
Lula e Valdés Mesa
rejeitaram, na cúpula de Santa Marta, a reativação da Doutrina Monroe e as
intervenções estrangeiras no Caribe.
"Somos de uma região de paz
e queremos permanecer em paz." Com essa declaração contundente, o
presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva traçou uma linha vermelha no
domingo diante das crescentes ameaças de intervenção militar estrangeira na
América Latina.
Na cúpula entre a
Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e a União
Europeia, Lula denunciou que "a ameaça do uso da força militar voltou a
fazer parte do cotidiano" na região. O presidente brasileiro não poupou
palavras: alertou sobre a reciclagem de "velhas manobras retóricas para
justificar intervenções ilegais", em clara alusão à política
intervencionista histórica dos Estados Unidos.
A voz do Brasil não
foi a única. O vice-presidente cubano, Salvador Valdés Mesa, denunciou as
tentativas de reviver a Doutrina Monroe e foi direto: "Devemos agir para deter a
agressão e a infiltração militar". Cuba também expressou sua
solidariedade à Colômbia, país que considera vítima de pressão externa, e
condenou inequivocamente "o genocídio militar perpetrado por
Israel em Gaza", que
mergulhou o povo palestino em uma crise humanitária sem precedentes.
Para Valdés Mesa, o progresso alcançado na parceria birregional "não é suficiente" e ele exigiu compromissos mais firmes em termos de cooperação e respeito pela soberania das nações.
Lula argumentou
que a democracia "é péssima quando o crime organizado corrompe as
instituições, invade os espaços públicos e destrói famílias". Ele
reconheceu que a segurança é tanto um dever do Estado quanto um direito humano
fundamental, mas deixou claro que não existe uma "solução mágica". A
resposta, segundo ele, está em cortar o financiamento do crime organizado e
deter o tráfico de armas. E enfatizou algo essencial: "Nenhum país pode
enfrentar esse desafio isoladamente". Daí seu apelo para fortalecer a
cooperação regional por meio de ações coordenadas.
Desde o final de agosto, os Estados Unidos enviaram destróieres, aeronaves de patrulha marítima e, mais recentemente, um porta-aviões para o Caribe. O Pentágono justifica essa operação como uma "missão de interdição marítima" contra redes internacionais de narcotráfico que — segundo Washington — operam a partir da Venezuela e de outras áreas costeiras da América do Sul.
Mas a operação
deixou dezenas de mortos e embarcações destruídas em águas caribenhas. Vários
governos da região observam com preocupação a crescente presença militar
estrangeira que ameaça a soberania regional
O presidente
colombiano Gustavo Petro, anfitrião da cúpula, propôs uma visão diferente para
enfrentar as crises globais. Ele defendeu a construção de uma "democracia
global" baseada no reconhecimento da diversidade: "A bandeira permanece a
mesma: uma humanidade livre e uma democracia global que permita nossas
diferenças de todos os tipos, que são nossa riqueza."
Ele enfatizou que
a democracia deve ser construída sobre o pluralismo e o respeito pelas
diferenças históricas e culturais. "Uma humanidade unânime é uma
humanidade morta", declarou, propondo que o diálogo entre a CELAC e a
União Europeia se torne um modelo de entendimento entre civilizações.
O que aconteceu em Santa Marta reflete um consenso cada vez mais sólido entre os países da América Latina. A região reafirma, mais uma vez, os princípios da não intervenção e da resolução pacífica de conflitos que têm sido sua marca histórica.



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