Cayo
Digital: Rússia pressiona por um 'Vale do Silício' em Cuba
Por: Victor Ternovsky
Cuba
poderá ter seu próprio "Vale do Silício". Ele se chamará Cayo Digital
e ficará localizado na Ilha da Juventude. O principal impulsionador do projeto
é a Rússia, interessada em impulsionar a expansão internacional de seu setor de
Tecnologia da Informação e Comunicação. A proposta de Moscou é criar um cluster
de empresas dos países BRICS Plus e da União Econômica Eurasiática, com foco
principal no fornecimento de produtos e serviços a clientes na América Latina e
no Caribe.
A
iniciativa é apoiada pelo Ministério da Indústria e Comércio da Rússia, o
Ministério do Desenvolvimento Digital, Comunicações e Mídia de Massa, o
escritório comercial russo em Cuba e a Agência de Iniciativas Estratégicas,
criada pelo governo russo para implementar medidas econômicas e sociais.
O
Cayo Digital foi concebido como um polo tecnológico com capacidade para
acomodar até 15.000 moradores: 12.000 especialistas e 3.000 estudantes. Sua
implementação envolve a construção ou reabilitação da infraestrutura necessária
à vida e ao trabalho de seus moradores: escritórios, laboratórios, plantas
industriais, residências, lojas, um shopping center e instalações esportivas,
culturais e recreativas. O cluster também incluiria creches, escolas e filiais
universitárias. Os autores do projeto enfatizam a importância de garantir vias
de comunicação e serviços de alta qualidade, como gás, água, eletricidade,
esgoto e coleta de lixo.
As
medidas práticas a serem tomadas para tornar isso realidade foram o foco de uma
reunião realizada em julho deste ano em Moscou, que reuniu líderes
empresariais, investidores e autoridades governamentais russas e cubanas de
ambos os países.
O
evento contou com a presença de Alexandr Volkov, CEO da GenIT, empresa russa
focada em sistemas e software de automação — com presença em Cuba desde 2023 —
que afirmou haver alta demanda na América Latina e no Caribe por equipamentos e
soluções do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação da Rússia. Ele
observou que essa é uma tendência crescente, em resposta à fundada desconfiança
regional em relação às ofertas tecnológicas ocidentais, visto que elas
frequentemente contêm vulnerabilidades intencionais, incluindo aquelas
projetadas para roubar dados pessoais ou interferir no funcionamento de
dispositivos eletrônicos.
Ele explicou que Cuba está sendo proposta como sede do Cayo Digital por vários motivos: sua proximidade histórica e cultural com a Rússia, sua disposição em se envolver em cooperação mutuamente benéfica com empresas do país eurasiano, sua ausência de receio de sanções ocidentais e suas conexões com outras nações da região, o que facilita o acesso aos mercados vizinhos. Além disso, a ilha conta com pessoal de alta qualidade nos setores digital e de telecomunicações, enquanto, por exemplo, a Universidade Tecnológica José Antonio Echeverría de Havana oferece programas de treinamento em russo, algo que impacta positivamente a interação e a colaboração entre profissionais de ambos os países, enfatizou.
A localização da produção de equipamentos e software permitirá a criação de produtos mais adaptados às realidades e necessidades regionais, insistiu Alexandr Volkov, destacando o setor de segurança cibernética entre as ofertas russas mais procuradas na América Latina e no Caribe. Ele observou, em particular, que as empresas russas oferecem aos seus clientes infraestrutura de TI soberana, ou seja, que só pode ser operada pela empresa designada. Esse é o chamado modelo "on-premise", em que dados e software são armazenados nas instalações da empresa, evitando riscos na nuvem. Ao mesmo tempo, ele observou que as fintechs russas superaram suas contrapartes ocidentais em várias vezes. Ele acrescentou que suas tecnologias educacionais também têm muito a se orgulhar.
O cluster ocuparia uma área de 450 hectares. Atualmente, encontra-se em fase de projeto. A previsão é de que os primeiros complexos residenciais sejam construídos entre 2026 e 2028. A inauguração dos primeiros centros de pesquisa científica e plantas inovadoras está prevista para antes de 2030. A conclusão do projeto está prevista para 2032. Suas funções envolveriam o desenvolvimento de inteligência artificial, realidade virtual e aumentada, arte digital e tecnologias sustentáveis.
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