13 de abr. de 2016

"LA GUARDERÍA", UM FILME QUE NARRA COMO CUBA SALVOU AS CRIANÇAS ARGENTINAS (+ ÁUDIO E VÍDEO)

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  Crianças em La Guardería montonera em Havana, Cuba (c.1980).
Acaba de ser lançado na Argentina "La Guardería", O Berçário, primeiro documentário de Virginia Croatto sobre um dos lugares reservados para os filhos dos militantes da guerrilha argentina no final dos anos 70 e início dos 80, que viveram alguns anos de suas vidas em um abrigo em Havana.

Cuba praticamente os salvou do sequestro junto a seus pais, na fase mais repressiva da ditadura militar, que custou mais de 30.000 mortos e desaparecidos. O documentário foi premiado com o primeiro prêmio da Competição de Direitos Humanos no 34º Festival Internacional de Cinema do Uruguai.

Siga os detalhes da apresentação do documentário, em sua página no Facebook: La Guardería Documental

O grupo de 30 crianças entre 8 e 10 anos cresceu, e que ali coexistiam, como por exemplo a diretora, recordam do fim antecipado da inocência para refletir sobre muitas questões a partir do que viveram naqueles anos em que a escuridão era uma coisa de cada dia, a felicidade rara e sem volta e a rotina atolada em um presente difícil de resolver.

O que foi La Guardería (O Berçário) para Virginia Croatto? "Aquele lugar onde todos nós queremos voltar de vez em quando. Está idealizada na minha memória, a vida coletiva, jogos, apesar de eu ter consciência de como era difícil, de como foi duro para todos, morte, exílio, é um espaço de paz naquele turbilhão. Um bonito paraíso florido", disse a autora do documentário.

A ação tem lugar, principalmente, em uma grande casa branca com um jardim e palmeiras, em algum lugar em Havana, casa, durante muitos anos, de um grupo de muitas crianças, filhos de membros da organização Montoneros, que viveram uma parte importante das suas infâncias longe de seus pais, que os deixaram lá para protegê-los enquanto lutavam na "contraofensiva montonera".

Estas crianças, hoje homens e mulheres, contam suas histórias, fantasias e memórias entre 1979 e 1983, de outros companheiros, que lhes devam o amor e o cuidado que precisavam, aprenderam a interagir com outra cultura sem perder sua própria, a conviver com nostalgia e a esperar ansiosamente por cartas e notícias de seus pais.

Virginia Croatto, diretora do documentário.

A diretora do filme, que tem como produtora associada Lita Stantic e roteiro de Gustavo Alonso e David Blaustein, foi uma dessas crianças, que três décadas depois tenta entender o pensamento daqueles que agora são adultos, aquela experiência, seus lugares e experiências comuns e seu singular contato com a alegria, tristeza e morte.

Croatto faz esse caminho a partir de uma perspectiva diferente a de documentários convencionais, muitos deles marcados pela tradição das "cabeças falantes", mesmo o assunto tendo poucos ingredientes audiovisuais dos fatos a que se refere, ela consegue que o resultado se converta em uma proposta que supera de longe o que foi visto até agora.

A opção de intervir pouco ou nada nos testemunhos, que se tornam valiosas reflexões sobre as circunstâncias muitas vezes difíceis de explicar e compreendidas pelo espectador de que se podem conseguir pouquíssimas referências sobre esse tema por intermédio da imprensa, mesmo a partir das anotações feitas a respeito da ditadura civil militar em pesquisas e investigações, resulta em uma proposta superadora que é consequência da aposta em uma linguagem moderna.

"Tenho nostalgia de ter vivido essa experiência, uma nostalgia que de alguma forma não pertence apenas a mim, pelo menos da parte linda, da 'primavera', parte de um projeto que acreditava que iria mudar o mundo, de que as coisas poderiam ser melhores e tinham que ser melhores, e eu abordei a partir desse lugar de coletividade, mas em minha própria reflexão há claros e escuros", assegura a diretora, que rodou seu filme tanto aqui na Argentina quanto em Cuba.

"A princípio a ideia era mais autobiográfica, inclusive quando eu comecei o projeto há mais ou menos uma década, filmei algumas coisas assim, mas não me sentia confortável, não fechavam, e não digo que seja nem melhor nem pior, apenas era eu que precisava contá-la de outra maneira, mais coral e se quiser até mais clássica, mas além de não contar quem sou eu parecia uma obrigação, e por isso mesmo mostro", diz a cineasta que estreou em longas-metragens com este filme.

"No entanto, não digo claramente desde o princípio, eu pensava que ajudaria o público a ver de outra perspectiva, para melhor ou pior, de forma mais aberta, sem a autoridade de ter que vê-lo como vindo de uma vítima, mas conforme fui avançando com a montagem me dei conta de que não podia esquecer que eu mesma fui uma daqueles crianças do berçário", lembra.

Croatto reconhece: "quando eu fiz as entrevistas disse a todos que falassem comigo como sempre fizeram, sem perder a distância, não neguem por quem estão sendo entrevistados e isso me levou a um lugar que para mim é um intermediário, de um filme um pouco coral que não deixa de ter minha própria visão, mas tenho certeza de que qualquer um daqueles que viveram essa experiência faria um filme totalmente diferente mas tendo um eixo comum".

"Com algumas  crianças daquela época eu continuei a ter um contato mais cotidiano, porém concordamos que a política dos anos 80 foi complicada para aquele grupo apesar de todos sermos filhos de Montoneros. Eu não sou a voz oficial dos que ali estiveram, essa é minha visão, mas em algum momento se converte no olhar dos demais, ou pelo menos de alguns deles", e explica que esta não foi a única creche, haviam outras, seja para os membros do ERP, ou por exemplo para crianças de exilados chilenos.

"No entanto, por uma questão de segurança, nunca nos conhecemos, os de uma e outra ... Daqueles que viveram em La Guardería Montonera, mantenho uma relação muito profunda, com os outros durante muito tempo não nos vimos e houve um reencontro a partir do filme. Eu tinha um certo receio sobre o que eles diriam, mas acho que eu pude chegar a uma boa síntese", disse.

"Algumas crianças passaram quatro meses, mas outras, como eu, que passaram quatro anos. No meu caso foi porque minha mãe assumiu o berçário, que tinha duas etapas, e minha mãe entrou na segunda, e por isso fomos quase as últimas a voltar. A ideia original era que as crianças ficariam lá por um curto período de tempo", recorda.

"A maioria das crianças tinham seus pais aqui, mas no meu caso foi um processo em sentido inverso. Meus pais, meu irmão e eu voltamos com a contraofensiva, mas meu pai caiu morto nas mesmas circunstâncias que o personagem de 'Infância Clandestina'...", lembrando o que recorda de uma das gravações em cassetes ouvida em seu documentário do irmão de Benjamin Avila, diretor de outro filme.

Segundo a cineasta, "contar esta história agora teria toda a racionalização do que aconteceu em seguida e eu preferia ficar com o que todos nós sentimos naquele momento, daí o recurso dos cassetes que puderam resgatar as cartas que então escrevíamos ou que recebíamos...".

Uma decisão que tomei foi a de não negar a luta armada, apesar de não ser um filme em que se poderia discutir isso. Por diferentes razões políticas e de golpes de Estado e naquele tempo acreditava-se que isso era possível ... muitas pessoas que agora seriam humanistas, naquele tempo participavam da luta armada. Eu não queria abordar a questão de forma 'light', então eu não tentei negá-la, porém tampouco a coloquei em primeiro plano: esse é um tema que dá para uma longa reflexão", concluiu.

Clique em La Guarderia Victor Hugo para ouvir o comentário de Víctor Hugo Morales sobre o documentário.

La Guarderia - documentário de Virginia Croatto


                                     

Virginia com sua mãe em La Guardería em Havana.

La Guardería funcionou de 1979 a 1986, período de maior repressão da ditadura que custou 30 000 mortos e desaparecidos

Firmenich, líder dos Montoneros, no centro com as crianças de La Guardería.

Crianças em La Guardería com seus cuidadores cubanos.

Cartaz do documentário.

(Com informação da Telam y Escribiendo Cine) 
Fonte: CUBADEBATE

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