Estados Unidos aposta na pandemia e incrementa a agressão contra Cuba
Sem o socialismo não é possível explicar a capacidade demonstrada por Cuba nestes 62 anos para defender a soberania frente ao desafio histórico do expansionismo imperialista estadunidense
Diretor Geral para Estados Unidos do Ministério de Relações Exteriores
A decisão mais determinante do Governo de EE.UU.a respeito de Cuba no
marco da pandemia foi categórica: aproveitar a inevitável propagação universal
do vírus para aumentar o custo do bloqueio econômico e tentar assim incrementar as carências e provocar o sofrimento
do povo cubano.
Em momentos em que desde todos os
rincões do planeta se fizeram chamados à solidariedade e à cooperação,
Washington apostou que a doença, seu contágio virulento, as possíveis mortes
previsíveis e o agravamento das dificuldades econômicas em Cuba fossem seus
aliados de ocasião.
Longe de dedicar os recursos, e o
talento profissional e cientistas que abundam naquele país e os orientar a
salvar a sua própria população do contágio, a morte e as nefastas consequências
para a economia e o emprego, o Governo de EE.UU. se propôs a castigar a quem com muitos menos recursos têm
sucesso em enfrentá-la. O país mais rico e poderoso, entretanto, e por pura negligência
política, terminou na injustificável posição de epicentro da pandemia.
Segundo recentes declarações de quem no Departamento de Estado
tem responsabilidade sobre os assuntos cubanos, sua política neste período tem
consistido em restringir as fontes de rendimento econômico de Cuba, e obrigar a
população a enfrentar carências ainda maiores, para apresentar como
deficiências do modelo político e econômico.
Reconhecem, sem a mínima vergonha, ter desatado uma campanha de
difamação contra a cooperação médica internacional que prestamos. É uma
campanha que se sustenta com ameaças e chantagens contra os países que
solicitam e recebem nossa cooperação. Alardeiam, além disso, estar desencorajando
os viajantes para impedir os legítimos recursos da indústria turística.
Estas ações, no entanto, não descrevem mais que uma fração da
guerra econômica devastadora e persistente que sofremos os cubanos.
No contexto do oportunismo eleitoral e da ênfase outorgada ao
peso aparente do estado de Flórida, a Casa Branca alimenta sua ofensiva com uma
intensa campanha de propaganda, dirigida a motivar ânimos de ódio,
ressentimento e ilusões de revanche entre determinados setores de
estadunidenses de origem cubana, cujos votos tratam de capturar.
Com o
respaldo de fundos milionários e o uso intensivo das redes sociais e
laboratórios de propaganda, a máquina de difusão estadunidense se esforça por
apresentar Cuba como um país inviável, decadente, com uma miséria estendida e,
curiosamente, merecedor de ações cada vez mais hostis para tentar que se
converta em realidade o panorama desolador que descreve.
Para empreender uma agressão tão ambiciosa, o imperialismo
sente-se obrigado a usar a mentira da forma mais absoluta e desavergonhada. Não
é algo por ele desconhecido, pois faz parte do modo de fazer política
tradicional desse país e componente particular da atitude para com Cuba na
longa história compartilhada desde fins do século XIX.
EE.UU. não tem o direito nem autoridade moral para se propor
interferir nos assuntos internos de Cuba. Comete um crime ao castigar a
população cubana em seu conjunto com suas medidas econômicas coercitivas.
Transgride o Direito Internacional e a soberania de terceiros Estados ao impor
restrições à atividade comercial de empresas desses países com Cuba, e atenta
contra os direitos humanos de vários países ao pretender impedir, com ameaças e
represálias a cooperação médica internacional que oferece Cuba para atender às
necessidades sanitárias de suas populações.
Resulta paradoxal que o empenho doentio contra Cuba, com a
finalidade de atingir o colapso do país e diminuir a autoridade do esforço
solidário cubano, tenha demonstrado, ao cabo de mais de seis décadas, a
resistência do sistema socialista.
Ninguém pode negar com honestidade o imenso impacto do bloqueio
econômico para a vida quotidiana e o desenvolvimento do país. Nações Unidas
publica anualmente dados de sobra para fundamentar a dimensão do dano.
Muitas
vezes temos perguntado, e não de forma retórica, que outra nação relativamente
pequena, subdesenvolvida e de escassos recursos naturais teria suportado
durante mais de seis décadas o embate de uma guerra econômica tão prolongada e
desigual. É uma pergunta válida, inclusive, para muitos países
industrializados.
O sistema socialista, como o entendemos, construímos e
defendemos em Cuba, não é perfeito, como não o é nenhuma obra humana.
No confronto com a pandemia, tem demonstrado sua força indiscutível.
Esta repousa, sobretudo, no sentido profundamente humano de um modelo que põe o
bem-estar dos indivíduos e da população, justiça social, e o direito a viver
totalmente livre de tutela estrangeira acima de qualquer outra consideração.
Cuba conta com a capacidade de mobilizar a nação em função de
uma tarefa vital; com a virtude de ter priorizado há décadas o desenvolvimento
de um sistema de Saúde robusto e acessível a todos, absolutamente todos, e um
potencial educativo, cultural e científico próprio, com resultados de alcance
universal.
Sem essas vantagens, só possíveis sob o socialismo, Cuba não
teria os resultados favoráveis que hoje lhe reconhecem no controle do contágio,
a recuperação de pacientes, a baixa taxa relativa de mortalidade e a capacidade
de ir ao auxílio de outras nações. Sem elas, o custo para o país em vidas,
doentes e penúrias econômicas seria devastador, como o é em países de nossa
própria região. A meta central do sistema político, econômico e social de Cuba
é atingir a justiça mais ampla e ambiciosa e tratar de compartilhar com outras
nações na medida das possibilidades.
A urgência da pandemia obrigou-nos a acelerar a implementação de
mudanças econômicas e sociais fundamentais que previmos em momentos de menos
pressões, todos dirigidos a fortalecer, atualizar e fazer mais eficiente o
sistema socialista.
Preferimos impulsionar essas transformações sob um ambiente de
paz, mas estamos obrigados a aplicá-las com criatividade no contexto da mais
severa agressão.
Sem o socialismo não é possível explicar a capacidade
demonstrada por Cuba nestes 62 anos para defender a soberania frente ao desafio histórico do expansionismo
imperialista estadunidense e ante a tendência recorrente de políticos nesse
país que supõem que contam com direito de controlar os destinos da nação
cubana.
Um atento observador de Cuba deverá se perguntar que motivação
poderia convencer os cubanos a se dobrar ante a imposição imperialista do
vizinho ambicioso que nos ataca.
EUA tem e terá, sem direito algum, a capacidade de nos castigar
severamente, de gerar imensas dificuldades econômicas, de impor obstáculos
enormes às nossas legítimas aspirações de desenvolvimento e bem-estar. Pode
estabelecer impedimentos difíceis de superar nos vínculos que deveriam ser
naturais entre nossas duas nações. Também tem o poder de impor a alguns outros
Estados o império extraterritorial de medidas econômicas coercitivas e
ilegítimas contra Cuba. É algo comprovado.
Mas também tem
demonstrado que EE.UU., com todo seu poderio, não tem a capacidade de dobrar a
vontade desta nação. Sua crueldade, ainda que levada a extremos, não tem a
possibilidade de nos fazer renunciar ao socialismo, nem a ceder um milímetro às
prerrogativas soberanas e à verdadeira autodeterminação pela qual se
sacrificaram gerações de cubanos durante mais de 150 anos.
Com
EE.UU. temos muitas diferenças, umas de caráter bilateral e outras sobre visões
discrepantes a respeito de assuntos regionais e internacionais. Não faz sentido
pretender ou ignorar. Boa parte delas pode ser objeto de discussão civilizada.
Também temos áreas de interesse comum e campos que convém a
ambos países buscar entendimento, e inclusive cooperar. Por outro lado, os
vínculos entre os povos de ambos os países continuam ampliando nos campos mais
variados do talento humano, com independência da relação intergovernamental, e
parece que será difícil pôr trava a essa realidade.
O destino dirá se, e quando, será possível construir uma relação
respeitosa e construtiva. A experiência da história não o exclui, mas também
não o garante.
Entre as características mais consistentes da difícil história
compartilhada nos últimos 62 anos, está a disposição de Cuba em encontrar uma
forma de conviver respeitosamente com EE.UU. e de tentar resolver as diferenças
por vias diplomáticas. É uma aspiração que o povo cubano compartilha por esmagadora
maioria e que hoje parece longínqua, embora não impossível.
5 de agosto de 2020
(Cubaminrex-Granma)
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