9 de abr. de 2021

UMA PROPOSTA CONTRA O(s) BLOQUEIO(S) DOS ESTADOS UNIDOS


Proposta global contra o bloqueio econômico 

Pasqualina Curcio*

Pelo menos uma vintena de países são formalmente vítimas de "sanções" dos Estados Unidos. Desde 1992, na Assembleia Geral das Nações Unidas, todos os países, exceto os Estados Unidos e Israel, votaram contra as medidas coercitivas unilaterais impostas pelo país do norte a Cuba. Apesar da maioria óbvia, os EUA os ignoraram. Os votos de felicidade, as denúncias e os apelos ao levantamento dos bloqueios não têm sido suficientes para impedir essas ações genocidas contra povos inteiros.

Acabar com essas práticas de interferência exige compensar dois erros graves que nós, como humanidade, cometemos em 1944 e 1971. Para isso, é necessário saber, primeiro, como funcionam as “sanções”. Vejamos um exemplo.

Quando a empresa de alimentos "X", por exemplo, do México quer negociar com a empresa "Y" da Venezuela (país sancionado) o governo dos Estados Unidos, por meio do Office of Foreign Assets Control (OFAC) manda uma mensagem e diz: “ Se você vender alimentos para a Venezuela, congelaremos todas as contas bancárias que você possui no sistema financeiro mundial. Portanto, se a empresa venezuelana “Y” lhe pagar a comida, você não poderá ter esse dinheiro, nem o dinheiro que você já tem em suas contas. Nem se preocupe em transferi-lo para outra conta bancária, pois também o bloqueamos para você. Ah, e se colocarem em nome de outra pessoa ou empresa, a gente bloqueia essa outra também ”.

O governo dos Estados Unidos pode bloquear recursos financeiros porque tem o domínio sobre todas as transações financeiras que são feitas em dólares no mundo. Por meio do Swift (sistema global de compensação de pagamentos) os Estados Unidos têm o poder de decidir quais transações financeiras serão realizadas, quando e em que condições. Com esse poder ele infunde medo, ameaça, chantageia, "sanciona" e bloqueia.

Tirar esse poder dos Estados Unidos é a estratégia a seguir para combater os bloqueios criminosos, que envolve a suspensão do Acordo de Bretton Woods (1944) e do petrodólar (1971).

Em 1944, em meio à Segunda Guerra Mundial, 44 países se reuniram em Bretton Woods para decidir sobre a nova ordem comercial, monetária e financeira que impera até hoje. Para aquele momento em que a Europa tinha sido destruída e arruinada pela guerra, os Estados Unidos se prevaleceram aproveitando sua condição de ser, não só o país que produzia 50% do total mundial com superávit na balança comercial, mas sobretudo o grande credor do mundo.

Eles decidiram que o dólar americano seria, nada mais, nada menos que a moeda de referência mundial. Em outras palavras, foi concedida a exclusividade e, portanto, o poder aos EUA de que todas as moedas do mundo fossem referenciadas ao dólar, por sua vez lastreado em ouro. Esse foi o primeiro grande erro. Além disso, foi criado o FMI, que concedeu a maior cota de participação, 31,1%, aos Estados Unidos e com ele o maior poder de voto e controle naquele órgão.

Então, em 1971, a humanidade cometeu o segundo grande erro ao permitir que os Estados Unidos, unilateralmente, se dissociassem do ouro como o padrão para definir o preço de sua moeda. Nixon anunciou ao mundo que a partir daquele momento, o preço do dólar, ao qual todas as moedas mundiais continuariam a ser referenciadas, dependeria da confiança na economia americana. Um anúncio que veio acompanhado, não por acaso, da criação do petrodólar. A partir daquele momento, todo o petróleo que se comprou no mundo passou a ser negociado em dólares, e como não há país que não compre hidrocarbonetos, todos precisariam da moeda norte-americana, que estaria disponível em quantidade suficiente porque poderia ser emitida sem a restrição da quantidade de ouro nos cofres do Federal Reserve dos EUA.

Inundaram o planeta de dólares e para poder negociá-los criaram o sistema de compensação de pagamentos SWIFT, conquistando também unilateralmente o monopólio da fortuna financeira mundial. Foi uma jogada de mestre do país do norte.

Hoje, 80 anos depois de Bretton Woods e meio século depois do petrodólar, o mundo deu muitas voltas.

Os EUA passaram de maior credor mundial em 1944 para o país mais endividado do planeta, devem literalmente ao mundo inteiro, sua dívida é de US $ 25 bilhões. A situação é pior para os do Norte, quando suas reservas internacionais não cobrem nem 2% de sua dívida externa. Em contraste, a China lidera a lista com as maiores reservas internacionais, que também cobrem 153% de sua dívida externa. Sem contar que os EUA têm uma balança comercial negativa há meio século, importam mais do que exportam. O dos chineses é superavitário há 5 décadas. A produção dos Estados Unidos não representa mais 50% do total mundial, caiu para 24%, enquanto a China passou de 1% para 16%.

Proposta contra o bloqueio econômico

Nesse contexto, o que deve ser submetido a debate e decisão na Assembleia Nacional das Nações Unidas não é apenas se os países são a favor ou contra as "sanções" e bloqueios impostos pelos Estados Unidos. O debate deve centrar-se na construção democrática de um novo sistema comercial, monetário e financeiro.

As questões levantadas para consulta na Assembleia das Nações Unidas devem ser:

Você é a favor de o dólar americano não ser a única moeda de referência mundial?

 Você é a favor de ter muitas moedas de referência mundial e não conceder exclusividade, e portanto poder econômico, a um único país? 

Você é a favor de que os países possam comprar petróleo e seus derivados em qualquer moeda e não exclusivamente em dólares?

 Você é a favor de que todas as moedas sejam consideradas ativos de reserva internacional e não apenas o dólar, o euro, a libra esterlina, o iene ou o yuan? 

Você concorda que os países são livres para comercializar seus produtos em qualquer moeda? 

Você concorda que existem vários, muitos, sistemas de compensação de pagamentos no mundo e não apenas o SWIFT, incluindo a própria troca de mercadorias? 

Você concorda que, no âmbito das integrações regionais, são criadas moedas para troca naquela região que também servem para transações com outras regiões ou países? 

Você concorda em democratizar as decisões no FMI e, portanto, que cada país tenha direito de voto eliminando as cotas que lá regem?

A coalizão de países contra o bloqueio que se formou recentemente por Venezuela, China, Rússia, Irã, Cuba, entre outros, deve, além de continuar agregando nações, além de denunciar as "sanções" criminosas dos Estados Unidos  e além de exigir o cumprimento da Carta das Nações Unidas, incluir na agenda da Assembleia das Nações Unidas a criação de um novo sistema comercial, monetário e financeiro que permita avançar para um mundo pluripolar, multicêntrico, verdadeiramente democrático em que a soberania e a autodeterminação dos povos é respeitado. Assim, aliás e em face do declínio iminente do império mais genocida que a história já conheceu,  lhe dariam um pequeno empurrão para que acabe de cair.


*Economista, Professora da USB (Universidade Simon Bolivar -Vzla) 

Tradução: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba 

https://ultimasnoticias.com.ve/noticias/especial/propuesta-mundial-contra-el-bloqueo-economico-pasqualina-curcio/

2 comentários:

  1. Uma solução mais do que justa. Um mundo pluripolar e multicéntrico. Chega desse terrorismo estadunidense.

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  2. Como conseguir isso? Seria o Ideal! Mas como chegarmos a isso? Os donos do poder não farão isso de mão beijada

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