São muitos os mitos que circulam sobre
Cuba, e às vezes é difícil desmontá-los. A questão da Internet, porém, é fácil
de explicar e entender.
O acesso à rede aqui é realmente menos
desenvolvido e mais caro que na maioria dos países. E é verdade que, após o
período especial, havia um certo temor do que uma invasão de informação e,
principalmente, de desinformação, poderia provocar. Cuba começava a se abrir
para o mundo pelo turismo, que trazia gente de todo lugar. Muitos tinham medo
de como as novas gerações reagiriam a esse contato direto e intenso com o mundo
capitalista. Entretanto não era por isso
que, até poucos anos atrás, aqui não havia internet para todos. A razão
principal era bem objetiva.
A telefonia e a Internet em Cuba são estatais, os grandes grupos transnacionais de telecomunicações não estão aqui. Devido ao bloqueio, o país só tinha acesso à Internet por satélite e bem cara. Até hoje, a Ilha é impedida de se conectar pelos cabos submarinos que passam aqui ao lado.
Essa situação começou a mudar em 2007,
quando foi assinado um acordo com a Venezuela, para utilização de um cabo
submarino de fibra óptica. Mesmo assim, o tal cabo só chegou aqui em 2011,
porque tiveram de prolongá-lo cerca de 100 km, para não entrar em áreas de
controle dos Estados Unidos e ficar sujeito ao bloqueio.
Hoje todo mundo aqui pode se conectar,
comprando pacotes de dados ou cartões de acesso. E há o sistema Nauta Hogar,
que é por wifi na residência. Não é barato, mas é possível, não há restrições.
Infelizmente, um dos efeitos bem
perceptíveis do acesso da população cubana à Internet é a multiplicação de
sites e blogs contrarrevolucionários, financiados por organizações
norte-americanas. Alguns desses sites são antigos, mas antes eram mais
dirigidos a influenciar a opinião pública internacional. Eles alimentaram a
propaganda contra Cuba no mundo todo. Agora, o alvo deles é a própria população
cubana.
São dezenas de meios, que se autodenominam independentes ou alternativos, quase todos sediados nos Estados Unidos ou em países europeus. São publicamente financiados por ONGs e outras organizações que recebem dinheiro do Departamento de Estado norte-americano, através de agências e fundações, como a USAID e a NED.
A USAID é uma agência dos Estados Unidos
fundada há quase 60 anos e que, teoricamente, trabalha para o desenvolvimento
internacional. Por pura coincidência, ela foi fundada logo após a Revolução
cubana. Na verdade, ela serve para dar uma aparência legal à ingerência
norte-americana em outros países, como no caso dos famosos Acordos MEC-USAID,
de reforma da educação brasileira.
A NED é uma fundação bipartidária – de
democratas e republicanos – fundada em 1983, que recebe fundos do governo
estadunidense para financiar “o crescimento e o fortalecimento de instituições
democráticas ao redor do mundo”. Segundo essa terminologia, “democráticos” são
os governos submissos aos planos do imperialismo, os que se opõem são
“ditadores”.
Para se ter uma ideia de como é importante para eles
tratar de derrubar a Revolução Cubana, os Estados Unidos entregaram mais de 500
milhões de dólares, nos últimos 20 anos, ao financiamento da subversão contra o
governo da Ilha. Dinheiro, aliás, arrecadado dos cidadãos daquele país.
Claro que esse dinheiro não foi só para
meios de imprensa, serviu também para financiar atos terroristas e
“manifestações públicas” criadas por eles. Essas ações estão interligadas e se
complementam. É o caso, por exemplo, do Movimento San Isidro e das
manifestações em frente ao Ministério da Cultura, em novembro e fevereiro.
A receita é sempre mais ou menos a
mesma: eles inventam um factoide, criam um pequeno tumulto e imediatamente
colocam online nas redes, através dos sites do exterior. Na verdade, não são
manifestações públicas, são como performances montadas especialmente para sair
na Internet. Esse tipo de ação é descrita e fomentada nos manuais dos Estados
Unidos sobre como provocar golpes suaves e derrubar governos.
Na semana passada, tentaram fazer uma
dessas na Praça da Revolução, mas foram descobertos e frustrados. Nesta semana,
fizeram de novo, desta vez, tentando envolver o Ministério de Relações
Exteriores. Analisando os fatos, fica evidente que seguiram um roteiro.
Na sexta-feira 18, 5 cidadãos cubanos
estiveram no Ministério com o pretexto de informar-se sobre a situação de uma
cidadã cubana que está no exterior e deseja vir ao país. Antes mesmo de receber
qualquer resposta à sua indagação, ainda dentro da repartição pública,
começaram a transmitir sua versão dos fatos através das redes sociais.
O principal meio envolvido nessa ação
chama-se ADN Cuba, um site que recebeu, apenas no último trimestre de 2020, 400
mil dólares do governo Trump, para realizar campanhas de propagandas e
provocações contra Cuba. Da primeira transmissão, às 12h 10min, até as 15h
50min, esse site gerou 15 notas, com vídeos, animações e transmissões ao vivo,
além de informações na web.
Em poucos minutos, a Human Rights Watch
começa a replicar as “informações” da ADN. Depois se somam vários personagens
conhecidos do meio contrarrevolucionário, como Otaola, Eliécer Avila e Maikel
Osorbo, que chegaram a pedir uma invasão contra Cuba. Em seguida, outro meio
digital, Tremenda Nota, também entra na ciranda, e mais o Comitê para a
Proteção dos Jornalistas, com sede em Nova York.
Tudo isso aconteceu antes mesmo que os
funcionários do ministério respondessem à indagação que havia sido feita. O
Ministério de Relações Exteriores de Cuba rapidamente divulgou uma declaração
denunciando e esclarecendo o que ocorreu.
Esses métodos da pós-verdade (eufemismo
para a mentira) não são novos, mas adquirem dimensões muito maiores com o uso
das redes sociais. São os mesmos que foram utilizados para derrubar vários
governos, na América Latina e em outros continentes. Para enfrentá-los, até
agora, o único remédio é divulgar por todos os meios nossa contra narrativa. Daí
a importância de toda ação, por pequena que seja, para desmistificar as
mentiras contra Cuba e os outros países que sofrem bloqueio e ataques do
imperialismo.
*Marcia Choueri é integrante do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba e residente em Havana.
Veja mais: https://convencao2009.blogspot.com/2015/02/governo-dos-eua-confessa-que-dificulta.html
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