9 de ago. de 2025

LER E REPENSAR. UM ACONTECIMENTO DESPERCEBIDO ? (port/esp)

                                 

Um artigo de Fernando Buen Abad (México) (Oitenta anos após Hiroshima e Nagasaki, um acontecimento que, na minha opinião, passou quase despercebido)

Hiroshima e Nagasaki: Semiótica do Horror

    Toda a história do século XX está marcada por feridas que não cicatrizam. Duas delas, Hiroshima e Nagasaki, não são simples episódios do passado: são sinais ardentes, nódulos semióticos de uma violência imperialista que se perpetua e se renova. Décadas se passaram desde que os Estados Unidos lançaram as primeiras bombas atômicas sobre a população civil, mas o horror não foi desmontado, não foi julgado, não foi reparado. A “era nuclear” não se encerrou: institucionalizou-se como uma nova forma de chantagem política e dominação ideológica. Uma mensagem assassina contra todo projeto socialista, usando o Japão como caixa de ressonância mundial.

    A partir de nossa Filosofia da Semiose, e com os princípios do Humanismo de Novo Gênero, é urgente uma crítica profunda que não se limite à condenação moral superficial ou ao revisionismo inócuo. O que aconteceu no Japão em agosto de 1945 foi uma operação completa de semiose capitalista macabra: o capital, em sua fase imperialista, falou com a linguagem mais brutal possível.

    Não só destruiu cidades, como instaurou um regime de signos cujo objetivo era disciplinar toda a humanidade através do medo tecnologicamente gerido. Este texto não pretende comemorar. Pretende desativar a bomba semiótica que continua a explodir todos os dias.

      Um poder que não age apenas com bombas, mas com sinais de extorsão burguesa. A operação atômica de Hiroshima e Nagasaki não foi apenas ódio de classe bélico: foi uma comunicação de morte dirigida a todo o planeta. A mensagem era clara: quem não se submeter à ordem capitalista será destruído sem contemplação, sem ética, sem responsabilidade histórica. Sua bomba foi projetada não apenas para matar, mas para significar. Em um cenário em que o Japão já estava militarmente derrotado e buscava a rendição, o ataque atômico era desnecessário do ponto de vista militar. Mas era absolutamente necessário do ponto de vista semiótico imperialista. Era o nascimento de uma nova ordem de signos: a era da chantagem nuclear, a era do controle simbólico por meio da destruição exemplar.

    Seus cogumelos nucleares não se ergueram apenas como fenômenos físicos: tornaram-se ícones propagandísticos. A imagem do cogumelo atômico foi rapidamente integrada à cultura visual do pós-guerra. Em vez de ser um símbolo de horror, foi estetizada, esvaziada de seu conteúdo crítico, transformada em arte pop, em ironia, em advertência asséptica. Assim, o poder imperial alcançou um duplo objetivo: destruir materialmente e neutralizar simbolicamente a resistência. Um dos escândalos mais eloquentes de Hiroshima e Nagasaki é o silêncio cúmplice de muitas correntes intelectuais liberais. Enquanto milhares de corpos eram calcinados, o humanismo burguês se reunia em retóricas ambíguas. Refugiava-se em categorias abstratas como “os fins justificam os meios” ou “a lógica da guerra”.

                                     


    Mas o Humanismo de Novo Gênero não aceita essa covardia ética. Ele compreende que toda estrutura semiótica é atravessada por relações de classe e que o humanismo tradicional serviu historicamente para legitimar a barbárie quando esta beneficia as elites. Não basta proclamar amor ao ser humano em geral. É preciso assumir que esse “ser humano” está dividido por classes, por raças, por gêneros, por geografias. E que existe um tipo específico de humanidade – a humanidade proletarizada, racializada, colonizada – que foi vítima de Hiroshima e Nagasaki. A neutralidade diante desse crime é, em si mesma, uma forma de participação no crime. O silêncio é uma forma de autorização. O eufemismo é uma forma de cumplicidade. E a estetização do horror é uma forma de legitimação simbólica.

     A partir de nossa postura como Filosofia da Semiose, Hiroshima não pode ser interpretada simplesmente como um acontecimento “físico” ou “militar”. É um relato com sentido condensado, uma unidade semiótica de altíssima densidade histórico-criminal. A bomba atômica foi o produto final de uma longa cadeia de mediações simbólicas, ideológicas, técnicas e econômicas. Foi o resultado de uma semiose planejada pelo capitalismo, que transformou a ciência em tecnologia de extermínio. As ciências físicas, a serviço do capitalismo, não produzem neutralidade, produzem devastação com cálculo.

     O conhecimento científico, se não for atravessado por uma ética revolucionária, pode ser instrumentalizado como ferramenta de opressão e repressão. Sua bomba é, então, o epítome da semiose capitalista: toma a matéria, transforma-a em poder destrutivo e acrescenta-lhe um sentido burguês. Não basta matar: é preciso fazê-lo de tal forma que a morte funcione como mensagem disciplinadora e como um negócio histórico.

 Cada cidade bombardeada se tornou um signo. Cada corpo carbonizado foi um texto tatuado na memória dos povos. Cada fotografia dos efeitos da radiação faz parte de uma pedagogia do horror que o capitalismo continua administrando para impor sua hegemonia. O mais perturbador é como Hiroshima foi absorvida pela cultura de massa e transformada em entretenimento. A memória do crime foi substituída por sua representação espetacular. Filmes, quadrinhos, videogames e até propagandas têm usado o imaginário nuclear como atrativo visual.

    Este fenômeno não é acidental: faz parte do dispositivo semiótico de normalização do terror. A estetização do cogumelo atômico é uma estratégia de neutralização de sua carga política. Trata-se de esvaziar o signo de seu conteúdo histórico para que possa ser consumido sem culpa. O capitalismo se apropria do horror e o transforma em mercadoria simbólica. A cultura hegemônica não distorce Hiroshima para evitar que se repita, mas para consolidar sua narrativa de poder: “Vejam do que somos capazes”. Sua bomba deixou de ser um aviso para se tornar um ícone da supremacia tecnológica. Assim, produz-se uma semiótica invertida: o que deveria ser o símbolo do limite moral da humanidade tornou-se o símbolo da onipotência do império.

    A partir de nossa visão com Humanismo de Novo Gênero, o crime em massa se impõe como tema político. Não deve ser diluído com compaixão passiva, mas com compromisso ativo. Acreditar que Hiroshima foi uma exceção histórica é um erro. Foi o início de uma nova forma de guerra. Desde então, a lógica do extermínio como forma de comunicação política se globalizou. As intervenções da OTAN, os drones assassinos, as sanções econômicas que matam populações inteiras são formas derivadas de Hiroshima. Os meios mudam, mas a semiose permanece: o uso da morte como mensagem. Hiroshima foi o laboratório semiótico perfeito.

       A expansão desse modelo é vista hoje na Palestina, no Iêmen, na Líbia, na Síria, no Haiti, na Venezuela, no Irã. O capitalismo já não precisa apenas de bombas atômicas para disciplinar, ele também usa seus meios de comunicação, algoritmos, bloqueios e desinformação como máquinas de guerra cognitiva. Diante desse dispositivo de dominação simbólica, o Humanismo de Novo Gênero propõe uma contra semiótica.

    Não se trata apenas de protestar, mas de gerar novos sentidos, novas formas de narrar a história, novas práticas de memória ativa. A crítica não deve se limitar à análise. Deve se organizar como intervenção. É preciso criar espaços onde a memória de Hiroshima seja politizada, não museificada. É preciso devolver a esse signo seu poder transformador. Nossa Filosofia da Semiótica deve se colocar a serviço da emancipação.

      Não pode ser neutra nem “acadêmica” no sentido burocrático burguês. Deve articular teoria com prática, linguagem com organização, crítica com ação coletiva. Não se trata apenas de construir “outra narrativa”, é preciso desmontar o sistema de signos do capital. Não se trata de contar melhor a história, mas de transformar seu curso. Hiroshima e Nagasaki não são passado. São presente permanente.

      A bomba continua caindo, não com urânio enriquecido, mas com significados empobrecidos, com imagens manipuladas, com discursos legitimadores. Nosso Humanismo de Novo Gênero não esquece. Não perdoa. Não neutraliza nem naturaliza. Assume a dor de Hiroshima como ponto de partida para uma ética revolucionária. Assume a responsabilidade de interromper a cadeia de signos que perpetuam a barbárie. Enquanto o crime continuar impune, a crítica não pode parar. Enquanto os responsáveis continuarem governando o mundo, a semiose emancipadora deve se aprofundar. Nossa tarefa não é apenas lembrar ou lamentar Hiroshima, mas impedir que se repita em cada canto do planeta. E para isso, é preciso mais do que memória: é preciso organização, linguagem, filosofia, luta. Plano de luta semiótica.                           



Hiroshima y Nagasaki: Semiótica del Horror

Fernando Buen Abad

Toda la historia del siglo XX está marcada por heridas que no cicatrizan. Dos de ellas, Hiroshima y Nagasaki, no son simples episodios del pasado: son signos ardientes, nódulos semióticos de una violencia imperialista que se perpetúa y se renueva. Han pasado décadas desde que Estados Unidos lanzó las primeras bombas atómicas sobre población civil, pero el horror no ha sido desmontado, no ha sido juzgado, no ha sido reparado. La “era nuclear” no se cerró: se institucionalizó como una nueva forma de chantaje político y dominación ideológica. Un mensaje asesino contra todo proyecto socialista usando a Japón como caja de resonancia mundial.

Desde nuestra Filosofía de la Semiosis, y con los principios del Humanismo de Nuevo Género, urge una crítica profunda que no se quede en la condena moral superficial ni en el revisionismo inocuo. Lo que sucedió en Japón en agosto de 1945 fue una operación completa de semiosis macabra capitalista: el capital, en su fase imperialista, habló con el lenguaje más brutal posible. No sólo destruyó ciudades; instauró un régimen de signos cuyo objetivo era disciplinar a la humanidad entera mediante el miedo tecnológicamente gestionado.

Este texto no pretende conmemorar. Pretende desactivar la bomba semiótica que sigue explotando cada día. Un poder que no actúa sólo con bombas, sino con signos de extorsión burguesa. La operación atómica de Hiroshima y Nagasaki no fue sólo odio de clase bélico: fue una comunicación de muerte dirigida al planeta entero. El mensaje era claro: quien no se someta al orden capitalista será destruido sin contemplación, sin ética, sin responsabilidad histórica. Su bomba fue diseñada no sólo para matar, sino para significar. En un escenario donde Japón ya estaba militarmente derrotado y buscaba la rendición, el ataque atómico fue innecesario desde el punto de vista militar. Pero fue absolutamente necesario desde el punto de vista semiótico imperialista. Era el nacimiento de un nuevo orden de signos: la era del chantaje nuclear, la era del control simbólico mediante la destrucción ejemplar.

Sus hongos nucleares no sólo se alzaron como fenómenos físicos: se convirtieron en íconos propagandísticos. La imagen del hongo atómico fue rápidamente integrada a la cultura visual de la posguerra. En lugar de ser símbolo de horror, fue estetizada, vaciada de su carga crítica, convertida en arte pop, en ironía, en advertencia aséptica. Así, el poder imperial logró un objetivo doble: destruir materialmente y neutralizar simbólicamente la resistencia. Uno de los escándalos más elocuentes de Hiroshima y Nagasaki es el silencio cómplice de muchas corrientes intelectuales liberales. Mientras miles de cuerpos eran calcinados, el humanismo burgués se replegaba en retóricas ambiguas. Se refugiaba en categorías abstractas como “el fin justifica los medios” o “la lógica de la guerra”.

Pero el Humanismo de Nuevo Género no acepta esa cobardía ética. Comprende que cada estructura semiótica está atravesada por relaciones de clase, y que el humanismo tradicional ha servido históricamente para legitimar la barbarie cuando esta beneficia a las élites. No basta con proclamar amor al ser humano en general. Hay que asumir que ese “ser humano” está dividido por clases, por razas, por géneros, por geografías. Y que hay un tipo específico de humanidad –la humanidad proletarizada, racializada, colonizada– que fue la víctima de Hiroshima y Nagasaki. La neutralidad ante este crimen es, en sí misma, una forma de participación en el crimen. El silencio es una forma de autorización. El eufemismo es una forma de complicidad. Y la estetización del horror es una forma de legitimación simbólica.

                                             


Desde nuestra postura como Filosofía de la Semiosis, Hiroshima no puede interpretarse simplemente como un acontecimiento “físico” o “militar”. Es un relato con sentido condensado, una unidad semiótica de altísima densidad histórico-criminal. La bomba atómica fue el producto final de una larga cadena de mediaciones simbólicas, ideológicas, técnicas y económicas. Fue el resultado de una semiosis planificada por el capitalismo, que convirtió la ciencia en tecnología de exterminio. Las ciencias físicas, al servicio del capitalismo, no producen neutralidad, producen devastación con cálculo. El conocimiento científico, si no está atravesado por una ética revolucionaria, puede ser instrumentalizado como herramienta de opresión y represión.

Su bomba es, entonces, el epítome de la semiosis capitalista: toma la materia, la convierte en poder destructivo, y le agrega un sentido burgués. No basta con matar: hay que hacerlo de tal forma que la muerte funcione como mensaje disciplinador y como un negocio histórico. Cada ciudad bombardeada se volvió un signo. Cada cuerpo carbonizado fue un texto tatuado en la memoria de los pueblos. Cada fotografía de los efectos de la radiación es parte de una pedagogía del horror que el capitalismo sigue administrando para imponer su hegemonía. Lo más perturbador es cómo Hiroshima fue absorbido por la cultura de masas y convertido en entretenimiento. La memoria del crimen fue desplazada por su representación espectacular. Películas, cómics, videojuegos y hasta publicidades han utilizado el imaginario nuclear como atractivo visual.

Este fenómeno no es accidental: es parte del dispositivo semiótico de normalización del terror. La estetización del hongo atómico es una estrategia de neutralización de su carga política. Se trata de vaciar el signo de su contenido histórico para que pueda ser consumido sin culpa. El capitalismo se apropia del horror y lo convierte en mercancía simbólica. La cultura hegemónica no distorsiona Hiroshima para evitar que se repita, sino para consolidar su relato de poder: “Miren lo que somos capaces de hacer”. Su bomba dejó de ser una advertencia para convertirse en un ícono de supremacía tecnológica. Así se produce una semiótica invertida: lo que debió ser el símbolo del límite moral de la humanidad se convirtió en el símbolo de la omnipotencia del imperio.

Desde nuestra visión con Humanismo de Nuevo Género, crimen masivo se impone como sujeto político. No debe ser diluido con compasión pasiva, sino con compromiso activo. Creer que Hiroshima fue una excepción histórica es un error. Fue el inicio de una nueva forma de guerra. Desde entonces, la lógica del exterminio como forma de comunicación política se ha globalizado. Las intervenciones de la OTAN, los drones asesinos, las sanciones económicas que matan poblaciones enteras, son formas derivadas de Hiroshima. Cambian los medios, pero se mantiene la semiosis: el uso de la muerte como mensaje. Hiroshima fue el laboratorio semiótico perfecto. La expansión de ese modelo se ve hoy en Palestina, en Yemen, en Libia, en Siria, en Haití, en Venezuela, en Irán. El capitalismo ya no necesita sólo bombas atómicas para disciplinar, usa también sus medios de comunicación, algoritmos, bloqueos y desinformación como máquinas de guerra cognitiva.

Frente a este dispositivo de dominación simbólica, el Humanismo de Nuevo Género propone una contra-semiosis. No se trata sólo de protestar, sino de generar nuevos sentidos, nuevas formas de narrar la historia, nuevas prácticas de memoria activa. La crítica no debe limitarse al análisis. Debe organizarse como intervención. Hay que crear espacios donde la memoria de Hiroshima sea politizada, no museificada. Hay que devolverle a ese signo su potencia transformadora. Nuestra Filosofía de la Semiosis debe ponerse al servicio de la emancipación. No puede ser neutra ni “académica” en el sentido burocrático burgués. Debe articular teoría con práctica, lenguaje con organización, crítica con acción colectiva.

No se trata sólo de construir “otro relato”, hay que desmontar el sistema de signos del capital. No se trata de contar mejor la historia, sino de transformar su curso. Hiroshima y Nagasaki no son pasado. Son presente permanente. La bomba sigue cayendo, no con uranio enriquecido, sino con significados empobrecidos, con imágenes manipuladas, con discursos legitimadores. Nuestro Humanismo de Nuevo Género no olvida. No perdona. No neutraliza ni naturaliza. Asume el dolor de Hiroshima como punto de partida para una ética revolucionaria. Asume la responsabilidad de interrumpir la cadena de signos que perpetúan la barbarie. Mientras el crimen siga impune, la crítica no puede detenerse. Mientras los responsables sigan gobernando el mundo, la semiosis emancipadora debe profundizarse. Nuestra tarea no es sólo recordar o lloriquear Hiroshima, sino impedir que se repita en cada esquina del planeta. Y para eso, se necesita más que memoria: se necesita organización, lenguaje, filosofía, lucha. Plan de lucha semiótica.

                                    



Tradução/edição: @comitecarioca21 




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