CUBA E O PÃO NOSSO DE CADA DIA
12/12/2021
Frei Betto
Em novembro, passei
duas semanas em Cuba para assessorar o governo no programa de Soberania
Alimentar e Educação Nutricional, apoiado pela FAO, Oxfam e União Europeia.
Lançado em fevereiro de 2020, o programa, conhecido como Plan San, teve
aprovação oficial em julho de 2020. Em breve, o parlamento cubano dará sua
chancela à Lei de Segurança Alimentar e Educação Nutricional.
O Plan San se centra
em quatro objetivos fundamentais: 1) Reduzir significativamente a importação de
alimentos; 2) Incrementar a produção local de alimentos, valorizando a
agricultura familiar, urbana e suburbana; 3) Ampla campanha de educação
nutricional; 4) Intensa comunicação do Plan San.
Os objetivos estão
interligados, e sua execução envolve a atuação articulada de todos os
ministérios do governo, bem como instituições e associações do país (Comitês de
Defesa da Revolução, Federação de Mulheres, sindicatos, cooperativas etc).
A comunicação almeja
mobilizar toda a população assim como, nos primeiros anos da Revolução, toda a
nação se comprometeu com a Campanha Nacional de Alfabetização. O índice de
analfabetismo, que chegava a 77% da população, zerou. Em 1959 havia em Cuba
apenas 3 mil médicos (dos quais muitos deixaram o país após a vitória dos
barbudos de Sierra Maestra). Hoje, são mais de 100 mil, dos quais 30 mil atuam
em 67 países. O Brasil tem 2,4 médicos por cada mil habitantes, a maioria
concentrada em centros urbanos. Cuba tem 9/1.000 (dados de 2020).
A educação nutricional
é decisiva para o êxito do Plan San. O cubano possui hábitos alimentares que
podem perfeitamente serem substituídos, como a preferência por pão de trigo,
cereal importado. Cuba produz muita mandioca e tem condições de adotar também o
pão de milho e de farinha de coco. A carne pode dar mais lugar ao consumo de
feijão, lentilha, espinafre, amendoim, soja e abacate, ricos em proteína. Embora
não haja muito gado leiteiro na ilha, as novas gerações já se acostumam com
leite e iogurte de soja.
No incentivo à
produção agrícola, destaca-se a agroecologia. Visitei várias propriedades
rurais com alta produtividade e sem uso de insumos químicos. A Revolução,
ao promover a reforma agrária, deu títulos de propriedades a lavradores e
sem-terras.
A capacitação dos
monitores do Plan San, que prioriza o protagonismo dos organismos de base, como
os Conselhos Populares, é feita pela metodologia de educação popular baseada,
sobretudo, na pedagogia de Paulo Freire.
Como o Plan San é
política de Estado e prioridade de governo, espera-se que seus primeiros frutos
possam ser colhidos nos próximos quatro ou cinco anos. O presidente Diaz-Canel,
com quem tive vários diálogos nessa recente visita ao país, considera-o urgente
e imprescindível.
Em Cuba não há
fome. Contudo, o cubano tem muito apetite! O governo gasta mais de 2 bilhões de
dólares por ano na importação de alimentos, inclusive do Brasil, do qual
compra, entre outros, arroz e frango.
A situação alimentar
da ilha do Caribe é afetada, sobretudo, pelo bloqueio injustamente imposto ao
país, há seis décadas, pelo governo dos EUA. Essa asfixia impede que navios da
marinha mercante de bandeiras de países que negociam com os EUA entrem em
portos cubanos. Os containers são descarregados no Panamá e na Jamaica e, em
seguida, os produtos são transportados à ilha, o que os encarece. Somam-se a
isso as catástrofes climáticas que periodicamente castigam o país, como
furacões, enchentes e secas, e o fato de Cuba se ver obrigada a importar petróleo
para obter energia, já que é pobre em recursos hidráulicos.
Dois fatores recentes
contribuem para estrangular a frágil economia cubana: a inclusão do país na
lista “made in USA” dos países “promotores de terrorismo”, embora não haja o
menor indício disso. Pelo contrário, Cuba participa do combate ao terrorismo,
como o comprova o livro de Fernando Morais, “Os últimos soldados da guerra
fria” (Companhia das Letras, 2011). E, por razões humanitárias, o país
socialista exporta médicos e professores para inúmeras nações empobrecidas.
Como “desgraça pouca é
bobagem”, reza o ditado popular, a Covid obrigou a ilha a fechar as portas à
principal fonte de divisas nos últimos anos, o turismo. Agora começam a voltar
os turistas, já que se logrou reduzir drasticamente a contaminação, foram
adotadas medidas sanitárias rígidas (máscara é obrigatória fora de casa) e
criadas três vacinas, o que possibilitou a imunização de quase toda a
população.
Há, porém, outra pedra
no meio do caminho: Biden ainda não revogou as 243 novas medidas adotadas por
Trump para reforçar o bloqueio, e ainda decidiu punir todos os bancos e
empresas que tiverem alguma transação em dólar com Cuba. Hoje, dólar é papel
colorido na ilha. Impossível trocá-lo em bancos, casas de câmbio, hotéis e
lojas. São aceitos apenas euros e cartões de crédito.
Apesar dessa situação
dramática, Cuba resiste. Toda a população, de quase 12 milhões de habitantes,
tem acesso à cesta básica mensal e, gratuitamente, aos sistemas de saúde e educação.
Não há pessoas vivendo em situação de rua ou pedintes.
Frei Betto é escritor, autor da “Cartilla popular del Plan de Soberanía Alimentaria y Educación Nutricional de Cuba” (La Habana, 2021), entre outras obras. Livraria virtual: freibetto.org
CUBA Y EL PAN NUESTRO DE CADA DÍA
Frei Betto
En noviembre, pasé dos semanas en Cuba para asesorar al gobierno sobre el
programa de Educación en Soberanía Alimentaria y Nutrición, apoyado por la FAO,
Oxfam y la Unión Europea. Lanzado en febrero de 2020, el programa, conocido
como Plan San, recibió la aprobación oficial en julio de 2020. El Parlamento
cubano dará pronto su visto bueno a la Ley de Seguridad Alimentaria y Educación
Nutricional.
El Plan San se centra en cuatro objetivos fundamentales: 1) Reducir
significativamente las importaciones de alimentos; 2) Aumentar la producción
local de alimentos, valorando la agricultura familiar, urbana y suburbana; 3)
Amplia campaña de educación nutricional; 4) Intensa comunicación del Plan San.
Los objetivos están interrelacionados y su aplicación implica la acción
coordinada de todos los ministerios del gobierno, así como de las instituciones
y asociaciones del país (Comités de Defensa de la Revolución, Federación de
Mujeres, sindicatos, cooperativas, etc.).
La comunicación pretende movilizar a toda la población, al igual que en los
primeros años de la Revolución toda la nación se comprometió con la Campaña
Nacional de Alfabetización. La tasa de analfabetismo, que alcanzó el 77% de la
población, se redujo a cero. En 1959 sólo había 3.000 médicos en Cuba (muchos
de los cuales abandonaron el país tras la victoria de los barbudos de Sierra
Maestra). Hoy son más de 100 mil, de los cuales 30 mil trabajan en 67 países.
Brasil tiene 2,4 médicos por cada mil habitantes, la mayoría concentrados en
los centros urbanos. Cuba tiene 9/1.000 (datos de 2020).
La educación nutricional es decisiva para el éxito del Plan San. Los cubanos
tienen hábitos alimentarios que pueden ser perfectamente sustituidos, como la
preferencia por el pan de trigo, un cereal importado. Cuba produce mucha yuca y
puede adoptar el pan de harina de maíz y de coco. La carne puede dar paso al
consumo de alubias, lentejas, espinacas, cacahuetes, soja y aguacate, ricos en
proteínas. Aunque no hay mucho ganado lechero en la isla, las generaciones más
jóvenes ya se están acostumbrando a la leche y al yogur de soya.
En el fomento de la producción agrícola destaca la agroecología. He visitado
varias explotaciones con alta productividad y sin el uso de insumos químicos.
La Revolución, al promover la reforma agraria, otorgó títulos de propiedad a
los campesinos y a los sin tierra.
La formación de los monitores del Plan San, que prioriza el protagonismo de las
organizaciones de base como los Consejos Populares, se realiza con una
metodología de educación popular basada sobre todo en la pedagogía de Paulo
Freire.
Como el Plan San es una política de Estado y una prioridad del Gobierno, se
espera que sus primeros frutos se recojan en los próximos cuatro o cinco años.
El Presidente Díaz-Canel, con quien he dialogado varias veces durante esta
reciente visita al país, lo considera urgente e indispensable.
En Cuba no hay hambre. Pero los cubanos tienen un gran apetito. El gobierno
gasta más de 2.000 millones de dólares al año en la importación de alimentos,
incluso de Brasil, al que compra, entre otras cosas, arroz y pollo.
La situación alimentaria de la isla caribeña se ve afectada sobre todo por el
bloqueo impuesto injustamente al país hace seis décadas por el gobierno
estadounidense. Este bloqueo impide que los barcos de la marina mercante con
bandera de los países que hacen negocios con Estados Unidos entren en los
puertos cubanos. Los contenedores se descargan en Panamá y Jamaica y luego los
productos se transportan a la isla, lo que los encarece. A ello se suman las
catástrofes climáticas que periódicamente afligen al país, como huracanes,
inundaciones y sequías, y el hecho de que Cuba se ve obligada a importar
petróleo para obtener energía, ya que es pobre en recursos hídricos.
Dos factores recientes contribuyen a
estrangular la frágil economía cubana: la inclusión del país en la lista
"made in USA" de países "promotores del terrorismo", aunque
no hay el menor indicio de ello. Por el contrario, Cuba participa en la lucha
contra el terrorismo, como demuestra el libro de Fernando Morais, "Los
últimos soldados de la guerra fría" (Companhia das Letras, 2011). Y, por
razones humanitarias, el país socialista exporta médicos y profesores a
innumerables naciones empobrecidas.
Como dice el refrán popular, "cuando llueve, diluvia", Covid obligó a
la isla a cerrar sus puertas a su principal fuente de divisas en los últimos
años, el turismo. Ahora los turistas empiezan a regresar, ya que se ha reducido
drásticamente la contaminación, se han adoptado estrictas medidas sanitarias
(las mascarillas son obligatorias fuera de casa) y se han creado tres vacunas
que han permitido inmunizar a casi toda la población.
Pero hay otro escollo: Biden aún no ha revocado las 243 nuevas medidas
adoptadas por Trump para reforzar el bloqueo, e incluso ha decidido castigar a
todos los bancos y empresas que tengan alguna transacción en dólares con Cuba.
Hoy, los dólares son papel de color en la isla. Es imposible cambiarlo en
bancos, casas de cambio, hoteles y tiendas. Sólo se aceptan euros y tarjetas de
crédito.
A pesar de esta dramática situación, Cuba resiste. Toda la población, de casi
12 millones de habitantes, tiene acceso a la cesta básica mensual de alimentos
y a los sistemas de salud y educación de forma gratuita. No hay gente viviendo
en la calle o mendigando.
Frei Betto es escritor, autor de la "Cartilla popular del Plan de Soberanía Alimentaria y Educación Nutricional de Cuba" (La Habana, 2021), entre otras obras. Librería virtual: freibetto.org
Tradución al español: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba
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