COVID-19
Por Marcela Águia Rubín
Em Havana, pessoas esperam o transporte
público com máscaras protetoras em meio às preocupações da propagação do coronavirus. (Reuters /
Alexandre Meneghini)
Como se vive em um país sob o bloqueio econômico
mais prolongado do mundo em tempos do coronavirus? “Há tensão, sim. Mas há
muita confiança”. Depoimento de uma suíça desde Havana.
“Vivo em um edifício com mais de 30 apartamentos. Nos
primeiros dias da pandemia veio um médico de família, casa por casa, e nos deu
uma aula de como tinha que se comportar, como se cuidar, como se lavar”.
Suíça e Cuba têm celebrado acordos bilaterais nos âmbitos
do comércio, da promoção e da proteção dos investimentos, de transporte aéreo e
de translado de pessoas condenadas.
Suíça representou os interesses dos EUA
em Cuba de 1961 até a restauração das relações diplomáticas entre os
dois países em julho de 2015, bem como os interesses cubanos nos EUA de 1991
até julho de 2015.
Hoje, a Suíça
mantém-se principalmente ativa em Cuba no marco da cooperação para o
desenvolvimento, onde implementa sua estratégia 2017-2021.
Fonte: Ministério Suíço
de Relações Exteriores
O depoimento é de
Christine, residente em Cuba há mais de duas décadas e cidadã de Suíça, país
com o qual mantém estreito contato e para onde viaja com certa regularidade.
“Mas aqui me sinto mais segura”, confessa-nos em entrevista telefônica.
Por que ? Perguntamos.
“Aqui as
pessoas são mais disciplinadas. Estão
mais acostumadas a situações de
emergência. Além disso, em Cuba temos um sistema de saúde e de prevenção para a
saúde que funciona muito bem. Vimos quando ocorreu a dengue. Vemos com os furacões. Todo mundo
está preparado”.
Descreve-nos com
grandes traços a situação na ilha. Em termos gerais não difere muito da que se
vive na Suíça e em boa parte do planeta: ruas vazias, escolas desertas,
trabalhos suspensos. As principais recomendações são as mesmas: lavar bem e
continuamente as mãos, cobrir a boca ao tossir ou espirrar, não sair de casa
senão para o essencial, manter distância social…
Sim, parece que o
coronavirus concedeu ao conjunto das nações a possibilidade de entoar o mesmo
estribilho. Mas não é assim. Não é para todos. Cuba faz parte das nações que
vivem sob a pressão de sanções econômicas e que devem nadar mais vigorosamente
para se manter à tona:
“Agora, com o
coronavirus, nós mesmos preparamos nossos nasobucos [máscaras protetoras]. Através
da televisão nos ensinam como fazer: dão a medida do tecido, mostram como tem
que cortar, costurar, passar. Como usar
sem deixar espaços…”
Efetivamente, o
fechamento de fronteiras (coronavirus obriga) e quase sessenta anos de embargo
(Estados Unidos impõe), fazem com que na ilha caribenha faltem muitas coisas,
mas não talento.
E também há uma
experiência no manejo epidemiológico reconhecido internacionalmente e uma
preocupação fundamental com a educação e a saúde da população.
A informação, explica nossa interlocutora, é constante por
rádio, televisão, internet. “Há uma mesa redonda na qual os ministros informam
não somente sobre os temas de saúde, senão também das medidas sociais e
econômicas. Por exemplo, explicam os direitos das pessoas que têm que adiar
seus pagamentos, as isenções de impostos… Todo isso alivia a tensão”.
Há muita tensão?
“Há tensão porque
como você sabe, o turismo é uma das principais fontes de rendimentos da ilha e
muita gente vive disso. Agora, e quem sabe por quanto tempo, não há turistas.
Mas sobretudo há tensão pelo temor de que haja escassez de alimentos”.
Comenta que através
de mensagens de WhatsApp as pessoas se
informam entre si: “em tal loja há iogurtes, em tal outra há leite”.
Na ilha é quase
proverbial a falta deste ou outro produto, mas a situação atual potencializa o
problema, por isso as autoridades têm anunciado
medidas para garantir os alimentos. Igualmente têm fama as
esperas nas lojas de bens de consumo, que também se têm dilatado.
“Há tremendas filas
nas lojas e esse é o pior momento para manter as distâncias e a gente se põe
nervosa quando não encontra o que precisa”
O que é que mais
falta, por exemplo…?
“Frango, sabão,
detergente e há um temor especial de que cheguem a faltar os feijões e a
massa de tomate para preparar. É que agora a situação é duplamente difícil
com a paralisia pelo coronavirus e o bloqueio”.
Contudo, nossa
interlocutora se diz confiante. “As pessoas em Cuba são muito solidárias e as
autoridades estão bem organizadas. Explicaram-nos também como preparar e usar
desinfetantes, como reconhecer os sintomas do coronavirus e como atuar caso
necessário”.
Como?
“Primeiro tem que
ir ao médico de família. Se este considerar necessário, te envia ao
policlínico, e se aí detectam suspeita de contágio, te mandam ao centro de
isolamento. Se dá positivo, dão o tratamento correspondente. Se não, da
mesma forma te mantêm em isolamento para observar tua evolução”.
Recorda que a
educação e a saúde são os pilares da política da ilha e ratifica que o de Cuba é
um povo muito solidário. “Veja você as missões de médicos cubanos agora mesmo na Itália e em muitos outros
países. As missões quando da crise do ébola. Alguns dizem que é interesse
econômico, para mim é um gesto de humanidade”.
Concluímos a
entrevista. Despedimos-nos, e horas mais tarde envia-me esta mensagem:
“Os estudantes de
Medicina acabam de passar pela casa perguntando quantas pessoas somos, se temos
problemas de saúde, etc. Isso é Cuba!”
Alguns êxitos da medicina cubana:
• (2015) Cuba cumpre com os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio.
• (2015) Cuba converte-se no 1er país do mundo a
receber a certificação por parte da OMS de eliminação da transmissão
materno-infantil do HIV e da sífilis congênita.
• (2016) Cuba mantém a taxa de mortalidade infantil
abaixo de cinco para cada 1 000 nascidos vivos por dez anos consecutivos.
• (2016) Cuba atinge uma esperança de vida ao
nascer de 78,4 anos; 76,5 para os homens e 80,4 para as mulheres.
• (2016) Cuba cumpre 55 anos mantendo missões
internacionalistas em saúde com 48 000 colaboradores em 62 países em 2016.
• (2017) Cuba obtém, através do contingente
Internacional de médicos especializados em situações de desastres e graves
epidemias “Henry Reeve”, o Prêmio de Saúde Pública Internacional em memória do
Dr. LEE Jong-Wook da OMS (a distinção mais importante que outorga a OMS).
Texto original:
A única coisa boa dessa pandemia é ter demonstrado que : as armas são inservíveis; o poder é frágil; a riqueza é inútil e como Cuba é importante.
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