Em 2016 não se imaginava que o Programa Mais Médicos iria acabar no Brasil dali a dois anos, tudo caminhava (ainda, apesar do golpe) relativamente bem nesta área e o povo brasileiro era atendido pelos médicos e médicas de Cuba que aqui chegaram e trabalhavam nos locais mais longínquos do país.
Em novembro de 2016 o Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba foi convidado pelo Vereador Leonel Brizola Neto para participar da cerimônia de entrega da Medalha Pedro Ernesto aos médicos cubanos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
https://solidariedadecubarj.blogspot.com/2016/11/valeu-cuba-medicos-cubanos-recebem.html
Os integrantes do Comitê decidimos, na ocasião, fazer também uma homenagem àqueles profissionais da saúde cubanos como uma espécie de desagravo a atitudes ofensivas de algumas pessoas na chegada dos referidos profissionais nos aeroportos do país em 2013. Quase que como uma retratação ou pedido de desculpas por aquelas deploráveis "recepções" onde, inclusive, os chamaram em altos brados de "escravos", dentre outras ofensas do gênero.
Dessa forma, levamos para a cerimônia uma carta de um médico brasileiro em agradecimento aos colegas de Cuba e exibimos um vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=fTbDqCN4gXg&feature=emb_title) que foi também presenteado às autoridades cubanas ali presentes.
Não imaginávamos na ocasião que cerca de quatro anos depois estaríamos em plena Campanha pela indicação ao Prêmio Nobel da Paz à Brigada Henry Reeve de médicos cubanos. Merecida campanha. Merecida indicação e acima de tudo, merecido prêmio a quem trabalha pelo mundo por solidariedade sem pedir nada em troca. "Somente" pelo princípio da solidariedade e afirmando que "nenhuma vida é estrangeira". Se sairmos da atual pandemia com esses princípios já caminhará melhor a humanidade. As palavras 'máscara', 'distanciamento social' 'covid' 'respiradores', 'álcool em gel' ficarão no passado. E a palavra que nunca mais será esquecida, a solidariedade.
Mas cabe aqui ressaltar o resultado do fim do referido Programa Mais Médicos(PMM) no Brasil. Neste nosso país já tão desigual onde contabilizamos cerca de 50 milhões de pessoas na pobreza (23% d população), 34 milhões sem qualquer saneamento básico, 87 milhões de pessoas em idade economicamente ativa sem emprego formal 5,1 milhões em 13.000 favelas em 734 municípios.O fim do PMM previa já à época o cenário que se avizinhava.
Assim, lamentavelmente as previsões se confirmaram ao longo do tempo. Aqui chegamos a ter 14.000 médicos e médicas cubanas que em fins de 2018 tiveram que voltar a seu país por questões ideológicas que aqui sequer cabe discutir. O fato é que mesmo sabendo do custo social que isso acarretaria (e acarretou) não havia nenhum argumento para qualquer crítica ao governo de Cuba em relação ao fim do PMM a que aquele país não deu causa. Não há como criticar a decisão de retorno dos profissionais. Voltaram a Cuba deixando aqui amigos - especialmente entre seus pacientes - que até hoje lamentam por não contarem mais com a medicina humanizada ou, como dizia Fidel:
"Aqui formamos médicos com ciência e com consciência"
O vazio aqui deixado pelo PMM se traduz em 63 milhões de brasileiros sem atendimento médico algum, 700 municípios sem qualquer assistência médica, 4 em cada 10 cidades brasileiras sem médicos; somente em 2019 aumento de 12% da mortalidade infantil em comunidades indígenas (um ano só após o fim do PMM).
Nos 5 anos em que atuaram no Brasil, os cubanos fizeram 113.359.000 atendimentos em 3.600 municípios.*
Imagine-se quantas mortes pelo Covid-19 seriam evitadas no país se o programa tivesse permanecido, já que em Cuba se controla a pandemia de uma forma impressionante, sem nenhuma mágica: trata-se especialmente da medicina preventiva, da atenção primária que evita a piora dos quadros da enfermidade, poupando as internações.
Sobre o controle da pandemia em Cuba, jornalista perguntou ao Presidente Diaz Canel:
- "É um milagre, presidente?"
Ao que ele respondeu placidamente:
- "Não, não é milagre, é socialismo."
Pequeno resumo da atuação da Brigada Henry Reeve
Criada em 2005 pelo Comandante em Chefe Fidel Castro (https://www.youtube.com/watch?v=n5fxy6jTMHs) , a Brigada na verdade tem o nome de Contingente Internacional de Médicos Especializados no Enfrentamento de Desastres e Graves Epidemias Henry Reeve (mais simplificadamente Brigada Henry Reeve). Criada com essa finalidade internacionalista e solidária, a Brigada atua em locais inóspitos arriscando a própria vida e levando esperança às populações mais pobres do mundo.
Em 2014 a África Ocidental , durante a epidemia do Ebola foi o local onde se tornou mais evidente sua atuação, nos países Serra Leoa, Guiné e Libéria, recebendo inclusive premiação da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2017 - sendo que ali perderam dois de seus profissionais.
Antes disso, entre 2005 e 2010 a Brigada atuou na Guatemala, Paquistão, Bolívia, Indonésia, Peru, México e China, além de Chile e Haiti (grandes terremotos) Em 2015 terremoto no Nepal e a tempestade Erika em Dominica. Em 2016 terremoto no Equador e furacão Mattew no Haiti. Em 2017 fortes chuvas no Peru e terremoto no México
Atualmente (em 30 de julho) em números que se alteram todos os dias, são 45 Brigadas Henry Reeve atuando em 38 países ao redor do mundo - independentemente da posição ideológica de cada governo. As Brigadas contam com 3772 integrantes dos quais 2399 são mulheres (66%) que atenderam 255372 pacientes de Covid-19 salvando 8099 vidas. Além disso existem 28000 agentes de saúde que em 58 países se incorporaram a esforços nacionais e locais no combate à pandemia atendendo 83268 pacientes e salvando as vidas de 13636 pessoas.
Por esses motivos e por muitos outros mais, seguimos em campanha e se realmente o Prêmio Nobel da Paz foi criado com essa finalidade, não se consegue antever outra pessoa ou grupo mais merecedor da premiação que a Brigada Henry Reeve, que leva paz e esperança sem nada pedir em troca a quem mais precisa em meio a essa pandemia onde a humanidade pede socorro.
Um prêmio, enfim, à Solidariedade.
PÁTRIA É HUMANIDADE
(José Martí)
Para participar da campanha:
www.cubanobel.org/assine_a_peticao
* Dados: Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares
*Coordenadora do Capítulo Brasil do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos