17 de jan. de 2025

UM ANÚNCIO JUSTO E APRECIADO, AINDA QUE INCOMPLETO

                                          

As sucessivas administrações estadunidenses utilizaram a inclusão de Cuba entre os patrocinadores do infame flagelo como um instrumento de pressão, com um caráter político definido.

 Raúl Antonio Capote

Economicamente cercados, caluniados e atacados das mais diversas formas, a firmeza tem sido a única garantia.

Na hora de “pegar nos tacos”, o presidente de saída dos EUA, Joe Biden, decidiu cumprir algumas das suas promessas de campanha em relação a Cuba. Poderia ter, durante o seu mandato - para continuar com a gíria do basebol - “tirado a bola do parque” e feito história, mas não o fez.

Sem dúvida, o anúncio feito pela Casa Branca, embora de alcance muito limitado, foi bem recebido pelo povo cubano e por milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive nos Estados Unidos, que há anos repudiam a barbárie do bloqueio contra Cuba.

Concretamente, o anúncio de Washington inclui três aspectos:

Excluir Cuba da lista do Departamento de Estado de países que supostamente patrocinam o terrorismo.

Fazer uso da prerrogativa presidencial de impedir que se levem a cabo ações nos tribunais estadunidenses em processos apresentados ao amparo do Título III da Lei Helms-Burton.

Eliminar a lista de entidades cubanas restritas que designa um grupo de instituições com as quais os cidadãos e instituições estadunidenses estão proibidos de efetuar transações financeiras, o que tem tido impacto em países terceiros.

De fato, esta decisão, emitida pela Sala Oval, põe fim a medidas coercivas específicas que, juntamente com muitas outras, causam graves danos à população, têm alcance extraterritorial e violam os direitos humanos de todos os cubanos.

Só para citar alguns exemplos, continua a perseguição aos “corsários” que abastecem de combustível e aos navios mercantes que atracam em Cuba, continuam a ser cercados os acordos legítimos de cooperação médica internacional com outros países, são punidas as transações financeiras internacionais etc.

O arquipélago cubano continua a ser um destino proibido para os cidadãos estadunidenses, e as empresas e filiais de empresas estadunidenses estão proibidas de comercializar com Cuba, salvo algumas exceções altamente regulamentadas.

Para além disso, o assédio, a intimidação e as ameaças continuam a ser exercidos contra os cidadãos de qualquer nação que pretenda comercializar, investir ou simplesmente fazer turismo na ilha.

Recorde-se, recuando no tempo, o discurso proferido em maio de 2002 pelo então Subsecretário de Estado norte-americano, John Bolton, que foi utilizado pelo governo de George W. Bush para fabricar falsamente uma ligação simbólica entre o terrorismo e Cuba.

O objetivo era nos vincular aos violentos acontecimentos de 11 de setembro. Desde então, as sucessivas administrações estadunidenses utilizaram a inclusão de Cuba entre os patrocinadores do infame flagelo como um instrumento de pressão, com um caráter político definido.

Só em 2015 é que a administração de Barack Obama retirou a Maior das Antilhas da lista; no entanto, no final da presidência de Donald Trump, a 12 de janeiro de 2021, também precisamente na “hora de recolher os tacos”, Cuba voltou a ser designada como país patrocinador do terrorismo.

Nada justificava a continuação da inclusão da ilha na lista falsa. Havana é signatária de 19 convenções internacionais relacionadas com a luta contra o terrorismo e honra os seus compromissos neste domínio, uma responsabilidade que elevou a estatuto constitucional em 2019.

Economicamente cercada, caluniada e atacada das mais diversas formas há mais de 60 anos, manter-se firme tem sido a única garantia para os cubanos sobreviverem à ameaça da maior potência mundial.

Entretanto, Cuba sempre manteve a sua vontade de dialogar respeitando as diferenças, com base nas leis internacionais de coexistência pacífica entre as nações, sem admitir a mínima exigência que ponha em causa a sua independência e soberania.

A incerteza paira sobre estas disposições, levantando questões sobre a sua sustentabilidade, tendo em conta que o novo Presidente Donald Trump prometeu uma política mais dura em relação ao governo cubano.

Do outro lado da balança, qualquer decisão é pesada contra a resistência da ilha rebelde, a solidariedade internacional militante, a aceitação mundial do anúncio de Biden e o repúdio crescente nos EUA da guerra econômica contra Cuba.

JUNTOS, MAS NÃO MISTURADOS

Num dia de grande agitação, e de acordo com o que pode ser considerado uma tradição no país nesta matéria, o Primeiro Secretário do Partido e Presidente da República, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, confirmou na terça-feira que o governo cubano tomou “a decisão unilateral e soberana de conceder a liberdade a 553 pessoas punidas por vários crimes”.

Esta decisão não tem nada a ver com o anúncio feito na mesma data pelo Presidente dos EUA, Joe Biden. Como se afirma nos parágrafos iniciais, inscreve-se no âmbito das relações estreitas e fluidas com o Papa Francisco, no espírito do Jubileu Ordinário de 2025 declarado por Sua Santidade e que acaba de começar.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores as pessoas que se beneficiam da medida foram sancionadas no âmbito de um processo regular por diversas infrações previstas na lei.

Não se trata de uma anistia, nem sequer de uma medida tomada em benefício de um grupo específico, como a campanha de descrédito que Miami está tentando apresentar. A alguns será concedida a liberdade condicional ou a mudança de medida, entre outros elementos previstos na legislação cubana, dependendo das condições de cada indivíduo.

O texto refere que o Presidente Díaz-Canel comunicou a decisão ao Papa através de uma carta enviada à Santa Sé no início de janeiro, e argumentou que “as libertações são efetuadas com base numa análise cuidadosa, com base nas diferentes modalidades contempladas pela legislação, e como parte da natureza justa e humanitária dos sistemas penal e penitenciário de Cuba”.

“Mantemos uma relação respeitosa, franca e construtiva com o Vaticano e com o Sumo Pontífice, o que facilita decisões como a recentemente tomada, dentro dos requisitos estabelecidos pela legislação vigente, do sentido humanitário do sistema de justiça cubano e do cumprimento das obrigações para com a ordem interna e a segurança dos cidadãos”, acrescentou a declaração.


https://www.granma.cu/cuba/2025-01-15/un-anuncio-justo-y-apreciado-aunque-incompleto-15-01-2025-23-01-14

Tradução/Edição:  @comitecarioca21



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