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Rubio tem dois cargos importantes no governo dos EUA (Foto: Arquivo) |
Em 8 de agosto, o New York Times revelou
que o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou secretamente uma ordem
executiva ao Pentágono autorizando o uso de força militar contra cartéis de
drogas latino-americanos designados como organizações terroristas estrangeiras.
O documento representa a medida mais
agressiva do governo nessa área, autorizando operações militares diretas, tanto
no mar quanto em solo estrangeiro, sob a justificativa de " combater
" o narcotráfico. Essa decisão marca uma clara escalada da política
unilateral e intervencionista de Washington em relação à região.
Em relação à notícia, a presidente mexicana
Claudia Sheinbaum respondeu que seu governo havia sido informado de que uma
ordem seria emitida contra os cartéis e que "os Estados Unidos não
virão ao México com militares. Nós cooperamos, colaboramos, mas não haverá
invasão. Isso está descartado, absolutamente descartado."
Seu esclarecimento reconhece a importância do
combate ao narcotráfico, mas estabelece um limite legítimo e claro, no qual
todas as operações devem ser enquadradas na cooperação bilateral e nos acordos
vigentes, e não sob a imposição criminosa de Washington.
Então, em 18 de agosto, a Reuters relatou
que três contratorpedeiros americanos equipados com mísseis guiados Aegis
deveriam chegar à costa da Venezuela nas próximas 36 horas: o USS Gravely, o
USS Jason Dunham e o USS Sampson, navios de guerra projetados para combates
estratégicos e não para aplicação da lei.
A agência disse que fontes anônimas
indicaram que era parte de " uma operação contra cartéis de drogas
latino-americanos ".
Outras agências também contribuíram para o cenário,
observando que mais de 4.000 fuzileiros navais serão destacados para águas do
Caribe e da América Latina como parte de um reposicionamento do Comando Sul.
A operação inclui um submarino de ataque
nuclear e uma aeronave de reconhecimento P8 Poseidon.
A CNN acrescentou que a operação também inclui o porta-helicópteros USS Iwo Jima, o Grupo Anfíbio de Prontidão com o USS Fort Lauderdale e o USS San Antonio, e um cruzador de mísseis guiados.
Na nota aos altos funcionários do
Pentágono, eles especificaram que, por enquanto, o aumento de tropas é "
principalmente uma demonstração de força, cujo objetivo é mais enviar uma
mensagem do que indicar a intenção de realizar ataques de precisão contra os
cartéis “.
Essa mobilização militar, apresentada como
uma suposta "luta contra os cartéis", é, na realidade e em
princípio, uma projeção de poder para fins políticos mais amplos. Por trás da
fachada de " segurança hemisférica ", esconde-se uma agenda
impulsionada por certos centros de poder em Washington que pressionam por uma
política de confronto aberto na região.
Mas essa escalada não aconteceu
abruptamente, mas gradualmente. A verdadeira reviravolta ocorreu em maio,
depois que o escândalo envolvendo o ex-conselheiro de segurança nacional Mike
Waltz explodiu em um grupo de mensagens do Signal, desencadeando uma
reorganização dentro do setor de segurança de Washington.
Após esse episódio, Marco Rubio foi
nomeado Conselheiro Interino de Segurança Nacional, servindo simultaneamente
como Secretário de Estado. Essa dupla função, que lembra o poder concentrado
por Henry Kissinger na década de 1970, deu a Rubio um alcance sem precedentes
em questões de segurança e política externa, consolidando uma mudança mais
agressiva e centralizada na agenda dos EUA em relação à América Latina.
O Conselheiro de Segurança Nacional é a
pessoa que coordena todas as agências de segurança e defesa dos EUA e articula
as recomendações estratégicas recebidas pelo presidente. Em outras palavras,
Rubio não apenas influencia a diplomacia por meio do Departamento de Estado,
mas agora também orienta as prioridades militares e de inteligência.
Nesse contexto, o assessor se torna o
verdadeiro filtro estratégico, capaz de guiar o presidente para decisões mais
agressivas, principalmente quando convergem fatores como a pressão de setores
militares e a narrativa da “guerra ao terror” e ao narcotráfico.
Essa
posição o coloca em uma posição privilegiada dentro do poder executivo para
usar o aparato de segurança nacional como uma ferramenta para sua própria
agenda política, já que Rubio transformou a questão antidrogas em um vetor para
a securitização regional.
Vale destacar que o deslocamento naval dos EUA para o Caribe também ocorre após um episódio que significou um golpe político para Washington e, sobretudo, para Marco Rubio em particular: a libertação de 252 cidadãos venezuelanos sequestrados em El Salvador.
A repatriação, alcançada por meio de
esforços diretos do presidente Nicolás Maduro e seu governo, representou uma
vitória diplomática que deixou Rubio completamente humilhado.
Portanto, esse movimento militar,
supervisionado pelo ex-senador, pode ter um contexto estratégico que sugere que
essas operações atendem a três funções principais:
Operações psicológicas. A presença de
navios de guerra em águas próximas busca minar o moral e influenciar a tomada
de decisões de Caracas, enviando um sinal latente de ameaça. Essas manobras
visam intimidar sem disparar um único míssil.
Provocação calculada. Ao posicionar ativos
militares perto da Venezuela, Washington está aumentando as tensões e forçando
governos regionais a se manifestarem, criando um clima de assédio e até mesmo
um casus belli. *
Capacidade real de ação militar. Embora
autoridades americanas insistam que se trata de uma "demonstração de
força", o decreto de Trump autoriza operações militares diretas.
Em suma, a mobilização dos EUA é
multifacetada e deliberadamente ambígua:
combina dissuasão, pressão psicológica e preparação para a guerra, com
um claro tom político de ataque ao governo venezuelano.
Além da retórica antidrogas apresentada
como justificativa, o que está em andamento é um redesenho do cenário regional
sob a liderança de Rubio e dos setores do poder que o apoiam.
*NT: "Casus belli" é
uma expressão latina que significa "motivo para a guerra". É um termo
usado para descrever uma ação ou evento que justifica ou é usado como
justificativa para declarar guerra a outro país ou entidade.
O poder da mediocridade é perigoso
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