Foto: Shara Medeiros |
Carmen Diniz*
Brasil , Cuba e Direitos Humanos
Era uma vez dois países : um
com dimensões continentais e o outro uma
pequena ilha. O grande país conta com imensos recursos naturais, terras
produtivas, clima totalmente favorável, grande população, água em profusão. Não
tem terremotos, nem maremotos nem furacões. Assim analisando parece muita sorte
de seus cidadãos, porque possuem
(possuem?) um país abençoado para se viver com tranquilidade. Será? O outro,
uma ilha sem recursos naturais, com pouca terra e que apesar do clima também
favorável, de tempos em tempos enfrenta intempéries como furacões violentos.
Essas são as imagens iniciais dos países.
Nos aproximando mais um pouco começamos a perceber outras diferenças que fazem
de um deles um gigante no tamanho e do outro um gigante de humanidade e
solidariedade. No entanto, essa ilha que
jamais ofereceu qualquer ameaça a nenhum
outro país e que vive pacifica e
precariamente sofre ataques, ameaças e bloqueio há mais de seis décadas.
Além disso, críticas de todos os lados, ingerências e cobranças de como deve
viver segundo os donos do mundo e do
capital. Pois bem, é importante impor
algumas condições para criticar Cuba , uma vez que os países que criticam a
Ilha deveriam primeiramente olhar para sua própria realidade e fazer autocrítica para só então apontar os
erros desta outra nação.
Aqui passo à primeira pessoa. Sou
brasileira, vivo e sofro meu país e sua dura realidade há anos. Por esse motivo
imponho as seguintes condições para
criticar Cuba e só então podemos começar a conversar:
Primeiramente que não se aceite mais 50
milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar (neste país rico –
mas de pobres) cujo número equivale a 5 vezes a população cubana, nem que se
aceite mais de 60 milhões de
desalentados (15 milhões de desempregados, 6 milhões que desistiram + 40 milhões de precarizados);
que seja vedado aos 1% dos brasileiros mais ricos (são 193 mil
pessoas) deterem 49,6% da renda nacional; que se abrigue adequadamente 220
mil brasileiros que vivem nas ruas e
moradias dignas a 13 milhões de favelados; que não se admita 6000 mortes de jovens negros, brancos e pobres por ano (1 jovem negro é assassinado a
cada 4 minutos) e tampouco o fato de acontecer um estupro a cada 8 minutos (
sendo que 70% em menores de 14 anos) ; que a população carcerária não seja mais
a terceira do mundo com 700 mil presos;
- que se faça Reforma Agrária e Urbana;
- que o Estado pare de matar a população pobre das favelas e das periferias em chacinas violentas contra crianças, adolescentes e tudo que se mova ;
- que retornem ao Brasil os médicos cubanos para
que mais de 60 milhões de brasileiros voltem a ter atendimento médico . Quanto
aos médicos nossos, que alcancemos o nível daquela ilha pobre: 9,00/1000
habitantes (hoje no Brasil temos 1,85/1000 hab);e que as crianças brasileiras TODAS tenham
escola.
- que não passemos mais essa vergonha de - no país onde temos tanta terra! - famílias inteiras fazerem fila esperando OSSOS para cozinhar;
- que haja saúde (e vacina) para todos e todas!
Nenhuma das condições é
impossível de se realizar, Cuba conseguiu com muito menos recursos ! Bem, por
aí seguimos. Penso que se alcançarmos o nível de saúde e educação do pequeno
país pobre, aí sim, poderemos falar de Direitos Humanos, liberdade para viver, comer,
morar, vestir, etc.
Resolvidas essa tragédias, aí sim, vamos poder, enfim, criticar outros países, inclusive Cuba.
Mas nem assim poderemos criticar seu sistema de governo.
Porque isso, só cabe aos cubanos.
Fontes: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e Anuário Brasileiro de Segurança Pública - 2021
*Jurista, Mestre em Direito Penal e Criminologia - Coordenadora do Capítulo Brasil do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos
O artigo acima (com modificações/atualizações) foi publicado na revista argentina: CHASKI 5, FINES DE JULIO 2021.pdf
Hermoso y merecido artículo. Nuestro más fraterno agradecimiento.
ResponderExcluirViva la amistad y la solidaridad entre los pueblos.