A COVID-19: Solidariedade ou navegar pelos mares incertos do egoísmo
Autor: Raúl Antonio Capote | internacionales@granma.cu 10 de abril de 2020
Só há dois caminhos ante a "nova peste": se somar à
solidariedade ou subir na barca dos néscios e navegar pelos mares incertos do
egoísmo, convertendo-se em homicida involuntário de sua família, de seus
amigos, de seus vizinhos e de seus compatriotas.
Daniel Defoe em seu Diário do ano da peste descreve a
Londres de 1665, assolado pela “praga”. É possível imaginar, através da leitura
da obra, a terrível situação dos habitantes da cidade.
Ante o avanço da epidemia, os ricos e poderosos buscaram refúgio longe
da urbe, e a família real foi-se a Oxford enquanto a doença fazia estragos nos
bairros pobres. Charlatães de todo tipo vaticinavam catástrofes e assinalavam
augúrios. Monges flagelantes percorriam as ruas iluminadas pelas fogueiras.
Apesar de que muitos escaparam de Londres, alguns funcionários da cidade
ficaram e organizaram o confronto à epidemia. Junto aos médicos, jogaram um
importante papel na salvação de homens, mulheres e crianças.
O governo local recorreu ao confinamento das pessoas em suas casas para
mitigar a praga, as casas com doentes eram marcadas e fechadas; contagiados e
familiares deviam permanecer no interior das moradias, e na porta colocava-se
um guardião encarregado de comprar os alimentos necessários e de avisar aos
coveiros quando alguém morria. O castigo por violar o confinamento era muito
severo.
A medida de isolar aos doentes impediu que a praga se estendesse ainda
mais, em uma época onde os conhecimentos médicos eram bem escassos.
“De não se ter posto em vigor a medida do confinamento dos doentes,
Londres se teria convertido no lugar mais terrível do mundo”, conta o relato de
Defoe.
Os médicos, armados do que podiam, tentavam socorrer os infectados.
Aqueles doutores da peste, famosos em toda Europa, se vestiam com uma longa
túnica, luvas de pele, chapéu de aba larga e levavam na mão uma bengala que
usavam para remover pacientes, evitando um possível o contato físico.
O mais característico dessa vestimenta era uma máscara com lentes grossas
para proteger os olhos e um bico de pássaro, pelo qual o médico respirava para
filtrar os miasmas e maus cheiros.
Segundo coincidem vários historiadores, a primeira vez que se recorreu à
quarentena foi durante a epidemia da lepra, que assolou Lyon, França no ano
583, que no bíblico Pentateuco se mencionam formas de
isolamento ante epidemias que datam de mais de 3 000 anos.
Os historiadores estimam que o termo quarentena apareceu em Veneza em
tempos da peste bubônica. Sua origem está no termo quaranta giorni,
pelos 40 dias que esteve Jesus no deserto.
Estas medidas de isolamento têm salvado milhões de vidas ao longo da
história. A epidemia do SARS (síndrome respiratória aguda grave), que teve sua
origem em novembro de 2002, em Cantão, China, e desde ali, chegou a Hong Kong e
Vietnã, foi declarado epidemia controlada no final de 2003, graças à quarentena.
Só há dois caminhos ante a “nova peste”: se somar à solidariedade ou
subir na barca dos néscios e navegar pelos mares incertos do egoísmo, convertendo-se
em homicida involuntário de sua família, de seus amigos, de seus vizinhos e de
seus compatriotas. Alea iacta est.*
Tradução: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba
*N.T :brocardo latino:“a sorte está lançada”
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