A ex coronel Ann Wright serviu 29 anos no Exército dos Estados Unidos. Foi diplomata do Departamento de Estado por 16 anos servindo em embaixadas estadunidenses no Afeganistão, Serra Leoa, Micronésia, Mongólia, Kirguistão, Granada e Nicarágua.
Renunciou em 2003 em protesto contra a invasão dos EUA ao Iraque. É co-autora do livro publicado em 2009 : Dissidente: vozes da Consciência.
A CARTA :
5 de outubro de 2014
Presidente Barack Obama
Casa Branca
Washington, DC
" Estimado Presidente Obama,
Sou uma veterana que servi ao Exército dos Estados Unidos por 29 anos e me reformei quando era coronel. Além disso, fui diplomata deste país por 16 anos e renunciei em março de 2003 por me opor à decisão da administração Bush de invadir e ocupar o Iraque. Desde a minha renúncia, há 11 anos, tenho falado e escrito com frequência acerca da minha profunda preocupação sobre as políticas e decisões tomadas pelo governo dos Estados Unidos.
Lhe escrevo com preocupação sobre o caso dos Cinco Cubanos. Suponho que o sr. tenha sido informado sobre a história da decisão da administração Clinton de processar os Cinco cidadãos cubanos que residiam nos EUA para monitorar sem armas e de forma não violenta as organizações terroristas com sede em Miami para evitar mais ataques contra o povo de Cuba que sofreu mais de 3478 mortos e 2099 feridos por atos terroristas de criminosos que vivem nos EUA.
Gostaria de ressaltar que em 2005, o Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Detenções Arbitrárias concluiu que, baseado nos fatos e circunstâncias em que se realizou o referido julgamento, a natureza das acusações e a severidade das penas, o encarceramento dos Cinco Cubanos violou o artigo 14 da Convenção Internacional sobre Liberdades Políticas e Civis, da qual os Estados Unidos é signatário. Esta foi a primeira vez que o Grupo de Trabalho sobre Prisões Arbitrárias denunciou a condenação de um caso nos EUA devido às violações cometidas durante o processo legal.
Um grupo de três juízes de uma Corte de Apelações revogou as penas dos Cinco Cubanos. Creio firmemente que devido à intensa pressão política da poderosa comunidade cubana em Miami, a Corte de Apelação voltou atrás e restaurou as penas.
Dez de seus homólogos laureados com o Nobel e outras personalidades internacionais, entre elas o Presidente do Timor Leste José Ramos Horta, Adolfo Pérez Esquivel, Rigoberta Menchú, José Saramago, Wole Soyinka, Zhgores Alferov, Nadine Gordimer, Gunter Grass, Dario Fo, Mairead Maguire, Mary Robinson, ex-presidenta da Irlanda (1992-1997)e ex-Alto comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (1997-2002) e o ex-diretor geral da UNESCO Federico Mayor, entre outros, assinaram o documento Amicus perante a Suprema Corte dos Estados Unidos pedindo a revisão da decisão da Corte de Apelação.
A eles se somaram centenas de parlamentares de todo o mundo, incluindo o Senado do México, a Assembleia Nacional do Panamá, 75 membros do Parlamento Europeu, incluindo dois ex-presidentes e três vice-presidentes atuais, entregaram petições para que a Suprema Corte revise o caso.
Numerosas Associações de Leis e de Direitos Humanos na Europa, Ásia e América Latina, assim como personalidades internacionais e organizações legais e acadêmicas nos EUA assinaram estes documentos.
Como o sr. provavelmente sabe, a administração Bush financiou jornalistas para escreverem textos negativos sobre os Cinco Cubanos durante o julgamento realizado em Miami, Flórida, colocando em perigo a imparcialidade do devido processo e da apelação.
Apesar do clamor da comunidade internacional e das Nações Unidas, a Suprema Corte se negou a apreciar o caso dos Cinco Cubanos.
Eu, como muitos outros que serviram ao governo dos EUA, estou profundamente preocupada com a falta de imparcialidade na aplicação da lei estadunidense e do sistema judicial para com os Cinco Cubanos.
Ramsey Clark, ex Procurador Geral, Larry Wilkerson, ex Coronel do Exército dos Estados Unidos e ex-Chefe da Seção de Interesses dos Estados Unidos em Havana, expressaram publicamente suas preocupações, mais recentemente em audiência internacional no evento "5 dias por los 5 cubanos" em Washington DC em junho de 2014.
Me sinto orgulhosa de unir minha voz como Coronel da reserva do Exército dos Estados Unidos e ex- Diplomata dos Estados Unidos às declarações feitas por eles sobre suas preocupações com o processo judicial e o sistema penal americano a respeito dos Cinco Cubanos.
Dois deles, René González e Fernando González Llort finalmente foram libertados após o cumprimento de suas penas. Três dos Cinco Cubanos, Gerardo Hernández, Ramón Labañino e Antonio Guerrero ainda permanecem nos EUA após mais de uma década de encarceramento em prisões de segurança máxima.
Conheci as famílias dos Cinco Cubanos em 2006 em Havana. Eu tinha viajado para lá como membro de uma delegação de Direitos Humanos que chegou até a entrada da base militar de Guantánamo para protestar contra as torturas e condições desumanas dos prisioneiros que tinham sido sequestrados, torturados e encarcerados após os acontecimentos do 11 de setembro de 2001.
Como defensora dos Direitos Humanos foi difícil ouvir as histórias dos familiares dos Cinco sobre os desafios que têm que enfrentar para poder visitá-los nos cárceres de nosso país por causa das medidas burocráticas do governo dos EUA que lhes tornam muito difíceis de cumprir para poder vê-los.
Na época de nossa viagem a Cuba em 2006, os Cinco Cubanos já estavam nas prisões há oito anos. Durante esses anos o sistema judicial dos EUA foi profundamente influenciado pelos fatos do 11 de setembro e a posterior redução dos direitos civis e políticos para os cidadãos estadunidenses e a limitação extraordinária e violação dos direitos legais para os que não são cidadãos dos EUA.
Espero que sua administração, agora que lhe restam somente dois anos de mandato como Presidente, esteja disposta a desafiar a influência que tem a direita do lobby cubano de Miami na política estadunidense para, em última instância, corrigir as injustiças que têm sofrido os Cinco Cubanos, concedendo o indulto presidencial aos restantes três membros dos Cinco que estão presos.
Obrigada,
Ann Wright
Ex Coronel do Exército dos Estados Unidos e ex- Diplomata dos EUA."
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