6 de jun. de 2024

HAITI : NÃO É COM ARMAS QUE SE ROMPEM CICLOS DE VIOLÊNCIA

Grupos criminosos assumiram o controle de grandes áreas no Haiti. Foto: PL

                         

   Grupos criminosos assumiram o controle de grandes áreas do país, sendo protagonistas de numerosos e crescentes episódios de violência, que causaram mais de 2.500 mortes.

   A crise de governabilidade sofrida pelo Haiti, agravada desde o assassinato do presidente Jovenel Moise, em julho de 2021, que deixou o país num vazio institucional, parece não ter solução, pelo menos não na forma como tem sido enfocado sair desta crise .

    Desde o início deste ano, grupos criminosos assumiram o controle de grandes áreas do país, incluindo 90% da sua capital, Porto Príncipe. As gangues armadas têm sido protagonistas de numerosos e crescentes episódios de violência, que causaram mais de 2.500 mortes.

    Os grupos criminosos estão cada vez mais “mais fortes, mais ricos e mais autônomos”, sendo o tráfico ilícito de armas e munições um dos “principais impulsionadores” da sua expansão territorial.

   Estamos vendo no Haiti o agravamento dos problemas de desigualdade, pobreza, falta de proteção às crianças e aos jovens, comuns no resto da América Latina.

   A solução para o caos e a ingovernabilidade parecia alcançar um caminho positivo a partir de 25 de abril, após a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry, quando foi criado um Conselho de Transição, apoiado pela Comunidade do Caribe (Caricom).

   Grupos violentos impediram Ariel Henry de regressar ao país desde março, periodo em que ele se encontrava em visita oficial ao Quênia, em busca de ajuda das forças de segurança daquela nação africana, para fazer face à crise interna.

   Concluída a renúncia, foi empossado o Conselho formado por representantes políticos da sociedade civil, que assumiria as rédeas do país caribenho.

   Contudo, o Conselho não iniciou a sua gestão com o sucesso que se esperava. A nomeação para o cargo de primeiro-ministro de Fritz Bélizaire, que atuou como ministro dos Esportes durante a segunda presidência de René Préval, entre 2006 e 2011, não teve o voto unânime dos associados.

   Em resposta, os vereadores que votaram contra, levantaram a possibilidade de contestar a nomeação, ação que, se concretizada, poderá fraturar a recém-formada coligação política.

   A nomeação foi considerada uma “conspiração tramada contra o povo haitiano” por vários grupos da sociedade civil representados no órgão governante.

   Deve-se notar que a reunião dos conselheiros ocorreu num ambiente complexo, sob constante ameaça de gangues que prometeram inviabilizar a tomada de posse se os grupos armados não fossem autorizados a participar nas negociações para estabelecer o novo governo.


ARMAS NÃO SÃO A SOLUÇÃO

 

   Equipes militares dos EUA começaram a chegar a Porto Príncipe esta semana para preparar a logística que a missão de segurança queniana utilizará para combater gangues criminosas, o que foi confirmado pelo subsecretário de Estado dos EUA, Todd Robinson.

  O Departamento de Defesa dos EUA destinou cerca de 200 milhões de dólares para materiais e equipamentos de segurança, além de aconselhamento do Pentágono, para alcançar os objetivos de pacificação do país.

   O Governo do Suriname também anunciou que enviará suas forças militares ao Haiti para colaborar com a segurança no processo de transição.

   O Haiti tem sido vítima de uma longa sucessão de intervenções militares estrangeiras e de “ajuda humanitária” que, longe de representarem uma solução para os problemas do país, os agravaram e os perpetuaram.

   Devemos lembrar que a América Latina e o Caribe são uma zona de paz, como dita a proclamação assinada pelos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), em janeiro de 2014, na II Cúpula de Havana, há dez anos.

   Este documento defende um compromisso permanente com a resolução pacífica de conflitos, a fim de banir para sempre o uso e a ameaça do uso da força na nossa região.



A DÍVIDA DO COLONIALISMO COM O POVO HAITIANO

 

   Qualquer pessoa que aborde o “problema haitiano” deve responder à seguinte pergunta: Quem pode estar interessado em manter os ciclos permanentes de violência e caos no Haiti?

   O “problema” começou, recordemos a história, depois de o Haiti ter obtido a sua independência em 1804, quando o Barão de Mackau, enviado do rei de França, entregou ao presidente da jovem República, então, Jean-Pierre Boyer, a Portaria de Carlos X em 17 de abril de 1825.

   Esse decreto forçou o Haiti a pagar grandes compensações à potência colonial, incluindo uma redução de 50% nas tarifas de importação francesas e o pagamento de 150 milhões de francos, em troca do seu reconhecimento como nação independente e para evitar uma invasão militar.

   O país teve que solicitar empréstimos aos bancos franceses, com taxas de juros elevadas, para poder pagar, e só em 1947 é que conseguiu liquidar a conta, nada menos que 122 anos depois.

   A enorme drenagem de recursos impediu a nação caribenha de construir as infra-estruturas necessárias ao seu desenvolvimento socioeconômico, impossibilitando a construção de escolas, hospitais, estradas e casas.

   Não podemos esquecer o papel desempenhado pelos Estados Unidos na desgraça do Haiti: a ocupação militar,   de 1915 a 1934, o apoio prestado por Washington às ditaduras brutais de François e Jean-Claude Duvalier, e as práticas intervencionistas do século XXI .

   A solução para o “problema haitiano” envolve o respeito irrestrito pela soberania, a não interferência nos seus assuntos internos e a colaboração eficaz, solidária e altruísta com o povo daquela nação irmã do Caribe.

   Se deixarmos de lado as práticas hegemônicas das grandes potências, poderemos avançar sinceramente no caminho da paz.

   Um primeiro passo seria a ex-metrópole devolver a chamada dívida de independência, conforme solicitado por um importante grupo de organizações da sociedade civil haitiana.

   A comunidade regional, sobretudo a Comunidade do Caribe (Caricom), deve oferecer os seus bons ofícios, tanto econômicos como técnicos, e prestar assistência quando necessário.

   Romper os ciclos de violência e pôr fim ao caos são questões vitais para a ilha do Caribe, e não é com armas que estes ciclos são quebrados.

   O Haiti não é colônia de ninguém. A visão “protetora” e discriminatória das antigas potências coloniais deve acabar. O povo haitiano é capaz de se governar e decidir o seu destino.

                               


https://www.granma.cu/mundo/2024-05-12/haiti-no-es-con-las-armas-que-se-rompen-los-ciclos-de-violencia-12-05-2024-21-05-05

Tradução : @comitecarioca21 

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