Desligue seu telefone
Há alguns anos, quando a Internet estava começando a ganhar
força, escrevi um artigo na universidade em que refletia sobre determinadas
características da WEB.
Na rede, os medíocres triunfam, eu disse na época; aquele
que nunca ousaria descer às profundezas do mar se torna um mergulhador
experiente, aquele que nunca ousaria se apaixonar se torna um Don Juan, e o
covarde acaba sendo o mais corajoso.
Eu não estava longe do que poderia acontecer, no
ecossistema digital vive e triunfa um ser tóxico, vulgar e irresponsável,
representante máximo da banalidade, capaz de fazer qualquer coisa em busca de
"reações" e, claro, como filho da sociedade que o gera, por fama e
também por dinheiro.
Esse ser é o "influenciador", uma garota vende
sua água de banho engarrafada e ganha milhões, um "professor" grava
seus programas com um vibrador em sua estante, mas o pior de todos é o
opinador.
A pessoa opinativa fala sobre tudo, dá sua opinião sobre
tudo, critica tudo, sem saber nada, mas isso não importa, nós que lhe enviamos
"coraçõezinhos", seus fãs, somos piores.
Não importa quem você é ou o que você contribuiu para a
humanidade ou para o país, esses seres que vivem no ciberespaço podem destruir
a reputação de qualquer pessoa em segundos, com um sorriso de prazer no rosto,
bem, no rosto que eles querem mostrar, melhorado com centenas de filtros.
Ninguém lê nada que seja sério, para ser justo, muito
poucos.
Eles dão sua opinião sem ler, sem nenhum elemento de
julgamento, basta o que o influenciador, o opinionologista e o hater dizem para
que seja verdade.
Estamos enfrentando o triunfo da tolice e das más
intenções, qualquer pessoa desequilibrada e antiética pode se tornar seu
demônio favorito.
Temos a chance de fazer a diferença, proponho, para que
fique registrado, que defendo as novas tecnologias e reconheço o progresso que
a Internet fez para a humanidade, estou falando da reprodução intencional
desses seres tóxicos, sugiro àqueles que amam a leitura, a boa música, as artes
em geral, àqueles que sonham com um mundo melhor, que promovamos a beleza do
trabalho criativo, que trabalhemos para que nossos filhos deixem de lado o
telefone e leiam um livro.
Para que eles realmente se amem com paixão, não no mundo
virtual, mas no real.
Ensiná-los a não perder a capacidade de lutar, de aprender,
de trabalhar, de buscar aventura na natureza.
Que aprendam que o suor não é ruim e que tempo é de ouro,
que é bom cometer erros e aprender com os erros que cometemos, não apenas com
um tutorial que não sabemos quem publicou na Internet.
Que a bondade e a generosidade façam parte de sua vida.
Desligue seu celular agora e procure um bom livro na
biblioteca, ouça boa música, desfrute da companhia da família e, à noite, faça
uma caminhada, converse com seu vizinho, semeie uma planta no quintal ou em
qualquer espaço de terra, pergunte, estude, julgue por si mesmo, valorize os
outros pelo que eles são, ouça.
Sejamos boas pessoas.
Não nos tornemos frios algoritmos.
Em tempos difíceis como os que estamos vivendo, a fé
diminui e muitas pessoas tendem a perder a sensibilidade, algo tão importante
para um revolucionário.
Um revolucionário insensível é uma contradição insuperável,
uma impossibilidade, uma negação de sua essência.
Estes são tempos difíceis, além disso, na era da Internet,
o ecossistema digital não apenas influencia, mas determina o comportamento de
muitas pessoas. Em breve, receberemos condolências apenas pelo whatsap, nos
divorciaremos pelo Intagram ou seremos demitidos de nossos empregos pelo
YouTube.
Não importa que você tenha dedicado sua vida a uma
determinada tarefa, qualquer pessoa com absoluta frieza, assim que as
habilidades que você sempre demonstrou diminuem, decreta sua inutilidade de
longe, na tela de um celular ou em uma simples mensagem: "não precisamos
mais de você".
Ninguém vai à sua casa para ver como você está, para lhe
dar ânimo, esperança e, acima de tudo, a força para continuar, que só um antigo
companheiro pode reviver.
Visitamos uns aos outros na Internet, conversamos e alguns
de nós até pensam que se amam por meio das redes.
Amigos, a Internet é útil, mas nos distancia, nos afasta e
nos aliena, não percamos a condição humana, vamos nos aproximar de nossos
amigos, podemos salvar o mundo com um simples abraço.
De minha parte, tive sorte, contei com a proximidade de
meus colegas do Granma em momentos difíceis, por isso reconheço o valor dessa
solidariedade entre colegas, eles estiveram presentes para este humilde soldado
e essa tem sido uma das forças que me impulsionam a seguir em frente.
O iate navega e nunca deixa seus tripulantes abandonados na
água.
Sejamos sensíveis, não deixemos prevalecer o tratamento
robótico e desumanizado que todos nós já sofremos e aplicamos em algum momento.
Sejamos únicos nisso também, esta ilha que renunciou à
normalidade de ser uma conta no colar dos poderosos deste mundo, pode fazer
isso.
Cuidemos de nossa sublime diferença em um mundo carregado
de desumanização, não cedamos à normalidade de sermos egoístas, sem apoio,
insensíveis, não nos tornemos avatares frios ou algoritmos distantes.
Tradução/Edição: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba e à Causas Justas