Um homem corre abraçado ao monitor de um computador por
uma linha de fronteira, um policial o persegue até que o pegue em uma
armadilha e o faça cair no chão. Poderia ser uma cena de um filme, de um
noticiário ou de uma série policial, mas para os cubanos e qualquer
pessoa que tenha vivido as relações entre os EUA e Cuba, isso é o
símbolo de algo muito concreto: A repressão das autoridades
estadunidenses contra os Pastores pela Paz por sua ajuda humanitária à
ilha.
O MAGO OBAMA
Por: Iroel Sánchez
Há anos que cenas como essa não ocorrem, mas os Pastores pela Paz
foram novamente golpeados, talvez de um modo muito mais duro, mas desta
vez não haverão imagens simbólicas de policiais de fronteira perseguindo
ativistas desarmados. Foi bastante retirar o estatuto de organização
sem fins lucrativos que não paga impostos para acertar um golpe muito
mais demolidor do que todas as polícias de fronteiras juntas que
perseguem as caravanas solidárias com Cuba que viajam durante décadas nos Estados Unidos e Canadá.
Se a administração Bush deu a história mundial um grupo de sequências
simbólicas da atuação imperial, desde os torturados em Abu Ghraib e a
torpe perseguição aos Pastores pela Paz a caçada de uma família
iraquiana, incluindo crianças, por um helicóptero com artilharia, ou as
famosas ameaças de ataques preventivos e agressivos aos "sessenta ou
mais escuros cantos do mundo", Barack Obama tem apresentado o imune e
quase sempre invisível fogo dos drones, o recorde mundial de impossíveis
multas aos bancos para transações financeiras com Cuba ou o cadáver não
encontrado de Osama Bin Laden, acompanhado pela culta retórica e
inteligente sorriso de um professor universitário. Nas primeiras páginas
negocia com a Rússia o combate ao terrorismo na Síria, mas "por engano"
massacra 83 soldados sírios que combatiam a Frente Al-Nusra e as
notícias desaparecem rapidamente.
Graças a Obama houveram guerras na Líbia, Síria e Ucrânia, mas ele não será lembrado por dizer pomposamente em um porta-aviões "missão cumprida", sim por citar o Corão na Universidade do Cairo. Ninguém dedicou tanto dinheiro dos contribuintes estadunidenses para subverter o sistema político cubano, mas não há fotos ou vídeos disso, como de suas caminhadas por Havana em companhia de sua família ou dos músicos do Buena Vista Social Club na Casa Branca.
Se com W. Bush houve um só golpe de Estado bem sucedido na América
Latina: Haiti 2004, com Obama foram três: Honduras 2009, Paraguai 2012 e
Brasil 2016, mas ao contrário dos soldados que vimos em ação no Haiti e
Honduras, no Paraguai e Brasil os parlamentos foram os encarregados de
por em seu lugar aqueles que encabeçavam políticas que irritavam
Washington e seus aliados locais.
Vamos enfrentá-lo: Obama tem sido um mágico para fazer desaparecer símbolos da ingerência e da violência
imperialista em todo o mundo, enquanto tem aumentado a eficácia no
cumprimento de seus objetivos. Quando ele disse que mudaria seus métodos
com Cuba para atingir os mesmos objetivos não fez nenhuma exceção, como
orgulhosamente pode pensar algum entusiasta, porém adapta a América
Latina ao que tem sido sua norma de comportamento em todo o mundo desde
que chegou ao poder: a força elegante.
Ele não tem cedido nada do essencial reivindicado por Cuba. Ainda que sejam menos visíveis graças a cortina de fumaça de uma retórica menos agressiva, algumas medidas, tais como o direito de Cuba de utilizar o dólar não se concretize, a manutenção do bloqueio financeiro, o fechamento às exportações cubanas, a base militar de Guantánamo, a política pés secos - pés molhados, Rádio e TV Marti, apoio e treinamento aos grupos "dissidentes" e um sistema de meios de comunicação privados ligados aos seus interesses que sua embaixada em Havana apoia com bolsas de estudo e convites.
Obama se limita a aplicar apenas o que desde a Lei Torricelli de 1994, Washington considera necessário para tornar mais efetiva sua política em Cuba: viagens e telecomunicações, aumentando a pressão sobre a economia estatal cubana que é o que garante os serviços básicos à população, ao mesmo tempo que busca converter-se em instrumento de sua nova política o emergente setor privado da ilha.
Já não vemos mais policiais tentando arrancar computadores destinados à escolas e hospitais cubanos das mãos de pessoas solidárias. Porém mais uma vez o essencial é invisível aos olhos: os Pastores pela Paz terá menos recursos para fazer o seu trabalho, como acontece com o governo cubano pela desestabilização que os Estados Unidos fomentam na Venezuela ou as multas multimilionárias aplicadas pela atual administração aos bancos que se atreveram a processar transações cubanas.
Já não vemos mais policiais tentando arrancar computadores destinados à escolas e hospitais cubanos das mãos de pessoas solidárias. Porém mais uma vez o essencial é invisível aos olhos: os Pastores pela Paz terá menos recursos para fazer o seu trabalho, como acontece com o governo cubano pela desestabilização que os Estados Unidos fomentam na Venezuela ou as multas multimilionárias aplicadas pela atual administração aos bancos que se atreveram a processar transações cubanas.
Fonte: Especial e Exclusivo para Al Mayadeen
Iroel Sánchez é engenheiro e jornalista cubano. Trabalha no Instituto de Informatização da Sociedade Cubana. Foi presidente do Instituto Cubano do Livro.
VENCEREMOS !!!
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