nesta área, será capaz de gerar conteúdo e gerar mudanças transcendentais na esfera digital em um curto período de tempo. Isso exigirá soberania tecnológica, desenvolvendo nossas próprias aplicações, nossas próprias plataformas que nos dêem essa soberania, e exigirá também que todos nós façamos um esforço maior para avançar mais rapidamente em direção a esses processos de transformação, em todas as áreas, nas esferas política, econômica, social e cultural. Por exemplo, o governo considerou a informatização e agora a transformação digital como um dos pilares da gestão governamental. E o Partido também considerou isso. O Partido criou um grupo para sua transformação digital. Não pode mais acontecer que estejamos promovendo esta transformação digital em todas as áreas da sociedade e que nosso Partido, a mais alta força política da sociedade e do Estado, conforme estabelecido no Artigo 5 de nossa Constituição, não esteja na vanguarda da transformação digital. Temos que conseguir, e no menor tempo possível, que nossos processos políticos também assumam a transformação digital como algo essencial para uma maior eficiência no trabalho político e ideológico. E isto é o que estamos fazendo também em tudo relacionado à nossa juventude, para que eles assumam rapidamente estes códigos digitais.

Já existem experiências muito interessantes do uso de aplicações importantes e formatos digitais por nossos jovens. Queremos, por exemplo, desenvolver cada vez mais aplicações cubanas, aplicações relacionadas com mensagens instantâneas ou uso audiovisual na web ou o uso de videogames produzidos por cineastas cubanos, com nossos formatos, nossa estética e também nossos valores. O mundo digital é muito amplo. Há um horizonte aberto que está ali, à espera de nossa participação cada vez mais intensa para aproveitá-lo e transformá-lo.

Temos que gerar conteúdo de forma infinita e criativa. O consumo de audiovisuais pelas novas gerações é exponencial e valores, essências e identidades estão chegando através deste canal, cujos objetivos hoje são mais fáceis de alcançar do que através da leitura de um livro. Apesar de termos que continuar promovendo a leitura, o consumo audiovisual, o consumo de todos esses novos formatos do ecossistema digital, está se tornando um elemento essencial do conhecimento humano e da formação de valores. Temos que tornar este formato nosso próprio.

No Congresso do Partido do ano passado, os três pilares da essência do trabalho e da governança do Partido foram estabelecidos: informatização, comunicação e ciência e inovação. Todos os três estão interligados. No caso da comunicação, também temos que dar um salto qualitativo. Acabamos de publicar um projeto de lei sobre comunicação social. Será a primeira Lei de Comunicação Social que o país já teve em sua história revolucionária. Este projeto de lei será debatido em debates especializados em diferentes instituições, mas também está aberto à população e a todos os cidadãos para expressar suas opiniões. Este ano, vamos colocá-lo à votação na Assembleia Nacional, para o qual teremos uma norma legal no nível de uma lei que permitirá desenvolver e implementar a política de comunicação do Estado e do governo nas esferas institucional, midiática e comunitária. Estas são diferentes esferas nas quais a comunicação é desenvolvida.

Além disso, estamos criando um Instituto de Comunicação Social, ou seja, uma entidade governamental que liderará os processos de comunicação social do país. Propomos que, em todos os níveis e em todas as instituições, as estruturas encarregadas da comunicação devem ser hierárquicas no mais alto nível de gestão, pois a comunicação é um recurso estratégico de gestão. Temos que transcender a forma ainda muito limitada de desenvolver processos de comunicação dentro da organização, que inclui o Partido, e também conseguir uma melhor comunicação externa, não apenas com os militantes, mas com toda a população. E este deve ser o caso com todas as instituições e órgãos da Administração Central do Estado, com as organizações de massa. A comunicação torna-se um instrumento essencial do trabalho político. Temos que preparar melhor nossos recursos humanos no campo da comunicação.

Estamos agora desenvolvendo uma experiência para a transformação do modelo de gestão econômica, editorial e tecnológica da mídia do país. Precisamos dar-lhes uma maior capacidade de refletir a realidade de Cuba e também permitir que estes meios de comunicação tenham renda para sua sustentabilidade, o que garante a criação de melhores capacidades tecnológicas para enfrentar este novo ecossistema digital. Também estamos fortalecendo o treinamento de nossos jornalistas. Estamos desenvolvendo uma nova experiência ao selecionar futuros estudantes de jornalismo desde o início da segunda série para que possam passar um ano se preparando de maneira especial e uma vez que entrem na carreira jornalística possam estar mais bem preparados do ponto de vista profissional e também em termos de valores.

Estas são idéias diferentes que estamos desenvolvendo para dar cada vez mais importância à comunicação digital, tanto para a informatização ou transformação digital quanto para a comunicação e ciência, inovação, buscando mais especialistas em diferentes disciplinas para participar da tomada de decisões do governo e do Partido. Acredito que no menor tempo possível isso nos dará mais resultados para melhorar a ação de nossas organizações.

 

KD: Você conhece Vijay Prashad? Tivemos uma reunião com ele na Casa de Las Américas. Uma de suas teses é que não basta ter uma batalha de idéias, é preciso ter também uma batalha de emoções.


RP: Eu concordo plenamente. De fato, temos que ir às emoções. Não apenas à reflexão, ao pensamento, às ações na esfera teórica, mas também à subjetividade humana, às emoções, a encantar, enamorar, cativar os seres humanos . Muito do trabalho que é feito hoje através das redes sociais tem um forte elemento de emocionalidade, às vezes de emocionalidade negativa, pois gera ódio, animosidade. Temos que ir à alma, ao coração, aos sentimentos, a fim de conseguir a mobilização humana e a participação ativa.

O que mais fazemos quando nos apaixonamos, senão  gerar sentimentos de empatia, emoções e para fazer a outra pessoa se apaixonar, para cativá-la? Mas temos que fazê-lo bem, não pode ser manipulado ou fabricado, ele tem que fluir naturalmente. Nossas organizações também têm que fortalecer esta área e para isso temos que conseguir que nossos melhores ativistas, intelectuais, escritores e cineastas coloquem todo seu profissionalismo e talento neste amor coletivo. Tivemos experiências recentes de séries de televisão que cativaram parte da população, particularmente os jovens, ou às vezes uma canção, através da música, dança ou uma peça de teatro, através da arte e cultura em sua expressão artística, pode alcançar esses sentimentos. E temos que ter em mente que a política é também sobre emoções, sobre cativar os outros. É essencial. Afastar-se disso seria afastar-se de tudo o que compõe a essência do ser humano. Também temos que nos apaixonar.

Che disse que um revolucionário é motivado por grandes

 sentimentos de amor. 

É o amor em toda sua expressão,  por isso continuamos 

apaixonados.   (grifos nossos) 


 https://cubaenresumen.org/2023/02/08/rogelio-polanco-las-transformaciones-tienen-que-ser-profundas-entrevista-con-katrien-demuynck/

Tradução/Edição: Carmen Diniz/Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba