30 de dez. de 2020

CUBA: UM EMPREGO CHAMADO "DISSIDÊNCIA"

                                                                                                       Hernando Calvo Ospina* 


Despontava a década dos noventa, e o sistema socialista nos países do Leste europeu caiu. Feliz, o capitalismo selvagem foi ocupando seu lugar


Foto: Irene Pérez cubadebate

   Cuba, que tinha sido sua aliada, ficou sozinha. Revolução teimosa, insistia em que seu caminho era o socialismo. Os Estados Unidos e demais países capitalistas dirigiram contra ela toda a estratégia de guerra psicológica e de propaganda. O dinheiro fluiu, e os “dissidentes” se multiplicaram aos borbotões.

     Embora Cuba tivesse certa experiência em lidar com esses casos fabricados, o que jogaram em cima dela poderia entrar para os livros de recordes.

      Todo dia, os “dissidentes” se alugavam, para que, de Miami, Washington, ou qualquer capital europeia, montassem em seu nome campanhas contra a Revolução. Até se arrendaram para que o bloqueio econômico endurecesse. Quanto mais eles podiam comprar com os dólares do “salário”, menos havia para comer no prato do vizinho. Seus filhos iam à escola bem alimentados, e as outras crianças viram se reduzir bem a quantidade de leite. Ainda assim, os “dissidentes” continuaram aproveitando o que a Revolução tratava de manter gratuito para todos, começando pela assistência médica.

     Chegou o ano 2000, e o tempo continuou passando. A economia melhorou. Até os peritos do Banco Mundial ficaram sem entender como tinha sido possível. Não podiam conceber que a unidade e a fé em um sonho fazem milagres.

      O objetivo estratégico de afundar a Revolução do Caribe não foi alcançado. Prejuízo, isso sim os “dissidentes” se ofereceram para provocar a essa imensa maioria de cubanos fiéis à Revolução. Ainda assim, ontem como hoje, sem ser torturados nem desaparecidos, e nunca assassinados, cada novo personagem “dissidente” foi passando de moda. A falta de apoio popular é o calcanhar de Aquiles, deles e doa que lhes pagam. Seu grande inimigo é não existir abismo entre dirigentes e povo.

     Dentro do Partido Comunista cubano existem muitos dissidentes (sem aspas). É normal, é humano. Porque dissentir é não estar de acordo com algo. Dissente-se com a esposa, no tom que for. Outra coisa é ir onde está a vizinha e unir-se com ela para guerrear com a esposa. Isso é traição. E é o que viu, dia após dia, o povo cubano: os que, no âmbito internacional, são chamados de «dissidentes» estão aliados com o inimigo, Washington, que quer comer sua soberania aos pedaços.

     Uma revolução é um processo criativo. A Revolução cubana partiu quase de zero, aprendendo tudo. Inovando em quase tudo. É lógico que, entre seus criadores, nem todos estejam de acordo com alguma cor dessa obra em construção. Felizmente é assim, do contrário não se estaria avançando. Dissentem, não se vendem.

    Os “dissidentes” continuam sendo esse produto de exportação, para prejudicar a imagem da Revolução. Para que a pressão política internacional atue. Nenhum deles vê alguma coisa boa na Revolução. São o exemplo do filho mal-agradecido. Foram ensinados a ler, escrever, a ser intelectuais, cientistas, médicos, professores. E foram ensinados até a criticar. Como os corvos, só querem ajudar a arrancar seus olhos. E por apenas alguns dólares, umas letras na imprensa internacional e alguns aplausos dos inimigos de sua nação.

    A imprensa internacional. Esta teve um papel central. É a única que se lembra deles em Cuba. De qualquer careta faz uma notícia. Está na primeira trincheira, já que é uma guerra. Além de “atendê-los”, e esperar a morte de Fidel ou Raúl, não se sabe o que mais faz esse monte de correspondentes estrangeiros nesta ilha. Cuba está entre os países do mal chamado Terceiro Mundo, aos que essa imprensa dá tanta prioridade.

     O cubano Chucho Valdés, um dos melhores pianistas do mundo, me garantia, no ano 2004: “Contra Cuba, existe uma imprensa marrom que adora o sensacionalismo. Até conosco, os artistas, a imprensa internacional sempre está buscando o lado político das coisas, mas para distorcer tudo e prejudicar  Cuba, à Revolução”.

     O eurodeputado francês Jean-Luc Melenchon me dizia, em maio de 2010: “Essa imprensa, toda ligada aos Estados Unidos, só se interessa em buscar alguém que se diga “dissidente” ou preso político, para torná-lo um herói e lançar suas campanhas contra Cuba”.

    Poderia parecer estranho. Mas por que só existem “dissidentes” nos países que não são do gosto político de Washington, Madri, Londres, Berlim, Paris…? Estranho, poderia parecer simplesmente estranho… Mas não.

 



Hernando Calvo Ospina é jornalista e escritor colombiano, radicado na França. Autor do livro "Ron Bacardí: la guerra oculta", entre outros.


Tradução: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba

http://www.cubadebate.cu/opinion/2020/12/28/cuba-un-empleo-llamado-disidencia/

Neste artigo: Bloqueio, Bloqueio contra Cuba, Cuba, dissidência, dissidentes, Estados Unidos, Guerra Fria, Partido Comunista de Cuba (PCC), Política, Relações Cuba-Estados Unidos, Revolução cubana

 

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