Por Marcia Choueri*
Desde o dia 12 de outubro, a maior parte das províncias
de Cuba entrou na fase da nova normalidade. Apenas três ainda não chegaram a
esse momento em relação à pandemia da Covid-19: Ciego de Ávila e Sancti
Spíritus, consideradas em fase de transmissão autóctone, e Havana, que está na
terceira fase da etapa de recuperação.
Num rápido resumo, já em dezembro de 2019, o país emitiu
um alerta, pelo Sistema de Vigilância de Saúde, relacionado com o aparecimento
de uma enfermidade desconhecida na China; em 30 de janeiro de 2020, quando a
Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o novo coronavírus como uma
emergência de saúde pública internacional, Cuba aprovou o primeiro plano de
prevenção e controle para o enfrentamento da pandemia. Naquele momento, já
havia no mundo mais de 118.600 pessoas positivas para o vírus, 4.292
falecimentos por essa causa, e 109 países registravam casos.
Desde o primeiro momento, a elaboração aqui de medidas de
enfrentamento da enfermidade teve em conta os indicadores internacionais, a
experiência do país, o critério de peritos e profissionais do setor e,
sobretudo, a premissa fundamental do sistema cubano, que é preservar a saúde do
povo.
Graças a isso, após ter conseguido diminuir o número de
contágios e de positivos que apresentava no mês de abril, pico da primeira
onda, Cuba já venceu a segunda onda, que se manifestou a partir de
julho/agosto. Essa vitória é resultado de uma estratégia firme e bem definida,
de atendimento a todos os casos, isolamento dos contatos e suspeitos e aumento
substancial dos testes realizados, inclusive com a abertura de vários
laboratórios dedicados ao processamento de provas de PCR. Além disso, durante
esse tempo, o protocolo de tratamento foi sendo alterado, a partir da
observação e análise dos casos e do acompanhamento de resultados em outros
países.
Enquanto o mundo declara mais de um milhão de mortes pela
doença, e a América Latina, mais de meio milhão – números que os especialistas
reconhecem que estão subnotificados, Cuba teve, até o momento, 123 óbitos pela
Covid-19. A taxa de letalidade mundial é de 2,9, a das Américas é de 3,3, e a
de Cuba, 2,07. No mundo, a porcentagem de enfermos recuperados é de 75%, na
América, apenas 65%, e em Cuba é de 91%.
Em sua participação no programa Mesa Redonda, o
Presidente Díaz-Canel lembrou também que aqui 100% dos casos foram atendidos em
hospitais, e que nenhuma unidade de atendimento entrou em colapso por isso.
Destacou outros indicadores que avalizam o sistema de saúde e a estratégia
cubana de enfrentamento da Covid-19: não se registrou nenhum falecimento de
crianças, de grávidas ou profissionais da saúde.
E frente a esses resultados, perguntou:
“Tem lógica seguirmos com tantas restrições, ou será mais
inteligente estabelecer uma estratégia para ir convivendo com a enfermidade, ir
reanimando as atividades econômicas e sociais, ir fortalecendo os protocolos e
ir aspirando à nova normalidade, com um mínimo de risco, se fizermos bem as
coisas?”
“Em Cuba – disse ele -, a vida é o principal tesouro,
portanto todos estamos chamados a mudar algumas maneiras de agir, para conviver
com a enfermidade com o menor risco possível.
Para ele, agora é um momento para maior participação do
povo, de responsabilidade compartilhada, na esfera individual, familiar,
coletiva e social.
O novo plano de enfrentamento à Covid-19 tem três
objetivos :
- Transitar
para uma nova normalidade, de maneira gradual e assimétrica.
- Mitigar
o impacto econômico e social causado pela Covid-19 e pelo recrudescimento
do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelo governo dos
EUA.
- Desenvolver
a capacidade de enfrentar os eventos que ocorram na nova normalidade, o
que implicará que, se ocorrer algum evento de transmissão em uma
localidade, serão aplicados todos os protocolos de Saúde e de quarentena
nessa quadra, nesse quarteirão, sem deter a vida econômica e social do
município ou da província.
Cuba está em um momento
econômico delicado. Além dos efeitos negativos que o mundo todo está sofrendo, em consequência da brusca e radical
redução das atividades como efeito da pandemia, o país enfrenta um
recrudescimento do bloqueio imposto pelo governo Trump, especialmente neste
período prévio às eleições norte-americanas, e mais a necessidade inadiável de
colocar em vigor medidas de ordenamento do sistema econômico, medidas estas que
provocarão mudanças profundas nas relações comerciais internas e externas, e em
outros aspectos da vida da população.
Esse ordenamento atende à implementação
dos acordos definidos no Congresso do Partido e já se sabe que será amplo. Para
um melhor resultado, as medidas a serem implementadas estão sendo explicadas em
detalhes a toda a população, através dos programas diários da Mesa Redonda pela
televisão.
Ainda não há datas precisas, mas
sabe-se que o início será a curto prazo, e que o ordenamento inclui mudanças na
estrutura monetária e cambial, nos salários e preços, nos impostos, subsídios e
gratuidades. Por outro lado, o Presidente já assegurou que o socialismo de Cuba
exclui a aplicação de terapias de choque.
Encerro por aqui, dizendo: para uma brasileira que passou por tantos planos econômicos e mudanças cambiais, de surpresa, da noite para o dia, e dos quais só se beneficiaram quase sempre os de sempre, acompanhar este processo está sendo muito interessante e didático. A cada dia, aprendo que é possível uma vida decente e digna fora do capitalismo neoliberal imposto à maior parte da humanidade.
*Márcia Choueri é brasileira, tradutora e residente em Cuba.
Reconhecendo as diferenças entre um sistema político voltado para o humano e outro, essencialmente para o desenvolvimento do capital, como no Brasil, há idiossincrasias profundas entre esses dois países,. Cuba deve ser 1(25 a extensão territorial do Brasil e uma população vinte vezes menor, o regime autocrático também facilita a implementação e coordenação de uma política pública voltada a calamidade publica urgente. A análise não pode, nem deve ser tão simplista assim
ResponderExcluir