Base Naval dos EUA, mantida de forma ilegal na Baía de Guantánamo,
território cubano, ficou muito conhecida por escândalos de mortes e
torturas aos presos. Mohamedou Ould Shlahi relata em um livro
as torturas e humilhações a que foi submetidoimpostas
Mohamedou Ould Shlahi, preso na base estadunidense de Guantánamo. |
No segundo ou terceiro dia de sua chegada à prisão de Guantánamo,
Mohamedou Ould Shlahi entrou em colapso em sua cela. "Continuamente
vomitava e por isso ficou totalmente desidratado", conta em um livro que
chegou às livrarias no dia 20 de janeiro de 2015, sobre o prisioneiro
número 760, da terrivelmente notória prisão onde os EUA encarceram
supostos terroristas após os ataques de 2001.
Shlahi continua
preso na mesma cela em que escreveu suas memórias de horror sem que
tenham provado qualquer crime. Antes de chegar em Guantánamo, ele havia
sido interrogado durante nove meses, primeiro na Jordânia e em seguida
na base aérea dos EUA em Bagram, no Afeganistão.
Só as disputas
jurídicas pelo "Diário de Guantánamo", de Slahi, é um explosivo que pode
ocupar 466 páginas escritas à mão. Por mais de seis anos seus advogados
lutaram para conseguir que fosse publicado o manuscrito, sempre sob os
protocolos rigorosos do exército dos EUA: o texto foi guardado em um
local seguro perto da capital Washington, e só é permitido seu acesso
aqueles que disponham possuídos das máximas competências de segurança no
país. Além disso, antes da publicação foram tiradas e censuradas
páginas inteiras.
A parti da publicação do
livro veio à luz uma versão detalhada e tímida de um dos capítulos mais
tenebrosos da história dos militares estadunidenses, apenas alguns meses
depois um relatório do Senado descreveu como tortura alguns dos métodos
de interrogatório usados pela CIA após os ataques terroristas de 11 de
setembro de 2001.
A história de Slahi se une esses relatos
horríveis com perturbadoras imagens das câmaras de tortura de
Guantánamo: foi intimidado, humilhado, desmoralizado e assim, forçado a
confessar através da privação do sono. Ele sofreu,segundo conta,
interrogatórios intermináveis, confinamentos em câmara fria,
espancamentos, insultos e humilhações.
"De repente entrou uma
equipe de comando composta por três soldados e um cão pastor na nossa
sala de interrogatório," descreve Slahi, que conta como dois homens
totalmente encapuzados o golpearam brutalmente no rosto e nas costelas. "Vendem os olhos do filho da p ... se ele olhar", gritou um e então
alguém bateu-lhe com força no rosto e, em seguida, cobriu os olhos, os
ouvidos e colocou um saco na sua cabeça e o amarrou.
"Eu não
disse nada, estava totalmente dominado pela surpresa e convencido de que
naquele momento iriam me executar", escreve Slahi, que foi então
arrastado para fora e jogado em um caminhão, depois seguiu em uma viajem
de barco pelo mar do Caribe onde continuaram as torturas.
"O
comando de tortura continuou por mais três ou quatro horas e depois me
entregaram a outra equipe que utilizava outros métodos de tortura",
conta Slahi. O obrigaram a beber água salgada, encheram suas roupas com
cubos de gelo desde o pescoço até os tornozelos para fazê-lo sofrer, ao
mesmo tempo que apagavam os vestígios dos golpes anteriores.
O
comando, conforme relatado por Slahi, agiu sob ordens das mais altas
instâncias. Donald Rumsfeld, secretário da Defesa do presidente George
W. Bush, estava familiarizado com as ações e ordenou o aumento da
pressão contra suspeitos de conspiradores da Al Qaeda com
interrogatórios mais intensos.
"Não mostrem piedade. Aumentem a
pressão. Leve-o à loucura", cita Slahi, o que disse um dos guardas. O
mesmo prisioneiro desenvolveu a sua própria estratégia na prisão: "Me
mostrava cada vez com mais medo, como era na realidade." Porque se não,
eles teriam me tratado ainda pior, diz ele. Continuamente pensava em sua
família. Após anos de isolamento, ele hoje está autorizado a retomar
contato.
Na ocasião do lançamento do livro em Londres, seu irmão
Yahdih Ould Slahi assegurou sua inocência e afirmou que isso o fará
resistir. "Se eu tivesse que falar sobre tudo o que tem sofrido minha
família ficaria aqui até amanhã."
Yahdih, que vive na Alemanha,
soube que seu irmão estava em Guantánamo pelos meios de comunicação. No
início, a família na Mauritânia não queria acreditar, mas depois veio a
primeira carta da prisão. "A primeira carta foi muito, muito difícil
para nós." Quando Mohamedou Slahi pode falar pela primeira vez com a
família por Skype, todos choraram. O livro é a derradeira salvação para a
família, que está orgulhosa dele. "Nossas mulheres e crianças deixaram
de chorar."
Fonte: DPA
Via: Clarín
Clarin.com
VENCEREMOS !!!
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