1 de jan. de 2022

CUBA, CONTRA VENTOS E MARÉS - e contra todas as probabilidades



   Por Atílio Borón 

     Quando, ao cair da noite de 31 de dezembro de 1958, a coluna liderada por Che Guevara subjugou a principal guarnição militar de Santa Clara que ainda respondia a Fulgêncio Batista, o destino do regime foi selado. Pouco depois da notícia, o ditador fugiu - com seus cúmplices e o dinheiro saqueado do tesouro público - para a República Dominicana. Seus nove filhos haviam sido enviados, alguns dias antes, para Nova York, com o pretexto de aproveitar as comemorações iminentes da passagem de ano em Times Square. Batista sabia que seus dias estavam contados e que a vitória do Movimento 26 de Julho era apenas uma questão de tempo. Fidel tinha concebido sua estratégia magistral de insurreição em torno de dois eixos. Por um lado, a capacidade militar do Exército Rebelde baseada em seu patriotismo e, precisamente, em sua inteligência estratégica, dado que seus armamentos eram insignificantes em comparação com os do exército de Batista, generosamente equipados pelo governo dos EUA. E, por outro lado, na formação de uma ampla e heterogênea aliança de forças sociais e políticas cujo denominador comum era sua oposição à ditadura de Fulgêncio Batista. Assim, no dia seguinte à vitória decisiva em Santa Clara, uma greve geral e a massiva mobilização popular que ocupou as ruas e praças de Havana e outras cidades marcou o nascimento da Revolução Cubana.

    Sessenta e três anos se passaram desde então e todos os esforços e todos os estratagemas do imperialismo norte-americano para restaurar a "ordem pré-revolucionária" (ou seja, um regime neocolonial a serviço dos oligopólios norte-americanos) terminaram em um fracasso retumbante. Um fato que geralmente é negligenciado, ou perfidamente negligenciado, deve ser apontado: o assédio à ilha rebelde é um caso único na história mundial. Repito: "único na história mundial". Não há um único exemplo comparável em que a principal potência mundial tenha se enfurecido durante tantos anos contra um país, uma região, uma cidade cuja dignidade não permitiu que ela se curvasse à arrogância imperial. Este fato marca a natureza excepcional da Revolução Cubana e sua surpreendente vitória. Sua mera sobrevivência a mais de seis décadas de assédio, sabotagem, sanções econômicas e financeiras, estigmatização da mídia e isolamento diplomático é um sinal eloquente de sua vitória, alcançada a um preço exorbitante devido à irracionalidade e perversidade do poder agressor. Sobreviveu e sobreviverá, porque no período historicamente breve de pouco mais de meio século Cuba tinha duas figuras de estatura excepcional como Martí e Fidel, que educaram seu povo e lhes ensinaram que dignidade e honra não são categorias vazias de ética livre, mas condições indispensáveis para a constituição de um povo livre e soberano, dono de seu destino.

     A escalada criminosa do governo norte-americano contra Cuba, tanto sob os governos republicano quanto democrata, é uma prova eloquente do que estamos dizendo. A sequência de Eisenhower em 1959 até Biden hoje é uma escada onde cada degrau é testemunha de uma nova e mais flagrante violação dos direitos humanos e da legalidade internacional. Para subjugar Cuba não houve atrocidade que não tenha sido perpetrada. Nada poderia ser mais eloquente como crime contra a humanidade do que a intensificação do bloqueio, incluindo medicamentos e suprimentos médicos de vários tipos, no contexto da mortífera pandemia de Covid-19. Isto retrata a perversão de um poder em estado avançado de putrefação moral e a dignidade de um povo disposto a arriscar suas vidas para defender seu direito à autodeterminação. Portanto, é apropriado parafrasear o grande Federico Fellini e dizer, como o navio naquele filme extraordinário, que "Cuba vai". Feliz 63º aniversário, Cuba!


https://atilioboron.com.ar/cuba-contra-viento-y-marea/

Tradução: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba




 

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