Eu vi belas paisagens na vida, com olhos que emitem esmeraldas brilhantes, rubis e brilhantes, mas nunca assim, como naquele dia ...
19 ABR. 2020
HERNANDO CALVO OSPINA
O mais lindo olhar que vi foi na minha mãe. Ou melhor,
ela o entregou ao mar cubano, nas praias de Santa Maria, nos arredores de
Havana.
E esse mar me fez ver nela os olhos mais atônitos do
universo.
Foi durante sua primeira visita a essa ilha para nos
encontrar novamente, não me lembro da data agora. A última vez que nos vimos
tinha sido no aeroporto de Quito, alguns anos antes, em uma situação muito
diferente.
Eu estava cercado pela polícia, sem a possibilidade de
alguém se aproximar de mim. Quando escutei: "Meu filho não vai ser levado
sem um beijo!" De baixa estatura, eu a vi afastar os uniformes, até que
ela alcançou meus braços e me encheu de beijos. Meu pai a seguiu. Foi quando
eles me expulsaram, depois de passar três meses preso por razões políticas.
Estranhamente, naqueles breves momentos, seus olhos não choraram.
E ela é fácil de chorar. Mas eles tinham um brilho indecifrável.
Agora estávamos em Havana, mais livres que o vento e os
sonhos.
Assim que saímos do carro, ela agarrou meu braço. Eu
tinha notado que toda vez que íamos passear, ela me segurava. Tenho certeza de que
era para me proteger, para que não
pudessem me roubar dela e machucar seu
"grandão" novamente. Por mais que eu repetisse que nada aconteceria
comigo em Cuba, ela queria se assegurar.
Não estávamos com pressa, pois o mundo e o seu tempo eram
nossos. Ela mal tinha sessenta anos e dançou boa parte da noite.
Tomamos um gole de rum sob o sol que já estava
esquentando, e eu a levei lentamente para me aproximar da praia. Meu pai nos
seguiu, como o melhor guarda-costas. Arbustos e uma estrutura de palmeiras
impediam que o mar fosse visto.
De um momento para o outro, ele o tinha na frente, azul turquesa, muito claro.
Ela ficou sem palavras, boquiaberta. Por aqueles olhos e aquela boca engoliu toda
aquela imensidão. E apenas conseguiu dizer: “Que beleza! Este é o mar?”
Não pôde se mover por alguns momentos, encantada. Eu
senti sua mão apertar meu braço. Então ela me abraçou, me beijou e
agradeceu à vida por estarmos vivos. E
outros beijos por tê-la levado para ver a magia feito água.
Ela passou quase toda a sua vida a três horas de carro do
Pacífico, sem saber o que era o mar. As economias familiares não o permitiram.
Nunca acreditou que ele existia tal e qual eu lhe contava.
Tradução : Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba
https://blogs.mediapart.fr/hernando-calvo-ospina/blog/190420/en-cuba-ha-sido-la-mirada-mas-bella?fbclid=IwAR0hHSltDHoLR61Lzv7_WxF3X0k2fyeontMYFdbxpZqqqv
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