AOS 53 ANOS DO ASSASSINATO
DO CHE GUEVARA
Tirso W. Sáenz
..não há nada que eduque mais um homem que viver dentro de uma revolução
Ernesto Che Guevara
Este ano, em 8 de outubro se completarão 53 anos da assassinato de uma das figuras mais relevantes da história da América Latina e do Terceiro Mundo: Ernesto “Che” Guevara. Che morreu na Bolívia, lutando numa guerrilha em prol dos seus ideais mais puros - conseguir libertar os povos latino-americanos das ferozes ditaduras, amparadas e apoiadas amplamente pelo governo norte-americano, que os oprimiam e abrir para eles novos caminhos de justiça social e prosperidade.
Precisamente, nessa última faceta
de Ministro é que eu conheci o Che e pensei que seria útil apresentá-la na
forma de um livro[1],
por ser menos conhecida ao leitor brasileiro. Na vida e obra do Che há aspectos
que não são tão divulgados quanto seu papel como guerrilheiro e que podem
contribuir para uma melhor compreensão da sua multifacetada pessoalidade. Para
esse livro, foi uma grande honra contar com um belo prefácio escrito por Frei
Betto.
No livro, abordo a etapa da vida
do Che como ministro, com a minha visão e percepção, forjadas em minha
experiência pessoal, no trabalho cotidiano com o Che enquanto Ministro de
Indústrias. Tratei de ressaltar os ingentes esforços que ele realizou com
vistas ao desenvolvimento industrial cubano; a luta diária para resolver os
problemas da produção num país bloqueado e agredido conjugada com sua visão
estratégica, integradora e de organização; as concepções claras e a ação
consequente no que se refere à importância do desenvolvimento da ciência e a
tecnologia; a ênfase na capacitação e no desenvolvimento e tratamento adequado
dos quadros dirigentes, seus métodos e estilos de direção. Busquei apresentar o
Che em diferentes facetas da sua pessoalidade: o Che cotidiano, o ministro, o
chefe, o amigo, o companheiro. Um Che vivo, construtor de sonhos e de
realidades.
Para
se ter uma compreensão maior do seu trabalho, apresentei também o entorno, o
contexto cubano e internacional no qual o Che desenvolvia suas atividades
naquele período.
Considero
que, nessa dimensão, aparece um Che mais próximo ao leitor. Se a luta
guerrilheira merece e merecerá sempre nosso respeito e admiração, não é menos
importante mostrar como as idéias que sustentavam sua luta se refletiam e
moldavam a ação concreta. A vida dentro de um ministério, de suas empresas,
suas fábricas; seus problemas, as discussões com os trabalhadores, o trabalho
voluntário, as agressões imperialistas, e todas aquelas ações desenvolvidas
pelo Che, em que o povo foi um ator direto, são fatos nos quais muitos leitores
encontrarão paralelos e até coincidências com suas próprias experiências. Nesse
sentido, considerei que minhas impressões pessoais sobre o Che poderiam ser não
só um material histórico – que certamente o são -, mas também uma leitura de
referência para os que se preocupam com os problemas atuais e futuros de um
mundo cada vez mais, infelizmente, unipolar e cheio de injustiças sociais.
Não
pretendi apresentar uma biografia do Comandante Ernesto Che Guevara. Muitas
biografias foram escritas. Em várias, há uma posição de confronto aberto ou
velado à Revolução Cubana, predominando a falta de objetividade e o
sensacionalismo. Em outras, ainda que sua pessoa seja tratada com o maior
respeito e objetividade, não se aborda de forma extensiva e integral seu
trabalho como construtor de uma nova sociedade, particularmente seu papel à
frente da indústria cubana.
Sempre
considerei muito importante destacar a relevância do impulso dado por Che ao
desenvolvimento científico-tecnológico. Porém, sabia que esse aspecto era
apenas uma parte de todas as suas atividades criadoras e frutíferas no próprio
Ministério, as quais eu tive o privilégio de viver de perto. Assim, pensei que
era necessário escrever sobre o Che multifacetado e, ao mesmo tempo, integral
que eu conheci como ministro.
Ao meditar sobre aquela etapa e recordar muitos fatos e casos, pensei
também na utilidade de divulgá-los, dada a vigência e atualidade do pensamento
e ação do Che como Ministro, como construtor de uma nova sociedade em condições
altamente complexas e difíceis.
Além
disso, considerei que era útil resgatar parte da memória histórica do período,
particularmente aqueles aspectos mais internos do Ministério.
Vários
amigos insistiram na utilidade de apresentar uma imagem do Che através da visão
e percepção de um jovem, que, sem ter sido revolucionário, entrou no processo
revolucionário para trabalhar com o Comandante Guevara, com toda a carga de um
processo de formação social, cultural e político influenciado por diferentes
vetores contraditórios. Em suma, sob
uma ótica pessoal, explicar esse complexo processo revolucionário ocorrido em
Cuba, de mudanças amplas, profundas e radicais, bem como os conflitos e
transformações em que estavam envolvidas pessoas como o autor que trabalhavam
junto a figuras de tão relevante dimensão revolucionária.
Foi
complicado estruturar esse livro. O pensamento e a ação do Che são tão
integrais, que muitos aspectos se superpõem. Os primeiros passos do Ministério
foram influenciados por seu pensamento estratégico, assim como a capacitação
dos seus dirigentes; seus métodos e estilo de trabalho matizam todos os
capítulos; o desenvolvimento científico e tecnológico não está separado das
suas concepções sobre a economia, sobre o desenvolvimento dos recursos humanos
e, muito em especial, sobre a formação da consciência socialista; Tentei
apresentar essa integralidade de pensamento do Che.
Em determinados momentos ao longo do livro senti-me incômodo pela
presença de muitas referências pessoais, mas, nesse tipo de abordagem, isso se
torna inevitável. Assim, devo insistir que não é a história do autor que se
pretende contar. Ela não teria maior importância..
Segundo
Armando Hart, Che
"Foi uma síntese de homem de ação e pensamento que
transcendia na história latino-americana e lhe infundia, por sua vez, novos
alentos e riquezas ao socialismo. O guerrilheiro, ou dirigente da indústria e
da economia, o homem de Estado e da política era um infatigável pesquisador, um
promotor de novos pensamentos, um homem de profunda vocação intelectual"[2].
A humanidade progressista e, em particular, as novas gerações, veem na
figura do Che a encarnação de altíssimos valores éticos e morais de
solidariedade, generosidade, austeridade, exemplo pessoal, sensibilidade
humana, decisão e disposição de oferecer até a própria vida pela liberação dos
povos.
Existe
uma corrente que trata de apresentá-lo como um mito, como um sonhador, quase
como um santo, algo inalcançável e que não se
repetirá, alguém que deu sua vida por um ideal nobre, mas que já não tem
presente nem futuro. Só como uma figura do passado. Ao mesmo tempo, ignora-se o
trabalho criativo do Che como construtor de uma nova sociedade, e tende-se a
negar, ou a ocultar, a vigência do seu pensamento e ação nos momentos atuais.
Neste livro pretendemos mostrar que o Che não é só uma extraordinária figura histórica. Os exemplos de sua vida como ministro, sua austeridade, sua visão estratégica, sua capacidade de dirigente, sua elevada exigência, sua intransigência ante as irresponsabilidades, sua sensibilidade humana mostram que o Che é uma figura de presente e de futuro
Nesse sentido Fidel expressou que:
"Se queremos expressar como aspiramos que sejam nossos combatentes revolucionários, nossos militantes, nossos homens, devemos dizer, sem vacilação de nenhuma índole: que sejam como o Che! Se quisermos dizer como queremos que se eduquem nossas crianças, devemos dizer sem vacilação: queremos que se eduquem no espírito do Che. Se quisermos um modelo de homem, um modelo de homem que não pertence a nosso tempo, um modelo de homem que pertence ao futuro, de coração digo que esse modelo sem uma mancha na sua atitude, sem uma mancha só na sua atuação, esse modelo é o Che! Se quisermos expressar como desejamos que sejam nossos filhos, devemos dizer com todo o coração de veementes revolucionários: queremos que sejam como o Che!"[3]
[1] Sáenz, T. W. (2005: O Ministro Che Guevara.
Testemunha de um colaborador. Garamond, Rio de Janeiro.
[2] Hart, Armando (1989): Prefacio. Em Pensar al Che. Centro de
estúdios de América. Ed. José Martí, Havana.
[3] Castro F. Discurso na velada solene em memória do Comandante Ernesto Che Guevara na Praça da Revolução. Havana, 18 de outubro de 1967.
https://www.youtube.com/watch?v=RIsF389lDUw&feature=youtu.be&ab_channel=coordinadorasolidaridad
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