Os médicos temem pela vida de Julian Assange enquanto o
governo dos EUA busca a custódia do jornalista.
O tempo está se esgotando para salvar a vida de Julian
Assange, que os médicos advertem que só tem meses de vida, escreve a Dra. Binoy
Kampmark.
Eles realmente querem matá-lo. Talvez esteja na hora de seus
detratores e céticos, comprovadamente errados desde o início, admitirem que o
império americano, juntamente com seus estados clientes, está disposto a ver o
fundador do WikiLeaks Julian Assange perecer na prisão.
A localidade e o entorno, para o exercício desses propósitos,
não são relevantes. Assim como na Inquisição, a Igreja Católica nunca quis
sujar suas mãos, preferindo o emprego de figuras não pertencentes à Igreja para
torturar suas vítimas.
No contexto de Assange, a Grã-Bretanha tem sido, desde o
início, uma carceragem, guiada pelos bons ofícios de Washington, muito
interessada em não ver este vazamento de segredos ser liberado no mundo. A
fiança tem sido recusada repetida e imperdoavelmente, apesar do perigo da
COVID-19, a saúde deteriorada do próprio editor e as restrições de acesso ao
detento, inclusive para o aconselhamento jurídico de sua equipe.
Assim como alguns bancos são considerados grandes demais
para falir, Assange é considerado um alvo grande demais para escapar. Solto
novamente, ele pode fazer o que faz de melhor: revelar venalidades
governamentais na guerra e na paz e provar o contrato social como uma farsa
grosseira e um escárnio à nossa racionalidade.
O sistema jurídico britânico tem sido o fórum ideal para
executar os desejos de Washington. Cada ramo jurídico que examinou o caso de
extradição evitou desde sempre o principal: o ataque à liberdade de imprensa; a
exposição de crimes de guerra; a vigilância ilegal do asilo político em embaixadas;
as violações de privacidade e do sigilo jurídico; as invasões à vida familiar;
as evidências sobre planos de sequestro e assassinato; os questionáveis
conflitos de interesse por parte de alguns membros judiciais; e a conivência
das autoridades do Estado.
Em vez disso, os tribunais não examinaram os argumentos mais
sólidos, focalizando apenas um dos fatos no curso do processo :a única decisão que favoreceu Assange só o fez ao
considerá-lo essencialmente como um indivíduo cuja fragilidade mental o
comprometeria em um estabelecimento prisional dos EUA.
Em tal caso, o suicídio seria praticamente impossível de
evitar. A juíza distrital Vanessa Baraitser, que tomou a decisão, pensou pouco
nas credenciais da editora, concordando de coração com a acusação de que nenhum
jornalista jamais teria exposto os nomes dos informantes.
O resto tem sido uma grotesca demonstração de proporções
gigantescas, com o Supremo Tribunal e a Suprema Corte demonstrando ser punições
políticas ou, o que não é muito melhor, burra. Acreditar em uma série de
garantias diplomáticas dadas por promotores públicos americanos sobre o destino
pós-extradição de Assange, feitas após o julgamento original, parecia muito
próximo de uma forma de barganha legal. (...)
Para qualquer um que acompanhasse o julgamento e conhecesse
a natureza débil das garantias dadas por um poder do Estado, especialmente um
com o peso dos Estados Unidos, promessas sobre acomodações mais humanas, não
estar sujeito a medidas administrativas especiais brutais e também poder solicitar
um retorno à Austrália para cumprir o restante de sua pena. Pura mentira.
A Anistia Internacional é inequívoca neste ponto: as
garantias diplomáticas são usadas pelos governos para "driblar"
várias convenções de direitos humanos e o próprio fato de que elas são utilizadas,
cria seus próprios perigos:
O simples fato de que os Estados Unidos precisam buscar
garantias diplomáticas contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes (outros maus-tratos) é indicativo de um risco de
tortura".
As autoridades judiciais americanas chegaram ao ponto de
enfraquecer sua própria posição, tornando seus compromissos condicionais. Usualmente,
eles mudam o foco de volta para Assange, sugerindo que ele pode influenciar as
coisas por sua própria conduta maliciosa. Em resumo, nada foi dito e a cola que
mantém as promessas unidas pode, a qualquer momento, dissolver-se.
Afortunadamente, Assange continua a ter alguns seguidores
ferozmente dedicados que o desejam bem e livre. O deputado australiano
independente Andrew Wilkie tem um tipo de certeza que pode pulverizar as
atitudes dos céticos, embora ele mesmo alimente algumas dúvidas. Em seu
discurso aos apoiadores de Assange em Camberra, proferido nos gramados do
Parlamento australiano, ele estava confiante de que manter "a
pressão" levaria enfim a justiça ao editor.(foto)
Em um claro resumo, Wilkie destrinchou o caso:
"Há muito tempo os EUA querem vingança e o Reino Unido
e a Austrália estão felizes em acompanhá-los nesta empreitada, porque colocaram
as relações bilaterais com Washington à frente dos direitos de um homem
decente".
Continuando a manter a fúria, ele exortou o público que lá
estava.
O assunto é considerado tão urgente que os médicos
australianos de Assange advertiram que a morte pode estar espreitando na
esquina.
O porta-voz, Dr. Robert Marr, expressou sua preocupação:
"Os exames médicos de Julian Assange na prisão de Belmarsh no Reino Unido revelaram que ele está sofrendo de severas condições cardiovasculares e de estresse, incluindo um pequeno AVC como resultado de sua prisão e tortura psicológica".
A organização escreveu à Embaixadora dos Estados Unidos Caroline Kennedy
"...solicitando que ela peça urgentemente ao Presidente Biden que pare a perseguição dos EUA ao cidadão australiano Julian Assange por simplesmente publicar informações fornecidas a ele e parar a tentativa dos EUA de extraditá-lo do Reino Unido".
Do ponto de vista australiano, já podemos ver que existe uma abordagem cautelosa e prudente do destino de Assange, que também serve à agenda letal que está sendo buscada pelos promotores de justiça dos EUA. Apesar de uma mudança do governo em Camberra, o status quo nas relações de poder entre os dois países permanece inalterado.
Todos, a não ser Assange, parecem ter tempo para esperar.
Mas, em termos de vida e saúde, o tempo em questão está quase terminando.
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