Entrevista com a embaixadora da República de Angola em Cuba, Maria Cândida Teixeira
Por ocasião do encerramento de sua missão em Cuba, a Embaixadora da República de Angola, Maria Cândida Teixeira, prestou declarações nas quais destacou que se trata de uma experiência excepcional, que lhe permite contribuir para o fortalecimento contínuo das relações bilaterais, uma parceria que remonta à década de 1960, forjada na luta comum pela liberdade, autodeterminação e soberania de ambos os países.
Como você vê seu trabalho em Cuba ao longo dos anos?
— Maria Cândida. - Cuba foi o país onde comecei minha carreira diplomática, como embaixadora, e para este momento em particular, uso um velho ditado que diz o seguinte. “O melhor espetáculo é sempre visto no final.”
Minha
acreditação como embaixadora de Angola em Cuba, há quatro anos, catapultou o
auge da minha carreira diplomática, e por isso me sinto lisonjeada.
Considero-me uma cidadã afortunada, porque não poderia ter sido diferente,
iniciando minhas funções nas terras de José Martí e do eterno Comandante Fidel
Castro, que considero minha segunda pátria.
Em 11 de
novembro, nosso país comemora o 50º aniversário da Proclamação da Independência.
Sob o lema
“Angola: 50 anos preservando e valorizando suas conquistas, construindo um
futuro”, celebramos esta independência, conquistada a ferro e fogo, e com o
sangue derramado por nossos heróis.
Agradecemos
o apoio e a união de todos os países comprometidos com a paz, a justiça e a
liberdade, especialmente os países africanos que nos acolheram no exílio, como
Argélia, Marrocos, Senegal, Tanzânia, Zâmbia, República Democrática do Congo,
Congo, Guiné-Bissau e Guiné-Conacri, oferecendo-nos apoio substancial para que
nossas ações de guerrilha em Angola contra o regime colonial português pudessem
prosperar. Da Rússia, recebemos apoio decisivo com armas, conselhos e
treinamento militar.
Como você avalia as relações entre as duas nações?
— Maria Cândida.
- Cuba e Angola têm os laços mais profundos, indeléveis e profundos, que
derivam não só de razões históricas e culturais (a chegada de muitos escravos à
ilha), mas também do fato de que, nos momentos mais críticos da história de
Angola, Cuba enviou seu maior patrimônio, seus filhos, para a pátria angolana,
que lutaram ombro a ombro com os angolanos pela conquista da independência e
pela manutenção de nossa soberania.
A famosa
Batalha de Cuíto Cuanavale é o exemplo mais vívido, onde a Namíbia e a África
do Sul estão incluídas neste grande épico.
No âmbito
das nossas excelentes relações políticas, econômicas e culturais, tanto no
plano bilateral como multilateral, foram realizadas trocas de visitas de alto
nível entre ambas as nações, como a participação do Presidente João Lourenço na
reunião do G77+China em Cuba e a visita do Presidente Díaz-Canel-Bermúdez a
Angola em 2023. Isso demonstrou a importância atribuída às relações bilaterais
e nos permitiu reafirmar a fraternidade e as perspectivas futuras.
O apoio de
Cuba a Angola, desde os primeiros anos da nossa independência, está escrito em
letras de ouro na história das nossas nações.
A presença
de milhares de combatentes internacionalistas cubanos que derramaram seu sangue
em solo angolano não foi apenas um símbolo de solidariedade, mas também um ato
de coragem, bravura e comprometimento que jamais será esquecido pelo nosso
povo.
Essas relações foram consolidadas durante sua estadia?
—Maria Cândida.
- Em tempos mais recentes, nossas relações se fortaleceram e se diversificaram,
abrangendo áreas como saúde, educação, defesa, ciência e tecnologia,
agricultura, cultura e desenvolvimento econômico.
No setor
da saúde, os médicos cubanos têm desempenhado um papel fundamental em Angola,
especialmente nas áreas mais remotas, ajudando a melhorar a qualidade de vida
da população. Ao mesmo tempo, centenas de jovens angolanos continuam a se beneficiar
de uma excelente formação em instituições de ensino superior cubanas.
Em defesa
e segurança, a cooperação tem sido essencial para manter a paz e a estabilidade
em Angola, a soberania nacional e a segurança regional.
Economicamente,
a recente intensificação de parcerias no setor agrícola e no desenvolvimento de
infraestrutura demonstra o dinamismo dessas relações e o potencial que ainda
temos a explorar, promovendo o desenvolvimento conjunto e sustentável.
Você conseguiu fortalecer as relações de Angola na América Latina?
Como
embaixadora não residente, tive a oportunidade de, a partir de Cuba, fortalecer
as relações com o Panamá, a Costa Rica, a República Dominicana, a Nicarágua, a
Guatemala, El Salvador e o Caribe. Cada uma dessas nações desempenha um papel
importante no fortalecimento da cooperação Sul-Sul e no desenvolvimento
regional. Construí pontes importantes entre Angola e esses países, promovendo o
intercâmbio econômico e cultural, bem como experiências e conhecimentos em
áreas de interesse comum, o que acredito que terá um impacto positivo no futuro
das nossas relações.
A
República de Angola assumiu a Presidência da União Africana em fevereiro. Um
dos objetivos é a mediação contínua nos conflitos regionais que continuam a
assolar nosso continente, particularmente entre a República Democrática do
Congo e Ruanda, que causaram vítimas inocentes e destruíram infraestruturas
importantes.
Que mensagem você deixa para os cubanos após sua nova missão?
— Maria Cândida. - Aos meus irmãos e irmãs cubanos, reafirmo minha gratidão à pátria de Fidel por me permitir fazer parte desta história, por ter me dado uma calorosa acolhida e por tornar esta missão inesquecível. Despeço-me com o coração cheio de gratidão e a promessa de que, da França, como representante do meu país na UNESCO, continuarei defendendo e promovendo a amizade entre nossos países, certa de que nossas relações continuarão.
Ao me
despedir, levo comigo lembranças preciosas e a certeza de que o trabalho que
comecei continuará crescendo e dando frutos. Angola e Cuba partilham valores de
solidariedade, respeito e progresso comum, que servirão de base para o
fortalecimento contínuo das nossas relações bilaterais e multilaterais, sempre
pautadas pelo objetivo de construir sociedades mais justas, prósperas e
solidárias.
Hedelberto López Blanch, jornalista, escritor e
pesquisador cubano, especialista em política internacional.
@Tradução: @comitecarioca21
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