A já tradicional comemoração do 26 de julho aconteceu na terça-feira no próprio dia 26 com a parceria do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba e o MPA - Raízes do Brasil em Santa Tersa - RJ.
Mojitos com rum Havana Club.
A comida foi a típica cubana (arroz con gris/mouros e cristianos, salada, aipim cozido e carne de porco desfiada)
Com música cubana e textos explicativos sobre o 26 de julho em Cuba, assim foi a homenagem a Cuba do Comitê, do MPA e do Levante Popular da Juventude. Além disso foi exibido o vídeo da jornalista Cristina Escobar sobre Cuba e o bloqueio :
Após, o Levante Popular da Juventude fez um sorteio animado de brindes cubanos aos presentes.
O bolo de 'aniversário' dos 69 anos do Assalto ao quartel Moncada em 26 de julho de 1953 que proporcionou, seis anos após, o triunfo da Revolução cubana. Para transformar a América Latina e iluminar os demais países até hoje. (as velinhas foram apagadas pelas crianças que também aproveitaram para provar um pouquinho antes da hora..)
O representante do MPA, Beto, em nome dos organizadores do evento fez uma saudação à data contextualizando a realidade cubana antes da Revolução com a nossa situação política atual em uma mensagem para 'esperançar'.
Declaração da Associação Nacional de Cubanos Residentes no Brasil - José Martí
No ano do centenário do Herói Nacional José Martí, em 26 de julho de 1953, um grupo de jovens revolucionários, liderado por Fidel, liderou o heroico assalto aos quarteis Moncada e Carlos Manuel de Céspedes, em Santiago de Cuba e Bayamo respectivamente. As ações de 26 de julho foram a faísca que acendeu a chama de uma longa luta que continuou na Sierra Maestra até que o tirano Batista, apoiado militar e politicamente pelo governo norte-americano, foi derrotado, abrindo para nossa pátria um verdadeiro caminho para a independência e a liberdade.
Essa vitória, alcançada em 1 de janeiro de 1959, não foi o fim de um processo, mas o início de um processo mais difícil e complexo que continua até hoje. A Revolução Cubana empreendeu imediatamente ações em benefício de nosso povo, antes de tudo, a Reforma Agrária. Isto provocou imediatamente a ira do império americano, que decretou o cruel e genocida bloqueio contra nossa pátria, que dura até hoje, e iniciou múltiplas ações criminosas, como a invasão armada que terminou com a vitória na Playa Giron, sabotagens e inúmeras ações criminosas destinadas a causar sofrimento ao nosso povo sacrificado e corajoso, que sempre soube resistir.
Apesar de tudo isso, nossa Revolução Socialista erradicou o analfabetismo e promoveu a educação em todos os níveis a fim de ter uma sociedade de homens e mulheres educados; a saúde pública atingiu níveis mundialmente reconhecidos, não apenas pelos indicadores de saúde alcançados, mas também pelo prestígio de seus médicos internacionalistas e pelo desenvolvimento de vacinas e medicamentos alcançados por nossos centros de pesquisa, tais como os que tornaram possível enfrentar com sucesso a pandemia da covid 19. Progressos e realizações notáveis foram mostrados ao longo dos anos no campo da cultura e do esporte. A vontade de nosso povo foi demonstrada em várias ocasiões, tais como a discussão e análise por toda a população de nossa Constituição, demonstrando o caráter democrático de nossa Revolução.
Entretanto, o imperialismo não para de nos agredir. O bloqueio e as agressões se uniram na tentativa de provocar um golpe suave, usando a mídia eletrônica de fontes de fora do país para criar insatisfação e instigar o povo a tomar as ruas para derrotar nosso governo. Um exemplo disso foram os acontecimentos de 11 de julho de 2021, quando um grupo de cubanos mobilizados por esses meios de comunicação e financiados pelo governo dos Estados Unidos, assim como cubanos confundidos pelas dificuldades causadas pela pandemia e pela falta de eletricidade, entre outros elementos, saíram às ruas para protestar de forma excessiva e, em alguns casos, violenta. A resposta imediata de nossos líderes e de nosso pessoal conseguiu deter essas tentativas. Mas isto ainda não acabou. Essas maquinações continuam e devemos permanecer vigilantes a fim de enfrentá-las eficazmente.
Nosso país, apesar de tantos esforços para alcançar o desenvolvimento necessário e desejado, está passando por um dos momentos mais difíceis destas mais de seis décadas de Revolução. Nosso Partido e Governo estão constantemente se esforçando para tomar medidas que visem ser mais eficientes, mais produtivas e erradicar a indolência e a burocracia na gestão de nosso processo. Nosso povo continua firme e determinado na construção da Pátria Socialista.
Neste mesmo esforço, nossa Associação se sente firmemente comprometida e continuaremos unidos nesta luta com nosso povo e nossa Revolução. O espírito sempre presente do dia 26 de julho nos inspira e encoraja.
VIVA O DIA 26 DE JULHO
ATÉ A VITÓRIA SEMPRE
26 de julho de 2022
DECLARACION EN HOMENJAJE AL 26 DE JULIO
En el año del centenario del Héroe Nacional José Martí, el 26 de julio de 1953 un grupo de jóvenes revolucionarios, dirigidos por Fidel protagonizó el heroico asalto a los Cuarteles Moncada y Carlos Manuel de Céspedes, en Santiago de Cuba y Bayamo respectivamente. Las acciones del 26 de Julio fueron la chispa que prendió la llama de una larga lucha continuada en la Sierra Maestra hasta derrotar al tirano Batista, apoyado militar y políticamente por el gobierno norteamericano abriendo para nuestra Patria un verdadero camino de independencia y libertad.
Pero esa victoria, alcanzada el 1º de enero de 1959, no fue el final de un proceso, sino el inicio de otro más difícil y complejo que continúa hasta nuestros días. La Revolución Cubana inmediatamente acometió acciones en beneficio de nuestro pueblo, en primerísimo lugar la Reforma Agraria. Esto inmediatamente provocó la ira del imperio norteamericano, quien decretó el cruel y genocida bloqueo cada vez más endurecido contra nuestra Patria que dura hasta hoy e inició múltiples acciones criminales, como la invasión armada que finalizó con la victoria en Playa Girón; sabotajes e innúmeras acciones criminales encaminadas a causar sufrimientos a nuestro sacrificado y valeroso pueblo que siempre ha sabido resistir.
A pesar de todo ello, nuestra Revolución Socialista erradicó el analfabetismo e impulsó la educación a todos los niveles para tener una sociedad de hombres y mujeres cultos; la salud pública alcanza niveles reconocidos mundialmente, no sólo por los indicadores de salud alcanzados, sino por el prestigio de sus médicos internacionalistas y el desarrollo propio de vacunas y medicamentos logrados por nuestros centros de investigación, como los que permitieron enfrentar exitosamente la pandemia del covid 19. Notables avances y logros se han mostrado a través de todos estos años en el campo de la cultura y los deportes. La voluntad de nuestro pueblo se ha mostrado en diversas oportunidades, como la discusión y análisis por toda la población de nuestra Constitución, evidenciando el carácter democrático de nuestra Revolución.
Sin embargo, el imperialismo no cesa en agredirnos. Al bloqueo y las agresiones se ha unido el intento de provocar un golpe blando mediante la utilización de los medios electrónicos de comunicación desde fuentes fuera del país para crear insatisfacciones e instigar a pueblo a lanzarse a las calles para derrotar a nuestro gobierno. Un ejemplo de esto fueron los sucesos del 11 de julio de 2021, en el que un grupo de cubanos movilizados por estos medios y financiados por el gobierno norteamericano, así como cubanos confundidos por las dificultades ocasionadas por la pandemia y la falta de energía eléctrica, entre otros elementos salieron a las calles protestar en forma desmedida y violenta en algunos casos. La respuesta inmediata de nuestros dirigentes y de nuestro pueblo logró frenar estos intentos. Pero esto no ha terminado. Estas maquinaciones continúan y debemos seguir alertas para salirles al frente con efectividad.
Nuestra Patria, a pesar de tantos esfuerzos para alcanzar el desarrollo necesario y deseado, vive uno de los momentos más difíciles de estas más de seis décadas de Revolución. Nuestro Partido y Gobierno en permanente bregar toman medidas encaminadas a ser más eficientes, más productivos y a erradicar la indolencia y el burocratismo en la conducción de nuestro proceso. Nuestro pueblo continúa firme y decidido en la construcción de la Patria Socialista.
En ese mismo empeño, nuestra Asociación se siente firmemente comprometida y continuaremos unidos en esta lucha a nuestro pueblo y a nuestra Revolución. El espíritu siempre presente del 26 de Julio nos inspira y nos alienta.
Em 26 de julho de 1953 um grupo de 165 rebeldes cubanos atacou o quartel Moncada em Santiago de Cuba com a finalidade de adquirir armas e distribui-las à população para combater o governo ditatorial de Fulgêncio
Batista. Batista tinha dado um golpe de estado em 1952 suspendendo a Constituição, os direitos políticos, agindo com repressão desmedida e torturas, aprofundando as diferenças sociais, além de se associar à máfia estadunidense e, como decorrência, às drogas, jogo e prostituição. Além disso, os índices sociais apontavam para um baixo nível de escolaridade, analfabetismo, desemprego estrutural e intensa corrupção. Metade das crianças cubanas não ia à escola.
Apesar de não obterem vitória na tomada do quartel, segundo Fidel Castro “sem Moncada não haveria Revolução” uma vez que mesmo com a derrota militar a vitória política foi notória, dando visibilidade ao movimento insurgente. Preso com outros camaradas, para sua autodefesa Fidel escreveu o famoso discurso “A HISTÓRIA ME
ABSOLVERÁ”, que se tornou a base do governo revolucionário a partir de 1º de janeiro de 1959. Usando os ensinamentos de José Martí, ao mesmo tempo em que se defende, Fidel condena o regime de Batista por seu governo corrupto, entreguista e ditatorial — o que a população já não aceitava mais.
Ao reler sua defesa podemos encontrar os motivos pelos quais a população cubana aos poucos foi se conscientizando e, mais tarde, se rebelou combatendo a injustiça e a opressão do governo de Batista. Tais motivos não nos são desconhecidos. Pelo contrário. Basta analisarmos os índices do Brasil atual — guardadas as devidas
diferenças históricas e populacionais.
Fidel cita, em seu discurso, o absurdo da realidade de seu povo naquela época: quase metade da população urbana e rural não tinha luz elétrica (aqui, ainda temos 11 milhões); 400 mil famílias viviam amontoadas em
barracões, cortiços etc. (aqui, 16 milhões em favelas, 220 mil nas ruas); 600 mil cubanos sem trabalho (aqui, entre 15 milhões de desempregados mais os precarizados, etc., ao todo somos 60 milhões à margem da sociedade); 500 mil cubanos trabalhavam 4 meses por ano, passando fome nos demais meses com sua família sem uma polegada de terra para semear (aqui, os boias-frias); 100 mil pequenos agricultores que viviam e morriam trabalhando em uma terra que não é sua (aqui, só de trabalhadores sem-terra em acampamentos, 120 mil); 30 mil professores do ensino fundamental a quem se tratava e pagava tão mal (aqui 1,4 milhões) e que hoje são os profissionais mais bem pagos e respeitados do país; 90% das crianças no campo serem consumidas por parasitas e morrerem antes de completarem 30 anos.
Trazendo o 26 de Julho e suas razões no discurso de Fidel para nossa realidade fica fácil entender o que levou aqueles/as inconformados/as a tomar tais decisões. O 26 de Julho, depois tornado Movimento (M-26), incitou o povo a exigir mudanças no país, culminando com o triunfo da Revolução Cubana em 1º de Janeiro de 1959, que alterou
totalmente a configuração daquele país. Trazendo dignidade ao povo cubano, se tornou esse farol incandescente para todos os povos latino-americanos.
Nesta data, por toda sua importância, é feriado em Cuba. Uma data de festa, na qual se celebra o início de toda a revolução pela qual aquele país passou — e ainda passa! Devemos não só comemorar, mas também nos inspirar
nestes nossos irmãos latinos por demonstrarem que sim, é possível! É possível transformar a realidade, por pior que esteja, é possível fundarmos um novo modelo de sociedade, baseado em direitos humanos básicos, em valores como solidariedade e justiça social — dentre tantos outros direitos que conquistaremos para que todos, sem exceção, vivam em condições dignas e humanas. Enquanto houver uma pessoa esfomeada, sem moradia, educação, saúde — apenas uma pessoa — jamais seremos um povo livre, independente e soberano. Como hoje o é o povo cubano.
Neste dia em que comemoramos o 26 de Julho, só nos cabe uma palavra de ordem:
PARABÉNS, CUBA!
E obrigada por nos permitir esperançar. Nosso dia também chegará.
Carmen Diniz - Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba.
Sobre as declarações de Leonardo Padura publicadas no suplemento do jornal argentino La Nación.
Por Atilio A. Boron*
Interessante entrevista com Leonardo Padura no suplemento Ideias de La Nación (Buenos Aires) de 16 de julho. Acho que é a primeira vez que ele reconhece tão enfaticamente os problemas muito sérios que o bloqueio está produzindo em Cuba. Há uma frase que resume seu pensamento sobre o assunto: após falar sobre a pandemia e seus efeitos sobre o turismo e a "pressão de medidas que reforçam o embargo econômico e financeiro", Padura acrescenta que "pode parecer uma justificação, mas (o embargo) é real e afeta muito globalmente a economia cubana e particularmente a vida cotidiana dos cubanos". E mais adiante, ele termina este argumento dizendo que "(S)e necessita certo nível de risco, coragem e decisão para começar com um território econômico que é afetado pelas limitações do embargo norte-americano, mas que também é muito afetado pela ineficiência interna".
Estas observações são um avanço em relação às declarações anteriores do romancista cubano. É óbvio que a eficácia do bloqueio é reforçada por obstáculos internos que impedem a Revolução Cubana de atualizar seu modelo econômico, um processo que deveria ter começado a toda velocidade quando a União Soviética entrou em colapso e ainda está em espera.
Mas dito isto, os problemas que o romancista aponta - escassez generalizada, déficits na geração de eletricidade, escassez de medicamentos e de suprimentos médicos essenciais, entre muitos outros - são fundamentalmente causados pelo bloqueio criminoso que Washington impôs à ilha rebelde por mais de sessenta anos. Padura não pode ignorar o fato de que durante a pandemia Donald Trump endureceu as sanções econômicas contra Cuba, indo tão longe em sua infinita maldade que impediu a chegada de máscaras, ventiladores e até mesmo vacinas para combater a Covid-19. Cerca de cinquenta restrições adicionais foram impostas pelo bandido na Casa Branca a um país que estava travando uma batalha mortal contra a pandemia.
E Cuba, apesar do bloqueio, obteve uma vitória ao derrotar o coronavírus com suas próprias vacinas!
Nenhum outro país do mundo subdesenvolvido conseguiu um feito tão formidável, um fato que enervou a máfia anti-cubana em Miami e seus capangas de aluguel como Bob, Ted, Marco, Ileana, Maurício e outros de seus semelhantes. Sublinho esta questão porque é um crime contra a humanidade que revolta a consciência de homens e mulheres livres em todo o mundo, mas que se desvanece na sombra quando Padura, em vez de usar o termo apropriado, "bloqueio", apela para o nome mentiroso que o governo americano e seus representantes intelectuais e políticos escolheram para esconder seu crime: "embargo".
O romancista cubano usa este termo três vezes na entrevista, algo que ele não fazia antes. Mas teria sido mais apropriado se ele tivesse chamado as coisas por seu nome e falado de "bloqueio". Ele é nascido em Havana e inteligente: não perco a esperança de que ele o fará no futuro.
É óbvio que a gestão macroeconômica de Cuba deve mudar, e que qualquer mudança implica um desafio, um cenário e uma alteração das relações de poder forjadas em épocas anteriores, algo que muitas vezes desencadeia fortes impedimentos . Haverá vencedores e perdedores de tal mudança, mas Cuba, e quero deixar isto claro, não tem outra alternativa senão embarcar no caminho da "revolução", e fazê-lo sem mais delongas. Muitos revolucionários cubanos vêm exigindo isto há anos. Silvio repetiu em 26 de junho deste ano, quando deu o exemplo do Vietnã e da China, que ousadamente enveredaram por um caminho de grandes "atualizações" e conseguiram salvar a revolução. Agora é Padura que também o exige. Que bom.
No entanto, penso que o romancista cubano peca pela injustiça quando fala das reprimendas que teria recebido por escrever o que escreve enquanto vive em Cuba. Embora ele não use o termo "regime" para se referir ao governo cubano - algo que seu entrevistador, que foi mais aberto e progressista em outros tempos, faz - ele transmite uma imagem de um escritor perseguido que é infundada. Acho que ele deveria ter dito a seu entrevistador que na comemoração dos 60 anos do discurso de Fidel, "Palavras aos intelectuais", ele foi agraciado com nada menos que a Ordem Alejo Carpentier pelo Conselho de Estado e que esta distinção foi concedida em uma cerimônia em que participou o Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel.
Escritores que foram realmente perseguidos não tiveram o mesmo destino: os casos de Javier Heraud no Peru ou Rodolfo Walsh na Argentina. Não é por acaso que esta notícia, que desmentiu a imagem de um escritor sendo assediado por um "regime", foi desprezada pela cloaca da mídia latino-americana e espanhola, que abafa infinitamente as consciências de nossos povos. Nem uma única linha, nem um comentário de trinta segundos em um noticiário de rádio ou televisão foi destinado a relatar o evento.
Padura reclama que seu trabalho é pouco conhecido em seu país. Ele está certo, embora todos os seus livros sejam publicados em Cuba pela UNEAC, a União dos Escritores e Artistas de Cuba. Não estou particularmente familiarizado com seu caso, mas a partir de referências de outros escritores, é bem possível que a tiragem destas edições seja pequena porque - e permitam-me fazer esta conjectura - as editoras comerciais não costumam levar a sério o fato de que as obras em seus catálogos são publicadas em grandes quantidades em Cuba, onde os livros não são mercadorias, mas são vendidos a preços quase de presente. Esta questão deve ser explorada.
Concluo voltando novamente ao bloqueio: que imagem poderia transmitir o drama deste crime? Ocorre-me que talvez um dos mais convincentes seria o de George Floyd, o afro-americano desarmado que foi preso por uma patrulha em Minneapolis e morto por um dos oficiais que se ajoelhou em seu pescoço durante nove minutos enquanto a vítima gritava "Não consigo respirar". O bloqueio é exatamente isso: um império brutal e desumano que cai duramente numa ilha que mal consegue respirar e que, apesar de seus protestos - e os da comunidade internacional que todos os anos na ONU exige que seu executor acabe com o bloqueio - faz ouvidos de mercador a esse grito e continua com suas pressões, como fez aquele policial mal nascido até que Floyd parou de respirar. Quem não denunciar este crime torna-se, apesar de si mesmo, seu cúmplice. Padura finalmente começou a falar sobre ele, embora ainda utilize o léxico falacioso do verdugo: "embargo". Seria bom que de uma vez por todas ele usasse a expressão correta, "bloqueio", e aproveitasse a enorme circulação mundial de suas palavras para condená-lo, sem que esta atitude o obrigasse a abandonar suas críticas ao que ele chama de "ineficiência interna" do governo cubano.
* Economista e jornalista argentino, que dirigiu Clacso.
No final de junho, várias organizações e indivíduos em todo o mundo aderiram ao apelo do IPB, World Beyond War, e da Rede Internacional "No to War, No to NATO" - no contexto da Cúpula da OTAN ocorrendo na Espanha - para se unirem em um dia virtual de 24 horas pela paz. O objetivo do encontro é rejeitar a militarização do mundo e afirmar que o que a humanidade precisa é de solidariedade e cooperação entre os povos e não de confronto entre as nações.
Da América Latina, líderes sociais do Chile, Peru e Brasil, entre outros, participaram da onda de 24 horas pela paz, para compartilhar seus problemas, preocupações, a luta pela paz, os direitos humanos, a memória e contra a militarização.
Do Chile, a presidente da Agrupación de Familiares de Ejecutados Políticos (AFEP), Alicia Lira, disse que "este é um momento tão significativo, necessário e urgente para lutar pela paz" que "não poderíamos ignorar este apelo por tantos sentimentos, tantas lutas, tantas vidas que se perderam pelo caminho na América Latina e no Caribe". Ela então expressou sua solidariedade com os movimentos sociais no Equador "onde a repressão tem sido criminosa, como em todos os governos ditatoriais e neoliberais, que veem a classe trabalhadora como o inimigo interno".
Em sua intervenção, Alicia Lira lembrou os acontecimentos do surto social no Chile, a partir de 18 de outubro de 2019, onde "o governo de Piñera mutilou mais de 450 pessoas e deixou duas cegas, onde assassinou mais de 32 pessoas e ainda há centenas de jovens que continuam presos apenas pelo fato de se rebelarem contra o sistema que não era mais capaz de lidar".
A líder destacou que trabalham há anos no Observatório de Encerramento da Escola das Américas para "exigir, lutar e denunciar os governos chilenos que continuam a enviar soldados para a Escola das Américas, onde os piores criminosos do Chile, El Salvador e outros lugares foram treinados, e que reprimiram, torturaram e fizeram desaparecer pessoas".
Alicia Lira, que em 2017 recebeu o Prêmio da Paz concedido pelo Sindicato Democrata dos Jornalistas pela Paz da República Dominicana, também lembrou que participou de uma Missão Internacional de Solidariedade com a Palestina e disse que "realmente, estando lá, você sente tanta desolação, tanta impotência, por causa do abandono das organizações internacionais em relação ao povo palestino, em relação às crianças e adolescentes palestinos". O que é mais impressionante e chocante para qualquer pessoa democrática, com um gesto de humanidade, é ver como crianças e adolescentes são reprimidos, detidos por um decreto que se chama lei administrativa, por se juntarem à resistência, à rebelião, contra a ocupação militar israelense.
A guerra silenciosa no Brasil
Carmen Diniz, coordenadora do Capítulo Brasil do Comitê Internacional pela Paz, Justiça e Dignidade dos Povos e coordenadora do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba, em sua intervenção destacou a importância da luta contra a OTAN e a militarização, mas também a importância de falar sobre os problemas enfrentados na América Latina e no Brasil com o governo de Jair Bolsonaro.
Não há guerra no Brasil? Neste país, há 50.000 assassinatos por ano. Destes, mais de 2.000 são povos indígenas. A cada 24 horas, 64 jovens são assassinados. Mas também há 33 milhões de pessoas famintas e 120 milhões em insegurança alimentar.
Carmen Diniz relata que no Brasil há uma guerra silenciosa e lembrou que em junho, o jornalista britânico Dom Phillips e o líder indígena brasileiro Bruno Araújo Pereira, desaparecidos desde 5 de junho, foram assassinados e mortos a tiros. Ele relatou que a polícia e os proprietários de terras, sem um mandado, tinham, no mesmo dia no Mato Grosso do Sul, matado dois indígenas e ferido 16 pessoas, incluindo duas crianças indígenas, quando despejaram comunidades que tentavam recuperar suas terras roubadas.
Sobre Bolsonaro, ela diz que "o discurso deste homem é que as pessoas, os indígenas, os negros, os homossexuais, as mulheres, estas pessoas, não são humanas e isso faz com que a polícia, os latifundiários, os traficantes, pensem que podem matar porque ninguém vai detê-los". Portanto, este discurso, deste governo, é muito perigoso".
"Sob o governo bolsonaro temos um número recorde de assassinatos, especialmente pela polícia militar que mata por nada, e aqueles que morrem no Brasil são os jovens, os negros, os pobres, os indígenas".
Por outro lado, Carmen Diniz disse que "temos que pôr fim à OTAN" e se perguntou por que esta aliança militar ainda estava em vigor quando o Pacto de Varsóvia desapareceu nos anos 90. Ela prosseguiu dizendo que muito dinheiro é gasto em armamentos, milhões de dólares americanos, e que isso sustenta os EUA, inclusive, e perguntou se alguém dos EUA estaria participando do Encontro porque "é dali que partem todos os problemas da guerra"
Diniz enfatizou as guerras do século 21, e em particular, disse, que "temos que estar muito atentos à nova guerra do século 21, que é aquela que pode matar nosso ar, nosso oxigênio, e mudar o clima do mundo".
O tráfico de drogas e os novos conquistadores
Guillermo Burneo Seminario, do Peru, nos fala sobre a Guerra às Drogas que está sendo promovida pelos EUA e que gera violência e dominação. Ele nos lê um texto do padre jesuíta Ricardo Robles, publicado na La Jornada de México, que recorda as palavras de um índio Rarámuri sobre o problema da droga:
"É outra atividade na qual os indígenas são pressionados e forçados a trabalhar, mas é a mesma coisa". Foi o mesmo com as minas, disse ele - palavras mais, palavras menos -, o mesmo com violência e crime, o mesmo com mortes, o mesmo com ricos e pobres, e em tudo eles nos deixaram a pior parte. O mesmo foi a invasão de nossos territórios, o mesmo foi a pilhagem de nossas florestas, o mesmo foi o turismo que até levou nossas águas, o mesmo foi o retorno das empresas de mineração. Assim como um dia eles trouxeram maconha e papoula. Para nós é a mesma coisa, é assim que os invasores são, mas talvez para você seja uma novidade.
Guillermo Burneo continua e denuncia o fato de que o dinheiro da droga está corrompendo as estruturas da sociedade e cita parte de um artigo de Laura Carlsen:
"A guerra das drogas se tornou o maior veículo de militarização da América Latina. É um veículo financiado e conduzido pelo governo americano e alimentado por uma combinação de falsa moralidade, hipocrisia e muito medo forte e irracional. A chamada "guerra contra as drogas" é na realidade uma guerra contra as pessoas, especialmente os jovens, as mulheres, os povos indígenas e os dissidentes. A guerra às drogas tornou-se a principal forma de o Pentágono ocupar e controlar países à custa de sociedades inteiras e de muitas, muitas vidas.
Em seguida, Guillermo Burneo lembra que a Academia Internacional de Aplicação da Lei (ILEA) dos EUA opera no Peru e oferece treinamento para promotores, juízes e policiais, no âmbito da suposta luta contra o crime organizado, o tráfico de drogas e o terrorismo internacional. "Sabemos o que isso significa para os EUA", diz Burnéu.
"Argentina, Chile, Brasil, Colômbia, Equador, Paraguai e Uruguai estão participando destes treinamentos. Não nos surpreenderia, e ainda precisamos descobrir mais, que as normas legais estão sendo redesenhadas aqui para mudar os presidentes, como aconteceu com Lugo, com Zelaya, com Evo Morales. Eles passam por aqui e se alinham com os interesses políticos do império", aponta Guillermo Burnéu.
Sobre o fenômeno da militarização, ele também disse que a OTAN e os EUA têm a IV Frota na América Latina, bases militares em muitos países, destacando as bases dos EUA na Colômbia e as bases britânicas nas Ilhas Malvinas. Ele também lembrou que a Escola das Américas, agora chamada WHINSEC, ainda existe, onde os Estados Unidos continuam a fornecer treinamento militar a muitos países de nosso continente.
"A estratégia americana na América Latina, que nos considera seu quintal, está lá e passa despercebida. Esta coisa da ILEA, por exemplo, não há notícias na mídia", disse Guillermo Burnéu.
Locais de memória
Carlos González, do Chile, que é um sobrevivente da prisão política e da tortura, compartilhou em primeira pessoa a história e a memória do antigo campo de prisioneiros de 3 e 4 Álamos, que funcionou entre 1974 e 1977, em meio à ditadura militar.
"Em 1976 foi o ano mais selvagem da repressão, onde milhares de pessoas foram torturadas e milhares desapareceram. Neste campo, onde estivemos por um tempo, passaram milhares de homens e mulheres chilenos, a maioria deles vindos de outros campos de concentração em todo o Chile".
Carlos González lembra que naqueles anos foi realizada a Operação Colombo, o caso dos 119, na qual o regime, com o apoio da imprensa e no âmbito da Operação Condor, realizou montagens e operações de desinformação. "Há algumas manchetes selvagens na imprensa chilena, "exterminados como ratos", "mataram-se uns aos outros", para esconder o assassinato dos 119".
Carlos González faz parte do Observatório de Encerramento da Escola das Américas e da "Corporación 3 y 4 Álamos": Un Parque por la Paz, la Memoria y la Justicia" (3 e 4 Álamos: Um Parque pela Paz, Memória e Justiça), um espaço onde lutam para recuperar este antigo campo de prisioneiros e transformá-lo em um lugar de memória. Atualmente, funciona ali um centro de detenção SENAME para menores de idade. "O terrível é que eles estão nas mesmas celas onde nós estávamos", diz Carlos.
"Para nós, ele não é mais importante. Como resultado da luta de nosso povo, o Chile acordou, em outubro de 2019, e a mesma coisa aconteceu novamente: tortura; mais de 30 pessoas mortas, detidas, jovens que perderam seus olhos. Há uma brutalidade que faz parte da cultura do aparelho repressivo chileno e nosso país é o que envia mais soldados para a Escola das Américas depois da Colômbia".
Em seu discurso, Carlos González lembrou que o governo americano, de acordo com documentos desclassificados, também é responsável pelo golpe de Estado no Chile, onde o modelo neoliberal foi implementado.
"Foi uma ditadura brutal durante 17 anos. Essa ditadura matou, fez desaparecer pessoas, torturadas, exiladas, fala-se de um milhão de chilenos no exílio. Foi brutal o que aconteceu, mas o que foi feito não foi por acaso, o objetivo foi neutralizar a consciência, as organizações sociais, para que não impedissem a implementação do modelo neoliberal", concluiu ele.
O Papa Francisco declarou em uma entrevista ter uma relação humana com Raúl Castro e disse que alguns meios de comunicação são muito ideológicos, informou o Infobae.
Perguntado um ano após os protestos maciços do 11J na ilha, em entrevista aos jornalistas mexicanos María Antonieta Collins e Valentina Alazraki no canal de streaming ViX News da Univision 24/7, ele disse: "Eu amo muito o povo cubano. Tive boas relações humanas com o povo cubano e também confesso: com Raúl Castro tenho uma relação humana. Fiquei feliz quando aquele pequeno acordo foi alcançado com os Estados Unidos, que o presidente Obama queria na época, e Raúl Castro o aceitou, e foi um bom passo à frente, mas que agora se deteve".
"No momento, estamos realizando conversações iniciais para encurtar a distância". Cuba é um símbolo, Cuba tem uma grande história, eu me sinto muito próximo dela", confirmou.
Ele então se referiu à mídia quando lhe perguntaram sobre aqueles que o chamam de "comunista": "Alguns grupos da mídia são muito ideologizados e se dedicam a ideologizar a posição de outros. Às vezes não sabem como distinguir o comunismo do nazismo, do populismo, do popularismo. Quando me acusam de comunismo eu digo: "Que antiquado isto é". Essas acusações já passaram, eu as vejo como desatualizadas. Elas são feitas por pequenos grupos ideológicos".
O Papa também advertiu sobre o risco de o mundo se precipitar para uma Terceira Guerra Mundial, dizendo que "guerras selvagens de destruição", como a que se desenrola na Ucrânia, já vêm acontecendo há anos. "Há anos vivemos a Terceira Guerra Mundial em pedaços, em capítulos, com guerras por toda parte, embora a guerra na Ucrânia nos afete mais de perto".
Há 25 anos, em 12 de julho de 1997, atentados terroristas eram efetuados no Hotel Capri e no Hotel Nacional, ambos em Havana, Cuba. As agressões deixaram feridos e destruição. Era a onda de terror contra a Revolução Cubana, que resultou em morte em outros atentados, como os ocorridos nos hotéis Copacabana, Chateau e Tritón. Antes, em abril, bomba explodiu no Hotel Meliá Cohiba.
As ações foram efetuadas pela Fundação Nacional Cubano-Americana, organizada e planejada pelo terrorista Luís Posadas Carrilles.O terrorista no cenário dos atentados do Capri e do Nacional foi o salvadorenho Raúl Ernesto Cruz León, a serviço da FNCA.
Cruz Leon, terrorista preso, em seu julgamento
No livro "Os últimos soldados da Guerra Fria", Fernando Morais reconstitui a ação terrorista: já no Hotel Capri, Cruz León "Trancou-se num dos banheiros da recepção, abriu a mochila, enterrou metade do detonador na bola de C-4, marcou o relógio para despertar dali a dez minutos e retornou ao lobby levando nas mãos o saquinho plástico com a bomba arnada. Depositou-a atrás da poltrona onde estivera sentado e saiu a passos largos para a rua. Como havia cronometrado antes, levou um minuto e meio para percorrer o quarteirão e entrou no hotel Nacional. No banheiro armou a segunda bomba, para dali a sete minutos, colocou tudo dentro do outro saquinho e voltou para a recepção. [...] O salvadorenho escondeu discretamente o saquinho no meio das folhagens e tomou o rumo da rua. Quando ele descia os primeiros degraus da pequena escada que dá para os jardins da frente, a bomba explodiu, transformando a enorme porta de entrada do hotel em milhares cacos de vidro. [...] Em meio ao pânico e à correria generalizada, andou durante alguns minutos e, ao chegar ao Malecón, ouviu a segunda bomba explodir no Capri." (p. 229-230).
As ações terroristas visavam fragilizar a Revolução Cubana e o setor de turismo, importante fonte de renda do pais. Graças ao trabalho da inteligência cubana e seu Ministério do Interior, a rede foi desmantelada e terroristas presos tempos depois. Posadas Carrilles, contudo, que há décadas perpetrava atentados contra Cuba, ficou sob a proteção dos EUA até sua morte anos depois.
Em que pese as centenas de atentados, agressões e violações, a Revolução Cubana e seu socialismo segue firme e em defesa de sua soberania e do povo.