20 de jun. de 2021

OUTRA VIL MENTIRA DOS ESTADOS UNIDOS

 



Por:Ángel Guerra Cabrera

     Já é conhecida a fixação dos governantes dos Estados Unidos (EU) pelo uso da mentira para justificar suas ações no mundo, que constituem, em geral, flagrantes violações do direito internacional e dos princípios humanistas elementares.

       Mas poucas vezes a hipocrisia e o cinismo do império do norte chegaram tão longe como quando seus porta-vozes proferem que as indevidamente chamadas “sanções” econômicas contra países como Cuba, Venezuela, Síria, Irã e Coreia do Norte buscam castigar seus líderes e não as suas populações.

   Isso confirmo, ao ler o bem documentado e pormenorizado relatório anual do governo cubano à ONU sobre o prejuízo que o bloqueio provoca a seu povo. Aliás, agora é momento de recordar que Washington chama eufemisticamente de embargo ou sanções a essa medida punitiva de força, arrogando-se o direito, que ninguém lhe conferiu, de decidir quem são os bons e os maus no mundo. Não me deterei a explicar aqui por que se trata de bloqueio e não de embargo. Seria como explicar por que se chama o pão de pão. Mas o termo sanções envolve a arrogância, a soberba e essa obsessiva inclinação de Washington pela mentira, quando tenta encobrir, sob esse vocábulo, graves violações ao direito internacional e aos direitos humanos, que não têm outro nome, que medidas coercitivas unilaterais. São coercitivas por serem aplicadas pela força, e são unilaterais por serem contrárias à Carta da ONU e a outros instrumentos internacionais, ignorando os organismos multilaterais – como o Conselho de Segurança da ONU –, únicos com direito a adotar sanções contra terceiros países, segundo a normatividade internacional.

 


     Mas voltemos ao que constitui o miolo desta alegação: a mentira estadunidense de que as sanções estão dirigidas contra os governantes, e não contra os povos. No período analisado pelo referido relatório do governo cubano, entre março de 2019 e abril de 2020, constata-se que, pela primeira vez desde que se debate esse informe na ONU (1993), a afetação provocada pelo bloqueio à economia cubana ultrapassa 5 mil milhões [no Brasil, bilhões] de dólares, chegando ao patamar dos 5 mil milhão 570.3 milhões, um incremento de cerca de um bilhão e 226 milhões de dólares, em relação ao período anterior, cifra muito alta para uma economia pequena. Esse aumento reflete a hostilidade e o ódio sem limites movidos contra Cuba pelo governo de Trump, mas evidencia, por sua extraordinária magnitude, o objetivo deliberado de ocasionar o maior mal-estar possível, não aos dirigentes, senão ao povo cubano. A ordem de magnitude dessa cifra e o quadro de descaradas ameaças e castigos a todo aquele que, no mundo, ousasse realizar um negócio com Cuba ou conceder-lhe um crédito revela a perversa intenção da medida: causar fome, escassez generalizada – inclusive de medicamentos essenciais –, longas filas para comprar o mais elementar, com o propósito de provocar uma explosão social do povo cubano e a sonhada mudança de regime. Isto seguido, é óbvio, de planos desestabilizadores, incluindo a tentativa de golpe suave, como se viu nos últimos meses. Levam nisso mais de seis décadas, se contamos desde a adoção das primeiras medidas contra a economia da Ilha, mesmo que formalmente ainda não tivessem decretado o bloqueio.

      A crise econômica internacional, bastante agravada pela pandemia, prejudicou Cuba, como o mundo inteiro, mas é assombroso o quanto o bloqueio pode tornar essa situação mais dolorosa, sobretudo devido à fúria com que os Estados Unidos incrementou-a nesses tempos de pandemia. Tomemos um exemplo. O Instituto Finlay de Vacinas teve de recorrer a fornecedores de terceiros países, para realizar compras de produtos de fabricação estadunidense. Para isso, empregou 894 mil 693 dólares, dos quais poderia ter economizado 178 mil 938 dólares, se os tivesse adquirido nos EUA. É só um caso, pois os esforços de Cuba para combater a pandemia foram sensivelmente limitados devido às disposições do bloqueio, especialmente as extraterritoriais, que deram a Washington a possibilidade de privar Cuba deliberadamente de respiradores mecânicos, máscaras, kits de diagnóstico, óculos, trajes, luvas, reagentes e outros insumos necessários para enfrentar a covid. Nessas condições adversas, Cuba não só tem o índice de mortalidade por covid mais baixo da região, senão que aplica massivamente na sua população vacinas criadas por seus cientistas. Além do apoio de seus médicos a mais de 50 nações, para combater a enfermidade. Em alguns dias, os Estados Unidos receberão de novo na ONU o repúdio do mundo a essa política, qualificada como genocida com base na Convenção de Genebra de 1948, e como crime de lesa-humanidade, pelo Estatuto de Roma da Corte Penal Internacional. Sim, senhor Biden.




Publicado em: lapupilainsomne.wordpress.com

Tradução: Marcia Choueri

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