Contrarrevolucionários pedindo invasão estadunidense a Cuba. |
Marcia
Choueri*
O
primeiro e o terceiro foram condenados a cinco anos de privação de liberdade; o
segundo, a nove anos; as duas últimas, a 3 anos, mas vão cumpri-los em
liberdade.
As
acusações são de atentado, desacato, resistência ante a autoridade, desordem
pública, difamação das instituições e organizações dos heróis e mártires, e
ultraje aos símbolos da pátria.
Para
quem não se lembra – e é fácil ter esquecido, por sua absoluta falta de importância
– eles são membros do chamado Movimento San Isidro, nome que adotaram porque
residem nas cercanias dessa rua de Centro Havana. Mas eles não foram julgados
pela má qualidade artística de suas obras e músicas, já que isso é questão de
gosto pessoal, e muito menos pelo que pensam ou expressam politicamente. Não
são presos de consciência, nem presos políticos, como a grande mídia
internacional, inclusive a brasileira, quer nos convencer.
Um
dos atos de que eles foram acusados – quando praticaram atentado, desacato,
resistência e desordem –, falando em bom brasileiro, foi o seguinte: eles
armaram pro policial. Fizeram uma cena em Centro Habana, provocando a polícia,
para poder fazer vídeos e divulgá-los pelas redes sociais.
Isso
aconteceu em 4 de abril de 2021. Naquele momento, aqui em Cuba era obrigatório
o uso de máscaras em locais públicos. Juslid passou com o rosto desprotegido
bem do ladinho de uma viatura. Quando o policial, sem nem descer do carro,
alertou-a para que pusesse a máscara, o Maikel Castillo foi em direção a ele e
começou a gritar, para formar confusão. Até tentou entrar na viatura, mas não
conseguiu.
O
policial saiu do carro e lhe pediu os documentos, que ele se recusou a
entregar, dizendo que não tinha, e gritando mais ainda, para aumentar o show. O
policial tentou contê-lo e levá-lo para viatura, e foi quando os outros
entraram em cena. Rasgaram a farda dos dois policiais – porque aí também já
estava o parceiro, afinal eles andam em duplas é para isso mesmo -, bateram nos
agentes, tentaram roubar a arma, enfim, um espetáculo para as mídias. Tudo isso
está registrado nos próprios vídeos que eles gravaram, ninguém inventou nada.
Os
crimes de difamação das instituições e organizações, e dos heróis e mártires de
Cuba, eles praticaram de forma reiterada, por suas redes sociais.
E, no caso do Otero Alcántara, ele praticou o crime de ultraje aos símbolos pátrios várias vezes. Ele diz que é arte, mas o que fez foi divulgar fotos usando a bandeira cubana como toalha, inclusive sentado no vaso sanitário. Fez isso entre 15 de agosto e 5 de setembro de 2019. (fotos)
O
que eu descrevi são fatos comprovados com imagens publicadas pelos próprios
acusados, então, ninguém pode dizer que estou falseando. Eles foram julgados
por um tribunal legítimo, sem pressa – veja as datas dos fatos – e receberam as
penas previstas no Código Penal em vigor. Como é óbvio, eles estavam
conscientes do peso de seus atos e das consequências, porque a lei é pública.
Vamos
então a uma interpretação de tudo isso. Alguém poderia dizer (como de fato
estão dizendo) que é uma pena pesada, desproporcional às ações praticadas. Tá,
posso aceitar, desde que seja um cubano a dizer isso. Sabe por quê? Porque um
brasileiro não é capaz de entender a importância dos símbolos pátrios em Cuba.
É uma questão de cultura, nós, brasileiros, simplesmente não damos essa
importância. A maioria nem sabe o que é um símbolo pátrio. E foi por isso mesmo
que ele se enrolou na bandeira, percebe? Ele sabia que ofenderia o sentimento
de patriotismo do seu próprio povo, era esse o objetivo.
Vale
o mesmo raciocínio para os heróis e mártires. Que brasileiro ficaria
minimamente preocupado, se alguém xingasse, sei lá, o Tiradentes? Nenhum. Mas
todos os cubanos respeitam e até veneram Martí ou o Che, só pra mencionar dois
exemplos. Então, só temos de aceitar que para os cubanos é, sim, importante. E
respeitar isso.
E
agora vamos à hipocrisia. De novo, em bom brasileiro: os caras primeiro
provocaram os policiais, depois resistiram à ordem de entrar na viatura,
bateram nos agentes, rasgaram a farda, tentaram roubar uma arma… sabe quando um
jovem negro brasileiro sairia vivo dessa experiência? Ou colombiano, ou
chileno, ou… É nunca! O policial nem tirou o cassetete do cinto, não fez nenhum
gesto violento. E a imprensa brasileira quer fazer tititi? Fazer esse assunto
render? A mesma imprensa que se calou e enriqueceu durante a ditadura, quando
os jovens que lutavam pelos direitos do povo brasileiro eram sequestrados pelas
forças de segurança na calada da noite, assassinados ou “desaparecidos”? A
mesma imprensa que se cala ante os homicídios diários praticados pelas PMs do
Brasil?
Desde
quando é importante, para a mídia internacional, um julgamento por delitos
comuns em um tribunal municipal em Havana? Julgamento, aliás, que ainda está
sujeito a recursos.
Dá
até raiva, de tão evidente a intenção! Trata-se de mais um lance no tabuleiro
da guerra não convencional contra Cuba. Serve para justificar as ações contra a
Ilha em organismos internacionais, com o pretexto de que aqui não se respeitam
os direitos humanos. Serve, em última análise, para justificar o bloqueio, esse
crime que já dura mais de 60 anos e impõe a escassez e as inúmeras dificuldades
cotidianas a quem vive na Ilha.
Não
se deixe enganar, a grande mídia simplesmente está, como sempre, servindo aos
interesses do imperialismo.
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