“Os povos indígenas têm convocado a sociedade para lutar em defesa dos territórios”, afirma Cacique Babau
Por Wesley Lima
Da Página do MST
Com aproximação do Acampamento Terra Livre (ATL), que acontecerá entre os dias 24 e 26 de abril, em Brasília, esta sexta-feira (19), Dia do Índio, ganha expressivo significado de luta e resistência popular, assim como é marcada a trajetória de luta dos povos indígenas no Brasil.
O ATL, convocado desde o início do mês, é organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) que é composta por diversos movimentos e organizações indígenas. Há 15 anos o encontro reúne lideranças nacionais e internacionais, com o objetivo de garantir a troca de experiências culturais e impulsionar a luta pelos direitos constitucionais, como a demarcação dos territórios, acesso à saúde, a educação e a participação social.
Na manhã desta última quarta-feira (17), o ministro Sérgio Moro publicou a Portaria N. 441 que autoriza o uso da força nacional de segurança na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes nos próximos 33 dias. Tal medida foi incentivada pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e tem como um dos motivadores a realização do ATL.
Em repúdio a decisão, a APIB publicou uma nota onde questiona: “Do que vocês têm medo? Por que nos negam o direito de estar nesse lugar? Por que insistem em negar a nossa existência? Em nos vincular a interesses outros que não os nossos? Em falar por nós e mentir sobre nós?”.
Além disso, o documento pontua que a história dos povos indígenas é marcada por tragédia e continua, “esse modelo de civilização referendado pelo atual governo coloca o lucro à cima da vida, somos a resistência viva, e nos últimos 519 anos nunca nos acovardamos diante dos homens armados que queriam nos dizer qual era o nosso lugar, agora não será diferente. Seguiremos em marcha, com a força de nossa cultura ancestral, sendo a resistência a todos esses ataques que estamos sofrendo”, finaliza.
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O Dia do Índio é dia de Luta
Assim como o 7 de fevereiro, Dia Nacional da Luta dos Povos Indígenas, o Dia do Índio afirma-se como mais um espaço de luta e resistência dos povos.
Cacique Babau Tupinambá, liderança da aldeia Serra do Padeiro, na Terra Indígena (TI) Tupinambá de Olivença, localizada no Sul da Bahia, acredita que a luta dos povos indígenas tem ganhado apoio popular nos últimos anos, mas o processo de criminalização e saqueio dos bens naturais e da luta dos povos tradicionais também tem crescido.
“Os povos indígenas têm chamado a sociedade para conhecer a luta e isso tem gerado um aumento na divulgação e denúncia. O povo indígena sempre foi atacado e tem encontrado apoio na sociedade nacionalmente e internacionalmente. Isso vai crescendo porque a sociedade começou a entender a situação indígena, pois os povos estão sofrendo com o aumento da violência.”
Além dessas questões, Babau destaca que existe um “grupo ganancioso que quer lapidar tudo que tem na natureza e tem atuado sem medidas”. Por isso, ele aponta que é “importante dialogar com a sociedade” em torno de temas centrais para o conjunto da população como a questão ambiental, mineral, o uso da água, das florestas.
Povos indígenas no Brasil
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado da Bahia, onde Cacique Babau reside, é o terceiro maior em população indígena, atrás apenas de Amazonas (167,1 mil indígenas) e Mato Grosso do Sul (72,1 mil).
Na Bahia, o IBGE aponta que existem cerca de 56.742 índios, o que equivale a 6,9% de toda população indígena do país. Esse número já foi bem maior, como lembra Babau, porém o país sofreu e sofre um amplo processo genocida dos povos tradicionais por conta dos seus territórios. Nesse sentido, a saída apontada é a luta popular.
Ele diz ainda que: “nós, os povos indígenas e quilombolas somos os únicos que não pedem terra para si. Nós pedimos para ter o uso, fruto nosso. A terra continua sendo a terra de todos os brasileiros. Então é obrigação de todos os brasileiros defenderem os territórios indígenas, que é a terra onde o índio vive para tomar conta de toda natureza. Mas, quem é o dono mesmo é o país, Brasil. Quando nós somos atacados nesse território e esse território não é defendido pela sociedade brasileira, significa que a sociedade quer privatizar a terra cada vez mais. Não devemos privatizar a terra. Ela não deveria ter titularidade para uso exclusivo de senhores, tinha que ser uma doação do estado”, explica Babau.
Diante da atual conjuntura e com diversos desafios colocados com a realização do Acampamento Terra Livre, Cacique Babau convoca: “Nós povos indígenas chamamos toda sociedade a se somar com nós nesta luta. É uma luta de todos os brasileiros”, conclui.
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