.jpg)
Um artigo de Fernando Buen
Abad (México) (Oitenta
anos após Hiroshima e Nagasaki, um acontecimento que, na minha opinião, passou
quase despercebido)
Hiroshima e Nagasaki:
Semiótica do Horror
Toda
a história do século XX está marcada por feridas que não cicatrizam. Duas
delas, Hiroshima e Nagasaki, não são simples episódios do passado: são sinais
ardentes, nódulos semióticos de uma violência imperialista que se perpetua e se
renova. Décadas se passaram desde que os Estados Unidos lançaram as primeiras
bombas atômicas sobre a população civil, mas o horror não foi desmontado, não
foi julgado, não foi reparado. A “era nuclear” não se encerrou:
institucionalizou-se como uma nova forma de chantagem política e dominação
ideológica. Uma mensagem assassina contra todo projeto socialista, usando o
Japão como caixa de ressonância mundial.
A
partir de nossa Filosofia da Semiose, e com os princípios do Humanismo de Novo
Gênero, é urgente uma crítica profunda que não se limite à condenação moral
superficial ou ao revisionismo inócuo. O que aconteceu no Japão em agosto de
1945 foi uma operação completa de semiose capitalista macabra: o capital, em
sua fase imperialista, falou com a linguagem mais brutal possível.
Não só destruiu cidades, como instaurou um
regime de signos cujo objetivo era disciplinar toda a humanidade através do
medo tecnologicamente gerido. Este texto não pretende comemorar. Pretende
desativar a bomba semiótica que continua a explodir todos os dias.
Um poder que não age apenas com bombas, mas
com sinais de extorsão burguesa. A operação atômica de Hiroshima e Nagasaki não
foi apenas ódio de classe bélico: foi uma comunicação de morte dirigida a todo
o planeta. A mensagem era clara: quem não se submeter à ordem capitalista será
destruído sem contemplação, sem ética, sem responsabilidade histórica. Sua
bomba foi projetada não apenas para matar, mas para significar. Em um cenário
em que o Japão já estava militarmente derrotado e buscava a rendição, o ataque
atômico era desnecessário do ponto de vista militar. Mas era absolutamente
necessário do ponto de vista semiótico imperialista. Era o nascimento de uma
nova ordem de signos: a era da chantagem nuclear, a era do controle simbólico
por meio da destruição exemplar.
Seus
cogumelos nucleares não se ergueram apenas como fenômenos físicos: tornaram-se
ícones propagandísticos. A imagem do cogumelo atômico foi rapidamente integrada
à cultura visual do pós-guerra. Em vez de ser um símbolo de horror, foi
estetizada, esvaziada de seu conteúdo crítico, transformada em arte pop, em
ironia, em advertência asséptica. Assim, o poder imperial alcançou um duplo
objetivo: destruir materialmente e neutralizar simbolicamente a resistência. Um
dos escândalos mais eloquentes de Hiroshima e Nagasaki é o silêncio cúmplice de
muitas correntes intelectuais liberais. Enquanto milhares de corpos eram
calcinados, o humanismo burguês se reunia em retóricas ambíguas. Refugiava-se
em categorias abstratas como “os fins justificam os meios” ou “a lógica da
guerra”.

Mas
o Humanismo de Novo Gênero não aceita essa covardia ética. Ele compreende que
toda estrutura semiótica é atravessada por relações de classe e que o humanismo
tradicional serviu historicamente para legitimar a barbárie quando esta
beneficia as elites. Não basta proclamar amor ao ser humano em geral. É preciso
assumir que esse “ser humano” está dividido por classes, por raças, por
gêneros, por geografias. E que existe um tipo específico de humanidade – a
humanidade proletarizada, racializada, colonizada – que foi vítima de Hiroshima
e Nagasaki. A neutralidade diante desse crime é, em si mesma, uma forma de
participação no crime. O silêncio é uma forma de autorização. O eufemismo é uma
forma de cumplicidade. E a estetização do horror é uma forma de legitimação
simbólica.
A
partir de nossa postura como Filosofia da Semiose, Hiroshima não pode ser
interpretada simplesmente como um acontecimento “físico” ou “militar”. É um
relato com sentido condensado, uma unidade semiótica de altíssima densidade
histórico-criminal. A bomba atômica foi o produto final de uma longa cadeia de
mediações simbólicas, ideológicas, técnicas e econômicas. Foi o resultado de
uma semiose planejada pelo capitalismo, que transformou a ciência em tecnologia
de extermínio. As ciências físicas, a serviço do capitalismo, não produzem
neutralidade, produzem devastação com cálculo.
O conhecimento científico, se não for
atravessado por uma ética revolucionária, pode ser instrumentalizado como
ferramenta de opressão e repressão. Sua bomba é, então, o epítome da semiose
capitalista: toma a matéria, transforma-a em poder destrutivo e acrescenta-lhe
um sentido burguês. Não basta matar: é preciso fazê-lo de tal forma que a morte
funcione como mensagem disciplinadora e como um negócio histórico.
Cada cidade bombardeada se tornou um signo.
Cada corpo carbonizado foi um texto tatuado na memória dos povos. Cada
fotografia dos efeitos da radiação faz parte de uma pedagogia do horror que o
capitalismo continua administrando para impor sua hegemonia. O mais perturbador
é como Hiroshima foi absorvida pela cultura de massa e transformada em
entretenimento. A memória do crime foi substituída por sua representação
espetacular. Filmes, quadrinhos, videogames e até propagandas têm usado o
imaginário nuclear como atrativo visual.
Este
fenômeno não é acidental: faz parte do dispositivo semiótico de normalização do
terror. A estetização do cogumelo atômico é uma estratégia de neutralização de
sua carga política. Trata-se de esvaziar o signo de seu conteúdo histórico para
que possa ser consumido sem culpa. O capitalismo se apropria do horror e o
transforma em mercadoria simbólica. A cultura hegemônica não distorce Hiroshima
para evitar que se repita, mas para consolidar sua narrativa de poder: “Vejam
do que somos capazes”. Sua bomba deixou de ser um aviso para se tornar um ícone
da supremacia tecnológica. Assim, produz-se uma semiótica invertida: o que
deveria ser o símbolo do limite moral da humanidade tornou-se o símbolo da
onipotência do império.
A
partir de nossa visão com Humanismo de Novo Gênero, o crime em massa se impõe
como tema político. Não deve ser diluído com compaixão passiva, mas com
compromisso ativo. Acreditar que Hiroshima foi uma exceção histórica é um erro.
Foi o início de uma nova forma de guerra. Desde então, a lógica do extermínio
como forma de comunicação política se globalizou. As intervenções da OTAN, os
drones assassinos, as sanções econômicas que matam populações inteiras são
formas derivadas de Hiroshima. Os meios mudam, mas a semiose permanece: o uso
da morte como mensagem. Hiroshima foi o laboratório semiótico perfeito.
A expansão desse modelo é vista hoje na
Palestina, no Iêmen, na Líbia, na Síria, no Haiti, na Venezuela, no Irã. O
capitalismo já não precisa apenas de bombas atômicas para disciplinar, ele
também usa seus meios de comunicação, algoritmos, bloqueios e desinformação
como máquinas de guerra cognitiva. Diante desse dispositivo de dominação
simbólica, o Humanismo de Novo Gênero propõe uma contra semiótica.
Não se trata apenas de protestar, mas de gerar
novos sentidos, novas formas de narrar a história, novas práticas de memória
ativa. A crítica não deve se limitar à análise. Deve se organizar como
intervenção. É preciso criar espaços onde a memória de Hiroshima seja
politizada, não museificada. É preciso devolver a esse signo seu poder
transformador. Nossa Filosofia da Semiótica deve se colocar a serviço da
emancipação.
Não pode ser neutra nem “acadêmica” no sentido
burocrático burguês. Deve articular teoria com prática, linguagem com
organização, crítica com ação coletiva. Não se trata apenas de construir “outra
narrativa”, é preciso desmontar o sistema de signos do capital. Não se trata de
contar melhor a história, mas de transformar seu curso. Hiroshima e Nagasaki
não são passado. São presente permanente.
A bomba continua caindo, não com urânio
enriquecido, mas com significados empobrecidos, com imagens manipuladas, com
discursos legitimadores. Nosso Humanismo de Novo Gênero não esquece. Não
perdoa. Não neutraliza nem naturaliza. Assume a dor de Hiroshima como ponto de
partida para uma ética revolucionária. Assume a responsabilidade de interromper
a cadeia de signos que perpetuam a barbárie. Enquanto o crime continuar impune,
a crítica não pode parar. Enquanto os responsáveis continuarem governando o
mundo, a semiose emancipadora deve se aprofundar. Nossa tarefa não é apenas
lembrar ou lamentar Hiroshima, mas impedir que se repita em cada canto do
planeta. E para isso, é preciso mais do que memória: é preciso organização,
linguagem, filosofia, luta. Plano de luta semiótica.
Hiroshima y Nagasaki: Semiótica del Horror
Fernando
Buen Abad
Toda la historia del siglo XX está
marcada por heridas que no cicatrizan. Dos de ellas, Hiroshima y Nagasaki, no
son simples episodios del pasado: son signos ardientes, nódulos semióticos de
una violencia imperialista que se perpetúa y se renueva. Han pasado décadas
desde que Estados Unidos lanzó las primeras bombas atómicas sobre población
civil, pero el horror no ha sido desmontado, no ha sido juzgado, no ha sido
reparado. La “era nuclear” no se cerró: se institucionalizó como una nueva
forma de chantaje político y dominación ideológica. Un mensaje asesino contra
todo proyecto socialista usando a Japón como caja de resonancia mundial.
Desde nuestra Filosofía de la
Semiosis, y con los principios del Humanismo de Nuevo Género, urge una crítica
profunda que no se quede en la condena moral superficial ni en el revisionismo
inocuo. Lo que sucedió en Japón en agosto de 1945 fue una operación completa de
semiosis macabra capitalista: el capital, en su fase imperialista, habló con el
lenguaje más brutal posible. No sólo destruyó ciudades; instauró un régimen de
signos cuyo objetivo era disciplinar a la humanidad entera mediante el miedo
tecnológicamente gestionado.
Este texto no pretende conmemorar.
Pretende desactivar la bomba semiótica que sigue explotando cada día. Un poder
que no actúa sólo con bombas, sino con signos de extorsión burguesa. La
operación atómica de Hiroshima y Nagasaki no fue sólo odio de clase bélico: fue
una comunicación de muerte dirigida al planeta entero. El mensaje era claro:
quien no se someta al orden capitalista será destruido sin contemplación, sin
ética, sin responsabilidad histórica. Su bomba fue diseñada no sólo para matar,
sino para significar. En un escenario donde Japón ya estaba militarmente
derrotado y buscaba la rendición, el ataque atómico fue innecesario desde el
punto de vista militar. Pero fue absolutamente necesario desde el punto de
vista semiótico imperialista. Era el nacimiento de un nuevo orden de signos: la
era del chantaje nuclear, la era del control simbólico mediante la destrucción
ejemplar.
Sus hongos nucleares no sólo se
alzaron como fenómenos físicos: se convirtieron en íconos propagandísticos. La
imagen del hongo atómico fue rápidamente integrada a la cultura visual de la
posguerra. En lugar de ser símbolo de horror, fue estetizada, vaciada de su
carga crítica, convertida en arte pop, en ironía, en advertencia aséptica. Así,
el poder imperial logró un objetivo doble: destruir materialmente y neutralizar
simbólicamente la resistencia. Uno de los escándalos más elocuentes de
Hiroshima y Nagasaki es el silencio cómplice de muchas corrientes intelectuales
liberales. Mientras miles de cuerpos eran calcinados, el humanismo burgués se
replegaba en retóricas ambiguas. Se refugiaba en categorías abstractas como “el
fin justifica los medios” o “la lógica de la guerra”.
Pero el Humanismo de Nuevo Género
no acepta esa cobardía ética. Comprende que cada estructura semiótica está
atravesada por relaciones de clase, y que el humanismo tradicional ha servido
históricamente para legitimar la barbarie cuando esta beneficia a las élites.
No basta con proclamar amor al ser humano en general. Hay que asumir que ese
“ser humano” está dividido por clases, por razas, por géneros, por geografías.
Y que hay un tipo específico de humanidad –la humanidad proletarizada,
racializada, colonizada– que fue la víctima de Hiroshima y Nagasaki. La
neutralidad ante este crimen es, en sí misma, una forma de participación en el
crimen. El silencio es una forma de autorización. El eufemismo es una forma de
complicidad. Y la estetización del horror es una forma de legitimación
simbólica.

Desde nuestra postura como
Filosofía de la Semiosis, Hiroshima no puede interpretarse simplemente como un
acontecimiento “físico” o “militar”. Es un relato con sentido condensado, una
unidad semiótica de altísima densidad histórico-criminal. La bomba atómica fue
el producto final de una larga cadena de mediaciones simbólicas, ideológicas,
técnicas y económicas. Fue el resultado de una semiosis planificada por el
capitalismo, que convirtió la ciencia en tecnología de exterminio. Las ciencias
físicas, al servicio del capitalismo, no producen neutralidad, producen
devastación con cálculo. El conocimiento científico, si no está atravesado por
una ética revolucionaria, puede ser instrumentalizado como herramienta de
opresión y represión.
Su bomba es, entonces, el epítome
de la semiosis capitalista: toma la materia, la convierte en poder destructivo,
y le agrega un sentido burgués. No basta con matar: hay que hacerlo de tal
forma que la muerte funcione como mensaje disciplinador y como un negocio
histórico. Cada ciudad bombardeada se volvió un signo. Cada cuerpo carbonizado
fue un texto tatuado en la memoria de los pueblos. Cada fotografía de los
efectos de la radiación es parte de una pedagogía del horror que el capitalismo
sigue administrando para imponer su hegemonía. Lo más perturbador es cómo
Hiroshima fue absorbido por la cultura de masas y convertido en
entretenimiento. La memoria del crimen fue desplazada por su representación
espectacular. Películas, cómics, videojuegos y hasta publicidades han utilizado
el imaginario nuclear como atractivo visual.
Este fenómeno no es accidental: es
parte del dispositivo semiótico de normalización del terror. La estetización
del hongo atómico es una estrategia de neutralización de su carga política. Se
trata de vaciar el signo de su contenido histórico para que pueda ser consumido
sin culpa. El capitalismo se apropia del horror y lo convierte en mercancía
simbólica. La cultura hegemónica no distorsiona Hiroshima para evitar que se
repita, sino para consolidar su relato de poder: “Miren lo que somos capaces de
hacer”. Su bomba dejó de ser una advertencia para convertirse en un ícono de
supremacía tecnológica. Así se produce una semiótica invertida: lo que debió
ser el símbolo del límite moral de la humanidad se convirtió en el símbolo de
la omnipotencia del imperio.
Desde nuestra visión con Humanismo
de Nuevo Género, crimen masivo se impone como sujeto político. No debe ser
diluido con compasión pasiva, sino con compromiso activo. Creer que Hiroshima
fue una excepción histórica es un error. Fue el inicio de una nueva forma de
guerra. Desde entonces, la lógica del exterminio como forma de comunicación
política se ha globalizado. Las intervenciones de la OTAN, los drones asesinos,
las sanciones económicas que matan poblaciones enteras, son formas derivadas de
Hiroshima. Cambian los medios, pero se mantiene la semiosis: el uso de la
muerte como mensaje. Hiroshima fue el laboratorio semiótico perfecto. La
expansión de ese modelo se ve hoy en Palestina, en Yemen, en Libia, en Siria,
en Haití, en Venezuela, en Irán. El capitalismo ya no necesita sólo bombas
atómicas para disciplinar, usa también sus medios de comunicación, algoritmos,
bloqueos y desinformación como máquinas de guerra cognitiva.
Frente a este dispositivo de
dominación simbólica, el Humanismo de Nuevo Género propone una contra-semiosis.
No se trata sólo de protestar, sino de generar nuevos sentidos, nuevas formas
de narrar la historia, nuevas prácticas de memoria activa. La crítica no debe
limitarse al análisis. Debe organizarse como intervención. Hay que crear
espacios donde la memoria de Hiroshima sea politizada, no museificada. Hay que
devolverle a ese signo su potencia transformadora. Nuestra Filosofía de la
Semiosis debe ponerse al servicio de la emancipación. No puede ser neutra ni
“académica” en el sentido burocrático burgués. Debe articular teoría con
práctica, lenguaje con organización, crítica con acción colectiva.
No se trata sólo de construir “otro
relato”, hay que desmontar el sistema de signos del capital. No se trata de
contar mejor la historia, sino de transformar su curso. Hiroshima y Nagasaki no
son pasado. Son presente permanente. La bomba sigue cayendo, no con uranio
enriquecido, sino con significados empobrecidos, con imágenes manipuladas, con
discursos legitimadores. Nuestro Humanismo de Nuevo Género no olvida. No
perdona. No neutraliza ni naturaliza. Asume el dolor de Hiroshima como punto de
partida para una ética revolucionaria. Asume la responsabilidad de interrumpir
la cadena de signos que perpetúan la barbarie. Mientras el crimen siga impune,
la crítica no puede detenerse. Mientras los responsables sigan gobernando el
mundo, la semiosis emancipadora debe profundizarse. Nuestra tarea no es sólo
recordar o lloriquear Hiroshima, sino impedir que se repita en cada esquina del
planeta. Y para eso, se necesita más que memoria: se necesita organización,
lenguaje, filosofía, lucha. Plan de lucha semiótica.

Tradução/edição: @comitecarioca21