28 de fev. de 2020

Resumo das recentes sanções de EUA contra Cuba


INFORMAÇÃO SOBRE A ESCALADA DOS E.U.A CONTRA CUBA, EM 2019


2019 foi um ano de particular hostilidade do Governo dos Estados Unidos contra Cuba. Durante esse período registraram-se 86 ações e medidas contra nosso país, evidenciando tanto o recrudescimento do bloqueio econômico, quanto o marcante interesse em deteriorar ao máximo as relações bilaterais entre ambos os países.

Desse total, 44 constituíram ações concretas de bloqueio, incluindo multas e mais outros tipos de sanções contra instituições norte-americanas ou de terceiros países , inclusão de empresas cubanas em listas unilaterais, prorrogação de leis e programas sobre o bloqueio, anúncios relacionados com a aplicação dos títulos III e IV da Lei Helms Burton e mudanças regulatórias.

Mais outras 31 corresponderam a exemplos de aplicação extraterritorial do bloqueio e as restantes 11 correspondem com decisões do departamento de estado, as quais envolveram proibições de entrada aos EUA para funcionários cubanos, inclusão de Cuba em relatórios periódicos, revogação de acordos, expulsão de funcionários da Embaixada Cubana em Washington, restrição da validade de determinados vistos, dentre outros.

A política atual teve um elevadíssimo custo para o país, cujas dimensões dificilmente poderiam se quantificar.
Dentre as medidas que compreendem maiores afetações para economia e desenvolvimento quotidiano dos cidadãos, destacam-se as relacionadas com:
• A transportação do combustível (em 5 pacotes de medidas foram sancionadas 27 companhias, 54 navios e 3 indivíduos vinculados a este setor).
• O setor das viagens a Cuba (eliminação das viagens “povo a povo”, denegação de permissões para viagens aos navios, embarcações de recreio e aeronaves privadas, suspensão de voos regulares aos aeroportos do país com exceção de Havana).
• A reincorporação da regra do 10% para importação (impedimento de exportação para Cuba de artigos com mais de um 10% de componentes norte-americanos, dos Estados Unidos ou de terceiros  países).
• A demonização e perseguição dos programas de cooperação médica (casos como os do Brasil, Equador e a Bolívia, que cederam perante as pressões dos Estados Unidos que procuram afetar uma de nossas principais fontes de renda).
• As sanções do Departamento do Tesouro contra instituições dos Estados Unidos e países terceiros pela violação das leis do bloqueio. (Em 2019 registraram-se 13 multas que atingiram uma cifra superior aos 2 bilhões de dólares, o qual tem um efeito dissuasivo amplo para potenciais investidores ou parceiros comerciais).
• A possibilidade de apresentar demandas ao abrigo do Título III da Lei Helms Burton (em andamento 20 demandas contra empresas cubanas, estadunidenses e de países terceiros).
É imperioso que essas terríveis realidades e políticas genocidas contra Cuba sejam conhecidas e espalhadas. Deve-se denunciar essa escalada abusiva de uma potência mundial como os EUA contra uma pequena ilha de apenas 110 mil quilômetros quadrados e 11 milhões de habitantes, que luta e resiste para não se submeter e subordinar perante uma potência estrangeira que sempre quis se apropriar dela.
Essa política arbitrária, abusiva, violadora do direito internacional, irracional, desumana e genocida, está na hora de acabar já. Não pode haver uma única pessoa digna no mundo sem conhecer e condenar semelhante crime.




27 de fev. de 2020

Liberdade a Julian Assange. Não à extradição aos EE.UU





Declaração do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos:

Liberdade a Julian Assange. Não à extradição aos EE.UU

Ao grito de: “ há uma decisão, não à extradição” "There is only one decision, no extradition", centenas de pessoas percorreram da sede da embaixada da Austrália até a Praça do Parlamento de Londres para exigir a liberdade de Julian Assange.

O mítico Roger Waters, líder do grupo de rock Pink Floyd acompanhou o pai de Assange, John Shipton, também jornalista australiano, o cantor Brian Eno, a estilista de modas Vivienne Westwood, Lindsey German, fundadora da Coalizão Stop the War, o atual diretor de Wikileaks, Kristinn Hrafnsson, intelectuais e centenas de ativistas empunhando cartazes com o rosto de Assange e uma mordaça na boca com a bandeira de EE.UU.

Jornalistas, escritores e intelectuais como Noam Chomsky, Edgar Morin, Slavoj Zizek, Ken Loach, Yanis Varoufakis, Emir Sader, Evgeny Morozov, Ignacio Ramonet, Fernando Morais, Atilio Borón, Tariq Ali, a Rede em Defesa da Humanidade, movimentos sociais e juristas de todo mundo exigem a liberdade de Julian Assange.

Junto a eles nos perguntamos por que não se processa os criminosos de guerra que ficaram visíveis graças à informação divulgada por Wikileaks? Por que não se julgou  um só dos criminosos de guerra enquanto Assange tem sido submetido a diferentes tipo de tortura, maltrato físico e psicológico?

Assange enfrenta 18 acusações infundadas, desde "conspiração para cometer espionagem" até "pirataria informática", poderiam condená-lo uma prisão perpétua  ou - o que é o mesmo-  175 anos de cárcere em EE.UU, sem a menor garantia para seu defesa.

Denunciamos as deploráveis condições em que se encontra na prisão de segurança máxima de Belmarsh, contígua ao tribunal de Woolwich, no sudeste de Londres, onde  se realiza o julgamento.

Desde sua detenção na embaixada de Equador em abril do ano passado , quando o presidente equatoriano Lenin Moreno pactuou com o governo de Trump violar o direito de asilo do que gozava Assange e entregar às autoridades britânicas com o claro objetivo de que fosse extraditado aos Estados Unidos, Assange tem sofrido isolamento e maltrato. O pacto desprezível entre os governos de Equador e EE.UU fica em evidência agora ante a servil atitude do conservador governo britânico.

Gareth Peirce, advogado de Assange tem denunciado a violação ao direito a preparar sua defesa: "Julian Assange não tem conseguido o tempo que precisa com sua equipe legal para discutir como enfrentar o pedido de extradição dos Estados Unidos, já que lhe foram negados os documentos da acusaçãoesta demora no cronograma é extremamente preocupante".

"Foi algemado onze vezes ontem e isolado em cinco celas diferentes, foi despido duas vezes e confiscaram-lhe  os arquivos de seu caso" denunciou Edward Fitzgerald, principal advogado da defesa de Assange.

Os advogados sustentam que a Administração Trump está acusando o fundador de Wikileaks por razões políticas, o que é contrário ao tratado entre Reino Unido e EE.UU., e que ele não teria um julgamento justo se se chegar a aprovar a extradição.

O Grupo de Trabalho sobre Detenções Arbitrárias da ONU,declarou que Julian Assange se encontrava "detido arbitrariamente". Chamaram a atenção do Reino Unido e também da Suécia cuja falsa acusação expirou a "pôr fim a sua detenção" e "respeitar seu direito a receber uma justa compensação".

Além da enorme injustiça contra Julian Assange, um jornalista de 48 anos que não cometeu delito algum e que de forma altruísta criou um antes e um depois na comunicação, ao publicar meio milhão de relatórios secretos relativos aos abusos cometidos por militares estadunidenses nas guerras de ocupação de Afeganistão e Iraque, e 250.000 cabos que delatam a perversa ingerência de EE.UU. no mundo, se Assange fosse extraditado Washington se sentiria com direito a prender qualquer comunicador que lhe aborreça. Seria um precedente terrível para a liberdade de expressão e o jornalismo no mundo.

O que se discute realmente na corte da coroa de Woolwich, próxima ao cárcere de Belmarsh, é o direito da humanidade à informação.

Liberdade a Julian Assange! Não à Extradição!!






25 de fev. de 2020

Bernie Sanders reconhece cuidados de saúde em Cuba e presença solidária em todo o mundo



                            Bernie Sanders em uma entrevista concedida ao programa 60 Minutos. Foto: CBS.



O senador estadunidense Bernie Sanders reconheceu “o papel de Cuba ao enviar médicos por todo mundo”.
“Estão enviando médicos para o mundo todo. Têm feito progressos na educação”, ressaltou o senador por Vermont que aspira a enfrentar o republicano Donald Trump nas eleições presidenciais de 3 de novembro.

“Seria um erro não declarar que Cuba tem feito bons avanços no cuidado com a saúde”, admitiu o político de 78 anos, um dos  mais fortes aspirantes à indicação do Partido Democrata às eleições presidenciais de novembro, em uma entrevista concedida ao programa 60 Minutos da  rede CBS e transmitida ontem (domingo).
Ocorre  que o apresentador Anderson Cooper pediu ao atual aspirante à  indicação da  força azul que explicasse seus comentários de 1985, quando elogiou alguns dos  programas sociais implementados pelo líder histórico da  Revolução cubana Fidel Castro.
Segundo um  videoclipe de mais de 30 anos, o senador disse naquele momento que Fidel Castro “educou as  crianças, lhes deu atenção médica, transformou totalmente a sociedade”.
Ainda  deixou claro que seu “socialismo” não é o da Venezuela nem de Cuba e sublinhou que o tipo de sociedade na que crê é aquela que  para ele existe em países como Dinamarca,Finlândia e Suécia, o legislador afirmou que é “injusto dizer simplesmente que tudo está mal” na ilha.
Quando Fidel Castro chegou ao poder, sabes o que fez? Tinha um programa de alfabetização em massa”, enfatizou Sanders ao se referir à revolução cultural que permitiu em um ano (em 1961) erradicar o analfabetismo e facilitar o acesso universal aos  diferentes níveis de educação de maneira gratuita no país caribenho.
Em  17 de outubro de 1962, Fidel Castro anunciou durante a inauguração do Instituto de Ciências Básicas e Preclínicas Victoria de Girón , na capital cubana, a decisão do governo de oferecer ajuda no campo da saúde e declarou que se enviariam 50 médicos a Argélia .
“Hoje podemos enviar só 50, mas dentro de 8  ou 10 anos, quem sabe quantos,  estaremos ajudando  nossos  irmãos”, advertiu então o líder cubano.
Quase seis décadas depois, mais de 400 mil colaboradores da saúde da Maior das Antilhas têm cumprido missões em cerca de 164 países, enquanto com o mesmo desinteresse formaram-se na ilha de maneira gratuita 35 mil 613 profissionais desse  campo de 138 nações.
Como era de se esperar, seus comentários provocaram a ira do setor mais extremista dos  cubano-americanos no sul da  Flórida, que se opõem a qualquer  aproximação com a ilha caribenha.
Em 2016, Sanders defendeu as relações diplomáticas com Cuba, o que a seu  juízo “resultará em melhoras significativas na vida dos  cubanos e ajudará os  Estados Unidos”.
Ademais, tem reiterado sua posição a respeito da eliminação do bloqueio que por cerca de seis décadas mantêm tanto administrações republicanas como democratas.
Mas cuidado - alertam observadores-, seus elogios há que  olhá-los com cautela, apesar de marcar diferenças com Trump.
A propósito, durante o programa televisado, Sanders, que se autodenomina  como um socialista democrático, prometeu que se chegar  à  presidência espera utilizar o “governo federal para proteger os interesses das  famílias trabalhadoras'.
Nesse sentido, propôs que aqui o governo “trabalha para os muito endinheirados” e ainda que sem mencionar seu nome expressou que o “presidente dos Estados Unidos é um mentiroso patológico”.
Em  início de fevereiro, em seu discurso sobre o Estado da União, o ocupante do  Salão Oval arremeteu contra o Medicare for All (Medicina para todos), uma das  principais propostas de Sanders .
Para o republicano, esse plano sanitário o que procura  é “destruir a atenção médica estadunidense”.
Recentes sondagens mostram que Sanders segue imbatível, vencedor comodamente nas assembleias eleitorais democratas de Nevada no sábado, e aumentou seu apoio entre os votantes latinos, só superado por pequena margem pelo  ex-vice-presidente Joseph Biden.

Vídeo da entrevista:    https://www.youtube.com/watch?v=TeYCIfmeW70&list=PLI1yx5Z0Lrv4JsuJ6P75WMQ1kqmokBzWN



Tradução: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba em 25/02/2020














24 de fev. de 2020

CUBANIDADES




 Por Atilio A. Boron 

O que é Cuba? Qual é o mistério da ilha rebelde? Tratarei de dizê-lo em poucas palavras, como o fazia o grande Eduardo Galeano ainda que não tenha seus dons.
Cuba é música e mais música. Música por todos os lados: no começo de uma cerimônia, quando se termina, no intervalo. Com músicos velhos ou jovens, ou inclusive crianças. Em um teatro, na rua ou portas adentro em uma casa ou uma instituição. Música popular, música clássica, Mozart e Beethoven misturados com Ernesto Lecuona e a Buena Vista Social Clube. É Chucho Valdés e Daniel Barenboim. É Omara Portuondo, Pólo Montañéz e Benny More junto a Pavarotti, Plácido Domingo ou John Lennon e Os Beatles. É Alicia Alonso dançando com Nureyev; é a “Colmenita” e os “Van Van “ .  Cuba é som, é salsa, é Compay Segundo, a Nova Trova; é Silvio, é reguetón, é cumbia, é jazz, é guaguancó, é rumba, é bolero. Tudo, absolutamente tudo, em Cuba se torna música, se faz com música, se celebra com música, se comemora com música. Com pianos de cauda, saxs, violinos, guitarras, oboés e flautas transversas até o güiro, o chequeré, o bongô e as tumbadoras. E a toda hora: de manhã,à tarde, à noite. Cuba é música, casais dançando na rua, no Malecón, nos jardins do excelso Hotel Nacional, nas casas, onde e a hora que seja. Sua gente leva a música no sangue e não se cansa de demonstrá-lo. E a Revolução encarregou-se de potencializar como ninguém esse gene magnífico de cubanas e cubanos multiplicando ao longo da ilha infinidade de escolas e conservatórios onde, de forma gratuita, o povo aprende a tocar os mais variados instrumentos e a cantar profissionalmente.
Mas  Cuba também é literatura, poesia, novelas, contos, histórias, revistas, livros, tertúlias, mesas redondas. Cuba é ciência e consciência, é humanismo e pensamento crítico. É Carpentier, Guillén, Lezama Lima, Vitier e também Cortázar, Walsh e o Gabo; e Retamar que há pouco nos abandonou para se reunir com eles. São suas duas excepcionais e imprescindíveis contribuições à cultura e a identidade latino-caribenhas: Casa de las Américas e o ICAIC. Também sua  multitudinária Feira do Livro, não por acaso situada no primeiro território livre de analfabetismo nas Américas. E é Havana, um dos principais centros culturais do mundo, e não só da América Latina e Caribe. Sua oferta em matéria de teatro e espetáculos de todo tipo é incrível, comparável às das maiores cidades do continente como Buenos Aires, México ou São Paulo.
Cuba é resistência heróica a um criminoso bloqueio sem perder o finíssimo e mordaz sentido do humor, a capacidade de rir-se de si mesmos e de debochar da tosquice de suas descerebrados verdugos. É também solidariedade militante, prática, concreta. O país mais solidário do mundo, sem dúvida. Reparte o que tem e o que não tem também, sem esperar nada em troca. Enquanto o império e seus vassalos saqueiam o resto dos países e mandam ao exterior tropas, espiões, torturadores e mercenários,  Cuba envia médicos, alfabetizadores, professores de música e dança e treinadores esportivos. A diferença moral é esmagadora.
Cuba é Martí, Mella, Guiteras, o Che, Camilo, Vilma; é Frank País, Armando Hart, Abel e Haydée Santamaría. E logicamente Fidel, que está em todas as partes ainda que não tenha uma só praça, rua, avenida, estádio, hospital, edifício público, ponte, porto ou caminho que leve seu nome, coisa que o Comandante proibiu expressamente e se cumpre rigorosamente. Não há necessidade de  nomear porque seu espírito e seu legado impregnam toda a ilha. Morreu e converteu-se em milhões. Hoje todas e todos são Fidel.

Cuba é Havana e Santiago; Guanabacoa e Trinidad; é Cienfuegos e Holguín; é Birán e Sancti Spiritus; é o Moncada e a Serra Maestra; Girón e a Segundo Frente; é Santa Clara e Granma. É, por incrível que pareça, os sete fuzis com que Fidel empunhando -os com firmeza  disse a um atônito Raúl “ ganhamos a guerra”,  poucos dias após o caótico desembarque do Granma e com a maioria dos expedicionários dispersos pelo monte tentando não ser metralhados pelo ar pela aviação de Batista. A vontade revolucionária em sua máxima expressão combinou-se, em Fidel, com um formidável realismo na hora de realizar uma correta leitura da conjuntura político-militar.
Cuba é uma boa mesa com moros e cristianos, feijões e tostadas, porco em fatias, cordeiro assado, lagostas e peixes recheados de camarões. Também tamales em panela de  barro e aipim com molho de alho, chicharrón e limão. Ademais, sopas que te ressuscitam, sorvetes deliciosos, sobremesas  cada qual mais doce e um elixir chamado café. Cuba é mojitos, piñas coladas e para arrematar o banquete e deleitar-se até o infinito runs extraordinários e fumos incomparáveis, únicos no mundo.
Cuba é também seus inumeráveis cayos, suas centenas de quilômetros de praias de brancas areias e águas turquesas. E o mar estrelando contra esse extenso e magnífico malecón habanero, com suas ondas elevando aos céus e desenhando por um instante figuras belísimas e de um alvo imaculado que hipnotizam o passante.
Cuba é  formosos edifícios da Havana Velha, que um governo acossado e bloqueado por décadas se empenha em restaurar e lhes devolver seu esplendor e beleza originais da mão do historiador da cidade, um genial humanista do Renascimento chamado Eusebio que as rezas da santería cubana fizeram que renascesse em Havana com a missão da reconstruir. E está fazendo-o. Apesar do bloqueio.


É o país onde não se vê crianças de rua, mendigando descalços e em farrapos, revolvendo o lixo para encontrar algo que comer. Suas crianças  todas, absolutamente todas, estão na escola e bem vestidas e calçadas. Um país onde não há homens e mulheres, ou famílias inteiras, dormindo nas ruas como em tantas cidades de Nossa América e inclusive dos Estados Unidos. Onde a alimentação está garantida, como a saúde pública para todas e todos. Cuba é educação universal, gratuita e de qualidade desde o jardim de infância até a pós-graduação. Cuba é a segurança cidadã, o transitar por suas cidades sem os temores que atribulam aos citadinos de tantos países em todo o mundo.
Estes êxitos teriam sido impossíveis sem a clarividência e coragem de Fidel e a liderança revolucionária e a espantosa engenhosidade do povo cubano, um de cujos verbos idiossincráticos é “resolver”.  Resolvem tudo, o que seja; caso contrário o bloqueio os teria posto de joelhos. São capazes de fazer funcionar eficientemente um Ford, Buick ou Chevrolet dos anos cinquenta, uma verdadeira proeza mecânica que provoca a admiração (e a inveja às vezes) dos turistas estadunidenses. Ou transformar um decrépito sedan daquelas marcas em um resplandecente conversível,  eliminando seu teto original e fazendo os ajustes necessários. Carroças lustrosas e reluzentes que provocam a inveja de Hollywood, que pagaria fortunas para levá-los a seus estudos. Mas são patrimônio de Cuba e não se irão. Só com os automóveis estadunidenses? Não! O mesmo fazem, em uma operação já de acabamentos francamente  milagrosos, com um Lada soviético do ano 1985 capaz de ir de Havana até Santiago sem nenhum inconveniente apesar de suas precárias comodidades. Cuba tem uma só conexão física por onde transitam os impulsos da  Internet: o cabo submarino de fibra ótica que chegou da Venezuela em janeiro de 2011 graças à ajuda de Chávez para romper o bloqueio informático no qual estava a ilha. Apesar da insuficiência que dito cabo tem para enfrentar as demandas do elevado e crescente número de internautas da ilha cubanas e cubanos “resolvem” as enormes dificuldades que limita o acesso via satélite à Internet com grande talento, o que lhes permite aceder através de programas “made in Cuba” (que não vi em nenhum outro país) a quase tudo o que se encontra na rede. Consta que Bill Gates e as empresas de Vale do Silício não sabem mais o que fazer para atrair os internautas informáticos cubanos.
Há um problema? “Você vê e resolve” é a senha de identidade do cubano. Há que apoiar o governo do MPLA em Angola para impedir que a CIA e os racistas sul-africanos arrasassem esse país? Bem, ali está a engenhosidade cubana que conseguiu outro milagre: transportar em inumeráveis viagens de um velho quadrimotor a hélice, o Bristol Britannia, uma grande quantidade de pessoal militar e apetrechos cubanos cobrindo, com uma preparação muito especial dessa aeronave (precários tanques suplementares de combustível, reduzindo a carga não militar a um mínimo, regulando a velocidade e altura, etc..)  os 10.952 quilômetros que separavam Havana de Luanda, lugar onde esses aviões chegavam quase sem um litro de combustível em seus tanques. Fidel pessoalmente envolveu-se na logística da operação, supervisionando tudo, desde as toneladas de carga possíveis até a velocidade e altura necessárias para garantir a feliz chagada do voo.  Nem Washington nem Moscou podiam achar que essa ponte aérea funcionasse com aqueles trambolhos. Mas assim foi, os cubanos “resolveram” o desafio e Cuba e o MPLA ganharam a guerra.
Por isso a sociedade e a cultura cubanas têm resistido sessenta anos de bloqueios de todo tipo. Apesar de tamanha agressão, que por sua escala e duração não tem precedentes na história universal, Cuba consegue em matérias sensíveis como alimentação, saúde, educação e segurança cidadã o que quase ninguém tem conseguido e o bárbaro da Casa  Branca diz que o socialismo é um fracasso ! Imaginemos por um momento o que seria Cuba se não tivesse tido que padecer o bloqueio imposto por Estados Unidos, com toda sua sequela de agressões, sabotagens, atentados e açoitamento de todo tipo. Um paraíso tropical. Daí que a ilha seja um péssimo exemplo que Washington combateu e combaterá sem trégua, apelando aos piores métodos e violando todas as normas da legalidade internacional. Tinha razão Oscar Wilde quando sentenciou que “Estados Unidos  é o único país que passou da barbárie à decadência sem passar pela civilização”.


Cuba é o David de nosso tempo que pôs fim ao apartheid na África do Sul; o país que curou  centenas de milhares de doentes em mais de cem países e que criou a célebre ELAM, a Escola Latino-americana de Medicina preparando médicos para atender a quem jamais viu um em suas vidas. Cuba é ter assumido as crianças de Chernobyl quando Europa ,Estados Unidos, Ucrânia e a própria União Soviética, lhes davam as costas. Sem pedir nada em troca.

É ter colaborado com todas as lutas de libertação nacional no Terceiro Mundo, sem se apoderar das riquezas de nenhum país e trazer de regresso para casa outra coisa que não fossem os restos dos cubanos caídos em combate.  Seus detratores, como Mario Vargas Llosa na primeira fila, acusam Cuba de estar isolada do mundo”. Os dados contradizem essa mentira não só pelos milhões de visitantes que ano a ano desafiam as proibições e chantagens de Washington e chegam para percorrer a ilha e desfrutar de suas belezas, de sua gente, seus sabores, sua música, sua alegria, sua cultura, sua gastronomia. Também porque como expressão da extraordinária gravitação internacional da Revolução Cubana e de sua muito ativa integração no mundo há arraigadas em Havana nada menos que 114 embaixadas contra 86 que estão em Buenos Aires, 66 em Santiago, 60 em Bogotá, e 43 em Montevidéu. Quem está mais isolado?
Cuba é a vontade férrea de construir o socialismo ainda sob as piores condições possíveis, de resistir a arriar as bandeiras do mais nobre anseio da humanidade. A dívida de nossos países com Cuba é imensa por suas décadas  de ajuda e por não ter permitido que se extinguisse o farol que nos orienta na busca do socialismo. Imaginemos o que teria ocorrido na América Latina e Caribe se a ilha rebelde se rendesse ante o assédio de quem, em começos dos noventa, aconselhavam a Fidel que se esquecesse do socialismo, que o capitalismo tinha triunfado, que se tinha chegado ao fim da história. O “ciclo político” progressista e de esquerda iniciado em 1999 com a presidência de Chávez não teria existido e a ALCA, como grande projeto anexionista do império, se teria concretizado em Mar del Plata em 2005. Se isso não ocorreu devemos, antes que a ninguém, a Cuba e a Fidel. Certamente  também ao marechal de campo do genial estrategista cubano: Hugo Chávez Frias. E a Néstor Kirchner e Lula da Silva que embarcaram nessa homérica batalha. Claro está que sem a virtuosa obstinação do Comandante  em construir  o socialismo não teriam também existido nem Chávez, nem Lula, nem Néstor, nem Evo, Correia, nem Tabaré, nem Lugo, nem Cristina, nem Dilma, nem o Pepe, nem Maduro, nem Daniel. Sem dúvida, teriam sido políticos importantes, dificilmente dirigentes de seus países, mas teriam carecido da profundidade histórica que lhe outorgou a insolente permanência da Revolução Cubana e que os habilitou para jogar um papel tão digno e sobressalente nestes últimos vinte anos. Porque os homens e as mulheres são fazedores da  história, sim, mas só sob determinadas circunstâncias. E estas as criou aquela revolução na maior das Antilhas ao se manter de pé e  firme enquanto se derrubava a União Soviética, desaparecia o COMECON, se desintegrava o Pacto de Varsóvia, as “democracias populares” do Leste europeu retornavam em tropel a seu reacionário passado e se prostravam aos pés do imperador além do Atlântico  e os escribas do império celebravam a chegada do “novo século americano”,  que –como o antecipasse Fidel- nem sequer chegou a ser uma década.
Em uma palavra, Cuba é o que é porque para milhões de pessoas em todo mundo encarna no aqui e agora da história os belos sonhos do Quixote quando dizia que sua missão era “sonhar o sonho impossível, lutar contra o inimigo impossível, correr onde os valentes não se atreveram atingir a estrela inalcançável. Esse é meu destino.” Por tudo isto, com Cuba sempre!






Tradução :  Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba

18 de fev. de 2020

JANELAS DA ALMA


Uma tarefa fácil : vai aqui um vídeo para visualizar e dar um "like" que se chama "Janelas da alma" e que retrata o amor de Gerardo e Adriana. O cubano antiterrorista Gerardo Hernández ficou preso durante 16 (DEZESSEIS !) anos em prisões dos EUA sem poder sequer receber a visita de Adriana, a quem o governo estadunidense não fornecia o visto para entrar no país. Apesar de tudo esse amor seguiu forte, mesmo com a incerteza da libertação dele que tinha sido condenado a 2 (DUAS !) prisões perpétuas. Esse vídeo é uma linda homenagem a esse amor que agora o casal vive como um sonho realizado.
Bem, um outro motivo para dar um "gosto" no vídeo: ele pode ser indicado ao Grammy e - o melhor motivo de todos : a máfia de Miami está com ódio do clip e estão marcando o "não gosto" Bóra dar um "eu gosto" !!
No final, uma frase que resume a história dos dois: "As pessoas destinadas a se amar estão conectadas por um fio vermelho que só o destino manipula" .

16 de fev. de 2020

NA VIGÍLIA DOS PETROLEIROS NO RIO DE JANEIRO : DIA DO INTERNACIONALISMO


Como atividade da greve dos petroleiros no Rio de Janeiro, hoje dia 16/02 foi realizado o DIA DO INTERNACIONALISMO. O Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos foi uma das entidades convidadas para o evento.
A atividade foi realizada na vigília, que já acontece há 16 dias em frente ao Edifício Sede da Petrobrás (Edise) no centro do Rio  ( sem que os meios de comunicação noticiem....)



O ato começou com a exibição do filme Cubanas - Mulheres em Revolução assistido atentamente pelos presentes
com rápida introdução do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba.


Após a exibição do filme, muito aplaudido, seguimos com a atividade sorteando vários "brindes" cubanos para os presentes. Dia de muito calor no local, mas com muita participação.


Em seguida, o espaço para o debate:  "O petróleo é do povo: por uma América soberana". Compondo a mesa coordenada pelo Levante da Juventude e União da Juventude Socialista : Carmen Diniz (Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos - Capítulo Brasil), Ali Alvarez (venezuelano, militante do PSUV e ex-engenheiro da PDVSA - 2017), Mateus Quevedo (MPA; integrante da Brigada Internacionalista Che Guevara - 2019).


Pelo Comitê foi transmitido aos petroleiros a solidariedade do povo cubano e venezuelano na vitória a ser alcançada contra o imperialismo e pela manutenção da Petrobrás como um patrimônio do Brasil além da importância dessa vitória para o restante da América Latina.  Como não poderia deixar de ser também foi lembrada a importância da Revolução Cubana para todo o continente e o farol que representa para nossos povos como um paradigma alcançável.


Ali Alvarez  fez uma exposição sobre a questão do petróleo na Venezuela, os índices e números das riquezas venezuelanas, as localizações de jazidas, a ganância do império para se apossar dessas riquezas  e as tentativas de desestabilização do país por parte dos EUA. A resistência da Venezuela sendo um exemplo a seguir. 

Mateus Quevedo do MPA fez uma homenagem à Soledad Barret com uma linda poesia, apontando para a importância de resgatar a  memória dos que lutaram. Relatou sua experiência pelo MPA na Brigada Internacionalista Che Guevara em 2019. Ressaltou a realidade que viu na Venezuela de positivo e como se diferia tanto do que a mídia burguesa mostrava e mostra no Brasil.



Em seguida , no debate  surgiram discussões da conjuntura atual, de incentivo ao movimento grevista, da necessidade de unidade entre os diferentes grupos, entidades, partidos políticos como o caminho a seguir no país que atravessa uma grave crise política.

 Uma atividade importante nesses tempos que vivemos na América Latina de tanta hostilidade e ganância do império na região.

Um fator importantíssimo no evento :  a participação da juventude ali presente, organizando  e animando todo o tempo em uma demonstração de vigor e entusiasmo.  A vitória é certa !



Parabéns aos organizadores e seguimos !  A Petrobrás é do Brasil !



13 de fev. de 2020

Conversa com um cientista em noite de chuva (em artigo da IELA)


CUBA E O CORONAVÍRUS - Um dos medicamentos que está sendo usado com sucesso contra o coronavírus na China é o interferon alfa 2 b, produzido pelos cubanos. Em 2009 o Iela recebeu o médico Manoel Limonta, um dos responsáveis pela pesquisa do interferon. Vale recordar a conversa que a jornalista Raquel Moysés teve com ele contando sobre como Cuba iniciou o trabalho em biotecnologia a partir das ideias visionárias de Fidel. Hoje, apesar do criminoso bloqueio dos Estados Unidos Cuba segue, estudando, criando e salvando vidas.


01.06.2009 - Noite de chuva em Florianópolis. Na Universidade Federal de Santa Catarina, no pequeno auditório do Centro Sócio-Econômico,  um cientista abre as guardas da linguagem fechada da biotecnologia para um grupo que veio de guarda-chuvas e sombrinha em punho beber na fonte da história de uma nação que dá o que falar em todo o mundo. Manoel Limonta, um médico cubano, que 27 vezes já pisou terras de Brasis, conta como a sua ilha caribenha ganha respeito internacional, pelos avanços científicos e tecnológicos alcançados,  registrando patentes dentro e fora  de seu território.

O jeito de Limonta explicar o mundo complexo da ciência é como o curso de um rio de águas transparentes.  Homem de gestos serenos, esse professor da Universidade de Havana  dissipa dúvidas e dialoga com o público, predominante de faces juvenis, que veio ao lugar  atraído pelo convite do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA).
            
Ao narrar e imprimir na memória de cada atento ouvinte as passadas de uma saga nacional, ele vai reconstruindo um cenário que descortina a épica de seu povo. São fatos ocultados pela  mídia dominante, mas o fato é que hoje Cuba vive  em grande parte   do desenvolvimento científico e tecnológico  que alcançou,  e que  o bloqueio feroz, promovido pelos Estados Unidos,  não conseguiu esmagar.

Encontro com o comandante
A biotecnologia, no país já chamado ilha de Fidel,  é atualmente o terceiro ou quarto item  da economia para garantir o PIB cubano. E nessa história, tudo começa mesmo  com a intervenção pessoal de Fidel Castro, ao cruzar a vida do  então jovem pesquisador Manoel Limonta, médico hematologista  apaixonado pela pesquisa.  Naquele ano,  de 1981, ele  fazia estudos com novos medicamentos de uso regulado, quando   foi buscado por um emissário de Fidel,  que lhe disse: - O comandante quer falar com você.
Surpreendido pela convocação, ele foi encaminhado à presença do presidente, que logo lhe pediu: - Fale-me o que sabe sobre o interferon.  Naquela época, recorda Limonta, falava-se muito de um medicamento, a base de interferon, obtido através dos glóbulos brancos do sangue, para combater enfermidades virais. Acreditava-se até que curaria o câncer. E Fidel, grande devorador de livros e  leitor atento de assuntos ligados à medicina,  tivera notícias dessas pesquisas em andamento,   e estava decidido a que o interferon pudesse ser produzido em Cuba.
Limonta conta esta passagem de sua história pessoal  para comentar como o fato de estar no dia certo, no local certo, pode mudar o curso de uma história individual e influenciar a vida  de  uma comunidade humana.  “Tive esta sorte histórica,   e comecei a trabalhar nas pesquisas com interferon, contando com um apoio extraordinário do governo cubano.” Depois de ir estudar, com mais um colega,  nos Estados Unidos, e com outros cinco,  na Finlândia, onde os estudos com interferon estavam em alta,  de volta à ilha,  ele e o grupo,  ganharam uma casa,  que foi logo transformada em laboratório.
Epopéia científica
Num período de 48 dias, os pesquisadores viveram  uma epopéia científica, passando esse tempo praticamente trancados entre as paredes do lugar. Limonta conta que chegou a ficar 18 dias sem ir em casa, pois,  ao fim de cada jornada extenuante,  não tinha forças sequer  para dirigir o carro. Fidel vinha quase todo o dia encontrar o grupo, e dava força para que resistissem ao cansaço e se nutrissem da paixão que os movia. O cientista  ainda relembra as palavras de Fidel: “O comandante nos dizia: - Não podemos parar,  quando de nosso trabalho depende a vida de tantas pessoas.”
E assim foi. Depois de 48 dias – dos  quais   42 deles  Fidel compareceu  ao laboratório  – na data de 28 de maio de 1981, nascia o interferon cubano. Os capítulos seguintes desta história científica seguem sem interrupções. Depois deste primeiro resultado,  nasce em Cuba o Centro de Investigações Biológicas, construído em um prazo de seis meses, e onde continuou acelerado o processo de estudos de engenharia biomédica.  “Da mesma forma como o engenheiro civil desenha uma ponte, nós trabalhávamos sem parar para construir estruturas químicas,  usando as ferramentas da engenharia genética,” explica, usando metáforas simples de cientista que se quer fazer entender.
Do interferon, as pesquisas foram caminhando por outras vias,    até que, em 1986, se erigia,  em Havana,  o Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia, com 74mil m2, localizado   em uma área de 15 hectares. Ali, seguiram  avançando as técnicas cubanas, e surgindo novos produtos, como, por exemplo,  a vacina  contra a hepatite B.  Nesses tempos de efervescência criativa, apareceram também institutos para pesquisas e produção de  vacinas e o Centro de Imunologia Molecular, que desenvolveu uma vacina para combater o câncer, ajudando pacientes em tratamento de quimioterapia e radioterapia. 
Lutar ou morrer de fome
Para atender as  necessidades da população cubana, de pouco mais  de 11 milhões de habitantes,  bastava, contudo,    pouco tempo de produção e,  assim, conta Limonta,  Cuba passou a exportar os produtos do seu desenvolvimento científico e tecnológico, entre eles  a vacina para combater a meningite meningocócica do tipo B. Agora, como lembra o cientista, já há,  na lista dessa épica trajetória científica, uma variedade de produtos e pelo menos duas dezenas de  patentes registradas dentro e fora do território cubano, hoje até nos Estados Unidos.
Cuba começou do nada, e construiu uma história de superação, com muito trabalho, vontade, inovação e invenção,  insiste em lembrar Limonta.   “O bloqueio, algo muito ruim, tem pelo menos essa faceta ‘boa’, pois vem representando um fator de motivação. Não tínhamos outra escolha. Era morrer  de fome ou lutar para nos manter vivos, com esforço e dignidade.”


Quando trabalhou em pesquisas nos Estados Unidos, Limonta lembra que  solicitava um reagente, e à tarde o produto já chegava ao laboratório. Em Cuba, uma nação bloqueada para o mundo, é  preciso esperar seis meses e ainda pagar duas ou três vezes mais o preço da substância ou equipamento.

Limonta recorda situações absurdas provocadas pelo bloqueio implacável.  Houve até um episódio em que  Cuba dispunha de vacinas, que não eram produzidas nos Estados Unidos, e foi impedida de salvar vidas naquele país, porque o governo estadunidense não permitiu a importação do medicamento, preferindo deixar gente morrer por falta de tratamento.
Cooperação fora da ilha

Hoje, Cuba vive  em boa parte  do desenvolvimento científico e tecnológico, que deixou para trás o mito de um país que sobrevive de charuto, e açúcar e turismo. Vários países, como o Brasil, recebem tecnologia cubana, e a  ilha também fabrica produtos biotecnológicos  através de acordos de cooperação, diretamente em  nações, como China, Índia e Irã. “Não se trata de transnacionais”, esclarece Limonta.  Nós nos associamos    para levar  além de nossas fronteiras   o   desenvolvimento tecnológico e tecnológico que alcançamos.”
Limonta afirma que  Cuba viveu uma etapa muita dura para chegar a tal ponto e manter este patamar de desenvolvimento, Mas, atualmente “está em um lugar elevado de respeito no mundo, oferecendo produtos com alto valor agregado.”  
Romper o  contexto histórico de dominação,   não é coisa fácil, comenta o professor.  “ Nós, do terceiro mundo, nunca participamos de uma revolução científica mundial,  e é difícil quebrar esta situação. “É claro que um produto  fabricado na Alemanha é visto pelo mercado com outros olhos em relação a um produto cubano. Um país de negros”, talvez pensem, mesmo que não digam...”, conjectura Limonta.


O médico não esconde o orgulho que sente de seu país, onde a pessoa é protegida do nascimento à morte, pois em Cuba, quando alguém morre, nessa hora difícil, “tudo é de graça.”  Lá,  ele esclarece,  os salários são baixos, mas a pessoa,    se fica doente, tem a certeza de contar com a máxima atenção médica. A cultura também é muito expandida,  e a educação é  assegurada, nas condições mais impensáveis, até em lugares remotos. E Limonta,  dá o seu testemunho: - Conheço uma escola, em que há dois alunos e quatro professores. Isto porque, em Cuba, a educação é  uma política de Estado.
Limonta diz  claramente que não recrimina cubanos que saem do país por motivos econômicos, porque  querem salários melhores ou sonham em ser ricos. “Em muitos  casos, quando você conversa com essas pessoas, elas não são contrárias ao que se faz em Cuba, elas estão de acordo com aquilo que é feito para  todos.”



E assim,  numa noite de chuva, esse doutor cubano, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Havana, abriu as portas de um mundo fantástico de conhecimentos para um grupo que saltou poças d’água nos caminhos do campus para encontrá-lo. Ele já recebeu títulos de doutor honoris, é membro de  academias de ciências como a Third World Academy of Sciences – TWAS, é   consultor e coordena projetos de pesquisas aplicadas à biotecnologia em diversas instituições, além de ser do  conselho editorial de várias revistas científicas.  Limonta,  porém, demonstra ser,  principalmente,  um intelectual público, disposto a estar no meio da comunidade para compartilhar seu saber e a contar a história de seu povo, protagonista de uma revolução, como ele mesmo também é.   

Com nossos sinceros agradecimentos à IELA . Texto publicado :  https://iela.ufsc.br/noticia/conversa-com-um-cientista-em-noite-de-chuva?fbclid=IwAR0JlU_PKNuUQUa0b32aGVF2QqZpwMYm2w4_yl-fkXIAvEAgbD6JlsGAAH8




12 de fev. de 2020

Um texto para se assinar embaixo !




Há poucos dias, amigos cubanos me telefonaram para saber da minha saúde. Aproveitei para pedir notícias de lá.
A situação está muito difícil. “Por enquanto ainda temos eletricidade”, disseram.
Donald Trump apertou o embargo comercial e financeiro até o limite: qualquer navio que atraque em Cuba sofre sanções pesadas (o que encarece muito qualquer frete), bancos (americanos ou estrangeiros) não podem aceitar nenhuma transação com o país (o que provoca o colapso do sistema de pagamentos e impede o comércio), visitas são proibidas e por aí afora.
Três navios com alimentos, vindos da Ásia, estão presos no Canal do Panamá.
A população cubana, mais uma vez, vive o aperto de forma organizada, sem nenhum tipo de confusão. Os grupos mais frágeis, como crianças, idosos e doentes, são mais protegidos. Os sistemas de educação e saúde continuam prioritários.
Pode-se ter qualquer opinião sobre Cuba, mas não se pode apoiar um bloqueio que nem a África do Sul racista sofreu. Até mesmo um país grande e autossuficiente em energia e alimentos, como o Brasil, sofreria muito numa situação assim.

Não tem nenhum sentido debater o modelo cubano enquanto essa situação não acabar. Só aí poderemos ver o que é bom e o que é ruim, o que funciona e o que não funciona, qual a capacidade de autoaperfeiçoamento do sistema. Então, toda crítica será válida.

O Brasil acaba de alterar sua posição histórica e votar nas Nações Unidas, pela primeira vez, a favor da continuidade do bloqueio a Cuba. Cento e oitenta a sete países foram contra. Três a favor: EUA, Israel e Brasil.

Vergonha, vergonha.
E um viva ao patriotismo dos cubanos.


Texto de César Benjamin