Bruno Rodríguez fala sobre bloqueio dos EUA a Cuba (foto de Joaquín Hernández, Xinhua)
Rússia, China e Irã apoiam a Ilha; está na hora de o Brasil fazer o mesmo -
Por Beto Almeida
Notícias que chegam de Cuba relatam grave crise de abastecimento de energia, decorrente das dificuldades impostas pelo bloqueio econômico imposto pelos EUA contra a Ilha socialista, impedindo-lhe a compra de petróleo, bem como de peças de reposição para a manutenção do sistema elétrico. Além disso, a Cuba é negado o acesso ao sistema de crédito internacional. Tudo é consequência deste criminoso bloqueio que se iniciou em 1962 e que conta com o apoio do regime genocida de Israel. O que pretendem os EUA é transformar Cuba numa outra Gaza, matando seus habitantes de fome, de penúria ou por falta de medicamentos. Mas isso não vai acontecer! A solidariedade internacional à Revolução Cubana se fará sentir cada vez mais forte e mais organizada, e os sinistros planos dos EUA e de Israel não serão alcançados.
Cuba participa da Cúpula dos Brics em Kazan, convidada pelo presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, hoje no comando do bloco que já supera o G7 em termos de PIB. Além disso, entre os países que compõem o Brics, vários possuem relações de cooperação com Cuba, que, neste momento em que a selvageria capitalista contra a Ilha revela toda a sua crueldade, certamente estarão redimensionando suas relações bilaterais, especialmente Rússia, China, África do Sul e Irã, permitindo que Cuba possa enfrentar e superar as atuais dificuldades.
A Federação Russa já tem demonstrado efetiva solidariedade com Cuba: em março deste ano, chegou à Ilha caribenha um navio russo com 700 mil barris de petróleo. Além desta doação essencial, a Federação Russa está operando a modernização da principal ferrovia da Ilha, ligando Havana a Santiago de Cuba, e também das Forças Armadas cubanas.
De sua parte, a República Popular da China efetivou a doação de uma usina de energia solar no valor de € 107 milhões, medida que deverá ser seguida de novas doações, com a meta indicada de que a Ilha possa fazer sua gradativa conversão do atual sistema elétrico, baseado em petróleo, para um modelo energético lastreado em fontes renováveis para a geração de eletricidade, com a utilização de placas fotovoltaicas, aproveitando a elevada incidência solar em toda a região do Caribe.
O Brasil também faz parte de um grupo de países que busca ampliar as relações bilaterais com Cuba, que foram bastante reduzidas durante o governo de Bolsonaro. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou a retomada dos Acordos de Cooperação na área de produção de fármacos, envolvendo a participação de instituições dos dois países. Uma parceria que já deu frutos, pois, no ano de 2007, os dois países chegaram a produzir 19 milhões de doses de vacinas contra a febre amarela, produzidas pelo Instituto Finley, de Cuba, e pela Fiocruz, brasileira, com um preço 90% mais baixo do que o oferecido pelo laboratório concorrente, vinculado à ambiciosa e rica Fundação Bill Gates.
Essas vacinas foram destinadas a uma vasta região da África, atendendo a uma licitação lançada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa notícia somente foi divulgada pela Telesur e pela Prensa Latina, agência de notícias fundada por Che Guevara. Outro integrante do bloco Brics e também dotado de robusta política anti-imperialista desde 1979, quando triunfou a Revolução Islâmica que derrubou a ditadura do Xa Reza Pahlevy, é a República do Irã. Ainda este ano, Cuba recebeu a visita de um chefe de estado persa, o ex-presidente Ibrahin Raissi, falecido em acidente no dia 19 de maio último. Durante sua visita a Havana, o então presidente do Irã fortaleceu os laços de cooperação junto ao presidente cubano, Miguel Díaz-Canel.
Além de acordos de cooperação em diferentes áreas, Irã e Cuba comprometeram-se a atuar de modo solidário e organizado para resistir às sanções dos EUA que atingem os dois países revolucionários. Além disso, alguns medicamentos produzidos pela indústria farmacêutica de Cuba estão à venda no mercado da nação persa.
Em nenhum momento, mesmo enfrentando todas as adversidades do bloqueio dos EUA, Cuba deixou de expressar sua solidariedade concreta a diversos países, em todos os continentes. Há vacinas cubanas no Irã, na Venezuela, na Nicarágua e no México. As brigadas médicas cubanas também marcaram sua presença em 77 países do mundo, inclusive Rússia, China, Itália, Brasil e Haiti. A Escola Latino-Americana de Medicina já formou mais de 300 mil médicos, com financiamento próprio de Cuba. Com isso, Cuba compartilha seus modestos recursos com os povos de vários continentes, na forma de médicos dotados de uma consciência socialista da medicina.
Vale lembrar que, quando o Brasil teve um surto de meningite, durante o governo Sarney, ameaçando ceifar a vida de milhares de crianças brasileiras, a vacina que nos salvou veio de Cuba. Mais tarde, durante o governo Dilma Rousseff, quando o Brasil necessitou de milhares de médicos para atender os brasileiros mais humildes, nos locais mais inóspitos, onde os médicos brasileiros nunca se interessaram em estar, foram os médicos cubanos, por meio do Programa Mais Médicos, que atenderam a população nos seringais, nos pampas, no Pantanal, no sertão e também nas favelas do Rio de Janeiro. Como registro para comprovar o alcance da medicina cubana, o neto do ex-presidente João Goulart, formado em Cuba, é médico em um posto de saúde na favela da Rocinha.
Ao Brasil, a presença da solidariedade cubana nunca faltou. Poderia até ter sido mais profunda se o Ministério da Educação tivesse dado continuidade à aplicação do método de alfabetização chamado Yo Si Puedo, e talvez já tivéssemos erradicado o analfabetismo que grassa entre nós, como o fizeram Venezuela, Nicarágua, Bolívia e Equador, sempre com a presença de pedagogos de Cuba, como atesta a Unesco, declarando esses países Territórios Livres do Analfabetismo, tal como a Ilha caribenha, a primeira a se ver livre desta chaga social nas Américas. Mas foi o próprio MEC, no governo Lula 1, que não deu continuidade aos projetos pilotos no Nordeste, com a participação de pedagogos cubanos, que registraram excelente rendimento alfabetizador.
Agora, quando Cuba atravessa essa dificuldade no abastecimento de energia, tragédia produzida por mais de 60 anos de bloqueio dos EUA, é hora de a Humanidade reconhecer que possui uma dívida para com a Revolução Cubana, que sempre reagiu ao ódio e à coação imperialistas, bem como à indiferença de outras nações, ofertando educação, saúde, vacinas, médicos e professores, como agora em Honduras, em convênio com o governo da presidenta Xiomara Castro, onde se aplica o método Yo Si Puedo, destinado a erradicar o analfabetismo naquela nação centro-americana.
As dificuldades no abastecimento de energia em Cuba não interrompem a energia social civilizatória que a Ilha lança, de modo solidário, a outros povos. Falta luz, sobra solidariedade!
Constituição e Integração da América Latina
O Brasil tem, no preâmbulo de sua Constituição de 1988, a meta de construir uma “Comunidade Latino-Americana de Nações”. Expressar solidariedade concreta a Cuba, neste momento, seria não apenas uma missão constitucional, mas também o reconhecimento desta imensa dívida que a humanidade tem para com o generoso povo cubano. Tivéssemos hoje a Eletrobras como empresa estatal, tal como fora criada pelo grande presidente Vargas, teríamos uma ferramenta de desenvolvimento a ser aplicada em favor da integração energética latino-americana, como é compromisso assumido pelo Brasil ao decidir integrar a Celac.
Seria imensamente mais fácil e prático expressar a solidariedade brasileira. Mas essa missão também pode ser muito bem cumprida via BNDES, outra ferramenta surgida na Era Vargas, com a aprovação de linhas de crédito para que empresas brasileiras implantem projetos para o desenvolvimento de um novo modelo energético em Cuba, com equipamentos da indústria brasileira, o que contribuiria para atender a uma das metas anunciadas pelo presidente Lula, aliás prioritária em seu terceiro mandato: a reindustrialização do Brasil, ainda marcando passos.
Certamente, o presidente Lula não deve ter se esquecido de que, logo após a derrota de 1989, quando chegou a pensar em abandonar a política, foi exatamente o comandante Fidel Castro quem lhe abriu os olhos e lhe tocou a consciência, mostrando que, embora não vitorioso eleitoralmente, havia recebido dos trabalhadores brasileiros um precioso voto de confiança, uma mensagem para que seguisse na política. O conselho do líder cubano foi de grande valia, e aí está o retirante nordestino pela terceira vez no Alvorada.
É hora de pagar dívidas históricas com o povo brasileiro, erradicando o analfabetismo, por exemplo, meta ainda sem definição, e também retribuindo a solidariedade caribenha que nunca faltou aos brasileiros. Afinal, não tem nenhum sentido que a Petrobras, fruto do trabalhismo varguista, seja hoje utilizada para abastecer de petróleo a máquina de matar israelense, enquanto Cuba, que ilumina a humanidade com suas mensagens edificantes à civilização, não receba sequer uma gota de petróleo brasileiro…
Beto Almeida é jornalista, diretor da Telesur, conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e membro da Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade
Fonte : https://monitormercantil.com.br/a-crise-energetica-em-cuba-o-bloqueio-e-a-luminosidade-da-revolucao/
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