16 de set. de 2024

O NASCIMENTO DA NECESSÁRIA INTERNACIONAL ANTIFASCISTA NA VENEZUELA

                                   

Beto Almeida

O governo Nicolás Maduro, convocou um Congresso Mundial contra o Fascismo, realizado em 10 e 11 de setembro, em Caracas, que decidiu pela formação de uma Internacional Antifascista, aprovada por 1200 delegados, de 95 países, que terá sua direção instalada na capital da Venezuela Bolivariana.

 A decisão, de grande envergadura, é uma resposta à operação fascista mundial, patrocinada pelos EUA, que busca descreditar o resultado da eleição presidencial, realizada em julho de 2024, que reelegeu, pelo voto popular, o presidente Nicolás Maduro. O questionamento do resultado eleitoral venezuelano é parte de uma operação fascista mundial, que inclui a disseminação da russofobia, bem como de práticas políticas neo fascistas instaladas nos países da Otan, que também incluem políticas hostis  contra a China, o Irã, contra Cuba, a Nicarágua Sandinista e também contra a integração latino-americana.


Venezuela sofre ataque cibernético internacional

 No momento em que o Conselho Nacional Eleitoral venezuelano preparava-se para anunciar a totalização dos votos, em 28 de julho passado, o sistema de computadores sofreu ataque cibernético originado no exterior, que veio acompanhado de uma sistemática campanha midiática de largo alcance internacional, espalhando a Fake News de que o candidato da oposição, Edmundo Gonzalez, comprovadamente um ex-agente da CIA, havia vencido a eleição. Era operação desestabilizadora tão sofisticada que, enquanto o CNE estava tecnicamente impedido de apresentar a totalização dos votos, a oposição fascista, apoiada pelos EUA, divulgou seu próprio resultado eleitoral, publicando na internet súmulas eleitorais fraudadas, na qual se registrava a presença de eleitores mortos e até mesmo que o presidente Nicolás Maduro não havia votado em si mesmo. Ato contínuo, a oposição fascista venezuelana lançou mão de ações violentas contra estações de metrô, de clínicas e escolas estatais, incendiando-as. Para produzir a sensação de que haveria convulsão popular e desgoverno, mas a ação da unidade cívico-militar se fez presente e debelou a programada anarquia da direita. Curioso é que há setores da esquerda que querem os bolsonaristas fascistas presos aqui no Brasil, mas protestam contra a prisão de fascistas lá na Venezuela...

Certamente, se a Venezuela não fora possuidora da maior reserva de petróleo do mundo, especialmente na bacia do Rio Orenoco, ainda não explorada, o país não estaria sendo alvo de constantes agressões internacionais, mal chamadas de sanções, quando são ações violentas, nem estaria sendo atingida por 930 medidas que vão desde a proibição da comercialização de petróleo (sua principal economia) até a cruel proibição de importação de remédios quimioterápicos e de insulina. Essas ações coercitivas tiveram início durante o governo de Barack Obama, inacreditável Prêmio Nobel da Paz, em março de 2014. 



Petróleo alavanca democracia social bolivariana

Resistência tem sido a palavra fundamental para o povo venezuelano, enquanto vai, seguidamente, pelo voto popular, respaldando a continuidade e o aprofundamento da Revolução Bolivariana, que, fundamentalmente, consiste na utilização soberana da receita petroleira em favor de programas sociais que já levaram o país, conforme a Cepal, a pagar o maior salário mínimo da América Latina, a universalizar a aposentadoria a todos seus cidadãos, a conquistar 95% de educação pública e gratuita, bem como a erradicação do analfabetismo, como reconheceu a UNESCO, talvez contra sua vontade. Além disso, a renda petroleira alavancou a construção, pelo programa Missão Vivienda, de 5 milhões e 100 mil moradias populares, em prédios erguidos no centro de Caracas e das grandes cidades -  não nas lonjuras da vida - , sendo que as residências já vêm equipadas com geladeira , fogão e móveis indispensáveis para as famílias mais pobres. No Brasil o petróleo pré sal já está desnacionalizado em 70%, segundo a Associacao dos Engenheiros da Petrobrás.

Todo esse processo de justiça social em expansão, ao longo dos 25 anos, foi duramente atacado pelos EUA e países da União Europeia, vassalos dos gringos. Porém, além da resistência protagonizada pelo povo venezuelano, apoiada na original e necessária aliança cívico-militar, arranjo dialético de Hugo Chávez para evitar que se repita lá o golpe que derrubou Allende no Chile, em 1973,  a Revolução Bolivariana também conta com aliados sinceros, entre eles a Rússia, a China e Cuba que, durante a Covid, lhes forneceram as vacinas, já que o FMI, criminosamente, negou ao governo Maduro um crédito de apenas 5 milhões de dólares para a compra dos medicamentos. Isso é para matar um povo! Com uma vacinação que alcançou 100% do público, a Venezuela registrou uma perda de 5 mil vidas, considerada lamentável , mas  reduzida se comparada com os EUA e o Brasil, por exemplo, proporcionalmente às suas respectivas populações. 


Oxigênio bolivariano solidário salvou vidas em Manaus

Mesmo sob privações severas impostas pela Guerra Econômica dos EUA, a Venezuela doou, generosamente, oxigênio solidário à população de Manaus, quando, criminosamente abandonada pelo Governo de Bolsonaro, a capital amazonense se transformara em um dramático cemitério a céu aberto. Ainda não se conhece um sinal de agradecimento do Governo Brasileiro àquela generosa solidariedade bolivariana, que salvou milhares de vidas no Brasil, não passando de calúnia quando algumas vozes na esquerda brasileira se juntam ao bolsonarismo para insultar a Maduro como um ditador que rigorosamente não é.


 Lula viola Constituição com ingerência na Venezuela

Surpreendentemente, o Governo Lula, acompanhado do governo do colombiano Petro, país que tem em seu território 7 bases militares dos EUA, passou  a questionar de forma injustificada os resultados eleitorais da Venezuela, em sintonia com o questionamento de Washington, em posição antagônica ao reconhecimento de Rússia, China e Irâ, à vitória de Nicolás Maduro, acompanhados de mais 50 países, entre eles da Turquia, o primeiro pais da Otan a reconhecer a vitória bolivariana, e , agora, a reivindicar seu ingresso no BRICS, O mundo se move! 

O questionamento brasileiro à soberania eleitoral venezuelana  -  violando a Constituição Cidadã que, em seu preâmbulo, estabelece, como cláusula pétrea, a proibição de ingerência em assuntos internos de outros países e o respeito à autodeterminação dos povos  -   ocorre paralelamente à confirmação de que o Brasil abastece com petróleo a máquina genocida de Israel, levando o presidente Lula a discursos controversos. De um lado, condena, corretamente, o genocídio sionista contra os palestinos em Gaza, mas mantem a remessa do petróleo; é também controverso quando defende a integração da América Latina, mas questiona Venezuela Bolivariana, assediada por guerra econômica, país que poderia ser o mais leal parceiro na obra integracionista regional defendida pelo próprio Lula.

 

Star Link: liberada no Brasil, proibida na Venezuela

O PT, que em nota oficial reconheceu os resultados eleitorais da reeleição de Maduro, não participou, oficialmente, do Congresso Mundial contra o Fascismo, muito embora seja titular no Secretaria Executiva do Foro de São Paulo. Todas estas incoerências e posições controversas dos brasileiros, destoam a solidariedade firmada entre o governo Maduro e o MST, que recebeu 10 mil hectares para produção no sistema de agroecologia, em terras bolivarianas, para onde enviará uma brigada de mil trabalhadores. Se a reforma agrária não avança aqui, avança lá. O mesmo se poderia indagar sobre a posição do governo brasileiro que critica Elon Mursk, mas não suspende a concessão da empresa Star Link, que controla as comunicações militares no Brasil, revelando uma soberania sequestrada, aliás, desde que FHC privatizou e desnacionalizou a Embratel.  Na Venezuela, a empresa Star Link está proibida de se instalar.

O que se espera é que as recomendações contidas no indispensável livro de Samuel Pinheiro Guimarães, “Quinhentos Anos de Periferia”, voltem a guiar as diretrizes do Itamaraty. quando agia de forma verdadeiramente altiva e ativa, sendo que hoje , perigosamente, atua de modo errático e incoerente, pois os objetivos da política externa dos EUA para a América Latina, não comportam uma esperança vaga de colaboração e cooperação com Washington, haja vista as recente declarações hostis e ingerencistas da Generala Laura Richardson, chefe do Comando Sul do Exército estadounidense, afirmando que as riquezas minerais dos países da América Latina são consideradas  reservas estratégicas para o império do norte, acrescentando ser inadmissível, para ela, a soberana cooperação entre Brasil e China!! A resposta contra esta declaração hegemonista da generala veio, energicamente, da Embaixada da China no Brasil, defendendo a soberania da cooperação sino-brasileira. Por que não veio do Itamaraty, que se manteve mudo, e assim, vassalo?

                     

Presidente venezuelano aprova a criação da Primeira Internacional Antifascista


Beto Almeida, jornalista

Conselheiro da ABI

Membro da Rede de Intelectuais em Defesa da Humanidade.


Edição: @comitecarioca21


12 de set. de 2024

A GUERRA CULTURAL DA EXTREMA DIREITA E A CANDIDATA CUBANA DE BOLSONARO

                                            

Por Gustavo Veiga

    Lula e Bolsonaro são os principais candidatos nas eleições de 6 de outubro. As eleições municipais no Brasil não devem mover o perímetro político para além das suas fronteiras.  Mas isso não se verifica porque a extrema direita global sempre ultrapassa os limites, assim como a OTAN

     As eleições para eleger prefeitos e vereadores em São Paulo, no dia 6 de outubro, têm o presidente Lula e Bolsonaro como combate subjacente. Nesta luta pelo controle da principal cidade do país, a extrema-direita conta com os serviços de propaganda de uma jovem influenciadora nascida na ilha. Candidata anticomunista fanática, ela foi investigada pela Justiça por incentivar o golpe de estado de 8 de janeiro de 2023.

   O mundo inteiro é onde ele trava a sua guerra cultural e não apenas num país. É por isso que se joga muito no dia 6 de outubro e principalmente em São Paulo, a cidade mais populosa da América Latina – com área metropolitana superior a 22 milhões de habitantes – onde um aliado de Lula, o psicanalista, professor e ativista de esquerda Guilherme Boulos é o primeiro nas pesquisas seguido por dois apoiadores de Jair Bolsonaro. O atual prefeito, Ricardo Nunes e o ascendente Pablo Marçal.

     Este cenário é propício a uma luta binária, sem cinza, onde a direita expõe a sua dialética macarthista contra o fantasma do comunismo. Para esse setor, ele é encarnado pelo presidente e líder do PSOL que aspira governar a capital do estado mais importante do país.

    São Paulo é um território muito desejável porque Lula e o ex-presidente de extrema direita têm muito em jogo. Bolsonaro está pesando sobre uma decisão do Tribunal Supremo Eleitoral que o declarou inelegível em junho de 2023. Ele não poderá concorrer às eleições gerais de 2026, mas o Bolsonarismo residual lhe sobreviverá e é muito provável que o ex-militar atue como árbitro entre os candidatos para substitui-lo. O líder histórico do PT poderá concorrer à reeleição. Ele está em condições de governar o Brasil pela quarta vez.

     É na disputa pela subjetividade do eleitor paulista que reaparece um país dividido ao meio, como nos tempos do assalto ao Planalto. Dezenas de militantes leais a Bolsonaro continuam detidos pela tomada e destruição da sede do governo em Brasília, outros fugiram para a Argentina onde obtiveram o estatuto de refugiados e todos aguardam uma anistia que não chega.

 

A candidata cubana e Bolsonaro

 

   Naquele ataque de 8 de janeiro de 2023, havia apoiadores do golpe de Estado. Eles realizaram suas tarefas a partir de meios de comunicação ligados à extrema direita. Uma dessas vozes é cubana: a jovem influenciadora Zoe Martínez, naturalizada brasileira. Hoje, vinte meses depois, é candidata a vereadora em São Paulo pelo Partido Liberal. Afilhada política de Michelle Bolsonaro, a ex-primeira-dama foi quem propôs que ela entrasse em suas listas. Ela voltou renovada e recarregada depois de trabalhar na rede Jovem Pan, que foi a mais pró-governo durante a presidência do homem que minimizou a Covid, a ‘gripezinha’.

   Em suas redes sociais onde tem mais de um milhão de seguidores, ousou dizer que “Lula é o homem que mais roubou na história do mundo”. Ou que “o marketing da revolução cubana é muito forte no Brasil”. Por enquanto, as suas declarações confirmam o ódio da extrema direita no mundo virtual. Teremos que esperar mais um pouco para ver se eles também podem afetar a realidade.

    Ela veio de Cuba para o país ainda menina e atrás dos pais. Naquele momento se discutia o impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff. “Amiga de Fidel Castro”, certa vez ela a definiu como se fosse um desdém. Aos 16 anos fez sua primeira postagem nas redes, sempre no mesmo sentido e de forma agressiva, como ela mesma reconheceu. Continuou sua pregação contra a revolução cubana, elogiando Bolsonaro (“Que saudade dele”, chegou a dizer) e agora em defesa do bilionário Elon Musk, em conflito com o governo petista porque o juiz Alexandre de Moraes suspendeu sua licença para. X para operar no Brasil.

   Em 21 de dezembro de 2022, quando a estratégia para dar um golpe de Estado estava incubada com Lula já eleito presidente, ela solicitou publicamente que as Forças Armadas demitissem os ministros do Supremo Tribunal Federal que inclui  Moraes. Não parou por aí. No dia 30 daquele mês, ela postou uma foto com Bolsonaro que dizia na legenda: “Obrigada por tudo, presidente! Você lutou o bom combate. É bom lembrar que só a Marinha esteve com ele, parabéns pela bravura!”

  Entre seus planos confessados ​​nas redes está a realização de um documentário sobre as missões dos médicos cubanos. “Seria muito importante neste ano eleitoral e atacar indiretamente o PT”, confessou em programa no YouTube a outro influenciador cubano e anticomunista fanático: Alexander Otaola Casal, em 8 de fevereiro de 2022.

   Ao contrário de Martínez, que ainda não foi oficialmente identificada em Cuba como desestabilizadora, o seu entrevistador faz parte da Lista Nacional de Terroristas publicada no Diário Oficial nº 83 de 7 de dezembro de 2023. Eles têm um discurso semelhante. Ao falar sobre “a ameaça do comunismo cubano” Otaola Casal acrescenta: “a de Lula e Dilma”. Mas ele faz isso nos Estados Unidos, onde concorreu como candidato a prefeito nas eleições de Miami  no mês passado. O resultado que obteve o deixou de fora. Ele ficou em terceiro lugar, 46 pontos atrás da prefeita reeleita, a democrata Daniella Levine Cava. Foram retumbantes 58% a 12%. E apesar dessa diferença, ele exigiu uma recontagem voto a voto. No dia 6 de outubro é a vez de Martínez, a cubana de Bolsonaro que concorre a um cargo eletivo em São Paulo. A guerra cultural de extrema direita está  sendo travada em várias frentes e inclui críticas ao Papa Francisco e às Nações Unidas porque “eles não fazem nada por Cuba”. Embora desta vez a eleição seja no Brasil.

 

https://cubaenresumen.org/2024/09/12/brasil-la-guerra-cultural-de-la-ultraderecha-y-la-candidata-cubana-de-bolsonaro/

Trad/edição: @comitecarioca21 

                     


10 de set. de 2024

CARTA ABERTA DE IGNACIO RAMONET AO PRESIDENTE BIDEN - Adesões.

                           

   Olá, o nosso amigo e grande escritor Abel Prieto, ex- Ministro da Cultura de Cuba, atual Diretor da Casa das Américas em Havana, e toda a sua equipe estão  fazendo circular esta👇🏽👇🏽👇🏽 “ Carta Aberta ao Presidente Joe Biden ‘ que escrevi para exigir que o presidente dos EUA retire Cuba da infame ’ lista de países patrocinadores do terrorismo ” antes do fim do seu mandato. Por favor, leia-a. 

Se concordarem, assinem. 

E peça às pessoas que conhece para  assinarem também.

Juntos podemos fazê-lo. Cuba e o seu povo heroico precisam e merecem o nosso apoio. 

Enviar nome, sobrenome, profissão ou atividade para o seguinte endereço eletrônico:

casadelasamericas2024@gmail.com

OBRIGADO!

            Ignacio Ramonet




CARTA ABERTA DE  IGNACIO RAMONET AO PRESIDENTE JOE BIDEN

 

“Tire Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo!”

 

 

Ignacio Ramonet

Professor. Escritor. Jornalista

Paris (França)

 

Sr. Joseph R. Biden

Presidente

dos Estados Unidos da América

Washington DC (EUA)

 

 

Senhor Presidente Joe Biden,

 

           O seu mandato presidencial está chegando ao fim dentro de alguns meses. Escrevo-lhe, com o devido respeito, em nome de um número significativo de pessoas, movimentos sociais, sindicatos, associações humanitárias e organizações não governamentais de todo o mundo que assinam esta carta comigo e que esperam um gesto seu para reparar uma profunda injustiça cometida em 12 de janeiro de 2021 pelo seu antecessor, Donald Trump, quando, algumas semanas antes de deixar a Casa Branca, decidiu - sem qualquer base jurídica real - reinserir Cuba na infame lista de Estados Patrocinadores do Terrorismo (lista SSOT em inglês).

 

Senhor Presidente, como o senhor sabe, a lista SSOT é um mecanismo de política externa concebido pela Secretaria de Estado dos EUA (Chancelaria) para sancionar os países que “apoiam repetidamente atos de terrorismo internacional”.

 

Senhor Presidente, num ato de justiça e de lucidez política, a Administração do Presidente Barack Obama, da qual V. Exa. fazia parte, retirou Cuba desta lista desonrosa em 2015. Tratou-se de um passo muito positivo no sentido de estabelecer finalmente uma relação mais construtiva com Havana. Durante a administração de Barack Obama, quando V. Exa. era Vice-Presidente dos Estados Unidos, foi efetivamente possível avançar para uma normalização das relações diplomáticas entre dois vizinhos com sistemas políticos diferentes, mas dispostos a  se entenderem com base no respeito mútuo.

 

Senhor Presidente, o senhor não ignora que Cuba sempre denunciou e combateu o terrorismo. Nunca o encorajou ou patrocinou. Nunca o praticou. Durante 65 anos, apesar das tensões que possam ter existido entre os Estados Unidos e Cuba, não se pode citar um único caso de ação violenta em território estadunidense que tenha sido patrocinada, direta ou indiretamente, por Havana. Nem um único caso! Por outro lado, Cuba tem sido um dos países mais atacados por organizações terroristas. Mais de 3 500 cidadãos cubanos morreram em atentados cometidos por grupos terroristas financiados, armados e treinados por organizações violentas sediadas, na sua maioria, nos Estados Unidos. Em outras palavras, é o mundo de pernas para o ar. E o senhor Presidente o sabe.

 

Senhor Presidente, também não ignora que, ao ter incluído Cuba - injustamente - nessa lista SSOT, estão sendo aplicadas numerosas e dolorosas medidas coercitivas unilaterais a este país e a toda a sua população inocente. As consequências mais atrozes derivam do risco associado a qualquer tipo de ajuda humanitária, negócio, investimento e comércio que envolva Cuba e, por extensão, os seus cidadãos. Por exemplo, foi negada aos cubanos de nacionalidade estrangeira que se qualificam para uma isenção do Sistema Eletrônico de Autorização de Viagem (ESTA, em inglês) para viajar para os Estados Unidos. Os cubanos residentes na União Europeia viram as suas contas bancárias encerradas porque o seu país consta da lista SSOT e tornam-se automaticamente “clientes de alto risco”. Muitos grupos religiosos viram os seus fundos congelados e os envios de ajuda humanitária para a ilha bloqueados. As pessoas que tentam transferir dinheiro através do PayPal ou da Wise para membros da família em Cuba podem ver os seus fundos congelados e as suas contas bloqueadas. A maioria dos bancos recusa-se a processar pagamentos cubanos, tendo mesmo congelado somas de dinheiro destinadas a atividades humanitárias. A presença de Cuba nesta lista SSOT limita, para os particulares, a abertura de contas bancárias no estrangeiro, a utilização de instrumentos de cobranças e pagamentos internacionais, o acesso à banca digital, a contratação de servidores e serviços em linha e mil outros impedimentos.

 

Senhor Presidente, a inclusão de Cuba na lista SSOT significa também que os viajantes estrangeiros de países incluídos no ESTA que desejem visitar Cuba devem solicitar um visto especial no Consulado Geral da Embaixada dos EUA no seu país de origem. Esta política, implementada pela sua Administração, tem um impacto desastroso na indústria do turismo de Cuba, um setor de importância decisiva para a frágil economia da ilha.

 

Senhor Presidente, como p senhor sabe, tudo isto vem juntar-se às terríveis consequências do cruel e ilegal bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba que o Governo do seu país mantém há mais de 60 anos - ignorando a posição clara da comunidade internacional e as sucessivas resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas - com o objetivo de criar uma situação de escassez e descontentamento entre a população que conduza a protestos contra as autoridades cubanas.

 

Senhor Presidente, este desígnio agressivo, que tem causado tanta dor e tanta provação à população civil inocente de Cuba, atingiu proporções desumanamente punitivas na última década - como a sua própria mulher, Jill Biden, pôde confirmar durante a sua visita à ilha em outubro de 2016. O povo cubano não tem acesso a muitos bens e recursos básicos: medicamentos, alimentos, materiais de construção, fertilizantes, energia, maquinaria industrial, peças sobressalentes que não podem ser importadas porque Cuba está na lista. A atual onda de migração de expatriados cubanos para os Estados Unidos, sem precedentes na sua magnitude, é talvez o exemplo mais ilustrativo do impacto devastador e do sofrimento causado pelas medidas extremas e brutais contra a economia cubana, resultantes tanto do bloqueio criminoso como da injusta inclusão de Cuba na infame lista SSOT.

 

Senhor Presidente, o senhor tampouco ignora que, em maio de 2024, o Departamento de Estado tomou a decisão de retirar Cuba da lista dos "Estados que não cooperam na luta contra o terrorismo". Uma decisão correta e justa. Apesar disso, e de forma contraditória, incongruente, confusa e injustificável, a vossa Administração insiste em manter Cuba na lista SSOT, a lista de Estados patrocinadores do terrorismo. Como é possível afirmar, ao mesmo tempo, que Cuba coopera na luta global contra o terrorismo e, simultaneamente, acusar Havana de patrocinar abertamente o terrorismo? A melhor maneira de esclarecer esta contradição é retirar imediatamente Cuba da lista SSOT.

 

Senhor Presidente, Cuba não é um patrocinador do terrorismo. Pelo contrário, Cuba é um patrocinador da paz. E o senhor o sabe. Porque certamente se recorda que, quando era Vice-Presidente dos Estados Unidos, em 2016, foram assinados em Havana os Acordos de Paz entre o Estado da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), naquele momento consideradas uma “organização terrorista”, que puseram fim a mais de meio século de guerra e massacres, e que até valeram ao Presidente colombiano Juan Manuel Santos o Prémio Nobel da Paz. Isto não teria sido possível sem a ativa participação diplomática do governo cubano.

 

Senhor Presidente, essa pacificação foi tão impressionante que, a partir de 2018, o governo colombiano do Presidente Juan Manuel Santos pediu a Cuba que acolhesse um processo de conversações com os líderes de outra organização armada, o Exército de Libertação Nacional (ELN), após a decisão do Equador de recusar acolher as conversações. Como se recordam, estas conversações com o ELN foram interrompidas na sequência de um hediondo atentado com carro-bomba em Bogotá, em 2019, que destruiu uma academia de polícia causando numerosas vítimas e foi reivindicado pelo ELN.

Senhor Presidente, na sequência dessa tragédia, o Governo de Iván Duque solicitou a extradição para a Colômbia de dirigentes do ELN que, protegidos por um estatuto diplomático especial, se encontravam em Cuba para negociações de paz. Havana não pôde aceder a esse pedido. De fato, os acordos diplomáticos internacionais não o permitem, uma vez que a extradição violaria os protocolos estabelecidos como garante das conversações de paz entre o ELN e o governo colombiano. A Noruega, outro dos principais garantes das conversações de paz, concordou plenamente com a posição de Havana, tal como a grande maioria dos governos. No entanto, esta rejeição legítima de Havana foi o pretexto utilizado pelo seu antecessor Donald Trump, em janeiro de 2021, para voltar a colocar Cuba na abominável lista SSOT.

 

Senhor Presidente, Cuba não deixou de promover a paz. Prova disso é que, em 2022, Gustavo Petro, o novo Presidente da Colômbia, anunciou que o pedido de extradição dos líderes do ELN seria retirado como parte da sua iniciativa de “paz total”. Havana, por sua vez, aceitou voltar a acolher e garantir as conversações de paz entre Bogotá e o ELN. Como o senhor sabe, graças à mediação de Cuba, em 9 de junho de 2023, em Havana, o Presidente Gustavo Petro e Antonio García, comandante da guerrilha do ELN, apertaram as mãos numa reunião em que acordaram, pela primeira vez, um ponto da agenda acordada e um cessar-fogo bilateral que constitui um passo histórico para o silenciamento das armas e a paz definitiva na Colômbia. Este cessar-fogo, aliás, foi renovado em Havana seis meses depois, após esforços cruciais do governo cubano. Meses mais tarde, Cuba aceitou uma nova proposta do Governo colombiano para ser o garante e a sede alternativa de outro processo de paz, desta vez com o grupo rebelde armado Segunda Marquetalia.

 

Senhor Presidente, Cuba não é apenas um promotor da paz, é também, como nenhum outro país do mundo, um promotor da saúde. Nos últimos vinte anos, Havana enviou mais de 600 000 profissionais e técnicos de saúde para cerca de 165 países. Isto significou aliviar o sofrimento de muitos doentes e salvar a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.

 

Senhor Presidente, Cuba não é apenas um promotor da paz e da saúde, mas, como nenhum outro país, também promove a educação, como foi amplamente reconhecido pela própria UNESCO. Milhares de professores e professoras cubanos trabalharam em dezenas de países para combater o analfabetismo e incentivar milhões de crianças a frequentar a escola. Isto é exatamente o contrário de “promover o terrorismo”......

 

Sr. Presidente, em 2021, pouco depois de se ter mudado para a Casa Branca, vários altos funcionários da sua Administração prometeram rever a inclusão de Cuba na lista SSOT. Em outubro de 2022, o seu próprio Secretário de Estado, Anthony Blinken, reiterou essa promessa. Em 2023, quarenta e seis congressistas, muitos deles democratas, enviaram-lhe uma carta pedindo-lhe que mantivesse essa promessa. Em junho de 2024, na 56ª sessão do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, numa declaração conjunta, nada menos do que 123 países exigiram o mesmo do seu governo. Mas, apesar destas promessas e destes importantes pedidos, V. Exa. ainda não fez nada para pôr termo a esta escandalosa injustiça.

 

Senhor Presidente, esta situação tem de acabar. O senhor o sabe. Não há um único argumento válido e razoável para acusar Cuba e manter a sua população sob uma punição coletiva ilegal e desumana. Vossa Excelência tem autoridade para, antes de deixar a Casa Branca, corrigir este cruel absurdo e retirar Cuba da lista SSOT. Faça-o já!

 

Na esperança de que o senhor, Senhor Presidente, saiba estar à altura deste momento histórico e atenda a este pedido, despeço-me respeitosamente de Vossa Excelência,

 

      Ignacio Ramonet



Em espanhol :

https://www.juventudrebelde.cu/internacionales/2024-09-06/carta-abierta-de-ignacio-ramonet-al-presidente-de-estados-unidos-joseph-r-biden

@comitecarioca21            

4 de set. de 2024

CUBA : COMEÇA A JORNADA PELA PAZ, CONTRA O BLOQUEIO E O TERRORISMO

                                     


Yaimi Ravelo 

   Havana, 3 de setembro de 2024.- O Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP) iniciou nesta terça-feira a Jonada pela Paz, contra o Bloqueio e o Terrorismo, que terminará em novembro com a votação na ONU da resolução que condena o Bloqueio dos Estados Unidos a Cuba.

     O contexto em que a Jornada acontecerá em 2024 é marcado pela expansão do fascismo no mundo.

    O contínuo genocídio do Estado sionista de “Israel” contra o povo palestino, os ataques à democracia e à soberania dos países que se opõem à hegemonia imperialista, a política de bloqueios e de guerra econõmica contra países como a Venezuela, Cuba e Nicarágua que mantêm na sua região uma postura de dignidade e resistência face à interferência estrangeira e ao desrespeito pelo direito internacional.

   Um programa de atividades em apoio às causas mais justas defendidas pela humanidade foi apresentado na conferência de imprensa oferecida pelo ICAP aos meios de comunicação nacionais e estrangeiros na sede da instituição cubana.

  “Este evento – que fazemos regularmente todos os anos – para esta ocasião terá ações de maior magnitude”, afirmou Víctor Gaute López, vice-presidente do ICAP, “ com destaque para um conjunto de atividades de grande impacto nacional e internacional. ”

  A Jornada inicia suas atividades como tradicionalmente no dia 4 de setembro, com a homenagem a Fabio Di Celmo pelos 27 anos de seu assassinato no atentado terrorista ao Hotel Copacabana.

     A diretora de comunicações do ICAP, Tamara Velázquez López, lembrou que “o assassinato do jovem italiano, vítima dos ataques terroristas orquestrados pelos EUA contra Cuba, é um exemplo da política externa hipócrita dos EUA ao incluir a ilha numa lista de ‘estados patrocinadores’. do terrorismo', quando é o povo de Cuba quem sofre todos os tipos de ataques há mais de 60 anos."

     Portanto, um dos objetivos fundamentais para este dia será a celebração da Jornada  Internacional pela Paz, a condenação do bloqueio genocida dos EUA e a inclusão injustificada de Cuba na Lista dos Estados Patrocinadores do Terrorismo.

    Este ano, dedicamos também ao Jornada ao povo irmão da Palestina e ao triste aniversário da escalada genocida na Faixa de Gaza ”, com mais de 40 mil vítimas dos crimes de guerra mais horrendos da história da humanidade.

   Segundo a especialista em comunicação, as atividades serão realizadas na capital e em todo o país, “nas quais estarão envolvidas as delegações provinciais do ICAP”.

   Além disso, como também acontece tradicionalmente, inclui as atividades da Jornada de Solidariedade com Porto Rico.

                              


    Entre as atividades, serão realizados debates de cinema, conferências e atos de solidariedade, além de ações em espaço virtual como o Tweet convocado para o dia 21 de setembro para a Jornada Internacional da Paz, dedicada à Palestina. O Dia Mundial da Solidariedade com Cuba também será celebrado nas redes sociais −no dia 10 de outubro.

    No cenário internacional, o movimento de solidariedade com Cuba também se juntará à Jornada  com importantes atividades exigindo o fim do bloqueio e a exclusão de Cuba da lista unilateral dos EUA de Estados Patrocinadores do Terrorismo, por exemplo, o Protesto virtual de 24 horas pelo fim do bloqueio organizado pelo Comitê de Normalização EUA-Cuba.

    É uma jornada que constitui também um momento de recordação do que tem sido a história da resistência do povo cubano, vítima do terrorismo, e do compromisso da nossa nação com as causas justas, a liberdade dos povos irmãos, a paz e o respeito pela soberania. e autodeterminação de todos os países.


                         

            Outros eventos importantes do Movimento de Solidariedade a Cuba :

  - O evento internacional para celebrar a Jornada Mundial pela Paz, de 18 a 25 de setembro, convocado pela Associação do Povo Chinês para a Paz e o Desarmamento sob o nome "Persistir no futuro compartilhado e construir conjuntamente um mundo de coexistência pacífica".

 - XVII Encontro Estadual de Solidariedade com Cuba: “Cuba é Dignidade”, em Torremolinos. De 4 a 6 de outubro de 2024.

 - 10º Encontro Regional Ásia-Pacífico de Solidariedade com Cuba, em Pequim, China. De 28 a 31 de outubro, com a participação de 90 delegados da região. Países confirmados: China, Vietnam, Laos, Camboja, Índia, Nepal, Bangladesh, Sri Lanka, Timor Leste, Singapura, Fiji, Coreia do Sul, Austrália e Filipinas.

  - XIX Encontro Europeu de Solidariedade com Cuba, que acontecerá de 22 a 24 de novembro de 2024 em Paris, França.

 - O diretor do departamento europeu do ICAP, Rigoberto Zarza, informou que de 4 a 6 de outubro acontecerá na Espanha um encontro de solidariedade com Cuba de grande importância na luta contra o bloqueio e a causa cubana.

  Será exibido o documentário Culpables , produzido e dirigido pelo Resumen Latinoamericano. Em 59 minutos, o filme registra o veredicto e os principais depoimentos ocorridos no Tribunal Internacional Contra o Bloqueio realizado no Parlamento Europeu, em novembro de 2023.

 “ Este documentário servirá como ferramenta para quebrar padrões e continuar apoiando a luta contra o bloqueio, alcançando novos setores. O tribunal mostrou-nos que há pessoas que, sem serem socialistas ou comunistas, estão dispostas a lutar do ponto de vista jurídico e devemos explorar mais isso com o movimento de solidariedade, é um sentido mais amplo de luta ”, apelou o responsável cubano. .

   O diretor europeu do ICAP destacou também o 19º Encontro Continental de Solidariedade com Cuba que acontecerá em Paris, França, de 22 a 24 de novembro deste ano.

   A coletiva de imprensa oferecida pelo Instituto Cubano de Amizade com os Povos também foi presidida por Lilia Zamora, diretora para a América Latina, e Yahimí Rodríguez, diretor para a África. Ambos os responsáveis ​​destacaram as principais atividades que envolvem os movimentos de solidariedade dos países que compõem estes continentes, que são hoje protagonistas da guerra contra o imperialismo, do genocídio e da primeira linha de combate à nova onda do fascismo.

                                                   


                                               

                                                   CONVOCATÓRIA

 

Às pessoas de boa vontade:

Do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP)

apelamos a todas as regiões do mundo para que se associem à

Jornada pela Paz, contra o Bloqueio e o Terrorismo, que terá lugar

de 4 de setembro até a votação, na Assembleia Geral das Nações Unidas sobre o projeto de resolução relativo à necessidade de pôr fim ao bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba. Em tempos  em que é urgente defender a paz, perante o que parece ser um

um cenário que parece propício a uma nova conflagração mundial, esta jornada  é uma oportunidade para para nos unirmos em torno dos princípios fundamentais  que regem a nossa humanidade: justiça, equidade e respeito mútuo.

Temos motivações especiais para este apelo.

A mais inadiável é, sem dúvida, a cessação imediata do genocídio  pelo Estado sionista de Israel contra o povo irmão da Palestina, com a cumplicidade dos seus parceiros ocidentais.

Da mesma forma também urgente é a necessidade de pôr fim ao bloqueio dos EUA contra Cuba, que há mais de seis décadas tem causado sofrimentos incalculáveis ao nosso povo e que continua a  sufocar as nossas possibilidades de desenvolvimento e a limitar o nosso livre gozo dos direitos humanos.

O bloqueio é, em si mesmo, um ato de guerra e de terror. No entanto, com o seu cinismo caraterístico, na sua ânsia de subjugar o nosso povo, os Estados Unidos designaram unilateralmente o nosso país como Estado patrocinador do terrorismo, acrescentando uma carga adicional à sufocante teia de medidas que impedem o normal desempenho da nossa nação.

Nós, cubanos, sofremos na própria carne  a dor do terrorismo de Estado impulsionado pelo ódio imperial.

Tal designação é uma vil mentira que procura desacreditar o prestígio que a Revolução conquistou ao demonstrar o seu compromisso com a paz e a cooperação internacional.

Com estes três motivos, apelamos à solidariedade, a unirmo-nos nas mais variadas ações de sensibilização em espaços físicos e virtuais, manifestações, fóruns, debates, atividades culturais, e qualquer outra

 iniciativa que possamos promover. Cada ação conta, cada voz

é importante. Juntos podemos contribuir para a construção de um mundo mais justo, onde prevaleça o respeito pelos direitos humanos e pela dignidade de todos os povos.

A luta pela paz é universal, e juntos podemos fazer ecoar a nossa voz por um futuro sem bloqueio nem terrorismo.

Por uma Palestina livre!

Por uma Cuba sem bloqueio!

Por um futuro de paz e soberania !

 

Instituto Cubano de Amizade com os Povos  (ICAP)

 


https://cubaenresumen.org/2024/09/03/cuba-inicia-jornada-por-la-paz-contra-el-bloqueo-y-el-terrorismo/

@comitecarioca21 

https://www.prensalatina.com.br/2024/09/04/comecou-a-jornada-pela-paz-contra-o-bloqueio-a-cuba-e-o-terrorismo/

                                      

2 de set. de 2024

SE A VERDADE OS MATA, DEIXEM QUE MORRAM.

"Um mundo melhor é possível".
 Ana Hurtado 

   Nós. Nós, os revolucionários, em Cuba e no mundo, se há uma coisa que devemos ter, é clareza. O inimigo muda, o contexto muda, mas por detrás dele está sempre o mesmo: derrubar a Revolução Cubana.

   Eles querem Cuba porque não a podem ter. Porque sabem que, por mais que tentem sujá-lo, o socialismo funciona. Funciona há 65 anos, apesar de um bloqueio que sufoca um povo, que desde o primeiro momento querem matar de fome.

   Assim já disse Lester Mallori: “o povo ama Castro” e assim continua sendo. Um amor e uma admiração mais fortes do que um séquito de espartanos.

   Não é novidade para ninguém que o império não quer que o povo saiba que existem alternativas. Em que o ser humano está no centro e importa mais do que o dinheiro e as posses. Alternativas tão perigosas para o imperialismo que tentam destruí-las e não conseguem porque uma coisa é certa: o povo tem a força em qualquer situação e de qualquer calibre.

    O subcomandante Marcos dizia que era subcomandante porque o povo era o comandante. Que o povo ordenasse e ali ele estaria, ao seu serviço. Numa manhã gloriosa de 1 de janeiro de 1994, o mundo acordou com a notícia da sublevação do Exército Zapatista de Libertação Nacional em Chiapas.

   Constituído maioritariamente por membros de povos originários, o EZLN não aceitou a nova entrada em vigor do Tratado de Comércio Livre da América do Norte.

   O que é que ia ser dos pobres da terra, aos camponeses e dos proletários?

   No dia 1 de janeiro, tomaram San Cristóbal de las Casas, entre outros locais, e declararam guerra ao Estado mexicano. Após doze dias de combate, começaram a falar com o governo através do diálogo e, mais tarde - o movimento zapatista no final do século XX -, acabaram por abandonar as armas. Para se empenharem pacificamente na transformação da realidade, promovendo mudanças e melhorias sociais.

    Muitos movimentos de esquerda em todo o mundo se entusiasmaram com esta revolução de doze dias. Tornou-se atrativa e até influenciou uma série de lutas posteriores. É, sem dúvida, um movimento a admirar, mas, na minha opinião, sem me aprofundar demasiado na natureza do EZLN, compará-lo-ia ao que considero ser uma verdadeira revolução.

    Para revolucionar ou transformar algo, é preciso ter prioridades e convicções claras. É preciso ter uma liderança forte e nunca perder o ânimo. Durante os meus anos de universidade, interessei-me muito por este fenômeno e por aquele 1 de janeiro de 1994.

   Mas cheguei a uma conclusão: eles queriam passar do particular para o geral. O objetivo último (e meritório) que tinham era a transformação revolucionária num México socialista.

    E o fato é que quando se vai mudar alguma coisa, tem de se aspirar desde o primeiro momento à maior mudança, deixando claro o manifesto de ideias. Temos que pedir tudo. Não se pode salvar um quilo de maçãs se uma estiver  apodrecendo e as partes más estiverem  sendo cortadas. É preciso arrancar a que está podre pela raiz, mesmo que a percamos, porque ela estragará lentamente as outras.

    As revoluções, quando se dá um passo firme, devem ser feitas aqui e agora.

                    

O capitalismo não funciona. A vida é outra coisa. 

    Foi uma pena que Marcos e o seu povo não tenham conseguido o que queriam, uma desilusão talvez para muitos. Mas se esquecem que Cuba ainda existe e é para lá que temos de olhar.

   O mundo  assiste ao aparecimento de esquerdas repugnantes. Projetos políticos que ficarão na latrina da história como traidores dos povos vítimas do capitalismo mais selvagem. Povos que mancham a memória daqueles que deram a vida antes deles.

   E o império sabe. Sabe que a única coisa que não pode controlar, supervisionar ou derrotar é o socialismo. Onde está o socialismo? Está em Cuba.

    Com coisas a aperfeiçoar, com erros a melhorar, mas está lá. Não se ajoelha perante nenhum desígnio imperial e avança, com uma corda ao pescoço, mas avança.

    E o socialismo não é uma ideia nacional, é uma ideia internacional. Por isso, é uma obrigação ética e moral apoiá-lo se nos sentirmos revolucionários, em qualquer geografia.  É uma obrigação assumir as consequências de se defender. É também uma obrigação não esquecer o inimigo. Um inimigo que vem sofrendo mutações, se transformando, se camuflando. Mas é tão constante quanto a força e a resistência deste povo.

    Porque a Revolução é o acesso social dos indivíduos. É a esperança de que vale a pena lutar por algo melhor. Se as pessoas sentem que já não têm acesso social, se desinteressam pela política e passam a consumir conteúdos banais nas suas vidas que o império coloca nas agendas dos povos de outros países. As suas aspirações mudam, os seus objetivos tornam-se medíocres. Deixam de pensar. E o pensamento é o que prejudica a hegemonia. Pensar é a guerra que precisa de ser travada.

     Quando as pessoas fazem parte de um sistema participativo, isso gera um nível de consciência nas pessoas que é a principal arma contra a derrota por agentes externos. Foi isso que a Revolução Cubana conseguiu nos seus primeiros anos.

   Reforçou a imaginação do povo, o seu espectro de aspirações e colocou a dignidade individual e geral como escudo.

    A dignidade não é quantificável, ou pelo menos é difícil de quantificar. Mas quando a temos, se nota de longe.

    Quando a temos e começamos a senti-la, começamos a pensar de forma diferente sobre nós próprios, sobre a sociedade e a valorizar as nossas capacidades como pessoa, como elemento de transformação.

    Temos de atingir um nível de consciência que nos permita compreender que a vida não é apenas a nossa ideologia ou a forma como pensamos. Mas sim a forma como colocamos em prática essa ideologia e como nos comportamos.

    Saber que ter um emprego não é apenas para comer e vestir, mas para poder participar na e com a sociedade. Sermos autônomos como homens e mulheres. E sermos livres para pensar.

    Saber também que a liberdade não é apenas ação, mas disciplina para  poder exercê-la  sem prejudicar o que nos rodeia.

    O socialismo sabe tudo isso, mesmo que ainda tenha um longo caminho a percorrer. Não é um caminho de anos, talvez de séculos. Basta querer estar dentro para podermos ser agentes de transformação do injusto, do hegemônico. Da mentira.

    Porque acima de tudo temos a verdade, uma interpretação humana da realidade que, embora possa não ser absoluta, é a verdade dos pobres e dos humildes.

   E como pensava o filósofo alemão Immanuel Kant, se a verdade os mata, vamos deixá-los morrer com ela e por causa dela.

 

http://www.cubadebate.cu/opinion/2024/09/02/si-la-verdad-los-mata-dejalos-que-mueran/ em ResumenLatinoamericano 

@comitecarioca21