Por: Alberto Rodríguez
27 agosto 2019
Mais Médicos. Foto: Araquém Alcântara.
A
campanha do governo de Donald Trump contra Cuba atingiu níveis que tocam o absurdo.
Agora, Washington acusa Havana de obter dinheiro “explorando” e “escravizando” médicos
cubanos que prestam serviços no estrangeiro. Paradoxos da política: quem
inventou a exploração trabalhista e fundou seu país sobre leis escravistas,
acusando outros de praticar seus métodos. Dessa
forma, não se sabe se Estados Unidos acusa a ilha por exploração em si, ou por
aparente plágio de seu sistema de governo.
Mas, nem um nem outro.
O que ocorre é que o secretário de Estado,
Mike Pompeo, saiu no twitter a anunciar que restringiria os vistos de
servidores públicos cubanos relacionados às mundialmente famosas missões
médicas cubanas, com base na Lei de Imigração e Nacionalidade estadunidense.
Disse Pompeo que o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, se beneficia
com dinheiro ao explorar os profissionais da medicina cubana.
A narrativa
de Pompeo parte da saída de mais de catorze mil profissionais médicos cubanos
do Brasil, depois da chegada de Jair Bolsonaro.
Afirma Estados Unidos que Cuba fica com mais de oitenta por cento
dos salários destinados aos médicos, por parte dos países beneficiados com as
missões. O presidente brasileiro usou a falácia de que a missão médica cubana poderia
ficar em território brasileiro desde que lhes dessem a seus integrantes cem por
cento dos ganhos e submetessem seus estudos à norma desse país.
A isto se somou uma demanda em tribunais de
Miami (claro, tinha que ser em Miami) de dois supostos médicos cubanos contra a
Organização Pan-americana da Saúde acusando-a de facilitar a criação de uma “rede de tráfico
humano” e “escravatura” por parte do Estado cubano. Mas a OPAS – ligada à Organização
Mundial da Saúde– não entendeu porque esta denúncia aconteceu na capital da
Flórida e não em Washington onde o organismo tem sua sede.
No fundo a intenção é de utilizar
o sistema montado pelos contra-cubanos nessa cidade dominada pelo senador Marco
Rubio, para replicar as acusações contra as missões médicas de Cuba, de acordo
com a narrativa do governo de Donald Trump.
O
primeiro que se tem que advertir é que Estados Unidos usa conceitos como “exploração” ou “escravidão”
sem entender realmente seu significado.
Por exemplo, exploração profissional é, em
qualquer parte do mundo, a promessa de obter sucesso econômico estudando uma
carreira universitária, pagando centenas de milhares de dólares em troca, com a
ameaça de que, se não pagar esse dinheiro, o banco ficará com tua casa e todas
tuas propriedades. Esse é um tipo de exploração que sofrem milhões de jovens
nos Estados Unidos que não têm acesso a uma Universidade porque, ao fazer,
teriam que ser explorados em dois ou três trabalhos mal pagos para quitar suas
dívidas. Isso, ademais, é escravidão.
Em Cuba, qualquer um pode estudar o que
queira sem que lhe custe um peso. Nenhum graduado da Faculdade de Ciências
Médicas ou da Escola Latino-americana de Medicina teve que tirar o pão da boca
para estudar nas melhores aulas médicas do continente americano.
Como é isto possível, sendo a ilha um país
pobre?
Simples. Os serviços de saúde proporcionados
pela empresa Serviços Médicos Cubanos, ligada ao Ministério de Saúde, pagam os
sonhos de milhares.
Todo mundo sabe que a medicina cubana tem
muito prestígio, e isso se deve a que a saúde em Cuba é vista como um direito,
não como um bem de consumo. Por isso a Mike Pompeo lhe custa entender que as e
os médicos cubanos prestam seus serviços sem fins comerciais. São heróis em seu
país, e tanto a eles como a suas famílias nada lhes falta. A riqueza que
produzem, vai para eles, suas famílias e para manter o sonho de milhares de
cubanos que vêm atrás, e de centenas de jovens provenientes de nações do
terceiro mundo que estudam gratuitamente em universidades cubanas.
Por
outro lado, no México, o custo de uma graduação universitária pode ser elevado até
os mil dólares mensais. E nos Estados Unidos?…
Mas voltemos a Cuba.
A ilha tem sustentado por mais cinquenta
anos mais de seiscentas mil missões médicas em cento sessenta e quatro países,
nas quais têm colaborado mais de quatrocentos mil trabalhadores e trabalhadoras
da saúde. Se dois destes recentemente ocupam a estrutura anticubana de Miami
para tentar difamar o sistema que lhes deu escola e saúde, não é por gosto, senão
por um pagamento em troca.
As
missões médicas cubanas têm combatido o ébola na África, a cegueira na América
Latina e Caribe; o
cólera no Haiti e formaram-se vinte e seis brigadas do Contingente de Médicos
Especializados em desastres e grandes epidemias para hecatombes em Paquistão,
México, Indonésia, Equador, Peru, Chile, Venezuela e tantos outros.
Quanto custaria aos Estados Unidos pagar
esse serviço?
Hoje, milhares de indígenas na Amazônia
brasileira morrem por doenças curáveis devido à saída de médicos cubanos;
porque, claro está, a esses lugares nunca quer ir quem só estuda medicina para ficar
milionário com os remédios e o negócio da morte.
As missões médicas cubanas sempre vão a
lugares remotos e de difícil acesso; move-lhes uma vocação solidária e
atenderiam até os filhos de Trump e
Bolsonaro.
Assim
aconteceu com o político ultra-conservador chileno, Andrés Allamand, junto a Cuba e a seu
sistema de saúde quando seu pequeno filho, com a idade de quatro anos, sofreu
um acidente neurológico ao cair em uma piscina:
«Minha mulher e eu recebemos um
chamado direto de Fidel Castro que nos oferecia ajuda para o tratamento e
recuperação de nosso menino», disse Allamand ao diário Cooperativa. A oferta de
ajuda por parte do Comandante cubano impressionou-o « enormemente”.
Disse o político chileno: “A primeira vez
que falei com ele lhe perguntei se sabia quem era eu, lhe disse que era um
dirigente da oposição e me respondeu: ‘tenho absolutamente claro e não tem nada
a ver com isso'”.
Fidel “tomou a recuperação de meu menino
como algo pessoal e lhe dedicou o tempo todo durante muitos, muitos anos” (…)
“Minha família e eu temos o maior agradecimento humano”, disse Allamand.
De tal modo que quando em 2003 o filho de
Andrés Allamand morreu, a família decidiu “como uma mostra de agradecimento,
levar suas cinzas a Cuba”.
Essa é, pois, a verdadeira marca da
medicina cubana. Não a que quer vender Pompeo, e a maquinaria de propaganda a
seu serviço.
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