Analista critica postura das elites atlantistas* no Brasil e destaca papel estratégico da Indonésia no bloco
março de 2025
247 – Em entrevista ao
canal do analista geopolítico Glenn Diesen, no YouTube, o jornalista e analista
geopolítico Pepe Escobar fez uma ampla análise sobre o papel do BRICS na
reconfiguração da ordem mundial, a resistência de setores internos no Brasil à
expansão do bloco e a ascensão da Indonésia como membro estratégico. A conversa
abordou também os desafios do governo Lula na organização da próxima cúpula do
grupo, prevista para julho no Rio de Janeiro.
Escobar destacou que,
enquanto a Rússia, sob sua presidência do BRICS em 2023, conduziu um processo
de expansão significativo e preparou terreno para novas adesões, a atual gestão
brasileira está enfrentando entraves internos. “Tenho profundas reservas sobre
a forma como o Ministério das Relações Exteriores do Brasil considera o BRICS.
Algumas das minhas melhores fontes confirmam que há um lobby anti-BRICS dentro
do Itamaraty e do Ministério da Fazenda”, afirmou o analista.
A resistência à inserção
mais ativa do Brasil no bloco, segundo Escobar, vem de setores da elite
financeira nacional, que historicamente possuem vínculos com o Ocidente e
priorizam relações comerciais e políticas com os Estados Unidos e a União
Europeia. “As elites dominantes no Brasil, o velho dinheiro e até mesmo parte
do novo dinheiro, não são exatamente BRICS, eles são atlantistas buscando
lucros fáceis, sem uma estratégia de longo prazo”, criticou.
A ascensão da Indonésia
no bloco
A discussão também
abordou o crescimento do BRICS e a inclusão da Indonésia, país que, segundo
Escobar, é estratégico não apenas pela sua dimensão econômica, mas por seu
posicionamento geopolítico. “Muitos no Ocidente ainda veem a Indonésia como
apenas mais um país na Ásia, mas esse é um gigante com mais de 280 milhões de
habitantes, uma economia em ascensão e estrategicamente localizado em
corredores marítimos fundamentais”, explicou.
Escobar ressaltou que
tanto a China quanto a Rússia fizeram um grande esforço para garantir que a
Indonésia tivesse um papel de protagonismo no BRICS, em vez de ocupar uma
posição secundária como a Malásia ou o Vietnã. “Os russos estão investindo
fortemente em relações diplomáticas e econômicas com a Indonésia, assim como
fizeram na África. Isso faz parte de uma ofensiva mais ampla para fortalecer o
bloco e consolidar uma alternativa à ordem unipolar ocidental”, disse.
BRICS como alternativa à
ordem financeira ocidental
Outro ponto destacado por
Escobar é a forma descentralizada com que o BRICS opera, diferentemente de
blocos como a União Europeia, permitindo que seus membros harmonizem
iniciativas econômicas sem imposições. Isso tem atraído novos países para o
grupo, interessados em mecanismos de comércio que não dependam do dólar. “Os
BRICS não são um bloco ideológico contra o Ocidente, mas buscam reduzir sua
dependência das instituições financeiras ocidentais. Já vemos China e Rússia
conduzindo 90% do seu comércio bilateral fora do sistema do dólar, sem alarde”,
destacou.
Escobar alertou que os
Estados Unidos e a União Europeia seguem subestimando o impacto do BRICS na
nova configuração geopolítica global. “Nos think tanks americanos, o BRICS
ainda é tratado como um clube inofensivo, enquanto na Europa, o debate está
preso a uma mentalidade de Guerra Fria, reduzindo tudo à narrativa binária de
bem contra o mal”, criticou.
Ele ainda apontou que a própria Europa está se autossabotando ao seguir a estratégia de sanções contra a Rússia e ao limitar suas relações econômicas com a China. “Se a Alemanha quiser manter sua competitividade, precisará encontrar um equilíbrio com a China, mas os burocratas em Bruxelas insistem em seguir ordens de Washington”, acrescentou.
Um futuro multipolar em
expansão
O analista concluiu a
entrevista reforçando que o BRICS continuará sendo um elemento fundamental para
a transição a um mundo multipolar, mesmo diante das resistências ocidentais. “A
questão não é ser anti-Ocidente, mas tornar o Ocidente menos relevante para os
países do Sul Global. E isso já está acontecendo”, finalizou Escobar.
A entrevista completa
pode ser conferida no canal de Glenn Diesen, no YouTube. Assista:
https://www.brasil247.com/ideias/pepe-escobar-brics-avanca-na-multipolaridade-apesar-de-resistencias-internas
@comitecarioca21
*O atlantismo ou atlanticismo é uma doutrina política que defende uma intensa cooperação entre os Estados Unidos, Canadá e os países da Europa, nos domínios político, militar e económico.Deve sua denominação também à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte ).
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